Ponto de vista de terceira pessoa
G.E.S.S. exibe sua descoberta para Logan, que arregala os olhos, surpreso.
— Qual a possibilidade de isso estar acontecendo? — pergunta Logan, a voz carregada de urgência.
G.E.S.S. reflete por um momento antes de responder com firmeza:
— A possibilidade de ser apenas coincidência? Zero. Mas a chance de essa irmã estar sendo mantida viva para replicar o projeto, devido à similaridade genética, é alta. Ainda assim, vale lembrar que, pelo que observamos, nem mesmo Kira parecia ser um experimento planejado. Eles claramente não entendem por que o Anastasys reagiu daquela forma no corpo dela.
G.E.S.S. balança a cabeça, sua expressão se tornando subitamente confusa. Logan percebe a mudança e, intrigado, ergue uma sobrancelha antes de perguntar, com um tom levemente sarcástico:
— O que foi isso, G.E.S.S.?
O garoto pisca algumas vezes, como se estivesse tentando se situar. Seu tom de voz sai hesitante, quase vacilante:
— Por um instante, fiquei completamente desconectado. Como se minha mente tivesse sido aprisionada dentro de uma fortaleza. E, durante esse tempo, senti algo como a presença de uma I.A extremamente poderosa.
Logan se alarma. Ele e Kira trocam um olhar, a tensão no ar se tornando palpável. Perceptiva como sempre, Kira não demora a questioná-los:
— O que tá acontecendo? Podem me informar por que estão reagindo assim?
Logan decide ir direto ao ponto. Sua voz sai firme, quase cuspindo as palavras:
— Kira, encontramos um DNA com similaridade ao seu, em nível de parentesco direto. Provavelmente uma irmã.
Kira mantém sua expressão impassível, sua frieza intacta.
— Em qual cela?
Logan hesita por um segundo antes de responder, sua mente voltando ao momento em que recebeu a informação.
— Cela S108.
O nome da cela acende algo em sua memória. O técnico que lhes informara sobre uma perturbação naquela área. A cela S108… onde estava a cobaia com o DNA compatível com o de Kira.
Movido pela intuição, Logan se apressa até o técnico e exige mais detalhes. Em resposta, recebe uma gravação da cela. Ele assiste atentamente: a cobaia, mantida há anos em coma induzido, dava sinais de despertar—mesmo sob forte medicação.
A ficha cai.
— Ela reagiu à presença de Kira… — Logan murmura, ligando os pontos. Era a única explicação plausível. A comoção começou logo após terem passado pela área.
Kira não perde tempo.
— G.E.S.S., desative as câmeras temporariamente.
Logan se vira para ela, alarmado.
— O que você vai fazer?
— Sair deste tanque e ir até a cela S108.
Mas Logan a interpela antes que ela possa se mover.
— Kira, se sua irmã está sendo mantida aqui para replicarem o projeto Berserker, eu tenho mais chances de me aproximar dela. Posso me passar por "Wladimir" e ganhar tempo.
Ele já está a caminho da porta quando G.E.S.S. o interrompe abruptamente.
— NÃO! — a voz de G.E.S.S. reverbera pelo ambiente, carregada de um pavor que raramente exibe. Seus olhos se arregalam, o corpo tenso como se tivesse acabado de emergir de um pesadelo.
Kira e Logan trocam olhares.
— Como assim? — Kira pressiona.
O garoto respira fundo, tentando controlar o tremor na voz.
— A cobaia está aqui por um projeto próprio… — Ele hesita por um instante, depois sua expressão endurece. — Ela tem um cibermodem implantado. E com ele… uma I.A filha da püta pra carälho.
O silêncio pesa como chumbo.
— Uma I.A militar. Uma ciberpraga usada em guerras.
G.E.S.S. engole em seco, seu olhar se perde por um segundo, como se revivesse a experiência.
— Ela me hackeou. Foi isso que aconteceu. Quando me desconectei, na verdade, fui invadido. Ela usou minha conexão para me trancafiar numa fortaleza digital… e, enquanto isso, usou meu corpo para falar com você, Kira.
A revelação paira sobre eles como um presságio. Algo muito maior do que imaginavam estava prestes a despertar.
Enquanto isso, na cela S108, uma garota que aparenta ter cerca de 17 anos permanece deitada. Um aparato tecnológico está anexado à sua coluna vertebral, conectando a base da coluna à nuca, com fios embutidos em sua pele como raízes metálicas. De repente, seus olhos se abrem, carregando uma consciência afiada e perigosa. Ela agora sabe exatamente para onde ir e quem usar para se libertar.
Do outro lado do vidro de contenção, um cientista a observa. Por um breve instante, seus olhos brilham sutilmente, como se algo dentro dele tivesse sido reconfigurado. Sem hesitar, ele começa a desativar os mecanismos que a mantêm presa, retirando uma a uma todas as contenções que antes garantiam que ela jamais despertasse e se libertasse.
Um sorriso cínico surge nos lábios da garota. Então, antes que qualquer um na sala possa reagir, o caos se instala.
Centelhas explodem dos painéis de controle. Cabos derretem em um chiado ardente. Placas de circuito fritam instantaneamente. Um cheiro denso de metal e carne queimada infesta o ar, impregnando cada canto do laboratório. Gritos são sufocados no instante em que os corpos dos cientistas sucumbem, suas funções neurológicas colapsando de dentro para fora.
Ela se levanta, movendo-se com uma calma quase ritualística. Seus pés descalços tocam o chão frio, e, com passos lentos e meticulosos, ela se aproxima da porta da cela. Assim que chega perto, a trava de segurança simplesmente cede, como se reconhecesse sua presença.
A porta desliza para o lado, abrindo caminho para sua liberdade.
Atrás dela, o cientista que a libertou a segue sem questionamentos. Seus movimentos são mecânicos, desprovidos de qualquer traço de vontade própria. Seu olhar vago e sem brilho denuncia sua condição—ele não é mais um homem, mas um fantoche. Um zumbi, arrastado pela força invisível que agora o comanda.
Ela sorri novamente.
E então, sem pressa, segue adiante.
A garota avança, destruindo todo e qualquer sistema em seu caminho. Câmeras se desligam abruptamente, luzes piscam descontroladas antes de mergulhar os corredores na escuridão. Pessoas caem sem nem ter tempo de reagir—seus implantes cibernéticos entram em curto, explodindo em faíscas e carne carbonizada.
Tudo acontece em uma fração de segundo. O ataque se desenrola na velocidade do pensamento, um colapso instantâneo e absoluto.
Infelizmente para eles, ninguém é rápido o suficiente para detê-la.
No laboratório S88, os computadores começam a desligar um por um, suas telas piscando antes de mergulharem na escuridão. As luzes falham, piscando freneticamente enquanto gritos ecoam pelo ambiente, criando uma sinfonia de caos e desespero.
Kira sente o perigo se aproximando. Já não faz sentido permanecer dentro do tanque, fingindo estar presa.
A hora da ação chegou.
Seu plano inicial era esperar até que G.E.S.S. e Logan estivessem longe e seguros, mas agora não há mais tempo para isso. A situação exige improviso.
Com um movimento rápido e preciso, Kira saca sua monokatana. O brilho frio da lâmina reflete as luzes trêmulas enquanto ela avança rumo à origem dos gritos. No caminho, cientistas surgem correndo na direção oposta, tentando escapar. Seus olhares se cruzam por um breve instante—e naquele momento, eles percebem a verdade aterradora: fugiam apenas para encontrar um destino igualmente fatal.
Kira acelera, seu corpo se movendo como um borrão letal. Golpes precisos cortam o ar e, em questão de segundos, os homens caem, seus corpos silenciados pela lâmina implacável.
Ninguém além deles sairão vivos daqui.
Logan e G.E.S.S., após lerem sobre o projeto Berserker, finalmente entendem melhor Kira. Então é isso. O corpo humano levado ao limite. Velocidade, força, precisão sobre-humana—os movimentos são fluidos e harmônicos, quase impossíveis de acompanhar.
Como em um filme de terror, as luzes de emergência entram em funcionamento, lançando um brilho pálido e ameaçador pelo corredor. Todo o resto se apaga. Equipamentos elétricos e eletrônicos entram em curto, faíscas voam pelo ar, crepitando no escuro. No meio desse caos, ela se aproxima. Sua pele é pálida como porcelana, os olhos negros como a escuridão ao redor, os cabelos igualmente escuros, emoldurando um rosto de traços finos. Magra, baixinha. O completo oposto de Kira.
Elas se encaram. Kira, porém, sorri com cinismo.
— Então você seria minha irmã?
De repente, um alarme começa a soar.
— Dröga, nem tive tempo de implantar os explosivos. E agora?
G.E.S.S. responde incisivamente:
— Esse alarme não é da segurança, é um alerta de evacuação. Um alarme anti-bombardeio. Kira, este local está sendo alvo de um ataque nuclear!
Ele analisa rapidamente a situação e, de repente, fica exasperado.
— Então vamos evacuar — diz Kira, de forma simples e despreocupada.
Olhando ao redor, percebem que tanto Logan quanto a outra cobaia desapareceram.
Logo em seguida, Logan se comunica pelo rádio e passa instruções para que Kira siga um caminho rápido para sair do prédio — a fuga terá que ser feita pelo terraço.
— Mas... e a cobaia, aquela que foi chamada de minha irmã? Ela sumiu! — Kira pergunta, apreensiva. Afinal, sequer percebeu a movimentação da garota.
Kira decide que se preocuparia com isso depois. No momento, uma cobaia não era sua prioridade.
Eles já não se importavam com câmeras ou forças de segurança — a única preocupação era sair dali o mais rápido possível.
Ao chegarem ao terraço, avistam vários veículos de impulso vetorial. Sem perder tempo, Kira pede para G.E.S.S. verificar quais possuem acesso remoto para que ele possa hackeá-los e abrir um para a fuga.
Nesse instante, a cobaia surge correndo, abre um dos veículos e grita:
— Bora, cambada!!!
Assim que todos entram, o veículo decola. Menos de 30 segundos depois, o impacto.
Um artefato nuclear de meia potência atinge o prédio da Vortoli. Tudo ali — e um cogumelo com pelo menos oito quilômetros para o alto e mais oito kms de extensão — é varrido pelos ares. Centenas de pessoas morrem instantaneamente.
Mesmo já afastado, o veículo é atingido pela onda eletromagnética da explosão. Os motores falham, e a aeronave começa a cair.
Kira rapidamente distribui os paraquedas. A escotilha se abre, e eles saltam.
Só haviam três coletes. Logan, G.E.S.S. e a cobaia pegam e usam os equipamentos.
Kira, sem escolha, assume o controle da nave, tentando ao menos direcionar a queda para fora da cidade, buscando um campo aberto onde possa ter alguma chance de sobrevivência.