Foram longos seis meses, estudando sem parar.
Longo seis meses se preparando.
Até que ele conseguiu o tão sonhador diploma de conclusão, Karine lhe telefonou algumas horas depois. De acordo com ela, sua mãe lhe preparou uma festa de comemoração. Rodrigo e alguns amigos de Karine também estariam lá.
- Ela sabe que você a olha assim?
Demétrio foi pego de surpreso. Era a mãe de Karine.
- Senhora Garcia.
- Demétrio sabe que pode me chamar de Lídia, não é? A mãe de Karine era bem mais baixa que sua filha, possuía os olhos castanhos e os cabelos castanhos avermelhados assim como Karine. Mãe de três filhos, Karine, Gustavo e Guilherme os gêmeos confusão, ambos com sete anos, obvio.
- Sei sim senhora.
- Não precisa responder minha pergunta.
- Obrigado pela festa.
- Eu que agradeço por ajudar minha filha a estudar. Não que ela seja indisciplinada, mas não gosto muito dos novos amigos dela. Demétrio permanecia em silencio. – Sua mãe estaria orgulhosa de você se estivesse aqui.
- A senhora a conheceu?
- Sim. Ana foi uma amiga e tanto. Assim como o filho dela tá sendo para minha filha. Lídia olhou para Demétrio. – Me der licença, meus gêmeos não me dão paz um minuto.
Já passava das oito da noite. Hora de ir embora. Demétrio olhou ao redor, e não viu Karine. Pegando alguns copos sujos que estavam espalhado em cima da mesinha, ele foi até a cozinha. Nem sinal da mãe dela.
Demétrio teve sua atenção voltada para fora no quintal.
- Só um beijo?
Era a voz de Rodrigo.
Com cuidado, Demétrio foi se aproximando, até que viu os braços de Karine passando ao redor do pescoço de Rodrigo o puxando para um beijo.
Ele apenas virou as costas indo embora.
Parado por alguns instantes já bem distante da casa dela. Seus olhos estavam lacrimejando. Com as duas mãos em seus olhos, ele enxugava as lagrimas que queriam cair.
- Aló. Atendeu, pegando seu celular no bolso.
- Onde você está? Era Karine. – Saiu sem se despedir de mim.
- Ah, eu não te encontrava, e não queria sair andando pela sua casa né? Então vim embora.
- Sei... até parece...
- Vou ter que desligar. Ele a interrompeu. – Estou no meio da rua.
- Está tudo bem mesmo? Ela parecia preocupada.
- Claro que está. Ele tentava disfarçar sua voz, sorrindo. - Acha que seu amigo aqui vai mentir pra você?
- Bobo. Nos vemos amanhã então?
- Claro.
Desligou. Subiu em sua bicicleta, indo pra sua casa atrás da lanchonete.
- Estamos surpreendidos com o resultado das suas provas Demétrio. Olavo, o diretor da escola foi falando assim que ele entrou em sua sala, logo depois que recebeu aquela ligação bem cedo e percebeu que não estava só o diretor, mas entre ele mais duas pessoas desconhecidas.
- Obrigado.
- Então Demétrio, temos uma proposta pra você. Um senhor bem mais velho do que o diretor Olavo falou tomando a frente dele. – Desculpa, não me apresentei. Eu sou o Ricardo Tavares. Já ouviu falar de mim?
- Desculpa, mas não.
- Não tem problema, está conhecendo agora. Eu sou o fundador do Cursinho Tavares e da Escola Tavares Alencar, uma das escolas mais conceituadas do País no momento.
- Ainda não entendi...
- Queremos que você represente a nossa escola em algumas olimpíadas acadêmicas.
- Mas, eu nunca estudei com vocês.
- Vai começar a estudar. Estamos lhe oferecendo uma bolsa integral com direito a todo material escolar grátis e uma ajuda de custo para poder lhe ajudar enquanto estiver representando nossa escola.
- Sério?
- Sim. Mas, queremos algo de você.
- E o que seria? Demétrio estava surpreso com tudo aquilo.
- Será apenas uma bolsa integral de um ano. Vamos lhe passar um cronograma das matérias estudadas durante esse período e você irá fazer uma prova, dependendo do resultado, você está dentro.
Demétrio ficou calado.
- Algum problema? Olavo perguntou preocupado.
- É que não sei se consigo.
- Claro que consegue rapaz. Olha o que você fez. Você conseguiu fazer três provões em uma semana sobre seis séries as quais você não frequentou aula nenhuma, apenas estudando em casa. Essa fase vai ser moleza pra você.
- Não sei... é uma responsabilidade e tanto.
- Vou lhe dá tempo pra pensar. Falou o diretor, lhe estendendo a mão.
- Nos procure quando tiver a resposta. Falou Tavares, o cumprimentando.
Demétrio os cumprimentou e saiu da sala.
Olhou para o relógio eram onze e quinze.
Ele olhou para o relógio mais uma vez. Onze e cinquenta. Encostado em sua bicicleta na frente da escola, alguns alunos já tinham saído. Demétrio já estava montando nela quando viu uma mão lhe acenando.
- Você está atrasada.
- Sempre. Respondeu ela sorrindo. – Mas, estava ajudando uma amiga com uma dúvida.
- Amiga?
- Engraçadinho. Ela lhe deu um soquinho no ombro, fazendo ele rir.
- Afim de tomar um sorvete?
- Eu topo.
Eles estavam agora na sorveteria.
- Que tudo, Demétrio. Você vai aceitar né? Eu vou dá na sua cara se você não aceitar. Karine lhe felicitava e lhe ameaçava ao mesmo tempo, Demétrio amava aquilo. – Nossa! Eu estou muito orgulhosa. Viu como todo esforço tem sua recompensa?
- Eu agradeço a você. Os dois tomavam sorvete, próximo à casa dela. Eles faziam isso pelo menos uma vez na semana, um ritual que praticavam a meses.
- A mim nada, você que estudou bastante.
Ele pegou um pouco do sorvete dela.
- Façamos assim então... Demétrio parou por um instante, e ainda com a pazinha na mão, olhou para Karine. - c****e! Como você é linda... Karine corou na hora, abaixando a cabeça e levando as mãos ao guardanapo, limpando a boca e aproveitando para beber um gole do suco em cima de sua mesa.
- Demétrio?
- Mas, você é linda!
- Você fala isso do nada. Karine lhe fez uma careta, levando a última colherada a boca. – Vamos embora. Esse monte de açúcar está lhe fazendo falar besteira.
- É besteira achar você linda?
- Para! Seu rosto queimava de tão vermelho que estava. Ela saiu lhe puxando. Em um momento de desequilíbrio ela quase cai, fazendo com que Demétrio a puxe e a segure pela cintura.
Eles se olhavam. O que parecia um milênio, não durou alguns segundos quando Demétrio sentiu o punho fechado de Rodrigo na sua cara.
- Solta minha namorada seu babaca. Falando Rodrigo logo depois de dá um soco em Demétrio.
- Rodrigo! Gritou Karine ao ser empurrada junto as cadeiras da sorveteria.
Ao ver aquilo Demétrio partiu pra cima de Rodrigo e o que se viu logo em seguida foram trocas de soco e chutes. Karine tentou mais uma vez afastar os dois, já que mesmo em meio a tantos homens ali no local nenhum quis intervir.
- Pela mor de Deus vocês dois parem! Vociferou ela nervosa. Ao ver Karine segurando Rodrigo, Demétrio se afastou, passando seus dedos na boca, sentindo gosto de sangue. – Rodrigo vai embora, por favor!
- Você quer que eu vá? Ele parecia ainda nervoso, olhando pra ela. – Eu sou seu namorado. Ainda não acreditando no pedido de Karine.
- Por favor! Depois conversamos. Por favor?
- Isso não acabou Demétrio. Rodrigo ainda estava possesso. – Deixa suas mãos longe dela. Apontando o dedo pra ele.
Demétrio apenas sorriu de lado. Baixando a guarda quando viu que ele tinha indo embora.
- Namorados? Ele pegou sua carteira que tinha caído no chão.
- Vem, você ainda tem que me deixar em casa.
- Não é melhor seu namorado?
Ela o olhou com raiva.
Permaneceram durante todo o percurso em silêncio.
- Vem, deixa eu passar algo nesse corte porque eu sei que você não tem medicamentos em casa.
Ela o puxou pra dentro, mesmo com ele reclamando.
- Sua mãe...
- Ela deve estar chegando, mas os gêmeos estão lá dentro. Karine caminhou com ele até a cozinha lhe segurando a mão. – Senta.
- Não precisa marrentinha.
- Faz algum tempo que não escutava isso.
Alguns segundos depois ela voltou com uma maleta. Tirou um cotonete com alguns medicamentos.
- Deixa eu limpar. Ela segurou a cabeça dele. – Vem mais pra frente.
- Eu sei fazer isso.
- Teimoso.
Com ele sentado, ela ficou entre suas pernas lhe dando melhor acesso.
- Namorado?
- Não é bem namorado. Estamos ficando.
- Sua mãe sabe? Ele fez uma careta quando ela passou algo parecido com álcool. – Quer queimar meu ferimento?
- Se continuar reclamando, eu vou fazer isso mesmo.
Não teve como não rir, ela parecia zangada.
- Porque está com raiva de mim?
- Eu não estou. Colocando o cotonete de lado, ela passou um adesivo pra cobri o pequeno corte. – Não tira isso, até cair.
- Mas se cair, como eu vou tirar?
- Engraçadinho. Ela ficou um bom tempo ali parada olhando os olhos deles. – Você tem bolinhas verdes nos seus olhos escuros. Por um momento ela tocou os lábios dele com a ponta dos dedos. Havia um pequeno corte ali também. – Você é meu melhor amigo Demétrio.
E se afastou.
- Obrigado pelo curativo. Preciso ir.
- Nos vemos depois?
- Sempre.
Karine o acompanhou até a porta, quando Demétrio saiu, ela apenas se encostou e deixou seu corpo cair, sentada ao chão.
O que estava acontecendo? Ela se perguntava.
Parado na varanda da entrada da casa de sua melhor amiga. Demétrio levou sua mão a boca, onde Karine tinha tocado.
Respirando fundo, ele pegou sua bicicleta, montou nela indo pra casa. Demétrio ainda iria trabalhar.
Servindo aquelas mesas, ele percebeu que aquilo não era mesmo pra ele. Que faria por ele tudo que fosse possível pra melhorar de vida.
Ele aceitaria a bolsa, e faria faculdade.
O que viria depois disso?
Ele se viu perguntando, deitado em seu quartinho no fundo da lanchonete.