15 anos depois…
Sol...
Atrasada para escola eu estava mais uma vez, o despertador tocou por várias vezes e eu fiquei adiando até me atrasar.
Eu não nasci pra acordar cedo, sinceramente, não dá. Eu só queria dormir o dia todinho sem ter que olhar pra cara de todo mundo naquela escola a essa hora da manhã, um porre.
Sem falar que todo dia era uma luta pro meu irmão me levar, já que Apolo não estudava na mesma escola que eu.
Vicente é um ogro, parece um idoso de 70 anos, m*l humorado que só ele. Pra ele poder fazer alguma coisa pra mim, eu tinha que insistir cinco dias antes, e era capaz de chegar na hora e ele não fazer.
Ia aos bailes ele grudava em mim como carrapato, minha mãe uma vez me disse que meu pai vivia falando que colocaria ele e Apolo atrás de mim me vigiando para eu não namorar. m*l sabe ele que quem eu pego nem é tão estranho assim.
Tomei um banho rápido prendendo meu cabelo num coque qualquer, coloquei minha calça jeans, a camisa de uniforme e fui de chinelo mesmo. Já fazia muito indo de calça todos os dias nesse calor insuportável que faz aqui.
Desci as escadas e fui pra cozinha comer algo rápido e descer correndo pra achar meu irmão e pedir ele pra me levar, não tinha ônibus nessa hora e eu com certeza já tinha perdido a primeira aula.
Ouvi passos vindo em direção à sala e sabia que era meu pai, ele me encarou sério colocando as mãos no bolso da bermuda.
Falcão: atrasada de novo, se tua mãe souber, bagulho vai ficar louco para o teu lado. Só tô te avisando! - Até meu pai, chefe do comando, tinha medo da minha mãe, imagina eu então. Ela era brava pra caramba.
Sol: juro que isso não vai mais acontecer, pai. Meu celular descarregou!
Falcão: Tá mentindo porque, Sol? Ouvi teu celular despertar várias vezes. Seja um pouco mais esperta quando for mentir.
Minha cara queimou na hora, meu pai dizia que eu era igual à minha mãe, podia se esforçar mas não sabia mentir.
Sol: eu já tô indo. Sabe onde Vicente tá?
Falcão: Tá aí fora, e duvido muito que ele vai te levar.
Sol: ah, eu sei fazer meus shows. - Fiz um biquinho pra ele que sorriu. - Te amo, pai. Bom dia!
Falcão: amo tu também, menorzinha.
Me despedi dele saindo de casa e meu irmão estava encostado no carro conversando com Loirin (Miguel) e o coringa. Já logo fechou a cara quando me viu aproximar.
Sol: pode me levar na escola? Acordei atrasada.
Vicente: vou te levar não. Tu acorda atrasada todo dia, tá até de marola já!
Sol: por favor, irmão. Só hoje!
Vicente: iih, mete o pé Sol, tu tem que parar de achar que sou teu motorista particular! - engoli a saliva com uma vontade de enfiar a mão na cara desse menino.
Sol: eu sei que tu não é meu motorista, mas custa me levar? Prometo não te pedir mais nada. - juntei as mãos como súplica.
Vicente: aí, namoral mesmo. Tu é chata pra c*****o! Deixa minha mãe chegar e souber que tu tá indo pra escola todo dia atrasada. Vai esfolar teu coro e eu não vou nem me meter!
Loirin: leva essa enjoada logo, cansado de ouvir essa voz irritante dela. - me provocou sorrindo.
Sol: Quando eu chegar da escola, eu faço questão de te mandar pra p**a que pariu.
Loirin: Lá já tem gente demais e eu odeio aglomeração, po. - dei dedo pra ele que me mostrou a língua.
Vicente: entra logo nesse carro, chata!
Sol: também te amo, tu é o melhor irmão do mundo. - dei um abraço nele que não retribuiu, seco toda vida. Mas eu sabia que ele me amava.
Em menos de 10 minutos ele me deixou na porta da escola e eu já tava bolando uma bela mentira pra contar e o porteiro deixar eu entrar.
Sai do carro fechando a porta e olhei pra ele abaixando no vidro.
Sol: Vem me buscar?
Vicente: nem fudendo, vai embora com a Aurora.
Sol: Eu não trouxe dinheiro. - vi ele tirar uma nota de 50 do bolso da bermuda e estender pra mim e eu sorri pegando.
Vicente: tá rindo porque? Tô te dando nada não, chegar em casa eu quero de volta.
Sol: pão duro do c*****o. - murmurei baixinho.
Vicente: tá resmungando o que aí ratinha? - Ele sempre me chamou assim, desde pequena.
Sol: nada não, tchau. Irmã te ama!
Vicente: tu se liga em, otaria. - forma carinhosa de um irmão dizer que ama.
Entrei na escola com uma desculpa esfarrapada que eu tinha ido fazer exame de sangue, e o porteiro disse que na próxima eu só entraria com minha mãe.
A primeira aula já havia passado e eu entrei na segunda, sentado ao lado de Aurora que estava concentrada lendo que nem me viu chegar.
Aurora: atrasada de novo, p*****a!
Sol: eu fiquei batendo papo até tarde, perdi o sono e fui dormir só de madrugada. Queria nem ter vindo, mas minha mãe ia me esganar se eu faltasse.
Aurora: tia Mari tem que te meter o cassete mesmo, tu tá folgada demais! - Olhei pra ela que sorria.
Sol: é assim que tu me ama?
Ouvi a professora bater a mão na mesa e olhar diretamente para nós duas.
Professora: O assunto aí tá bom demais, vocês não querem compartilhar com o restante da turma? - não velha do c*****o, odeio essa mulher. Ela tem uma cisma com a minha cara que nem eu entendo.
Aurora: Só estava explicando pra ela sobre o texto. - Aurora me cortou antes que eu pudesse responder a essa mocreia.
Logo deu o intervalo e eu fui pra cantina comprar algo pra comer, já estava morrendo de fome e saco vazio não para em pé.
Tivemos mais 3 aulas depois do intervalo e hora parecia não passar, eu já estava quase dormindo sentada de tanto sono. Certeza que eu dormiria legal dentro do ônibus até chegar na barreira, e implorar pro meu pai ou Apolo me pegar, já que ele chega mais cedo que eu. Vicente eu nem adiantava pedir, ele não desceria pra me pegar nem se eu chorasse.
Terminei guardando meu material e esperei pelo sinal para finalizar a aula. Sai de lá com a Aurora falando pra c*****o e eu nem tava dando ouvido, tava morrendo de sono e doida pra chegar em casa.