CAPÍTULO 88 CAROL NARRANDO A dor na minha cabeça parecia martelar sem parar, como se tivesse um paredão de som tocando dentro de mim. O gosto amargo da bebida ainda grudava na boca, e, de longe, eu conseguia ouvir uma batida abafada que provavelmente vinha do baile, ainda rolando em algum ponto do morro. Abri os olhos devagar, a visão embaçada demorando pra clarear. A primeira coisa que senti foi o cheiro. Perfume masculino forte, misturado com cigarro e um fundo amadeirado. Na hora, meu coração disparou. Esse não era o meu quarto. Levantei a cabeça rápido demais, a tontura me fez quase cair de volta no travesseiro. Olhei em volta: a cama grande, os lençóis escuros, a cômoda cheia de correntes jogadas, perfumes alinhados, e a parede marcada por uma presença que eu já conhecia de longe.

