Sorte minha que tio Deco estava na barreira e depois de tanto implicar comigo, me levou pra casa.
Minha mãe já havia chegado da loja que ela montou no asfalto, uma loja de roupas, sapatos e acessórios. Passava o dia todo lá, só vinha pra almoçar e depois voltava.
O cheirinho de comida chegou antes de eu abrir a porta, ela mandava bem pra c*****o na cozinha, conquistou meu pai pelo estômago, só pode.
Abri a porta e ela logo me olhou com aquele cabelão batendo na b***a, um corpo maravilhoso e quem olha, nem imagina que já tem 37 anos.
Mari: que história é essa de tu tá indo pra escola atrasada? Não posso sair um dia mais cedo que tu. Vou te avisar mais nada, Sol!
Sol: eu não escutei despertar, mãe.
Mari:Para de mentir, teu pai disse que seu celular despertou várias vezes. Vou começar tirar as coisas que tu gosta pra ter mais responsabilidade. A escola não é brincadeira e tu já tá bem grandinha pra saber disso!
Sol: prometo que isso não vai mais acontecer!
Mari: Não vai mesmo, faço questão de sair depois de você e vou te acordar todos os dias. Quero ver se atrasar agora é ter que ficar pedindo pra Vicente te levar! - falava num tom sério que fiquei até com medo.
Sol: tá bom. - Coloquei a mochila pendurada na cadeira e me sentei. - Apolo já chegou?
Mari: tá lá em cima tomando banho, daqui a pouco desce pra almoçar.
Fiquei Apolo descer, meu pai e Vicente chegar. Sempre almoçamos e jantamos juntos, todos os dias, e quando meu pai atrasa ela fica p**a.
Apolo: podíamos ir a praia final de semana, tá mó calor! - olhei ele que descia esfregando a mão no cabelo.
Sol: Vicente é chato, não vai querer levar a gente.
Mari: teu irmão não é seu motorista. - repetiu a mesma coisa que ele havia dito hoje cedo.
Sol: se eu tivesse um carro não ficava pedindo.
Mari: quando tu tiver idade, um emprego, tu vai poder comprar um igual teu irmão. Aí não vai mais precisar ficar pedindo. Por enquanto tu só tem 16 anos, tua sorte que ganha um dinheirinho pra gastar com bobeira durante o mês, na sua idade eu já tinha o Vicente e tinha que me virar.
Sol: pode falar nada com minha mãe que ela já vem dar sermão. Misericórdia!
Mari: Tu acha que tudo é fácil, Sol. A vida não é um morango não.
Apolo: Sol gasta dinheiro atoa, depois quer empréstimo.
Meu pai e Vicente entraram pela a porta e os dois com a cara fechada, só andava com o burro amarrado. Vicente é meu pai todinho, cara. Incrível!
Vicente: Cadê meu dinheiro? - perguntou me olhando.
Sol: eu acabei de chegar, posso almoçar primeiro?
Vicente: almoçar e pega meu dinheiro, sou teu pai não.
Falcão: iih moleque, tu tá chato pra c*****o. Parece um idoso!
Apolo: eu vivo falando isso pra ele.
Vicente: coé pai, tu fica dando ideia pra ela. Garota gasta mais que eu, e olha que eu trabalho!
Falcão: ninguém tá mandando tu emprestar dinheiro para ela não, po. Nunca vi emprestar grana pra quem não trabalha!
Vicente: então da próxima ela vai vim embora andando da escola.
Falcão: deixa vir, andar não mata ninguém não. Eu ando abessa por esse morro e tô aqui vivão.
Mari: Qualquer dia infarta, tá achando que ainda tem 30 anos!
Falcão: a outra com papo furado. - olhou pra mim mãe sério. - quando tu me conheceu eu já tinha 32 anos, filhona. Tu me quis do mesmo jeito, agora tem volta mais não.
Mari: Tu só larga de mim se eu morrer, caso contrário é nos até a morte. - se aproximou dando um selinho nele e eu sorri, porque amava ver eles dois nesse carinho todo. - Amo você!
Almoçamos na mesma harmonia de sempre, arrumei a cozinha e subi para o quarto para arrumar também, minha mãe odeia bagunça. E acabou que eu nem paguei Vicente, até porque eu nem tinha. Minha sorte era meu pai que hora e outra me dava uma grana do nada. Mas sem minha mãe saber, óbvio.
Tomei um banho colocando uma roupa fresca e desci pra pracinha, havia combinado com a Aurora e as meninas de tomar açaí na pracinha, eu sempre deixava na conta do meu pai que depois falava abessa na minha cabeça.
Desci com fone ouvindo um belo funk porradão, que pela minha cara ninguém imaginava. Já avistei Aurora com a tia Lara e a Helena, sentadas na pracinha fofocando.
Me aproximei e a tia Lara sorriu, n**a bonita do c*****o, p**a que pariu. Tio Rod morria de ciúmes e com razão.
Lara: oi piriguete da titia!
Sol: tu vai fazer aquele pãozinho de leite quando, em?
Lara: p***a, tu e tua mãe são chata pra c*****o com esse bagulho, cismou com esse pao que só por Deus.
Sol: assim que tu me ama, tia? - fiz um biquinho pra ela que gargalhou.
Lara: deixa de ser cínica garota, ganha as coisas no drama. Eu hein.
Aurora: pede logo o açaí, Sol. E anota na conta do teu pai.
Sol: até tu extorquindo ele? Coitado. Meu pai tá perdido! - gargalhei indo em direção à sorveteria que fica do outro lado da rua e vi Coringa passando de moto, me deu um sorriso e eu retribui.
Atravessei a rua de volta e me sentei próxima às meninas e a tia Lara já tinha ido embora.
Helena: Que Deus me perdoe ser marmita, mas esse Coringa é gato demais.
Aurora: eu não acho.
Sol: tu não acha porque tá de paquera com Vicente, né Aurora? Tá achando que tá passando batido.
Aurora: tu é fofoqueira pra c*****o, namoral mesmo.
Helena: isso tu não me conta, né?
Aurora: iih gente, não tenho nada pra contar não. Não tá rolando nada entre a gente, fomos criados juntos e só isso.
Sol: fomos criados juntos, mas não somos irmãs, então tu pode pegar ele sim.
Aurora: então porque tu não pega o loirin? Foram criados juntos, mas não irmãos. E geral sabe que ele doido pra te pegar.
Sol: minha filha, Loirin é amigo do Vicente. A probabilidade de isso dar merda é muito grande e eu não vou arriscar! - menti, na real eu não tinha nenhum interesse nele, além de amizade.
Aurora: para de k.o, po. Tu mente que nem sente! - dei língua pra ela e continuei comendo meu açaí, quando senti meu celular vibrar e peguei para olhar a mensagem.
Coringa: tá arrumando o que aí?
Roupa muito curta em mocinha. Te falar nada não.
Eu: vim tomar açaí.
Não vejo problema em minha roupa, tá calor.
Coringa: mas precisa se mostrar assim?
Eu: aí Coringa, vem me estressar nesse sol quente não.
Coringa: Não falo nada contigo, só observo.
Eu: é bom tu não falar mesmo não. Beijo
Bloqueei o celular e voltei a conversar com as meninas, e falávamos da vida de todo mundo do morro. Esse era o role que eu gostava.