- PROCURANDO - PARTE I

1384 Words
Ponto de vista de terceira pessoa A noite está levemente clara, com tons avermelhados tingindo o céu, dando a impressão de um crepúsculo tardio, embora já seja quase o meio da madrugada. O som dos toques interrompe os pensamentos de Alessandro. A ligação é atendida rapidamente, e a voz do outro lado alcança seus sentidos. — Alô, Logan falando. Há preocupação em seu tom—ele provavelmente ainda busca uma forma de explicar a Alessandro o desenrolar da missão. — Sr. Alessandro, os dados sobre o projeto foram recuperados e apagados do mainframe da Vortoli... porém, Kira está desaparecida. O silêncio que se segue dura apenas alguns segundos, mas para mim, parece uma eternidade. — Logan, me descreva exatamente o que aconteceu para Kira se perder de você — diz com a voz afiada como uma lâmina. — O veículo de Impulso Vetorial em que estávamos foi atingido pela onda eletromagnética, e os motores falharam. Ele começou a cair... Kira nos entregou os paraquedas e ficou dentro da nave — responde Logan, a voz entrecortada, como se cada palavra lhe custasse esforço. Alessandro franze a testa, claramente estranhando a situação. Seu raciocínio trabalha rápido, contabilizando as pessoas envolvidas na missão. — Mas, Logan... Só estavam você e G.E.S.S. a bordo. Normalmente, esses veículos carregam três paraquedas. Logan, alheio à preocupação crescente de Alessandro e ao caos que essa informação poderia causar, responde sem hesitação: — Encontramos uma cobaia que parece ser irmã de Kira. Ela usou o terceiro paraquedas. — O QUÊ?! — Alessandro explode, sua voz reverberando de pura frustração. Logan, ainda confuso com a reação de Alessandro, tenta acalmá-lo. — Ela é Kira... Ela deve estar bem. No exato momento em que ele termina a frase, G.E.S.S. entra apressado no aposento, sua voz alta e urgente. — Logan, não tem como localizar a Kira! Todos os implantes cibernéticos dela devem ter pifado com a onda eletromagnética. Tudo! O cibernético neural, os chips... tudo foi desativado. Alessandro, que aparentemente ouviu tudo, se vira para Logan, sua voz carregada de ameaça. — Logan, onde exatamente vocês estavam quando saltaram da nave? E onde está essa tal cobaia, essa "irmã de Kira"? Ele estreita os olhos, cada palavra impregnada de exigência. — Quero informações. E quero que vocês a encontrem. Espero que esteja viva — ordena Alessandro, sua voz carregada de preocupação, como se um peso invisível estivesse sobre seus ombros. — Iremos começar a investigação em breve — responde Logan. — Estávamos esperando a confusão na cidade diminuir para podermos sair sem chamar atenção. Além disso, nossos chips de tradução de português para inglês também pifaram. Ele solta um suspiro, claramente frustrado com a situação. Alessandro encerra a ligação, sentindo-se completamente impotente e perdido. Seus pensamentos insistem em levá-lo até Kira, a preocupação corroendo cada parte de sua mente. Ele tenta se concentrar, mas a tensão acumulada desperta uma reação inesperada—seu corpo traindo a gravidade da situação. No fundo, ele sente que Kira está viva. Não tem provas, não tem garantias, mas essa certeza silenciosa pulsa dentro dele. O problema é que não sabe em que estado ela está… e isso o consome. Ponto de vista de Kira A chuva não pára de cair. Estou andando há horas, e o desgaste começa a cobrar seu preço. A sede e a fome me castigam, tornando cada passo mais difícil. Mas não é só isso... há algo estranho acontecendo comigo. A radiação é nociva ao corpo humano, e ainda assim, sinto como se meu organismo estivesse absorvendo essa toxicidade em vez de sucumbir a ela. Tento verificar meu relógio biológico, mas ele não está funcionando. Se estivesse, eu poderia acessar informações sobre o nível de radiação e entender melhor o que isso está fazendo comigo. Olho para meu corpo e percebo que praticamente tudo que é eletrônico em mim está inoperante. Meu processador neural, no entanto, continua funcionando—provavelmente graças à sua cobertura anti-onda eletromagnética. Chego ao local onde está a fronteira e avisto um posto avançado. Sei que, aos olhos deles, serei uma suspeita em potencial. Afinal, estou vestida com trapos, com partes das minhas placas de Kevlar expostas devido à queda. Minha pröteção foi gravemente danificada—na verdade, quase toda. Apenas o peitoral permaneceu intacto; o resto está destruído. Permaneço à distância, observando atentamente a movimentação dos guardas. Analiso suas rotas de vigília, os momentos de troca de turno, cada pequena abërtura que possa me dar uma chance de passar despercebida. Durante quase duas horas, fico estudando seus padrões até, finalmente, encontrar uma brecha. Atravesso o posto avançado e chego aos limites da cidade. A área é periférica, com ruas movimentadas e pessoas por toda parte. Enquanto caminho, percebo vários olhares recaindo sobre mim. Odeio atenção indesejada, e neste momento, é a última coisa de que preciso. Mas, do jeito que estou, passar despercebida é impossível. Um homem se aproxima. Seu sorriso revela a falta de muitos dentes, e em sua mão, ele segura um canivete. Olho para o homem com desdém. Um pobre morto de fome, incapaz de representar qualquer ameaça para mim. Logo, outros surgem das sombras — moradores de rua, talvez — emergindo de becos e vielas. Sinto-me cercada. Solto um suspiro cansado, entediada. — Sumam da minha frente, vermes. O fio da minha lâmina não deve ser desperdiçado em lixos como vocês. Nem me dou ao trabalho de sacar minha monokatana. O primeiro avança com um canivete, tentando me atingir. Intercepto o golpe com facilidade, desarmando-o em um único movimento. Seu braço estala ao ser torcido — quebrado. Outro corre em minha direção, mas uso o próprio impulso dele contra si, arremessando-o contra um terceiro. Três já estão caídos. Os outros recuam, o medo estampado em seus rostos. Já perceberam a diferença gritante entre nossas habilidades — ou, no caso deles, a completa ausência de qualquer uma. Continuo a caminhar, mas algo me faz parar. A cena à minha frente é repulsiva: uma mulher está sendo violentada por dois homens. A brutalidade do ato é grotesca. Eles a seguram com força, cada um tomando posse de seu corpo sem qualquer resquício de humanidade. Meu sangue ferve. Sem hesitar, avanço contra os dois. Minha lâmina corta o ar em um único movimento, e suas cabeças rolam pelo chão antes que possam sequer entender o que aconteceu. O silêncio toma conta por um instante. A mulher me encara, os olhos arregalados de choque. Então, o grito rasga sua garganta — um som desesperado, ensurdecedor. Revira-se, contorcendo-se em prantos. "Que vadïa", penso. Enquanto era estuprada, permaneceu em silêncio. Agora, salva, grita como se a dor tivesse acabado de começar. Dou as costas e sigo meu caminho. Ao me aproximar da área onde estou hospedada, percebo algo errado. A fachada do hotel está completamente destruída, os vidros estilhaçados cobrindo o chão como uma chuva de lâminas quebradas. O caos domina o local — viaturas de bombeiros e ambulâncias espalham-se por toda parte, socorrendo feridos, removendo corpos. O cheiro de sangue paira no ar. Parece que a onda de choque passou por aqui, deixando um rastro de destruição. Meus olhos varrem a cena, buscando minha equipe. Eles devem estar por aqui. Ou talvez estejam me procurando. Tanto faz. Mas então, algo chama minha atenção. Uma figura "familiar" emerge no meio da confusão. É ele. O homem com quem fiz contato para receber os equipamentos. Aproximo-me por trás, tentando ser furtiva—não para ele, mas para qualquer outro que possa estar observando suspeitos. Do jeito que estou vestida, posso acabar sendo vista com suspeita. No entanto, misturo-me à multidão, que se parece comigo: vestida em trapos, marcada pela mesma ruína que assola este lugar. — Oi, Sr... Minha voz vacila por um instante. Uma expressão de confusão toma conta do meu rosto. Percebo, um tanto tarde, que nunca me dei ao trabalho de perguntar o nome do meu contato. Ele percebe minha confusão e, sem hesitar, estende a mão para mim. — Mikhail Chernov. Aperto sua mão, mas minha mente já está focada na dúvida que me inquieta. — O senhor está aqui procurando algo ou alguém? O que exatamente está fazendo aqui? — minha curiosidade é genuína. A última vez que o vi, ele estava no aeroporto, entregando meus equipamentos. O que diabos ele estaria fazendo neste cenário de caos?
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD