- "NOVA VIDA"
Ponto de vista de terceira pessoa
Kira é uma jovem alta, com 1,84 m de altura e 79 kg de músculos e ossos tão fortificados quanto aço. Ela é uma Sicária, a elite assassina. Soldados, mercenários e agentes como ela são moldados para atuar como armas vivas neste universo brutal. Denominada pelo capitão Yamamoto, conhecido como "Black Death", como Onna Bugeisha (samurai feminina), Kira sempre carrega uma monokatana — uma espada que, em vez do aço tradicional, possui uma lâmina translúcida de alta tecnologia. Extremamente afiada, porém bem mais frágil que outros tipos de materiais.
Kira está no topo de um prédio, banhada pela luz da lua. Sua pele, tão alva quanto mármore, reluz sob o brilho noturno enquanto ela observa o caos urbano abaixo: ruas movimentadas, luzes néon piscando, conversas abafadas, tiros, explosões, carros e motos cruzando avenidas intermináveis. Os carros voadores da Niesdra, os esportivos mais famosos — veículos de impulso vetorial — cortam o ar sobre a cidade que nunca dorme. Há também as máquinas de guerra voadoras desenvolvidas pelas corporações Elitech e Suijin.
Mesmo estando em uma região nobre, no Centro Sul, onde a segurança é rigorosa, é possível avistar, dos 60 andares de altura, incêndios, ouvir gritos, zombarias e o eco de disparos que ocorrem em outras zonas. Kira, absorta, realiza seu ritual noturno: treinar com sua katana em seu estilo de luta, o Musō Jikiden Eishin-ryū.
Ao finalizar sua prática, percebe uma presença que a observa. É seu criador e guardião, fumando calmamente enquanto admira seus movimentos. Ele se aproxima e, segurando-a pelo rosto, comenta:
— Kira. Sempre buscando se fortalecer, corpo e espírito. Perfeita! Não esperava menos de uma guerreira como você. Hoje você fará uma missão importante, será o início de uma nova história.
Ele dá uma longa tragada no cigarro, com um sorriso cínico nos lábios.
— Mas não aceito falhas. Estes são os dados da missão. Pegue-os, estude-os e, como sempre, execute de forma exemplar e limpa.
Em sua mão, está um chip preto, totalmente descaracterizado. Kira o pega, faz uma reverência respeitosa e se retira. Ao chegar ao seu dormitório — um espaço minúsculo com uma cama embutida na parede e uma pia — conecta o chip à sua interface Dataware e acessa as informações. Após analisar os dados, ela se prepara e segue para o ponto de encontro.
Chang Liu, um Astro de 1,80 m e 68 kg, vive intensamente entre violência, sëxo, drogas e, claro, sua paixão: a guitarra. Astros são escritores, atores ou cantores da revolução social; usam a tecnologia para expressar sua arte e desafiar os poderes vigentes.
No momento, ele está no bar HellCat, se apresentando com sua banda. O clima do local é denso, com fumaça, cheiro de álcool, drogas e até sëxo explícito em cada canto. Ao lado de Chang está Teresa, sua namorada, uma Mídia destemida, sempre em busca de revelar os segredos sombrios das corporações, governos e figuras influentes — mas levemente tendenciosa quando se trata de seu namorado.
Durante o intervalo da apresentação, um homem elegante se aproxima de Chang Liu. Ele tem a pele levemente bronzeada, cabelos lisos e bem penteados, olhos cromados que brilham em tom prateado e um terno azul perfeitamente ajustado. Com uma postura intimidadora, ele se apresenta:
— Olá, Chang Liu. Sou Douglas Veleiro, seu contato direto para missões da corporação.
Ele lança um olhar gélido para algumas mulheres que tentam flertar com ele.
— Preciso que você apoie minha agente em uma missão.
Sem perder tempo, Douglas entrega um envelope com os detalhes da operação. Chang Liu, sabendo que precisa "pagar" o que deve, não hesita. Finaliza sua apresentação — que chama atenção de um empresário rico — mas, entendendo a urgência, deixa Michael, o líder da banda e responsável pelas negociações, no comando. Ele vai até o carro, abre o porta-malas, pega suas armas e segue para o ponto de encontro, após ver o conteúdo do envelope.
Logan, um facilitador de 1,72 m e 62 kg, recebe um chamado. Ele é um homem nëgro, com cabelos em dreads tingidos de chocolate e cavanhaque bem aparado. Seu contato, Peter Monteiro, informa sobre uma carga roubada pertencente à corporação Biocom, prestes a ser entregue a outra empresa de médio porte. Ainda não se sabe quem interceptou a carga, nem quem contratou o roubo. Peter envia por SMS a localização da equipe que o aguarda.
Logan encerra a ligação, chama um táxi e se dirige ao ponto de encontro, ajustando mentalmente os detalhes da negociação e do que pode ganhar com a operação. A missão é clara: invadir e recuperar a carga roubada.
A Biocom envia uma equipe composta por Kira, Chang Liu, Logan e Lucy — uma médica especializada em manutenção de tecnologia e tanques criogênicos. Lucy já trabalha na Biocom e era uma das responsáveis pela manutenção do tanque que fora roubado.
Antes da operação, Kira pede a Logan que investigue o submundo em busca de pistas sobre quem poderia ter roubado a carga. A única informação concreta leva à base da gangue Marombas, localizada na área Leste.
Essa gangue é composta por brutamontes viciados em drogas, implantes e modificações biológicas voltadas ao desenvolvimento extremo de músculos e força física.
A célula da gangue identificada na área onde a carga foi "sinalizada" pela última vez está localizada nas ruínas de uma fábrica da Chevrolet, falida nos anos 2020 após a pandemia de Covid-19. O local, apesar de abandonado, ainda possui muitos sistemas de defesa, tornando-se um ótimo esconderijo.
A equipe invade o local, surpreendendo quatro membros da gangue nos arredores. Um combate feroz começa. Kira, com movimentos rápidos e precisos, elimina dois inimigos em um único golpe, cortando seus pescoços com a espada. A brutalidade da cena intimida os dois restantes, que se rendem.
Logan, com sua lábia, convence os rendidos — Ivan e Dragon — a colaborar. Cansados da vida que levam, ambos aceitam ajudar. Informam que a carga está prestes a ser entregue a um interceptador e fornecem duas pulseiras que permitem entrar no local sem serem detectados.
Kira, desconfiada da boa vontade dos dois, decide deixar Logan cuidando deles. Usando as pulseiras, ela e Chang seguem adiante. Agora praticamente invisíveis, usam a furtividade para evitar barulho. O local, repleto de máquinas em funcionamento, gera muito ruído, oferecendo boa cobertura.
Ao chegarem ao ponto de despacho, Kira e Chang encontram seis seguranças escoltando um jovem que está entrando em um veículo de transporte. Um confronto é inevitável. Kira e Chang entram em ação. Em questão de segundos, os inimigos são eliminados.
Quando estão prestes a mätar o último alvo, o jovem — que não deve ter mais do que 16 anos — se joga ao chão, chorando e completamente apavorado. Ele se apresenta como G.E.S.S., um Netlinker contratado pela Pegasus Med para ir até o local, recuperar o tanque criogênico, traduzir algumas criptografias e despachar a mercadoria.
Sim — juventude e medo, duas coisas que juntas são uma mão na roda. Kira, de forma fria, olha para o jovem. Todos aguardam o golpe fatídico — mas ele nunca vem. Ela dá as costas para todos.
— Vamos, o que estão esperando? Já temos o nome do nosso próximo alvo — anuncia, sem esconder o brilho no olhar e aquele sorriso que não mostra os dentes.
— E lá não tem rendição. Estamos indo para mätar, destruir — e vocês podem carregar o que quiserem e conseguirem levar.
Kira dá de ombros com total desdém.
— Eu só quero o tanque!
Ela olha de soslaio para o jovem.
— E você, garoto, vem com a gente. Após nos ajudar, eu penso se sua ajuda vale uma segunda chance.
No percurso até o laboratório da Pegasus Med, Kira se senta ao lado de G.E.S.S e fala:
— Quero que você me ajude a roubar todos os projetos contidos na rede da Pegasus Med e também no Mainframe. E, após roubarmos tudo, quero que apague todos os dados. Vamos causar uma onda de destruição tão grande que nenhum dado jamais poderá ser recuperado.
O olhar frio de Kira amedronta o jovem, que logo acena positivamente com a cabeça.
É uma viagem de apenas alguns minutos. Kira se encosta para descansar um pouco — seu corpo tem um gasto maior de energia por conta de seu metabolismo modificado.
Ela acaba cochilando.