Capítulo 01 REVISADO
Entre todas as coisas que eu poderia estar fazendo neste exato momento, tais como a faxina do apartamento ou a lavagem do Monte Everest encostado no meu cesto de roupas sujas, estou a par da pior e mais humilhante tarefa da humanidade: desentupindo um vaso. Sério! Tem coisa mais inconveniente que o bendito vaso da sua casa entupir? O pior de tudo é que é muito constrangedor pedir para qualquer outra pessoa fazer este pequeno trabalho sujo por você. Vamos lá, eu sou uma jovem adulta! Tenho necessidades fisiológicas assim como qualquer ser vivo que habita o planeta.
Mas enfim, tirando este pequeno desentendido entre mim e o pior vaso sanitário de todos os tempos, porque juro, a coisa entope quase todas as vezes que eu uso, e não me julguem! Estou longe de ser uma aberração da natureza. Eu acho. Hoje é um dia divisor de águas em minha vida.
Enquanto faço esforço com o equipamento de vácuo, penso em como todos os meus esforços estão culminando para o dia de hoje. Em algumas horas eu serei, oficialmente, uma Chef de cozinha. E não em uma cozinha qualquer, vadias. Noooop. No renomado Grease Stars, com duas f*****g estrelas Michelin. Certo, você tem razão, eu sou muito nova para isso, mas o fato é que não vou ser a chefona badass do lugar. Meu cargo está mais para ajudante de cozinha, o que já é alguma coisa, dado que acabei de sair da faculdade. Com apenas vinte e dois anos sou só mais uma recém empregada doida para começar sua carreira.
Saio do banheiro e guardo minhas "ferramentas", psicologicamente pronta para tomar um banho. Em menos de uma hora tenho que me apresentar no restaurante, se não, Mr. Spotinik, um dinamarquês com um talento tão extraordinário na cozinha quanto seu enorme e volumoso corpo, tem um ataque cardíaco. Carregar 150 quilos de carne por toda a cozinha, durante um turno de 10 horas seguidas não é para qualquer um. Mas nem todo esse esforço pôde blindá-lo para um m*l bem comum entre nós, meros cozinheiros: a obesidade.
Lembro-me perfeitamente bem do dia em que nos conhecemos, e me espantou a sua vivacidade, apesar dos óbvios problemas de estresse e sobrepeso. Coincidentemente foi o mesmo dia em que me contratou. Enquanto eu caminhava lentamente pela feira de orgânicos que fica há duas quadras do meu prédio, com James Blunt tocando em meus fones, um enorme estrondo me chamou atenção, seguido de frutas e verduras rolando e atingindo meus pés. Quando achei a origem do pequeno caos, um senhor calvo em seus cinquenta e tantos anos, vestido com um blazer azul marinho, cachecol vermelho e calças caqui, tombado no meio da feira, tentando se levantar e recolher suas compras, corri para ajudar.
- O senhor está bem? – Perguntei enquanto pegava um de seus cotovelos e tentava içá-lo para cima.
- Claro, claro. Não se preocupe comigo. – Uma voz grossa, com um acentuado sotaque, chegou aos meus ouvidos, quando ele conseguiu estabilidade para se erguer e ficar firme em seus pés.
Logo ele se ajoelhou e começou a recolher os alimentos espalhados, com a cabeça baixa. Ainda assim, era possível ver suas enormes e redondas bochechas vermelhas em constrangimento.
Suspirei e olhei em volta, vendo todas as pessoas paradas, observando a cena, mas estáticas no lugar. Caminhei até alguns produtos que estavam mais adiante e me ajoelhei, afim de devolvê-los para seu dono, quando meus olhos trancaram numa forma oval com escamas de folhas rosas em volta. Minhas mãos gelaram e minha respiração parou.
- Uma Pitaya! – Gritei, indiferente às pessoas a minha volta. – O senhor conseguiu achar uma Pitaya por aqui?
Me virei para ele com o fruto na mão e um sorriso gigante no rosto. Sua cara de espanto era hilária, com o rosto rosado e os enormes olhos verdes tão arregalados quanto um prato.
- Uh, sim, era a única no estande, mas consegui. Você conhece? – Ele respondeu, enquanto caminhava em minha direção com a sacola meio cheia nos ombros.
- Se eu conheço? Eu estou á caça desta delícia por eras, querendo testar minha receita nova de Granite!
Vi quando seus olhos brilharam e um sorriso de tubarão tomou conta da boca escondida por um grosso bigode louro sujo.
- Uma receita nova, hum? – Ele perguntou, enquanto sua mão livre acariciava o bigode. – Se eu fornecer o ingrediente, você prepara e me deixa experimentar a receita?
Meu coração batia em meus ouvidos e minhas bochechas doiam com o tamanho do meu sorriso.
- Jura? Vai me deixar ter a Pitaya? O senhor não está brincando? Por favor, eu vou cair mortinha aqui se o senhor estiver brincando.
Ele gargalhou e me puxou pelo cotovelo. Quando terminamos de coletar suas compras ele me levou para o apartamento dele, onde finalmente consegui testar a receita que criei no início da faculdade.
Era para eu ter desconfiado de sua identidade assim que o táxi parou em um prédio próximo ao Central Park, mas estava tão empolgada com a ideia de ir para cozinha criar algo novo, que passou despercebido.
Quando ele perguntou se podia ajudar picando algumas frutas, estava na cara que ele estava muito familiarizado com uma faca profissional e uma estação de corte eficiente. Só fui i****a para não prestar atenção ao desconhecido cuja casa eu ocupava naquele momento.
Mas depois que o granite ficou pronto e nós dois gememos em uníssono, ele virou para mim e sorriu.
- Você, minha cara, tem talento.
Pude sentir minhas bochechas pegarem fogo, enquanto abaixava a cabeça e me concentrava na taça à minha frente.
- Obrigada. – Sussurrei em apreciação. Todo cozinheiro gosta quando outros gostam de sua comida.
- Você já tem emprego, pequena borboleta? – Ele diz, de modo gentil, apesar do grosso timbre em sua voz.
Viro meus olhos para ele e um pequeno sorriso chega aos meus lábios.
- Não, por quê?
- Estaria interessada em uma vaga?
Não preciso dizer minha resposta para vocês, né? Naquele momento, não perguntei qual era a posição que ia ocupar, ou em que cozinha iria trabalhar. Estava desesperada por um emprego e este tinha acabado de cair no meu colo.
Foi só quando cheguei em casa e peguei o papel em que ele tinha escrito todas as informações que eu iria precisar para ter a vaga foi que eu descobri seu nome, Nicholas Spotink, e seu cargo: Chef do Grease Stars.
Nunca gritei tanto na minha vida.
Naquela noite, passei quatro horas no telefone contando toda a história para cada um dos meus familiares.
Se pensar com bastante força, minha cabeça provavelmente ainda dói da ressaca que acordei no dia seguinte depois de secar duas garrafas de vinho com minha melhor amiga e colega de quarto, Amanda, em celebração a enorme conquista.
Enfim, tão certa quanto uma vida poderia estar, assim está a minha. Sem namorado, sem drama, sem tristezas. Não há nada na minha vida que seja digno de pensamentos negativos ou reclamações, além do meu vaso sanitário meio funcional e orgasmos auto presenteados, e isso é tudo o que uma garota poderia querer.
Eu provavelmente sou aquela garota que todas as outras veem, apontam e dizem: beh, chatice total. Só dou de ombros e concordo, por que sim, minha vida é uma completa monotonia, apesar de ter nascido na família em que nasci.
Ser a caçula e única filha mulher me colocou em uma enorme bolha a maior parte da minha vida. Foi só depois que conheci Amanda, no primeiro ano do ensino médio, que criei forças para lutar com toda a superproteção que vem junto aos altos níveis de testosterona da minha família. Não que eles soubessem da minha rebelião silenciosa.
O que os olhos não veem, coração não sente, não é assim?
Minha vida s****l se iniciou depois de um episódio envolvendo uma fuga no meio da noite com uma corda amarrada ao pé da cama me sustentando através da janela do segundo andar, onde ficava meu quarto, e uma muito bem escondida clareira, com Tobey McNight, o quarterback da San Andrew’s High School, e um i****a de primeira linha. Senhor três bombadas e goza me deixou tão traumatizada que levou um ano para eu considerar dar uma outra chance a alguém.
Claro, por que se não bastasse me provocar por três meses inteiros sobre ainda ser virgem aos 16, me excitar feito uma c****a no cio, e me deixar na mão na hora H, ele teve que me ignorar na semana seguinte e ainda contar para todo o time que tinha conseguido tirar o meu cartão V.
O babaca.
Felizmente, o segundo, John Sawyer, sênior e nerd atraente se portou melhor após as três bombadas. Sim, ele também me deixou na mão, mas não foi um completo i****a nos dias seguintes.
O terceiro, cinco meses depois, foi o pior de todos, por que além de ter gozado antes de até mesmo tirar as calças, me despejou na frente da minha casa no meio da noite e gritou para todo o bairro ouvir que não era para eu abrir minha boca de c****a para ninguém sobre o que aconteceu.
Cinco minutos depois meus irmãos apareceram com tacos dos mais diversos esportes no gramado da frente, enquanto eu ria feito uma maníaca e via o carro ir embora.
Só depois daquele dia que eu dei um basta no jeito homem das cavernas para com os exemplares masculinos da minha família. Apenas 17 anos e três experiências sexuais frustradas mudavam uma garota.
Meus irmãos culpavam Amanda pelos meus caminhos no mundo do pecado, mas meu pai apenas suspirou, me abraçou e perguntou:
- Tudo bem, minha pequena?
Depois de chorar cada gota de água dentro do meu corpo, acenei com a cabeça, me tranquei no quarto e descobri as maravilhas do prazer auto imposto. Me processe.
Desde então, Carlos, meu vibrador rosa, presente da própria Amanda, faz todo o trabalho que necessito, dando uma aposentadoria bem merecida a minha mão. Pode parecer patético afirmar que prefiro um vibrador à coisa real com um homem de carne e osso, mas, meu histórico não mente.
Vamos, não sintam pena de mim, eu tenho orgasmos múltiplos e não preciso ficar lidando com ciúme, responsabilidades ou possessividade alheia. Está vendo? No meu ponto de vista, eu só lucro!
Não que meu pequeno histórico tenha me transformado em uma rainha do gelo. Depois de tudo, eu sou humana, inferno! Estou sempre disposta a tirar meu tempo para apreciar a vista.
Saio do box fumegante, me enrolo na toalha, e vou para meu modesto quarto. Como sempre, molhando todo o piso de madeira escura por onde passei. É, eu sou uma bagunceira de nascença. Mandem me prender! É uma coisa maravilhosa que o apartamento que eu divido com Amanda seja tão pequeno ao ponto de quase não caber nós duas juntas ao mesmo tempo.
Meu quarto tem uma cama de casal encostada na parede de tijolinhos vermelhos ao contrário da entrada e duas pequenas estantes ladeando a porta. Uma pequena janela na parede que a cabeceira encosta ilumina o ambiente de nove metros quadrados e fim. Esse é todo o meu quarto. As vezes penso em comprar um pequeno tapete para esconder o piso de madeira gasto que reveste quase todos os cômodos do apartamento, mas eu sempre dou de ombros e lembro da minha inacreditável habilidade de desorganização. Seria apenas mais um item para me incomodar no futuro.
Escolho uma lingerie sexy, uma calça cáqui preta e um suéter branco com gola rolê. Meu trabalho não é um dos mais glamourosos na hora da vestimenta, já que o conforto e a praticidade são muito mais atrativos depois de um torno pesado, mas nada me faz abrir mão de uma bela calcinha e sutiã. Parecer um saco de batatas por fora é inevitável, mas se sentir uma v***a gostosa por dentro não tem preço.
Depois de passar mais meia hora domando meus cabelos negros e passando um mínimo de maquiagem, coloco meu par de sapatos extra confortáveis, pego minha chave e saio para o ar fresco que uma tarde de sexta-feira em Nova York pode oferecer.