IV Capitulo – Voltando para um passado inacabado.

813 Words
Treze anos se passaram.     Trabalhar naquele escritório não parecia mais tão divertido quanto era no começo de sua carreira. Olhando pela janela todos aqueles arranha-céus, Demétrio Carter se perguntava até onde ele seria capaz de ir para conseguir realizar suas ambições.       Hoje, formado e com uma empresa em ascensão. Irlanda não lhe parecia tão atraente quanto no início, quando tudo era novo. Ele teve que aprender o inglês que era a língua nativa do país, mas o que mais lhe atraiu foi a linguagem irlandesa ou gaélica. - É isso que pretende mesmo Demétrio?       Cael seu sócio e amigo de longa data, um dos primeiros que fez no primeiro dia de aula na Faculdade de Arquitetura. Era tão ambicioso quanto seu amigo. Nasceu e cresceu na Irlanda. Demétrio lhe ensinou o português, Cael lhe retribuiu com a linguagem gaélica que aprendera com seu avô. - Uma filial no Brasil seria um bom começo pra expandirmos. Mesmo com toda a burocracia, é um bom lugar para o ramo imobiliário. Praias lindas, serras e montanhas. - Sim, e belas mulheres. Ambos riram. - Briana ficara muito feliz em saber que você pensa em outras mulheres. - Ela terminou comigo. - Assim? - Ela disse que não lhe dou atenção suficiente. Cael levou as mãos a cabeça. – Disse que sou tão insensível quanto você ao deixar Alana ir embora. - Nunca menti para Alana. - Briana não acreditou que eu e você fomos a trabalho naquela viagem de uma semana para o Japão.      Demétrio sorriu.      Namorou com Alana, prima de Briana durante seis meses. Uma linda mulher com seus vinte e sete anos, cabelos longos e amarelados, seus olhos expressivos eram de um profundo tom de verde, semelhante ao das águas de algumas praias de Fortaleza. Ele a descrevia como "olhos de tigresa", não fosse o fato de viverem constantemente iluminados por um brilho de bom humor. E Demétrio gostava disso. - Vamos fazer então como no Japão. Uma semana no Brasil, e se pegarmos alguns contratos, abrimos uma filial lá. Combinado? - Combinado.         Voltar ao Brasil lhe fazia lembrar de seu passado. Lhe fazia lembrar de Karine.       Karine olhava pela janela de seu consultório, um céu totalmente azul e radiante. - Seu primeiro paciente chegou doutora.     Sorrindo, ela caminhou até a sala onde ele esperava. - Bom dia Daniel. - Doutora Garcia, espero que você der um belo sermão nele.       Karine olhou surpresa para ambos. - O que você aprontou pequeno?       O garoto com seus sete anos de idade abriu a boca e mostrou o dente quebrado. - Oh! E sorriu. - Deixa eu te examinar pra ver se é um dente permanente ou de leite. - Imagina o susto que eu levei... -... calma mamãe, esse menino vai ficar com o sorriso lindo de novo. Karine fez carinho em seu pescoço lhe fazendo cocegas.      E a maior parte do tempo era assim que Karine trabalhava, além de lidar com algumas bocas, tinha algumas conveniências que era necessário aguentar.       Ela estava com o quarto paciente daquele dia. - Doutora, quando vai aceitar sair comigo? Nando tinha dezesseis anos, e estava fazendo uma correção no aparelho. - Abre a boca Nando. - Diz que sim, vai.     Ela sorriu. - Não. E quero que você escove esses dentes toda vez que comer algo. Não queremos ver bichinhos preso no seu aparelho, não é?         Karine se despediu de seu último paciente. Conversou um pouco com sua assistente, e quando ela foi embora, fechou o consultório trancando tudo.       Respirando fundo após tomar um bom banho ela se presenteou com uma xicara de chá de camomila, sentou ao sofá com um livro em mãos e passou a relaxar como fazia todos os dias.        Cinco anos após se formar, com a ajuda de sua mãe e a pensão que seu pai lhe mandava todo mês, Karine conseguiu montar um consultório na garagem que há algum tempo não tinha utilidade.         O carro que Demétrio a tinha presenteado ficava numa parte da frente coberta com uma lona.        Com a morte de sua mãe e a partida dos seus irmãos indo morar com seu pai na Alemanha, ela teria que encarar a vida adulta sozinha.             “Vinte horas e trinta minutos”. Demétrio pegou seu notebook e alguns papeis que estavam espalhados em sua mesa. Sentado na cama, ele olhava para sua página de perfil da rede social.         Folheando os papeis, todos os contratos estavam em dia. Olhou para o canto do quarto onde suas malas já estavam prontas. Amanhã ele iria voltar para o Brasil. “Treze anos... Muita coisa deve ter mudado”. Pensou ele. A última vez que falou com Karine ela parecia radiante ao finalizar a reforma de seu consultório. Pelo que tinha entendido, o antigo dentista lhe passou alguns pacientes, e os novos por indicações desses pacientes.            Enfim parecia que os dois haviam se estabelecido financeiramente. 
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