Raiva

1065 Words
Era noite. O clube estava fechado para o público. Era o dia das senhoras e dos filhos dos motoqueiros estarem ali, em paz. O clube MM estava estava mais calmo. Doroteia, a senhora do presidente, estava na cozinha. Colocava um bolo no forno. Sabia que os filhos gostavam de bolo depois do jantar. Estela entrou devagar, se sentou à mesa e ficou olhando para a mãe. — Estela, conheço você. O que aprontou? — Nada. Só queria dormir no quarto do Albucacys. Só dormir mesmo. Doroteia se sentou também. Sempre foi tímida, mas sendo esposa de Salomão e mãe de Estela e de Corine, aprendeu a conversar sobre todos os assuntos. Não seria agora que deixaria passar. — Eu sei que você o ama. E sei que quer ser a senhora dele. Mas tenha paciência. Conhece o ciúme e o amor do seu pai. Ele ama e é ciumento na mesma intensidade. Ainda está se acostumando com o fato de que você é mulher. E que Corine está crescendo também. Estela abaixou os olhos. — Mamãe… — Durma no seu quarto. Passe no quarto do Albucacys, dê um beijo de boa noite e só. E não fique aos beijos com ele pelos corredores. Seu pai está lutando contra a natureza dele. Estela respirou fundo. — Posso ver um filme com ele.. Nunca menti para senhora, quero me deitar ao lado dele, mamãe.. — Pode. Leve Corine com você. — Ah, mamãe… — Leve Corine pra ver um filme com você no quarto do Albucacys. Porque vocês aprontam, mas depois sobra pra mim acalmar a fera que é o seu pai.. __ Eu sei bem como o acalma , ele sai do quarto com um sorriso enorme no rosto e nos deixa fazer o que quiser. __ Estela Martins, pare.. Ela não retrucou. Sabia que a mãe não era de impor muito, mas quando falava daquele jeito... era pra obedecer....Doroteia, foi confirmar se o filho tinha acordado da soneca Estela ficou na cozinha, conferiu o bolo da mãe. Sabia que o forno desligaria sozinho, então não se preocupou. Ia sair quando Fagner entrou, era mais um dos motoqueiros do clube e apaixonado por Estela..e não era errado ele estar ali... Aquela parte da cozinha era usada por todos os membros do clube. Ele segurou o braço dela, firme. — Vai mesmo ficar com o Albucacys? — Vou. Eu o amo. Me solte.. — Me deu esperança, Estela. E não me deixou nem tentar te conquistar. — Não, Fagner... — Deu sim. Você sorria pra mim... — Eu não sabia bem o que estava fazendo. Eu sei que não justifica, mas só entendi que não podia sorrir pra você depois que me a minha mãe conversou comigo, eu só tinha dezessete anos, me solta. — Eu ia tentar, tá? Tentar mesmo. Até enfrentar o pres por você. Eu a amo tanto, tanto, que faria qualquer coisa que me pedisse. Fagner aproximou o rosto. — Me dá um beijo. Só um. Eu sei respeitar um irmão de pacth, foi ele que você escolheu, mas eu mereço pelo menos um beijo de despedida. Só um. Nunca mais chego perto... — Não. Me solta, você tá me assustando...pare Nesse momento, Salomão entrou na cozinha. Viu a cena e não hesitou: puxou a faca do suporte. — Solta minha filha, Fagner. Agora. Ele soltou imediatamente. — Papai... — Vá para a área das senhoras, Estela. — O que vai fazer? — Sobe. Agora. Ela correu, o bolo esquecido no forno. Passou para o quarto que a mãe tinha li, pegou o irmão do colo de Doroteia. O menino já era maior, mas gostava de colo.. — Vai na cozinha — ele disse pra mãe, baixinho. — O pai vai mat.ar O Fagner. 🎶🎶🎶🎶 Quando Doroteia entrou na cozinha, encontrou Salomão com uma faca encostada no pescoço de Fagner — e a outra, pressionada na altura do pê.nis do motoqueiro. Fagner estava com as mãos levantadas, sem respirar direito. Se se movesse um centímetro, ficaria sem o me.mbro e terminaria morto. — Salomão... — disse Doroteia, sem levantar o tom. Nada, ele parecia não ouvir, a expressão de raiva.. __ Salomão..__ Ela chamou mais uma vez.. — Ele ia. Ia machucar ela — rosnou Salomão, com os olhos cravados em Fagner. — Não... não machucou. Você conhece ele. Pode ter passado dos limites, mas foi por amor. Você mesmo me disse que ele chegou aqui um garoto. Você conhece ele, o viu se tornar um homem. Conhece o pai o dele, sabe quem ele é, estou pedindo, solte as facas. Ele respirava pesado. Mas não recuava. — Ele não é um abusad.or, Salomão. Foi idio.ta, foi impulsivo, mas não é estupr.ador. Solte seu motoqueiro. Ela segurou o braço dele. — Solta, meu amor, estou pedindo , nunca m@tou alguém na minha frente, não faça isso agora.. não faça.. Salomão olhou pra ela. Por um segundo, o silêncio ficou mais pesado do que qualquer ameaça. Então ele abaixou as facas. Deixou uma cair na pia, e a outra ele mesmo guardou de volta no suporte. — Está suspenso até segunda ordem — disse, ainda sem olhar Fagner nos olhos. Fagner abaixou a cabeça e saiu. Sabia que tinha errado. E sabia que, por muito pouco, não tinha pago o preço máximo. Doroteia abriu os braços para o marido, ele rosnou de raiva.. — Eu sei. Eu sei que você lembrou… é diferente. — Eu ficaria maluco se uma das minhas meninas fosse machucada. Estela já foi. Eu... — Não vai mais acontecer. Não vai. Elas estão seguras, Salomão. Estão. Ele a abraçou com força. Não falou mais nada por um tempo. — Me libera pra uma volta de moto, Dorothy. Me libera. Eu .. — Vai. Mas leva o Albucacys com você. Leva. Assim não faz besteira. — Albucacys não vai machucar minha filha, não é? — Não vai. Albucacys não vai machucar Estela, assim como Guido não vai machucar Corine. Ele assentiu. Pegou o capacete e saiu pela lateral do clube... Minutos depois, Doroteia ouviu o som das duas motos rugindo lá fora.Sabia decifrar o som de uma moto. E sabia reconhecer quando um motoqueiro estava com raiva. Albucacys estava e o marido também. Ela tirou o bolo do forno, colocou sobre a tábua e começou a cortar, ia comer com os filhos, o filme que Estela tanto queria ficaria para depois.
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