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1333 Words
Lili Harris Aqui na janela do meu quarto, eu vejo algumas coisas sendo embaladas e levadas. Já não tem mais tanto aspecto de ser o meu quarto. Vai ficar apenas na lembrança e eu vou sentir muita falta dessa casa. Eu cresci aqui! Todos esses anos desde que nasci, eu vivi dentro desta casa e desde os meus quinze anos, eu posso contar nos dedos as vezes que eu saí para algum passeio. E hoje, eu já tenho vinte. Todos os meus aniversários foram aqui dentro com o meu pai e com os funcionários de convidados. Eu não tenho amizades, nunca tive amigas e concluí os meus estudos e cursos aqui dentro. Tudo foi aqui! Para me ocupar, eu fazia certas aulas extras e isso por conselho do meu pai. Eu tive costura, aulas de música, literatura onde li diversos livros perfeitos, tive natação, dança, culinária e etiqueta. Ela era praticamente obrigatória. Todos os dias era uma aula diferente. Estudos normais pela manhã e aulas extras pela tarde. De tanto que fiquei dentro da propriedade, eu conheço tudo com a palma da minha mão e ainda esses dias, não pisarei mais aqui. É uma mudança enorme que está difícil de processar. Eu só sei que a casa “nova” é menor e fica mais perto da cidade. O meu pai que está à frente de tudo e ele quase não me conta as coisas. Ele conta pedaços e eu fico cheia de perguntas. — Isso pode ficar aqui? — Uma das funcionárias pergunta a mim e eu respondo. — E essa caixa? — Essas são para levar. O que é de doação está daquele outro lado. — Ela acena e vai pegando com as outras. Eu nem sei o que pensar. Apesar de ter vivido como prisioneira, eu me afeiçoei a casa. Eu não conheço outro lugar, mas não é apenas isso que me preocupa. Nos mudarmos não quer dizer que tudo vai melhorar. — Liane, o que quer fazer com isso? — Outra caixa é encontrada e eu penso um pouco. — É para levar. Eu não quero me desfazer. — São itens pessoais e íntimos. O meu nome é Liane, mas todos me chamam de Lili. Eu tenho vinte anos e só tenho o meu pai de família. A minha mãe se foi, eu não tenho irmãos e até onde eu saiba só tem mesmo nós dois de nome Harris. E logo será apenas eu. O meu pai está bem doente e justamente no tempo que descobrimos que estamos falidos. Os negócios desandaram, as dívidas chegaram e ele não pode mais sustentar a casa como essa é. É praticamente uma mansão e vai ser tomada. Eu até tentei sugerir começar a trabalhar fora, mas eu fui barrada e tudo culpa de um velho maluco. Eu sofri duas tentativas de sequestro aos meus quatorze anos e faltou pouco para eu não estar em apuros até hoje. Ou mortä! Flávio Nardini, antigo amigo do meu pai ficou obcecado por mim assim que me viu. Eu com 14 anos e ele com 40. Uma loucura amedrontadora que dura anos. Ele dizia com todas as letras que um dia me levaria, as ameaças eram constantes e depois das duas tentativas de sequestro, eu comecei a viver trancada. Por causa dele, eu estudei aqui, fiz cursos aqui, não tive amizades e nem sei direito como são as coisas lá fora. Eu não tenho acesso à internet de forma liberal e nem celular. Eu fui privada de tudo! Por mais maluco que seja, eu tive que engolir que foi pela minha proteção já que as ameaças continuam até hoje. — Como você está? — Mariane, uma das funcionárias da casa se aproxima. Eu e ela sempre fomos bem próximas. — Péssima... e-eu não sei o que pensar. Olha essa mudança toda... é enorme e é tão pouco tempo para pensar em tudo. — Ela me olha com um olhar de pena que é horrível. — Essa é a última vez que nos vemos. — Eu fico confusa. — Eu sinto muito, Lili... todas nós fomos demitidas. É o nosso último dia. — Isso é uma drogä! — Eu a abraço em choro e não sei mais o que pode piorar hoje. E agora? Eu não tenho mesmo mais ninguém! Só sobrou eu e o meu pai e tenho medo do que ainda pode acontecer. Outras delas vem se aproximando e ocorre uma certa despedida. Elas foram incríveis e me ajudaram tanto. Eu aprendi com elas, eu sorri com elas e tive tantos momentos bons. Elas me ajudaram a ter dias melhores e menos vazios. Tem como piorar? Infelizmente, sim. Eu só não quero pensar naquele casamento ainda. — Se cuida! Eu espero te encontrar um dia numa situação melhor. — Eu me agarro as palavras. — Obrigada... é o meu desejo também. — E pouco depois, todas elas vão saindo. O quarto já está vazio, bom, tem a mobília normal e eu me refiro às minhas coisas. Não tem mais nada meu. Tudo foi colocado para a mudança. Eu dou uma última olhada no quarto que foi meu por anos e saio com o coração apertado. Eu nunca vou me esquecer desse lugar, porque ainda é a minha casa. Sempre será! É hora de irmos! No caminho, os quadros foram retirados e eu vejo os quartos de forma padrão. Eu vou descendo as escadas e eu vejo o meu pai na porta olhando a vista da entrada com o jardim. Ele ouve os meus passos, mas continua no mesmo lugar intacto. Lembrar que ele está doente traz uma imensa angústia e tenho medo. — Eu quero que se prepare, Lili... nada vai ser fácil de hoje em diante. — Ele nem olha para mim. — Não temos mais nada... a casa que vamos já é emprestada. Eu não posso pedir dinheiro a ninguém já que eu não tenho como trabalhar e não vou conseguir devolver. Não tenho créditos em banco e você não pode se dar ao luxo de andar por aí... Flávio está perto e já sabe da nossa condição. — Eu estou com medo... — Ouvir isso tudo me deixa sufocada. — Com mutito medo disso tudo. — Eu também, mas temos que reagir como podemos... por isso você precisa de alguém. Precisa estar casada com alguém de recursos e eu só quero que você esteja segura e tenha o melhor. — O jeito que ele fala é mais pesado ainda. — Pai, por favor, não fale comigo já em tom de despedida... — Eu não quero imaginar isso ainda. — Isso tudo aqui já é demais por hoje e eu não quero me sentir mais sufocada e amedrontada. Perder a única pessoa que eu tenho já dói no peitö. É sufocante e eu suplico para que nada disso aconteça. — Como eu disse, nada será fácil de hoje em diante... vamos! — Ele me dá passagem e vamos descendo juntos. É agora que eu vejo o Marcelo que já se despede do meu pai e o agradece. Ele era um dos seguranças da casa e nós dois fomos próximos por um tempo. Bom, foi um “namoro” de poucos meses que não deu certo já que eu sempre vivi em limitação e agora, ele também irá procurar outro trabalho. O meu pai nunca soube direito sobre nós dois e se soube, fingiu não ver. Ele nunca questionou nada a mim e as garotas da casa não me falaram nada. Então, penso que não era um problema já que eu não saia para nada. — Adeus, Lili... — Ele estende a mão e eu correspondo. — Adeus, Marcelo... boa sorte. — Ele deseja o mesmo e eu dou uma boa olhada nele. Essa também é a última vez que eu o vejo. {PRA VOCÊ QUE ESTÁ COMEÇANDO A LEITURA, EU PEÇO PACIÊNCIA NO COMEÇO. TEREMOS MAIS CAPS INICIAIS DA LIANE, MAS DEPOIS OUTROS PERSONAGENS APARECEM E GARANTO SURTOS E LOUCURAS! SÓ TENHAM PACIÊNCIA🙏}
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