- NOVAS AMIZADES!

1626 Words
Ponto de vista de Logan Passamos um tempo organizando o espaço para passarmos a noite ali. Encontramos alguns colchonetes largados pelo lugar, demos uma boa limpada e os espalhamos pelo chão. Já era noite, bem tarde, e o cansaço pesava em nossos corpos. Enquanto arrumávamos tudo, G.E.S.S se encarregou de pedir comida—estávamos famintos, exaustos e com alguns machucados. Aproveitei um momento de pausa para entrar em contato com Teresa. Sentia que podia confiar nela, então pedi que viesse nos encontrar na manhã seguinte e passei o endereço. Na manhã seguinte, acordamos espalhados pelos colchonetes. O ambiente parecia ainda mais estranho à luz do dia. Analisa estava sentada na posição de lótus, imóvel, como se estivesse em transe. Observei seus olhos; não havia nada de incomum neles, mas a expressão vazia entregava o que estava acontecendo—ela estava conectada à rede. Pouco depois, conforme combinado, Teresa chegou. Carregava uma sacola com pães e um tubo de pasta que parecia ser algum tipo de patê de soja—ou algo assim. Não me importei muito com isso, um simples pão com café já era o suficiente para mim. Após o café, Analisa saiu do transe. Teresa, que a observava com curiosidade, se aproximou e se apresentou. Analisa, no entanto, não demonstrou surpresa. Em questão de minutos, começou a recitar informações sobre Teresa, como se estivesse lendo um dossiê. Teresa a encarou, surpresa. Após as apresentações, fiz questão de destacar um detalhe que não podia ser ignorado: Analisa tinha parentesco com Kira. Pelas leituras de DNA, a compatibilidade era alta o suficiente para concluir que eram irmãs. Teresa ficou boquiaberta novamente—adoro as expressões dela, são divertidas de assistir. Percebi que a encarava por mais tempo do que deveria, e logo risadinhas ecoaram pelo ambiente. Analisa ria feito boba, mas parecia ser culpa de algo que G.E.S.S havia dito, já que ele também exibia um meio sorriso. De repente, Analisa parou de rir e me olhou séria. — Kira está tentando contato. Meu coração acelerou. Comecei a procurar meu celular como um louco, até que o encontrei largado quase debaixo do colchonete. Assim que atendi, a voz dela veio firme do outro lado da linha. Era realmente Kira. Sem rodeios, disse que me enviaria coordenadas e que eu precisava arranjar um veículo de carga grande para transportar algumas coisas. Achei engraçado. Sabia que ela estava envolvida em uma missão perigosa, mas não fazia ideia do que tinha acontecido ou do que ela queria carregar. Ainda assim, se Kira precisava de mim, essa era minha chance de provar que sou confiável. Preciso estar perto dela, entender a extensão do que ela realmente é... e, quem sabe, convencê-la a lutar ao lado dos Corvos. Olhei para a tela do celular. Ela já tinha desligado e uma nova mensagem havia chegado com as coordenadas. G.E.S.S se aproxima de mim e se oferece para ajudar. Concordo sem hesitar. Analisa, por outro lado, franze o cenho e diz que talvez fosse melhor não ir junto, para evitar o reencontro com Kira, pelo menos por enquanto, seria mais prudente. — Melhor esperar um pouco — ela argumenta. Penso por um instante e acabo concordando. Talvez Analisa tenha razão. Decidimos que apenas eu e G.E.S.S vamos. Pegamos um veículo de Impulso Vetorial. Eu não sei pilotar essa coisa, mas ele diz que é como um simulador de videogame. E, pelo jeito, ele realmente sabe o que está fazendo. Saímos de Manaus e logo estamos em uma área mais florestal, seguindo em direção ao rio. Conforme nos aproximamos, avisto Kira parada dentro de uma lancha. Sem perder tempo, noto que ela já começa a retirar algumas coisas da parte interna do barco. Me aproximo com os olhos arregalados de surpresa, afinal até onde eu sabia ela tava numa missão perseguindo uma tal de Dra.Chambers, bom mas não importa, começo a ajudar Kira, eu e G.E.S.S começamos a descarregar a lancha, transportando tudo para o veículo. A cada item que vejo, minha surpresa cresce. Entre caixas e pacotes, há joias, obras de arte e outros itens valiosos. Isso aqui vale uma fortuna. Kira vai estar rica. Minha mente borbulha de perguntas sobre o que diabos aconteceu para ela conseguir tudo isso, mas antes que eu possa perguntar qualquer coisa, ela interrompe meus pensamentos: — Entre em contato com o mercado nëgro e venda tudo. Ela diz isso enquanto organiza um dos pacotes. — Vou te dar uma comissão pela negociação. Pisco algumas vezes, surpreso. — Tá falando sério? Ela dá de ombros, sem parecer se importar muito com o valor do que acabamos de carregar. — Você vai ganhar uma grana só para vender coisas. Fácil demais. Eu abro um sorriso que vai de orelha a orelha. Se ela soubesse o quanto isso pode render... Montar uma gangue para combater a corrupção e o crime custa muito dinheiro. Que o diga o Batman. Assim que terminamos de descarregar a lancha, percebo que Kira a religa e já começa a manobrar retornando. — Precisa de ajuda com mais alguma coisa? — me ofereço. Não faço ideia do que ela está tramando, mas se conseguiu tudo isso de uma vez, quem sabe o que mais pode conseguir? Ela, no entanto, me corta na hora. — Você já tem seu próprio trabalho a ser feito. Penso por um instante e acabo concordando. Ela está certa. Vender tudo isso vai dar trabalho. Algumas peças precisarão ser leiloadas, as joias terão que passar por um processo cuidadoso, já que não possuem registros. Se tivessem, não precisaríamos do mercado nëgro. Olho para o veículo lotado e sorrio. Isso vai levar tempo, mas vai valer a pena. Passaram-se dois dias desde meu encontro com Kira, e até agora ela não entrou em contato sobre as mercadorias a serem vendidas. Algumas coisas já consegui vender, mas outras deram problema. Parece que certos itens foram reconhecidos—o que definitivamente não é bom. Uma das joias pertencia a um chefe de um braço da máfia chinesa. Uma tapeçaria, por sua vez, parecia ser de um sheik, e isso também gerou complicações. Esses imprevistos me deram dor de cabeça, mas nada se compara à informação que recebi em seguida. Kira comandou uma força de resistência contra um tal de Dentuço. O cara era um traficante pesado—não só de drogas, mas também de órgãos e pessoas. Para piorar, ele era um exilado e fugitivo da gangue dos Marombas. E Kira não só matou o desgraçado, como destruiu metade da Cidade da Sucata em apenas dois dias. Isso me faz pensar: que tipo de agente de campo Kira realmente é? As informações que circulam dizem que todas as estratégias dela foram brilhantemente planejadas. Suas previsões pouparam muitas vidas. Mas, ainda assim, cerca de duzentas pessoas morreram. Duzentas. Por mais eficaz que Kira tenha sido, o custo da vitória foi alto. Teresa me chama para sair. Do nada. Sem aviso. Fico meio surpreso, mas concordo. Quando estamos prestes a sair, de repente, surgem Analisa e G.E.S.S, ambos com sorrisos tortos e olhos brilhando de malícia. Antes que eu possa reagir, eles gritam a plenos pulmões: — ENCONTRO DE CASAIS!!! Paro no meio do caminho, sentindo meu rosto queimar. Tenho certeza de que fiquei vermelho como um tomate… ou pior, roxo como uma berinjela. Meu coração dispara, meu cérebro falha em formular uma resposta, e o ar me falta por um instante. Por um segundo, penso em revidar, em fingir que não ouvi ou simplesmente sair correndo. Mas então, algo chama minha atenção: um sorriso singelo nos lábios de Teresa. Pequeno, discreto… mas genuíno. E, de alguma forma, isso me faz relaxar um pouco. Suspeito que esse "encontro" vai ser mais caótico do que eu esperava. Mas, para minha surpresa, fico animado. Já tive algumas mulheres na minha vida, mas nunca fui do tipo romântico. Nunca fui de sair em encontros assim, planejados, com essa atmosfera estranha de expectativa no ar. Mas talvez seja bom mudar um pouco. Na verdade, percebo que muitas coisas estão mudando. Não só para mim, mas para todos nós. Só não sei dizer se essas mudanças são para melhor... ou para pior. A noite foi divertida, na saída encontramos uma pessoa, nunca imaginei, na verdade não acho que foi coincidência e agora nem sei se isso era mesmo um encontro. Ela era bonita, esguia, com cerca de 1,70m. Seu corpo não era voluptuoso, mas tinha curvas elegantes. Havia algo nela que me lembrava Kira — talvez os traços delicados, os cabelos loiros ou os olhos azuis. Mas Kira tem um olho âmbar, um ciberolho, então não era isso. Ainda assim, a semelhança estava ali, sutil, mas inegável. A jovem se aproximou de Teresa com um sorriso sabido nos lábios, mas, no instante em que seus olhos pousaram em Analisa, seu corpo enrijeceu completamente. Ela congelou no lugar, como se tivesse visto um fantasma. Analisa, distraída com G.E.S.S., nem percebeu, mas eu notei. Notei o tremor sutil que tomou conta daquela garota. Notei a maneira como seu rosto perdeu a cor até parecer translúcido. Ela suava, as mãos crispadas ao lado do corpo. Teresa também percebeu. Parou de falar no mesmo instante, apenas observando em silêncio. A jovem umedeceu os lábios com a língua, engoliu em seco, hesitou. Então, deu um passo. Depois outro. Movia-se devagar, pé ante pé, como se temesse acordar de um sonho frágil demais, como se tivesse medo de que, se se apressasse, aquilo se dissiparia diante de seus olhos. Então, sem aviso, ela envolveu Analisa em um abraço apertado. Analisa sobressaltou-se, surpresa, o corpo enrijecendo por um segundo antes de reagir. Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, uma palavra, quase inaudível, escapou dos lábios da garota. E ecoou em minha mente como um trovão. — Irmã!
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