Estou dentro do ônibus a caminho da faculdade, deixei um bilhete para minha mãe já que ela não estava em casa.
Por um lado, foi até bom a gente não se despedir, afinal ela só diria que estou cometendo um grande erro, que só vou perder meu tempo e minha juventude, o blá,blá, blá de sempre. Me sinto leve, livre é a melhor sensação que eu poderia experimentar.
Foram 6 horas até viagem, saí do ônibus cansada, tudo que eu podia desejar naquele momento era um bom banho e depois uma longa noite de sono.
Chego em frente ao campus da universidade, o porteiro me atende e me dá a chave do meu quarto e me indica o caminho do meu dormitório, quando efetuei a matrícula me deram o número do quarto, sei que terei uma colega que irá dividir comigo, vai ser bom ter alguém para começar junto, espero que ela seja legal.
O prédio dos dormitórios é bem grande, tem dois andares, meu quarto fica no segundo andar, tem uma pequena escada, subo as escadas, paro em frente a porta número 205, abro a porta e entro. O lugar está vazio, sinal que minha colega de quarto ainda não chegou.
Arrumo a cama, pego uma toalha e vou para o banheiro, eles ficam no final do corredor e são comunitários, essa é a parte r**m.
Tomo um banho e volto para o quarto, preciso dormir, estou muito cansada da viagem.
Acordo de repente com um barulho da porta sendo aberta. Devo ter pego no sono muito rápido, minha cabeça está desnorteada.
— Me desculpe, não queria acordar você.
Diz a garota de óculos e cabelos loiros
— Tudo bem— Digo, me levantando para ajudar ela com a enorme mala que a mesma arrasta.
— Eu sou a Cristina, mas pode me chamar de Cris— Diz ela com um sorriso no rosto, já vi que nos daremos bem.
— Briana.
Cris vai dividir o quarto comigo, em uma curta conversa enquanto ajudo ela a guardar suas coisas, descubro que tem 19 anos e veio cursar administração.
— Então Briana, o que vai cursar?— Pergunta enquanto arruma a cama.
— Odontologia, pretendo ser odontopediatra.
— Uau, já vi que você curte crianças.
Cris tem um namorado que cursa direito aqui também já está no segundo ano, por isso ela veio para cá, juntando o útil ao agradável.
O primeiro mês de aula passou bem, faltaram muitos alunos que ainda estão chegando, eu e Cris estamos nos entendendo bem, temos muitas coisas em comum o que facilita nossa convivência.
Ela às vezes não dorme no alojamento fica com Yuri, seu namorado, no alojamento masculino o que não é permitido, mas por aqui sempre se dá um jeito para tudo.
Festas tem todo dia, para todos os gostos, se tiver disciplina se perde facilmente por aqui, cidade universitária é bem agitada.
Saio da sala de aula e encontro Cris em frente a porta, ela está com a cara fechada e parece chateada com alguma coisa.
— Vim buscar você para almoçar comigo — Diz, assim que me viu, e logo saiu me puxando pelo braço.
— Calma Cris! Almoçar aonde? — Ela não responde e continua me puxando.
— Briguei com o Yuri, preciso comer, para esquecer, aquele desgraçado, por favor Briana! —Pede com a voz chorosa, acabo concordando.
Cris reclamou o almoço todo, como Yuri era egoísta, como Yuri só pensa em si, Yuri, Yuri e Yuri, não houve outro assunto, apenas concordo com tudo que ela diz, para evitar mais dramas.
—Você entende que é só uma luta, custa ele me levar? Mas não, ele não quer que eu vá, será que marcou um encontro com alguém lá? Você acha que Yuri está me traindo? — Pergunta chorosa dando uma enorme colherada em seu sorvete de chocolate.
— Eu não sei Cris, você tem que conversar com ele.
Vejo Yuri se aproximando da nossa mesa, ele puxa a cadeira e se senta conosco, Cris arregala os olhos.
— O que quer Yuri? – Pergunta brava e vira o rosto.
—Conversar— Ele responde, Yuri é baixo com cabelos loiros e olhos castanhos, usa bermuda e camisa larga, estilo largadão, nem parece ser um estudante de direito.
Me levanto para ir embora, deixo os dois à sós para se entenderem.
Volto para o alojamento, coloco a matéria em dia, o resto da tarde bati perna pela cidade, distribuindo currículos pelos lugares, preciso arranjar um emprego logo, o pouco dinheiro que tenho não vai dar para muito tempo.
Retorno ao quarto já está escuro, hoje é sexta feira os alunos estão agitados, pelo corredor já encontro uns casais se pegando, as meninas arrumadas para sair, com garrafas de bebida na mão. Todo fim de semana é assim.
Nem coloco o pé direito dentro do quarto, Cris já me aborda eufórica.
— Amiga, nós vamos para a luta— Diz me puxando para dentro do banheiro. — Toma um banho rápido, vou ajudar você a se arrumar.
Até tentei argumentar mas não houve jeito, tomo um banho visto uma calça jeans rasgada no joelho e coloco uma blusa de moletom e meu bom e velho All star, prendo os cabelos e estou pronta, já Cris está com um vestido de couro vermelho que vai até o meio das coxas e deixa seus s***s bem evidentes e um belo salto alto.
— Vamos ter uma noite incrível, finalmente consegui convencer o Yuri a me levar nessa bendita luta. — Diz sem esconder a empolgação.
— Nunca tinha ouvido falar de lutas por aqui. — Ela me olha como se eu fosse um et.
— Não são legais, rola muita grana, algo por baixo dos panos sabe, vem lutadores de fora para enfrentar o campeão daqui, foi o que Yuri me contou. O atual campeão é amigo dele.
Yuri buscou a gente no alojamento com seu Ford Ka, o qual ele morre de ciúmes, o mesmo e Cris se entenderam de vez depois que ele concordou em levá-la para assistir a luta, tudo na paz novamente.
Chegamos ao local da luta, é uma área aberta, tem muitos carros e muita gente, a música alta á estrondar pelo local, o cheiro de álcool, maconha e cigarro perfumam o ambiente, mulheres semi nuas dançam sobre os carros.
Cinco picapes com refletores em cima e faróis acesos formam um círculo no meio um tatame improvisado, um rapaz magrelo sobe no teto de uma das picapes e anuncia em um megafone.
— E aí cachorrada, se preparem, irá começar o combate — Ele grita, Yuri nos leva até um lugar seguro próximo a uma árvore, tem muita gente em volta, como sou baixa quase não consigo ver nada.
— Hey, sobe aqui — Grita Yuri. Ele põe uma caixa de cerveja vazia perto dos meus pés, subo e consigo ver melhor.
— Com vocês, o enorme, o gigante: martelo— Grita o garoto com megafone, um cara careca e enorme que vem abrindo caminho entre as pessoas, ele é intimidador de meter medo.
— Rapazes segurem suas namoradas, que aí vem ele o destemido, o imbatível muralha.
As pessoas vibram, sinto o chão tremer, um homem vem andando com uma calça de moletom e uma blusa com um capuz que cobre seu rosto, as mulheres gritam,se insinuam, ele arranca a blusa sobre a cabeça e posso posso ver seu rosto, conheço esse rosto, claro, e o filho do amigo da mamãe, qual era o nome dele mesmo? Elijah, o cara que estava com a Amanda, ele levanta os braços e as pessoas gritam mais alto.
A luta começa o tal do martelo e mais forte mas é baixo, o muralha é mais alto e magro e bem mais rápido, martelo acerta um soco no queixo do muralha que vai para trás e bate no capo de uma das camionetes, ele levanta e vai com tudo pra cima do martelo acerta um chute na costela ele cambaleia, e toma um soco ao lado da cabeça em cima da orelha e ele vai ao chão, muralha sobe em cima dele e desferiu vários socos em seu rosto que já está vermelho de tanto sangue, muralha é puxado de cima dele mas antes dá um chute em suas costelas, o cara é jogado feito um boneco com a força do chute
— É isso aí muralha — Yuri grita ao meu lado ao fim da luta, muralha sobe no teto de uma das picapes e levanta os braços, o que se é para agitar a multidão que vibra eufórica com sua vitória.
Após a luta, a festa continuou com muita bebida, muita d***a, Cris e Yuri já se engoliam ao meu lado.
— Briana, eu e o Yuri vamos até o carro, ok? — Diz ela com uma cara s****a, os lábios já inchados de tanto beijar o namorado.
— Ok — Esse foi o momento que eles sumiram, três horas depois e nada de Cris e Yuri , resolvi ir embora, já tinha tomado uns cinco sucos enquanto esperava por eles, levantei e saí andando pelo lugar vi a estrada por onde viemos, que Deus me proteja, passo por um grupo de bêbados que me chamam, largo eles para trás e sigo minha caminhada.
Vinte minutos caminhando meio ao mato a estrada de terra, ouço um barulho alto de carro e logo um farol enorme em cima de mim, olho para trás e fico cega, uma grande picape passa por mim rápido, freia de maneira brusca logo á minha frente e volta de marcha à ré, para ao meu lado
— Quer carona? — É ele o Elijah em carne e osso com um sorriso filho da p**a nos lábios, e os olhos verdes mais lindos que já vi na vida.
— Não, obrigada. — Digo sem olhar para ele. Ele estala a língua e responde.
— Você quem sabe garota, só cuidado para não ser estuprada. — Diz calmamente já saindo com o carro. Fico apavorada com as palavras dele.
— Não, espera aceito a carona — Ele sorri, faço a volta e entro a o seu lado, no som de AC DC, que toca baixo no rádio.
Elijah está sem camisa, só com uma calça de moletom cinza, ele é bem forte olhando de perto, e tem o corpo coberto com diversas tatuagens, ele dirige devagar e cantarola com a música.
— O que fazia voltando sozinha às duas da manhã no meio do nada?
— Me perdi dos meus amigos.
— Caloura, né? Fica esperta, aqui é terra de ninguém — Ele diz, olho para ele, será que ele se lembra de mim? Me pergunto, será que ele sabe que sou filha da amante do pai dele?
— Qual seu nome?
— Briana — Digo, ele me olha
— Briana , belo nome—.Ele sorri e aumenta o som. Elijah me deixou em frente ao alojamento e foi embora.
Ele nem esperou eu agradecer pela carona, arrancou com o carro e sumiu.