- PROMESSAS!

1807 Words
Ponto de vista de Alessandro Andrioli A fumaça densa do cigarro, que queima lentamente entre meus dedos, espalha-se pelo ar, impregnando o ambiente com o aroma característico do tabaco. As lembranças, como fantasmas do passado, invadem minha mente, provocando uma ardência incômoda nos olhos. Lágrimas, há muito tempo adormecidas, ameaçam rolar por minha face, sulcando as marcas do tempo e da dor. Amanda, a única mulher que amei, ou que acreditei amar, a quem idealizei como minha companheira para a eternidade, agora se resume a um espectro, uma sombra que me confronta com a fragilidade da existência e a imprevisibilidade do destino. Apesar de todas as probabilidades e previsões, o Caos persiste, pairando sobre nós, um lembrete constante de nossa vulnerabilidade. Amanda tinha apenas 14 anos quando a conheci. Nossa história começou naquele momento, e foi amor à primeira vista. Algo nela, talvez seu perfume sutil, seu sorriso cativante, despertou em mim uma sensação de familiaridade, como se ela fosse a personificação de um sonho há muito acalentado. Essa conexão inexplicável me impulsionou a me aproximar dela, a desvendar os mistérios que a envolviam. Naquela época, eu era um jovem de 20 anos, inexperiente no amor, alheio aos jogos de sedução. O mundo moderno, com sua superficialidade e valores distorcidos, me repugnava. A maioria das pessoas parecia escrava de seus desejos, desprovida de qualquer senso moral. Amanda, com sua pureza e inocência, destoava da multidão. Decidi que a respeitaria, que esperaria o tempo necessário para que ela se tornasse uma mulher, para que pudéssemos nos entregar um ao outro de forma plena e especial. A cada dia que passava, meu fascínio por Amanda se intensificava. Sua história de vida, marcada pela tragédia e pela superação, me comovia profundamente. A perda dos pais e da irmã mais nova, vítimas de um acidente de carro misterioso, a transformou em uma jovem forte e resiliente. As circunstâncias do acidente eram nebulosas, os corpos nunca foram encontrados e a perícia não conseguiu determinar a causa da queda do veículo em um despenhadeiro. Amanda e sua irmã Aurora não estavam na viagem fatídica, pois Amanda havia contraído uma febre alta e Aurora optou por ficar e cuidar da irmã mais nova. Após uma série de exames, Amanda foi diagnosticada com polimiosite, uma doença autoimune rara e incurável. O tratamento consistia em sessões de fisioterapia e medicamentos para retardar a progressão da doença. Aurora, determinada a garantir o bem-estar da irmã, assumiu a responsabilidade de arcar com todas as despesas, trabalhando incansavelmente para juntar dinheiro para um curso profissionalizante e para as necessidades básicas da casa. Com a conclusão do curso de secretariado executivo e auxiliar administrativo, Aurora conseguiu um emprego na Cybercom, uma empresa de tecnologia de médio porte especializada em cibernética e tecnologia militar. Sua dedicação e talento a destacaram rapidamente, chamando a atenção de Douglas Veleiro, um gerente executivo ambicioso e influente. Aurora era apaixonada por Douglas, em dado momento confidenciou a ele sobre a inteligência e o potencial de Amanda. Douglas, impressionado com o relato, decidiu conhecer a jovem. O encontro entre Douglas e Amanda foi um divisor de águas. Ele se apaixonou instantaneamente por ela e a contratou como estagiária júnior, promovendo-a rapidamente a sua secretária pessoal. Na mesma época, eu, CEO da BioBuilder, negociava uma fusão com a Cybercom, resultando na criação da BioCom. A parceria com Douglas, meu amigo de longa data, era perfeita. A festa de celebração da fusão foi o palco do meu encontro com Amanda. Lembro-me de ter feito uma piada sobre a empresa de alimentos da marca Aurora, e Amanda respondeu com uma gargalhada doce e contagiante. Naquele instante, soube que estava irremediavelmente apaixonado por ela, que dedicaria minha vida a fazê-la feliz. A partir daquele dia, Amanda se tornou o centro do meu universo. Sua presença iluminava meus dias, seu sorriso aquecia meu coração. Nossa relação floresceu, alimentada por admiração mútua e um amor que parecia transcender o tempo e o espaço. Mas o destino, implacável e imprevisível, nos reservava uma reviravolta c***l. O Caos, que sempre pairou sobre nós, se manifestaria de forma devastadora, ceifando a vida de Amanda e deixando-me em um abismo de dor e solidão. O Natal... Ah, o Natal! A melodia natalina ecoava pelas ruas enfeitadas, mas para mim, soava como um lamento fúnebre. Enquanto casais trocavam presentes e famílias se reuniam para ceias fartas, eu me afogava em um mar de lembranças dolorosas. O dia 25 de dezembro marcava o aniversário da minha maior tragédia, o dia em que um acidente c***l me arrancou a luz da minha vida, Amanda. As pessoas ao meu redor reagem de maneiras diferentes. Alguns me julgam, dizendo que sou um t**o preso ao passado. Outros, com suas vozes carregadas de compaixão artificial, pedem que eu "supere" e siga em frente, como se fosse tão simples enterrar uma parte de si mesmo. Mas há aqueles que apenas me olham, em silêncio, sem palavras vazias, sem promessas impossíveis. Esses, eu prefiro. Pelo menos, não tentam arrancar à força o luto do meu peito. Estou vazio. Perdido. Sem propósito. O mundo ao meu redor perdeu as cores. Tudo é cinza, sombrio, sufocante. A cada manhã, abro os olhos e me pergunto por que ainda estou aqui. O ar me parece pesado, cada passo que dou é um esforço insuportável. A vida, que antes pulsava dentro de mim, agora é apenas um eco distante. Eu mudei. Tornei-me um homem quebrado, fragmentado, um mosaico de memórias e arrependimentos colados com desespero. Acreditava no amor, acreditava que tudo podia ser consertado, que esforço, dedicação e um toque de ternura poderiam mudar qualquer coisa. Hoje, sei que estava errado. Pensei em desistir. Pensei em me entregar à escuridão que me envolve, deixar que ela me consuma por completo, sem resistência, sem luta. Mas então... veio o sonho. Amanda. Ela estava ali, mas diferente. Alta, loira, mas sua pele não era mais tão pálida. Havia um brilho nela, um vigor que eu jamais havia tido antes. Não parecia mais doente. Mas a visão era fugaz, um vislumbre breve, uma silhueta distante. No entanto, eu ouvia sua voz, era mais profunda e diferente, mas ainda familiar. Chamava meu nome. Os sonhos continuaram. Noites seguidas, o mesmo cenário. Mas logo percebi que algo estava errado. Não era Amanda. O rosto era incerto, sempre envolto em sombras, como se minha mente se recusasse a definir sua fisionomia. Ainda assim, algo nela me fazia sentir intïmidade. E, no meu peito, um calor sutil começou a se espalhar. Pequeno. Frágil. Mas aconchegante. Então veio o Ano Novo. Talvez fossem os sonhos. Talvez fosse Douglas, com seu entusiasmo forçado, garantindo que este seria "nosso ano da vitória", que uma surpresa me aguardava. Ou talvez fosse aquele calor no peito, um estranho conforto que, contra todas as probabilidades, me fazia sentir um fiapo de otimismo pela primeira vez em anos. Os dias passam. A rotina segue seu curso implacável. E então me vejo aqui, dentro do meu veículo, encarando uma foto de Amanda. O tempo é crüel. Quando fecho os olhos, sua imagem não é mais tão nítida como antes. Esse pensamento me assusta. E, paradoxalmente, é a fotografia diante de mim que mais me perturba: Kira. Hoje eu a conheci. Douglas nos apresentou e a nomeou minha guarda pessoal. Meu corpo inteiro e minha mente reagiram à sua presença. E creio que ela também sentiu algo. Aquele olhar. Um quase sorriso brincando em seus lábios. As narinas dilatando, como se ela estivesse absorvendo o ar ao redor, farejando... como uma caçadora sentindo o cheiro de sua presa. Eu devo ter me tornado um escroto como todos os outros. Sinto-me um traidor. Dois anos e dois meses. Tempo suficiente para esquecer? Para permitir que outro nome ocupe meus pensamentos? Hoje conheci Kira. E algo despertou dentro de mim. Algo profundo, primitivo, proibido. Pensamentos obscuros se infiltram na minha mente, desejos intensos e quase irreais, como se uma parte de mim, há muito adormecida, houvesse sido violentamente despertada. E tudo isso aconteceu em uma fração de segundo. Novamente, aqui estou eu sozinho, imerso em uma inquietude inexplicável. Sinto um aperto no peito, como se algo estivesse profundamente errado. Minhas ideias giram enquanto imagino Kira – ela que, junto com Douglas, já entrou no veículo dele e agora se encontra, a alguns prédios de distância, na cobertura. Queria poder ter asas e voar até lá, lançar-me num ataque impulsivo para, com um trocadilho atrevido, reivindicar o que é meu. Minhas ideias, tão confusas quanto intensas, fazem com que eu sinta uma reação física inusitada. É irônico: enquanto meu rosto se contorce num sorriso sem graça, percebo que meu desejo se manifesta com força – algo que jamais experimentei, nem mesmo com Amanda. Meu mëmbro pulsa, lateja, chegando a doer, numa intensidade que me surpreende. Nunca, nem nos momentos de maior fervor, havia sentido algo assim. Eu a quero. Conheci-a hoje, e essa paixão me transforma num ser quase pervërtido, dominado por impulsos que beiram a loucura. Ao retornar para meu quarto, fecho as cortinas e me deito na cama, buscando um refúgio silencioso. Com mãos trêmulas, pego um creme, espalho-o cuidadosamente na minha mão direita e começo a fazer movimentos rítmicos – estou me entregando a uma mastürbação frenética, enquanto meus pensamentos se fixam em Kira, minha Onna Bugeisha. Que loucura! Em apenas dois ou três minutos, sinto o clímax me alcançar de forma avassaladora. Jamais havia experimentado tal êxtase, algo que transcende o mero desejo físico. Por que nunca me permiti sentir isso antes? É quase irônico pensar que, aparentemente, a maioria dos homens se entrega a esse impulso rotineiramente, mas eu, de alguma forma, mantive esse desejo reprimido. À medida que a onda de prazer selvagem e dominante me invade, cada toque se transforma em uma explosão de emoções conflitantes. Sinto um misto de poder e vulnerabilidade que me consome, fazendo com que a sensação seja ao mesmo tempo quase profana e profundamente humana. Meus pensamentos vagam, entre a fantasia e a realidade, e imagino o que seria estar ao lado de Kira – sentir seu toque, seu olhar, o calor que emana dela de uma forma que transcende a simples carne. Enquanto meus olhos se fecham lentamente, entregando-me ao sono, a imagem de Kira permanece gravada na minha mente, tão vívida e intensa quanto a paixão que agora me domina. Fico perdido em um turbilhão de sentimentos, onde o desejo, a dúvida e o anseio se misturam, deixando-me à mercê de um prazer inexplicável, um sentimento tão selvagem que parece desafiar toda a lógica. E assim, entre sonhos e delírios, adormeço com a certeza de que algo mudou em mim. O que sinto por Kira não é apenas desejo – é uma revelação, um despertar que me deixa inquieto, mas também profundamente vivo, mesmo que esse sentimento venha a me consumir por dentro.
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