- PROCURANDO - PARTE II

1518 Words
Ponto de vista de Alessandro Após a ligação, decido ir até o hotel onde ela e sua equipe estão hospedados. A dröga do hotel fica ainda mais próximo da área afetada do que o meu, então a destruição aqui é ainda maior. Fico parado, fingindo curiosidade, mas, na verdade, estou apenas procurando por ela. Bobagem minha pensar que vou encontrá-la, afinal, sei que ela estava no veículo que caiu. Sinceramente, é quase impossível que tenha sobrevivido. Cogitei ir até a área do acidente, mas, assim que me aproximei, vi várias barricadas, uma vigilância pesada e múltiplos cordões holográficos de isolamento. Será que a equipe dela vai conseguir fazer alguma coisa? Enquanto observo o caos ao redor, noto Logan e G.E.S.S. conversando. Parece que estão traçando um plano de ação. Aguço os ouvidos e ajusto meu ciberáudio para focar na frequência da voz deles, filtrando o barulho ambiente e melhorando a captação da conversa. Logo percebo que eles não têm intenção de ir até o local. Sabem que, além da presença do governo, há agentes da Vortoli por lá, apenas esperando um deslize para capturar qualquer miliante que se aproxime. Os dois se afastam, e uma raiva crescente toma conta de mim. Odeio essa sensação de impotência. Aqui, não posso contar com meus recursos, não sou nada além de um facilitador— não o CEO de uma corporação de médio porte. Frustração. Medo. Receios. E então, uma presença. Eu a sinto. Meus pelos do braço se arrepiam, meu corpo se aquece levemente, uma sensação inesperada de conforto me envolve. Linda. Seu rosto surge na multidão—o rosto da mulher mais linda que já vi. Estou hipnotizado. Mas, num piscar de olhos, ela desaparece. Será que imaginei? Meu desejo por ela é tão intenso que minha mente já começou a criar sua imagem apenas para me consolar? O caos ao meu redor só aumenta, e sinto que estou à beira de um surto. Meu coração bate descompassado, meu corpo tenso, os pensamentos embaralhados. Mas, de repente, tudo congela quando ouço sua voz. — Oi, Sr... Sua pergunta sai hesitante, e só então me dou conta de que não lhe disse meu nome no nosso primeiro encontro. Para quebrar o gelo, estendo a mão para ela. — Mikhail Chernov. Ela a segura sem hesitar, mas percebo que ainda me olha com certa confusão. Enquanto admiro seu belo rosto, meus olhos acabam descendo involuntariamente—sëios, braços, abdômen, virilha, pernas... E então sou eu quem fica confuso. Não, mais que isso. Estou estarrecido. Quando ela implantou membros cibernéticos? O que diabos estou perdendo aqui? Fixo o olhar nela, sem conseguir disfarçar meu choque. Ela percebe. Fica desconfortável, mas se mantém firme, sua voz assumindo um tom inquisidor: — O que está fazendo aqui? Está procurando algo ou alguém? — O que exatamente você está fazendo aqui? Sua voz carrega uma curiosidade latente, quase afiada. Ela me estuda atentamente, seus olhos analisando cada detalhe meu, como se tentasse decifrar minhas intenções antes mesmo de eu respondê-la. — Estou hospedado em um hotel vizinho. Saí de lá porque também foi atingido pela onda de choque da explosão e, ao ver o caos aqui, parei para olhar. Apenas isso — meu tom era de aparente desinteresse. — Entendo. Eu tô aqui para encontrar os rapazes e... — Ela pausa por um momento. Sei que está pensando na cobaia e que não pode falar nada sobre isso. — E iremos partir em breve. Vou continuar procurando, Sr. Mikhail. Ela retoma a caminhada, agora entrando no hotel. Estou parado como um idïota, apenas encarando-a. Ela é absolutamente linda, mesmo com os cibermembros, o que só aguça ainda mais minha curiosidade. Fico absorto em pensamentos, afinal, G.E.S.S. disse que todos os cibernéticos de Kira pararam de funcionar por causa da onda eletromagnética. Então como os dela ainda estão operando? Tudo isso está muito confuso. São informações demais para processar ao mesmo tempo. Mas, por mais que eu tente me concentrar, minha mente sempre volta para ela. Será que ela percebeu que meu päu ficou duro? Eu preciso me aproximar mais, entender quem ela é e por que está mexendo tanto comigo. Linda. Gostosa demais. Sensual. Sua voz é calma e baixa, mas carrega uma frieza absurda ao falar. E o pior? É quase impossível lê-la. Entro no hotel atrás dela, seguindo-a de forma furtiva. Ela parece notar algo, mas me esgueiro para fora de sua linha de visão. Não sei se fui tão eficaz. Quando volto a procurá-la, ela simplesmente sumiu. Expiro, frustrado. Então, uma voz surge atrás de mim, quase me matando de susto. Eu não percebi sua aproximação. — Posso saber por que está me seguindo, Sr. Mikhail? O tom afiado, a ameaça velada na frase. Meu corpo reage antes da minha mente, e respondo sem hesitar, sem deixar espaço para dúvidas: — Kira, estou apenas garantindo que esteja bem. Afinal, você é muito importante para a BioCom. Minha voz vacila um pouco mais do que eu gostaria no final da frase. Ela percebe. E, com um leve toque de sarcasmo, responde: — Apenas para a BioCom? O canto de sua boca se ergue ligeiramente, quase um sorriso. Noto um certo cinismo em sua voz, mas parece algo instintivo, não uma provocação deliberada. Ainda assim, fico curioso e, provocativo, pergunto: — E quem mais poderia ter interesse em sua integridade além da BioCom? Ela ergue as sobrancelhas, como se estivesse simultaneamente surpresa e divertida. Um meio sorriso se forma antes que ela responda, categórica: — Acredito que o senhor tenha sido enviado pelo Sr. Douglas. Tenho razões para crer que ele possui um grande interesse em mim — não apenas como um ativo da empresa. Xeque-mate. Eles têm algum envolvimento. No instante em que esse pensamento me atinge, meu corpo todo entra em alerta. Um calor súbito me consome, seguido de suor frio. Minha boca seca, o coração dispara, e sinto meus músculos tremerem enquanto minha mente acelera em um turbilhão de possibilidades. — Então... vocês são amantes? Namorados? — minha voz falha enquanto tento engolir a saliva que já não existe mais em minha garganta. Ela me encara por um momento antes de responder, sem hesitação: — Não. Ainda não. Porque eu não consigo compreender esse tipo de relacionamento. Mas ele me pediu em casamento. Sei o que isso significa... só não entendo as nuances. Fico surpreso com sua sinceridade e, ainda mais curioso, continuo perguntando: — Mas e os sentimentos? Você diz que não entende de relacionamentos… e os sentimentos, Kira? Você os compreende? Minha voz carrega um peso quase palpável — desejo, necessidade, talvez até ansiedade. Uma expectativa silenciosa de que, de alguma forma, ela sinta algo por mim. Mas sua resposta vem como um balde de água fria. Kira é exatamente aquilo que aparenta ser. Ela se move, fala e reage como uma máquina. E agora tenho certeza: ela também pensa como uma. Tudo nela é lógica, puro processamento racional. — As pessoas demonstram uma resposta comportamental intensificada quando próximos de determinados indivíduos. Essa resposta parece resultar em alterações fisiológicas, como aumento da frequência cardíaca e dilatação das pupilas, além de impulsionar decisões ilógicas e comprometimento da eficiência. Ainda assim, eles consideram essa anomalia desejável. Porém, para uma força operativa como eu, isso é inaceitável. Estou na BioCom para cumprir os desígnios que me foram impostos. Não posso permitir que minha capacidade de raciocínio seja nublada de forma alguma. Ela fala de maneira tão robótica quanto um andróide. No fundo, acho isso incrivelmente sexy. Ela continua me apresentando uma lógica computacional, fico admirando a forma como ela fala, um misto de tësão e curiosidade — Os relacionamentos românticos são uma interação de longo prazo baseada em compatibilidade de dados, troca de informações e manutenção de proximidade física e emocional com um único indivíduo." São complexos e compostos por mistos de sentimentos: Amor → "Uma subrotina complexa que prioriza um indivíduo específico, resultando em alocação excessiva de recursos cognitivos e aumento de processos associados a pröteção, proximidade e bem-estar do alvo." Tristeza → "Uma queda significativa na eficiência operacional causada pela ausência ou falha de um elemento essencial ao equilíbrio do sistema." Alegria → "Um aumento na otimização do sistema devido a estímulos externos positivos, resultando em desempenho aprimorado e estabilidade emocional." Ciúme → "Um conflito interno gerado por uma ameaça percebida à exclusividade de uma conexão prioritária, causando instabilidade nos processos lógicos. E muitas vezes acaba na rejeição que nada mais é que uma falha de comunicação que impede a integração bem-sucedida entre dois sistemas, levando a uma realocação forçada de prioridades emocionais. Após toda essa explicação sobre seu ponto de vista, ela finalmente fala: — Mas eu tenho um sentimento de lealdade muito forte pelo Sr. Alessandro Andrioli. Não sei se o conhece, mas para mim, ele é como um Shogun. Meu coração se enche de um conforto indescritível, uma felicidade quase palpável diante dessa declaração. Então, ela me lança um sorriso — e é o suficiente para me arrebatar por completo. Nesse instante, só consigo pensar em uma coisa: eu a quero para mim. Ela é minha. Apenas minha.
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