- CIDADE DA SUCATA: GUERRA PARTE II

1731 Words
Ponto de vista de terceira pessoa Sem um meio de transporte, Kira, Killey, Ghost e Micael avançam com urgência, procurando qualquer alternativa para escapar. O calor intenso e o cheiro químico tornam o ar quase irrespirável, enquanto o céu brilha com colunas de fogo. No horizonte, mais chuvas de Napalm caem sobre a cidade, incendiando tudo ao redor. Explosões ecoam à distância, e gritos de desespero se misturam ao caos. Pessoas tentam fugir, mas muitas caem vítimas do estireno liberado pela queima do poliestireno no napalm, que envenena o ar, rouba o oxigênio e provoca asfixia e tontura. Kira segue à frente, seu olhar analisando rapidamente as opções de fuga. Killey se mantém ao seu lado, pronto para agir. Micael avança com postura de combate, atento a qualquer ameaça. Ghost, ferido e respirando com dificuldade por causa das queimaduras, luta para continuar, precisando de apoio, mas determinado a não ser um fardo. Cada segundo conta, e ficar parado não é uma opção. Tiros, gritos, correria, caos. O inferno se desenrola ao redor, mas Kira mantém a calma, focada no objetivo. Micael, por outro lado, não consegue ignorar completamente a tensão do momento, seus olhos sempre atentos ao menor movimento suspeito. Ghost está em um estado crítico—suas queimaduras, combinadas com a inalação do estireno, o deixam à beira do desmaio. Kira percebe que ele não tem mais condições físicas nem mentais para continuar. Sem hesitar, ela se vira para Micael. — Fica com ele. Leve-o para dentro de alguma residência e se escondam. Ele não aguenta mais. Micael não discute, apenas segura Ghost e o apoia contra o ombro, procurando rapidamente um local seguro. Kira e Killey não podem perder tempo e seguem sozinhos. Após alguns minutos avançando com cautela, eles avistam um jipe LMV, um modelo leve 4x4 equipado com um canhão sem recuo de 106 mm. Os olhos de Kira brilham diante da visão—um veículo assim poderia mudar completamente a situação. Mas algo está errado. — Por que esse jipe tá aqui, sozinho? — murmura Kira, franzindo a testa. Ele parece ser das tropas aliadas, mas não há ninguém por perto. Isso liga um alerta. Ela analisa melhor o cenário e percebe um detalhe crucial: o veículo está posicionado entre dois becos estreitos. A experiência e o instinto falam mais alto. Ativando sua visão termográfica, Kira examina os arredores e confirma sua suspeita—há duas claymores¹ estrategicamente instaladas, direcionadas para a entrada do beco onde o jipe está parado. Se eles se aproximassem descuidadamente, o mecanismo seria acionado, lançando uma chuva de estilhaços mortais. Ela respira fundo. — Estamos sendo vigiados. Killey aperta os punhos e observa ao redor com atenção redobrada. Se há uma armadilha, há também um inimigo esperando pelo momento certo para atacar. Kira mantém os olhos fixos na armadilha por um instante antes de virar-se para Killey. — Preciso que você se aproxime a pelo menos cem metros por trás do jipe. O alcance da mina claymore é de cerca de noventa e um metros, então você estará seguro dessa explosão. Killey franze a testa, processando a informação. — Certo... mas qual é o plano exatamente? Kira esboça um leve sorriso, como se já tivesse tudo sob controle. — Você será a isca. Se você se mover de forma inesperada, eles vão entrar em alerta e, possivelmente, se revelarão antes de acionar o mecanismo. É como coçar o dedo no gatilho antes do disparo—um reflexo comum em soldados inexperientes. Killey cruza os braços, visivelmente desconfiado. — Você está apostando minha vida na inexperiência do inimigo? E se ele não for inexperiente? E se não estiver sozinho? Kira dá um passo à frente, seu olhar afiado e calculista. — Eu vou agir antes que ele tenha qualquer pensamento de puxar o gatilho. O tom confiante dela deveria ser reconfortante, mas Killey ainda sente um nó no estômago. No entanto, ele sabe que não há outra opção. Com um suspiro pesado, ele se posiciona, preparando-se para seguir o plano. Kira ativa sua visão termográfica mais uma vez, analisando cada detalhe ao redor. O inimigo está lá, observando, esperando o momento certo. Kira faz o sinal, e Killey imediatamente entra em ação, avançando em direção ao jipe. Os soldados que prepararam a emboscada se movem de acordo, um reflexo instintivo que Kira já previa. Antes que tenham qualquer chance de reagir, sua monokatana corta o ar em um golpe preciso, e em menos de dois segundos, as cabeças dos dois caem no chão, rolando pelo asfalto sujo. Com um sorriso sarcástico, Kira comenta: — Eu podia ter esperado mais um segundo… só pra ver você tão travado que nem Wi-Fi ia passar. Killey fica sem graça, sentindo o peso da verdade na provocação. Ele sabia que, se Kira tivesse hesitado, ele mesmo teria entregado a emboscada com sua tensão visível. À medida que se aproximam do jipe, a visão ao redor se torna mais perturbadora. No final do beco, corpos estão espalhados de maneira grotesca. Um deles apresenta marcas de mordidas profundas, como se tivesse sido devorado por algo — ou alguém. Outro está nu, os hematomas e ferimentos denunciando um fim brutal. O terceiro corpo, porém, é o pior: está oco, com a cavidade abdominal aberta e vazia, os órgãos removidos de forma precisa e cirúrgica. O cheiro de sangue e decomposição enche o ar, pesado e enjoativo. Killey engole seco, desviando o olhar por um instante, mas Kira mantém-se firme, observando a cena. Algo aqui não está certo. Esse mässacre não parece apenas aleatório — há um padrão, uma intenção por trás disso. Ela estreita os olhos e murmura: — Isso não foi só uma execução… foi um recado. Estamos na periferia, um lugar onde a selvageria dita as regras. Aqui, a fome é uma constante, e as necessidades básicas, como saneamento, são um luxo inalcançável. O cheiro de esgoto se mistura ao de fritura barata vinda de barracos improvisados. E então, como se o próprio céu decidisse castigar ainda mais esse lugar, começa a chover. No início, gotas grossas e espaçadas caem preguiçosamente, mas logo a tempestade desaba com força. Pequenas enxurradas se formam, levando consigo a sujeira, a lama e os dejetos das ruas esburacadas. Seguimos adiante, atravessando a fronteira invisível que separa a miséria da classe média. As construções começam a parecer menos precárias, algumas até têm luz elétrica funcionando, mas o verdadeiro sinal da transição se impõe diante de nós: um enorme portão. Ele não é apenas um limite geográfico, é uma barreira armada. Dois tanques blindados estão estacionados de cada lado, suas torretas imóveis, mas intimidadoras. Acima, quatro torres de vigia abrigam atiradores atentos, varrendo a área com olhares desconfiados. A chuva escorre pelos canos de suas armas e pelo concreto das estruturas. A única passagem visível é uma trincheira estreita, onde uma cancela serve de único acesso. Olhamos uns para os outros, cientes de que cruzar esse ponto não será tão simples. A ação começa. A chuva castiga o cenário, tornando o solo escorregadio e a visibilidade rüim. Relâmpagos iluminam por instantes os tanques blindados e as torres de vigia à frente. Kira e Killey estão sozinhos, sem margem para erro. — Vamos usar o jipe — Kira decide, analisando rapidamente o terreno e a posição da barreira fortificada. Sem hesitação, ela começa a trabalhar. Tem cerca de quinhentas gramas de C-6 sobrando da última ação, o suficiente para transformar o veículo em um carro-bomba letal. Com mãos firmes, posiciona os explosivos nos pontos estratégicos do chassi, garantindo que a detonação cause o maior impacto possível. — O volante vai travado com uma barra. Depois que eu soltar ele, vai seguir reto até a explosão — explica enquanto finaliza o trabalho. Mas Kira não quer apenas destruir a barreira. Quer caos. Acrescenta granadas PEM ao conjunto explosivo, garantindo que o impacto não apenas cause destruição, mas também desative sistemas elétricos, desoriente os inimigos e queime implantes cibernéticos. Killey observa em silêncio, atento, pronto para dar suporte se necessário. Mas essa é a estratégia de Kira, e ele sabe que o melhor que pode fazer é garantir que nada saia do controle. Com tudo pronto, Kira sobe no jipe, liga o motor e sente a vibração do veículo sob suas mãos. A tempestade abafa o som do motor, mas ela sabe que, em poucos segundos, todos naquela barreira sentirão e ouvirão o rugido da destruição os atingindo. — Quando isso explodir, a gente avança — diz, trocando um olhar rápido com Killey. Engata a marcha, acelera e se prepara para saltar no último momento. A explosão ilumina a noite como um segundo sol. O estrondo reverbera pela área, abafando por um instante até mesmo o som da tempestade. A onda de choque arremessa destroços, e uma cortina de fumaça e fogo se ergue, engolindo parte da barreira fortificada. Kira e Killey já estão em movimento antes mesmo da poeira baixar. Os tanques blindados foram danificados com o impacto, e as torres de vigia piscam com falhas elétricas por conta da explosão PEM. No entanto, alguns guardas ainda resistem, tontos, mas armados. Kira avança primeiro. Sua monokatana brilha com o reflexo das chamas enquanto ela corta o primeiro inimigo antes que ele possa reagir. O segundo levanta a arma, mas Killey já está nele, disparando um tiro limpo na cabeça. O guarda cai, e Kira segue em frente, desviando de uma rajada antes de cortar a garganta do atirador seguinte. De repente, um dos sistemas de defesa começa a reativar. As torretas automáticas piscam com energia instável, prestes a disparar. Killey, focado em outro inimigo, não percebe a ameaça a tempo. Kira age rápido. Com um movimento ágil, escala os destroços mais próximos e desmonta a cobertura de pröteção de uma das torres. Sem hesitar, enfia uma granada dentro dos circuitos. A detonação silencia a arma antes que ela possa abrir fogo. Do outro lado, Killey finaliza o último guarda com tiros precisos. As torres restantes giram sem rumo, comprometidas pelo PEM e pelos ataques. O silêncio começa a tomar o lugar do caos. A tempestade ainda cai forte, lavando o sangue e a poeira da batalha. — Conseguimos — Killey comenta, recuperando o fôlego. Kira não responde de imediato. Ela olha ao redor, certificando-se de que a passagem está realmente aberta. Finalmente, balança a cabeça, a adrenalina ainda pulsando. Agora, eles podem seguir em frente.
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