Ponto de vista de Alessandro
Volto para o quarto do hotel...
Por que só de pensar em Kira meu corpo reage de forma tão frenética? É constrangedor. Tenho 24 anos, mas às vezes pareço um adolescente que tem ereção por qualquer coisa. Não que Kira seja "qualquer coisa", longe disso. Mas é insano como apenas a ideia dela, em qualquer nuance, já é suficiente para me deixar duro.
Depois dessa lembrança, outras começam a surgir em enxurrada, uma após a outra. Cada gesto de carinho, cada demonstração de amor que tive com Amanda... Ela sempre os recebia de maneira educada, polida demais. Distante.
Era isso que meus "amigos" e colegas queriam dizer quando me chamavam de iludido? Tölo? Bobo?
No fundo, todos aqueles apelidos significavam apenas uma coisa:
Eu era o único naquela relação?
Acendo um cigarro, tentando dissipar esses pensamentos. Minha mente se volta para a missão que está em andamento neste exato momento. Ainda está tudo calmo. Nenhum som de sirenes, nenhuma explosão. Isso significa que eles ainda estão lá. Que ela ainda está exposta.
Será que está tudo correndo bem?
Não consigo parar de temer nunca mais vê-la.
Por que diabos deixei Douglas me convencer? Maldito!
Depois dessa missão, vou dizer que preciso ir para Brasília de novo. E vou levá-la comigo. Ela vai gostar. Lá, as pessoas têm menos implantes e as ruas são incríveis para corridas, além de que o ar é muito mais puro. Sei que Kira ama motos, mas será que também vai gostar de participar de uns rachas?
Adrenalina é algo que me move. Eu vivo por isso. Esportes radicais, velocidade, o risco iminente.
Kira... Kira é adrenalina pura. Tenho certeza.
Amanda, por outro lado, era frágil. Qualquer coisa a debilitava. Nunca fazia nada que colocasse sua saúde em risco. Seus reflexos e coordenação eram péssimos. Sua inteligência compensava, mas fisicamente... era débil.
Fomos esquiar uma vez. Ela caiu, gritou e quase causou uma avalanche. Foi hilário.
Lembro que, naquele dia, ela rolou pela neve até ficar completamente coberta, parecendo uma bola de sorvete de creme. Levei-a para o quarto e preparei um banho quente para ela.
E foi durante aquele banho que, pela primeira vez, eu quis fazer algo.
Eu a masturbei. Mergulhei minha mão na água quente da banheira, deslizando os dedos por sua fënda até encontrar o clïtóris. Comecei a movê-los em círculos, pressionando suavemente aquele pequeno ponto sensível. Ela fechou os olhos e respirou fundo, cada vez mais ofegante. Senti sua perna estremecer em pequenos espasmos, e isso só me incentivou a intensificar os toques.
Afundei o dedo, penetrando-a lentamente até sentir a barreira do hímen. Hesitei. Não quis forçar mais, então voltei minha atenção ao seu clïtóris. Continuei alternando entre movimentos circulares e de vai e vem, mantendo o ritmo até que um gemido alto escapou de sua boca. Mas, de repente, o inesperado aconteceu: seu nariz começou a sangrar, e ela levou a mão ao peito, como se lutasse para respirar.
O pânico me atingiu em cheio. Por um instante, temi tê-la matado. A culpa me dominou. Sem pensar duas vezes, acionei o serviço médico que havíamos contratado para a viagem. A equipe chegou rapidamente, e ela foi levada ao hospital. Ficamos lá por dois dias. Nosso final de semana, que deveria ser uma escapada romântica, se transformou em um confinamento hospitalar.
Quando finalmente a levei para casa, outra crise aconteceu. E, como sempre, ela queria terminar comigo. Era assim toda vez que passava mäl. Dizia que eu merecia alguém melhor, alguém que pudesse me acompanhar e me satisfazer. Chorava enquanto falava, e eu me sentia impotente.
Mas eu não podia abandoná-la. Prometi que iria salvá-la. Eu sempre prometia.
Gastei uma fortuna em pesquisas, tentando encontrar uma cura para sua condição. Quando parecia que estávamos perto de uma resposta, veio um novo choque: descobrimos que sua doença autoimune não era o que os médicos haviam diagnosticado três anos antes. Com essa nova informação, minha busca tomou outro rumo. Passei a procurar projetos de alteração de DNA.
E assim se passaram meses. Meses de buscas incessantes, viagens, tentativas frustradas. E, de tempos em tempos, os términos. Nunca mais a toquei daquela forma. Nosso amor se tornou quase platônico.
Eu a amava. Sempre demonstrava, me declarava, lutava pela vida dela — pela nossa vida. Mas ela parecia alheia a tudo isso. Como se estivesse em outro mundo, um mundo do qual eu não fazia parte.
Foi então que descobri que ela estava tendo encontros com Douglas. Não sabia o motivo, e isso me corroía por dentro. O ciúme me consumia. Sou um homem possessivo, e a simples ideia de vê-la com outro me enlouquecia.
Até que um dia, quando voltei de viagem e cheguei ao porto, lá estavam os dois, lado a lado, me esperando. Como um casal que aguarda um amigo. Foi assim que me senti—um mero figurante na história deles.
Aquilo me atingiu como um soco no estômago. Foi em novembro, um mês antes do acidente.
A raiva tomou conta de mim. Não pensei, apenas agi. Parti para cima de Douglas com uma fúria cega, desferindo golpes como um lutador treinado. A cada soco, sentia minha raiva explodir. A cada impacto, sentia a humilhação se dissipar.
Quando me dei conta, ele estava no chão, inconsciente.
Sem dizer nada, segurei o braço dela e a arrastei dali. Ela estava perplexa—e com razão. Eu, sempre calmo, frio, calculista, centrado e agora, violento, irracional.
Mas não me importei. Apenas a puxei para perto de mim e disse, sem espaço para discussão:
— Vamos nos casar daqui a um mês. Vou preparar tudo. Você não precisa se preocupar com nada.
Dezembro chegou rápido. Os encontros entre Amanda e Douglas continuavam, mas ela insistia que, em breve, tudo faria sentido, que a verdade viria à tona e que eu ficaria feliz e realizado.
Será?
Uma semana antes do casamento, Douglas me procurou. Nossa conversa rapidamente se transformou em uma discussão acalorada.
— Douglas, Amanda é minha noiva. Vamos nos casar em sete dias, cara. Supere isso! — Rosnei entre dentes, estreitando os olhos. Raiva, ciúmes, possessividade—tudo transparecia na minha voz.
Ele sustentou meu olhar por um instante antes de responder, com aquele tom presunçoso que me irritava.
— Alessandro, Amanda nunca te amou. E você sabe disso. Ela tinha apenas 14 anos quando vocês se conheceram. Não tinha maturidade. Agora, ela está crescendo, mudando, enxergando as coisas de outra forma. E você? Ainda acha que ela te vê como antes? Vocês ainda se beijam? Se abraçam? Fazem o que um casal de verdade faz?
Ele falava com ironia, como se estivesse me dando um conselho de amigo. Mas cada palavra sua era um golpe na minha paciência.
— O que eu e minha noiva fazemos não é da sua conta, Douglas. Eu a amo. E não vou deixá-la para abutres. — Cuspi as palavras, deixando claro exatamente o que eu pensava.
Douglas me olhou por um momento, parecendo magoado, e então virou-se para sair. Antes de cruzar a porta, parou e lançou algo no ar, sem olhar para trás:
— Quem quer tudo pode acabar sem nada, Alessandro. E você sempre teve tudo. Sempre quis tudo. Espero que vocês tenham uma vida longa e feliz... Mas eu duvido.
Talvez ele estivesse se referindo à doença de Amanda. Talvez falasse sobre os perigos do mundo. Talvez sobre algo mais.
Só sei que, naquele momento, eu nem vi o que estava prestes a acontecer.
A semana passou voando. Não vi Douglas depois daquela discussão, mas ele me ligou e garantiu que iria ao casamento.
No dia da cerimônia, entramos no veículo que nos levaria ao local. Amanda estava radiante, mesmo que um pouco distante de mim no banco, pois eu estava envolvido em uma discussão acalorada sobre política com um amigo que havia viajado de longe apenas para prestigiar nosso casamento.
Mas nunca chegamos ao destino.
A explosão veio do nada. O estrondo ensurdecedor preencheu tudo, e, por um instante, o mundo se desfez. A detonação ocorreu exatamente onde Amanda estava sentada. O impacto destruiu toda a lateral do veículo, abrindo um buraco grotesco onde, segundos antes, minha noiva existia inteira. O som violento rasgou meus ouvidos, danificando meus tímpanos, mas nada disso importava. Meu único instinto foi gritar por ela. Um desespero absoluto tomou conta de mim.
O veículo colidiu brutalmente com o chão e se arrastou por metros, deixando um rastro de destruição. Por sorte, não houve uma segunda explosão. Mas o horror diante dos meus olhos já era suficiente.
Amanda...
Ela estava caída entre os destroços. Sem uma perna. Sem um braço. Metade de seu rosto reduzido a carne dilacerada. Um dos olhos não estava mais ali. Parte da boca também se fora. Era como se metade dela tivesse desaparecido.
O caos ao redor parecia distante enquanto eu me arrastava até ela, sentindo o coração esmagado pelo medo e pela impotência.
Os socorristas chegaram rapidamente e a levaram para o hospital particular que ordenei. Ela tinha um excelente plano de saúde, garantindo que, sempre que precisasse, teria o melhor atendimento possível.
E, naquele momento, ela precisava do melhor. Porque eu não podia perdê-la.
Amanda não resistiu aos ferimentos e veio a falecer apenas uma hora após o atendimento.
Acordei praticamente dois dias depois, meu olho teve que ser cultivado, voou estilhaços nele e teve que ser substituído, meu sistema auditivo também teve que ser remodelado, pois foi danificado pela explosão.
Mas nada disso me importava mais. Metade de minha alma tinha se perdido naquele acidente.
O enterro foi lindo, mas de uma tristeza esmagadora. Eu estava lá. Ou, pelo menos, meu corpo estava. Minha mente, minha alma, meu coração, tudo já tinha morrido com ela. O vazio me consumia. Meus sentidos estavam amortecidos, como se a realidade ao meu redor não fosse mais do que um borrão sem significado.
Douglas também estava presente, mas calado. Não me olhava, não dizia nada. Parecia envolto em seu próprio luto, como se carregasse um peso invisível nos ombros.
Até que, na saída, ele finalmente suspirou.
— Alessandro, digo apenas uma coisa: Supere isso!
Houve um instante de silêncio sufocante. Então, por um breve momento, quase pude ver um sorriso sádico se formando em seus lábios.
Agora, trancado neste quarto escuro e silencioso, revivo tudo. Cada detalhe. Cada dor. E percebo que amei sozinho.
Mas me disseram uma vez que ninguém ama sozinho.
Amanda acreditava nisso. Gostava de teorias sobre almas gêmeas, sobre conexões que transcendem o tempo e o espaço. Sobre o amor ser sempre compartilhado.
Talvez ela estivesse errada.
Ou talvez eu simplesmente nunca tenha sido sua alma gêmea.