Audiência

1433 Words
Processo nº 2187/25 — Ação por suposta violência médica. Autora: Denise Rocha, 42 anos. Réu: Dr. Salomão Martins, cirurgião plástico. Audiência pública de instrução e julgamento. Albucacys se levantou quando o juiz autorizou a fala da defesa. O advogado da autora — um sujeito de terno bege claro e fala decorada — já tinha dramatizado o suficiente. Pintou Denise como uma mulher fragilizada, emocionalmente abalada por ter sido chamada de “burr.a.” por um médico renomado. O pedido era de cem mil reais de indenização por danos morais. O desejo era claro: arrancar dinheiro. E Albucacys só queria sair dali e voltar para o clube. Não gostava daquele ambiente. Não gostava do terno nem da gravata. Preferia sua calça jeans surrada, a moto, a liberdade da estrada. Mas tinha obrigações. Salomão Martins não era só o presidente do MC, era o homem que lhe deu um lar, pagou sua faculdade de Direito e, acima de tudo, adotou sua irmã com amor e cuidado. Respirou fundo antes de começar. — Excelência, serei direto. Estamos diante de um caso onde uma palavra ofensiva foi usada, sim. Mas a paciente, Denise Rocha, tem um problema cardíaco grave, comprovado por laudos médicos. Ainda assim, procurou o Dr. Salomão Martins insistindo em realizar uma cirurgia plástica, com o único objetivo de agradar o marido. Folheou os documentos. — Outros médicos negaram o procedimento. Salomão também. E, diante da insistência, reagiu com franqueza. Chamou-a de burr.a. Foi rude? Sim. Mas foi uma tentativa de fazê-la recuar. Nenhum procedimento foi feito. Nenhum toque, ameaça ou pressão. Só p************s, mas sinceras. E com um único objetivo: impedir que uma mulher morresse por vaidade. O juiz o acompanhava em silêncio. O promotor não esboçava reação. — O réu não quis humilhar. Quis acordar. Se tivesse cedido à vontade da paciente e ela morresse na mesa, aí sim estaríamos diante de um crime. Mas o que ele fez foi negar. Com dureza, sim, mas com consciência. O juiz olhou para Salomão, que até aquele momento havia permanecido calado. Então perguntou: — Doutor Salomão, chamar uma paciente de bu.rra não viola o código de ética médica? Albucacys alertou seu presidente com o olhar. Ele tinha ao menos que fingir que era cordial e educado. Felizmente, Salomão fingia bem. — Eu a chamei assim para que acordasse. Colocar a própria vida em risco para agradar um homem é um absurdo. Isso não é vaidade, é desespero. Ela desejava a cirurgia somente pela pressão do marido. E se alguém cometeu violência aqui, foi o marido dela. O que ela precisa é de prot.eção, não de bisturi. Albucacys segurou um meio sorriso. Era isso. — Meritíssimo — concluiu —, o que está em julgamento não é uma agressão, mas uma palavra. Uma escolha de linguagem feita no limite da responsabilidade médica. E essa palavra, no fim, surtiu efeito. A paciente desistiu da cirurgia. O juiz assentiu e, sem muita demora, encerrou: — Improcedente. A acusação não se sustenta. O processo está arquivado. Albucacys fechou a pasta com calma. Salomão se levantou sem pressa, fez um leve aceno e saiu pela lateral. O advogado da autora bufou e desapareceu corredor afora com cara de quem tinha perdido mais do que a causa. Na porta do tribunal, Albucacys olhou para Salomão. — Podia ter sido mais cuidadoso com as palavras, pres. Salomão deu de ombros. Denise apareceu no saguão logo depois da decisão. Parou bem na frente de Salomão, com os olhos cheios de raiva. — Você devia perder sua licença médica — disse, com os lábios tremendo. — Porque eu ia pagar! O preço que fosse. — Ia pagar porque é bur.ra — Salomão respondeu — E se o seu marido a amasse, não a pressionaria. Albucacys agradeceu que nenhum oficial tivesse escutado aquilo. Tocou o ombro do presidente e disse, já caminhando para a saída: — Vamos embora antes que arrumem um motivo real pra te deixar preso. Seguiram direto para a casa de Salomão.Chegaram lá em menos de meia hora.Doroteia veio direto e o abraçou.. — Como foi? — Bem… ganhamos. A paciente era burr.a mesmo, eu não menti. Doroteia ia repreender o marido, mas antes que ele completasse a frase, colocou a mão nos lábios dele, tentando evitar que o filho mais novo ouvisse. Tarde demais. — O que é uma paciente b.urra, papai? — É uma pessoa teimosa, meu filho — respondeu Salomão. — Mas não pode sair chamando as pessoas assim, meu amor — corrigiu Doroteia, já virando para o menino, que nesse momento pedia colo para Albucacys. Tinha uma predileção escancarada pelo advogado, e ninguém se incomodava com isso. Corine veio logo depois. Abraçou o pai, puxou ele pra perto e falou no ouvido: — Precisa ser mais calmo, papai. — Eu sou calmo, meu amor. Aqui dentro de casa. Na rua… aí eu viro outra coisa — respondeu Salomão, beijando a testa dela. Corine então virou-se e abraçou Albucacys. Eram irmãos, mesmo que ela tivesse sido adotada formalmente por Doroteia e Salomão. Estela também apareceu. Já estava arrumada para o almoço, beijou o rosto do pai, depois foi até Albucacys. Ela queria beijar a boca, quase fez. Mas Albucacys segurou o gesto com um olhar firme, sem dizer uma palavra. Era regra. Nada disso na frente do presidente. Assim, encostou os lábios no rosto dele, mais devagar do que precisava. Um segundo a mais. Um aviso mudo de que queria mais. Ele se manteve firme. Tinha proibido aquele tipo de gesto na frente de Salomão e Doroteia. Não por vergonha — mas por respeito. Por querer fazer a coisa certa. Estela era a mulher da vida dele. Mas ainda era jovem, filha de sangue do presidente. Ele a conheceu criança, depois adolescente, e agora... achava que não podia viver sem ela. . Mas ele ainda estava aprendendo como agir diante disso. Estela era curiosa, intensa, começando a entender o que queria da vida — e do corpo. Às vezes provocava, testava os limites de controle sexu.al dele. Mas devia ir com calma, pois Estela havia sido machucada por um homem quando ainda era criança. E, para completar, ele não queria que Corine se sentisse confusa com tudo. Corine era irmã de Estela por adoção e dele por sangue. não podia se esquecer disse, tinha que agir com honra. Não era só por respeito. Tinha que ter controle por ele, por Estela — pelo passado dela, pelos traumas que carregava. Mas também porque Albucacys sabia o homem que era. Sabia do corpo que tinha, da força e o tamanho do p£nis.. isso ainda o preocupava. 🎶🎶🎶🎶🎶 Depois do almoço, ele foi podar uma arvoré do jardim, quando terminou foi para lavanderia guardar tudo e lavar as mãos, e quando virou para sair , ela já estava lá. Escorada na porta, com a blusa curta que deixava a barriga à mostra,ela só usava blusas assim em casa, era regra de Salomão. — Tá fugindo de mim, Albucacys? — Não, só estou... — Me evitando — corrigiu ela. — Toda vez que chego perto, você muda de direção. Ele parou perto da janela, de costas. — Porque você é filha do meu presidente, filha de Dorotéia e irmã da minha irmã e só estou indo com calma. Ela veio por trás, encostou o corpo nas costas dele, passou os dedos pela camisa. Virou devagar, segurou o pulso dela com firmeza, mas sem machucar. — Estela… não começa. — Por quê? — sussurrou ela, olhando direto nos olhos dele. — Por que eu dei a minha palavra que não vou macchucar você.. Você sabe o que eu sinto. Você sabe o quanto eu te quero. Mas você ainda é jovem.. Você sabe disso e sabe também que sou maior do que os outros homens,não vou correr o risco de te machucar por impulso. Ela o abraçou.. ___ Escute, estou tentando descobrir qual a origem exata da minha família e de Corine, eu , o seu pai e tio queremos ter certeza que meu passado não vai bater na porta.. Eu coloquei fogo na casa com minha mãe e meu padrasto dentro, era isso, ou Corine teria sido morta , não achamos mais rastro de familiares próximos, ainda assim, quero ter certeza de tudo para me concentrar cem por cento em você..e na nossa relação.. Amo você. __ Eu também.. __ Então entre, porque não quero que o seu pai nos pegue aqui e estou indo falar com Guido Cavallari. __ Vocês são ciumentos, isso sim. Ela entrou , e ele correu para o quarto que tinha ali, foi para o banho frio.
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