- LABORATÓRIO DA VORTOLI - PARTE I

1827 Words
Ponto de vista de terceira pessoa Logan, sob o disfarce de Wladimir K., posiciona-se à frente. Com todos os registros devidamente alterados, ele utiliza seu acesso no elevador. A biometria é escaneada, e o sistema libera a passagem para o subsolo -8. G.E.S.S solta o ar que nem percebeu estar prendendo. "Wladimir" mantém a postura relaxada, sem demonstrar preocupação. Kira continua dentro do tanque, tudo conforme o planejado. Laboratório, ala B-8, sala S88. No trajeto, a equipe se depara com centenas de cobaias confinadas. Algumas estão em celas acolchoadas, outras submersas em tanques de suspensão, imobilizadas por fechos em macas metálicas. Há também aquelas que simplesmente aguardam em celas comuns, com olhares vazios, perdidos, sem qualquer resquício de esperança. — Kira, tá me ouvindo? Olha isso. Olha o tanto de cobaias aqui. Cara, eles têm mais de 200 pessoas presas. E isso é só um laboratório. Devem existir outros. Você queria mandar tudo pelos ares, e agora? — Logan questiona, a inquietação evidente em sua voz. Kira permanece impassível. Ela não pode se dar ao luxo de falar. Qualquer desvio pode pôr tudo a perder. Eles finalmente chegam à sala onde o Projeto Berserker está sendo aguardado. No centro do ambiente, há um tanque específico para conter a cobaia. Na tela, G.E.S.S. já foca seu olhar e prontamente começa a mexer nos computadores, analisando os dados com rapidez. Pouco tempo depois, um homem entra no local. Seu olhar é sério e inquisitivo ao encarar cada um dos presentes antes de se apresentar: — Sou o Dr. Ismael Schneider. Ele examina o ambiente com atenção e logo percebe G.E.S.S. acessando os arquivos do projeto. Antes que possa dizer qualquer coisa, "Wladimir" se adianta e se coloca entre ele e os computadores. — Dr. Schneider, permita-me apresentar o Dr. Ygor Orlov. Ele fará parte da minha equipe pessoal. Nós mesmos cuidaremos do Projeto Berserker daqui para frente. Sem dar espaço para argumentação, Wladimir já começa a conduzir o cientista para fora da sala. Dr. Schneider, visivelmente desconfortável, lança um olhar desconfiado enquanto se afasta. — Claro. Apenas irei confirmar isso com a Sra. Michelle. Afinal, foram vocês dois que me chamaram aqui, e agora estou sendo dispensado apenas por você. Mas se ela precisar de mim... Wladimir não responde. Apenas o acompanha até a saída e, sem hesitar, fecha a porta atrás dele. — E então, G.E.S.S., progresso? — pergunta Logan, visivelmente apreensivo. G.E.S.S. demora um instante antes de responder, concentrado na tela. — Está demorando um pouco por causa da criptografia, mas... — Ele abre um sorriso maroto. — Está sendo copiado agora! Com animação palpável, ele aperta Enter, confirmando o processo. — Ótimo. Assim que concluir a cópia, apagaremos o que eles têm e alteraremos as câmeras. Como se se lembrasse de algo, Logan ergue o olhar. — Quem está monitorando as câmeras? — Eu, senhor — responde um dos técnicos da equipe. — Tudo tranquilo. Houve um pouco de agitação na cela S108, mas fora isso, sem novidades. Logan murmura para si mesmo, quase como um presságio: — Tudo só estará certo quando sairmos daqui... Enquanto os arquivos são baixados, G.E.S.S. começa a ler o conteúdo do documento e, aos poucos, seu semblante muda. Seus olhos se arregalam, sua expressão fica rígida. Logan percebe o espanto e, curioso, se inclina para ler também. Em segundos, ambos estão hipnotizados pelas informações. > Projeto Berserker O Projeto Berserker teve início com o uso da dröga experimental desenvolvida pela BioCom: Anastasys. A cobaia escolhida para o experimento foi o corpo de um indigente recém-falecido. Sem identidade, sem histórico médico, sem qualquer ligação com o mundo exterior. E, pela primeira vez, o Anastasys conseguiu o impossível: trazer um cadáver de volta à vida. Assim que despertou, apresentou um estado de fúria incontrolável. A produção exacerbada de hormônios garantiu que fosse imune à dor, dotada de força sobre-humana, reflexos apurados e sentidos amplificados. A cobaia foi contida, mas não sem uma luta feroz. Sua força e resistência estavam além do previsto, tornando impossível imobilizá-la com métodos convencionais. Eventualmente, a situação saiu do controle, e a única opção foi recorrer a uma das máquinas de combate do laboratório. A ordem foi dada. A máquina avançou, golpeando com precisão cirúrgica. Primeiro, arrancou uma perna. A cobaia cambaleou, mas continuou a lutar. Em seguida, ela foi brutalmente agarrada, e um de seus braços foi arrancado com uma força avassaladora. Ainda assim, recusou-se a ceder. Ignorando a dor, continuou a lutar, desferindo chutes e socos com os membros que ainda lhe restavam, determinada a atingir seu alvo. Por fim, para pôr um fim definitivo à ameaça, a máquina desferiu o golpe final: sua cabeça foi esmagada, encerrando sua breve e violenta ressurreição. Na época, o responsável pelo Projeto Anastasys era Douglas Veleiro. Frustrado com os resultados, ele decidiu abandonar a pesquisa. Afinal, nunca havia funcionado de fato, e a única cobaia que demonstrou algum tipo de sucesso despertou sem qualquer traço de racionalidade, tomada por uma fúria cega e incontrolável. Após ser neutralizada, o corpo da cobaia foi colocado em uma gaveta refrigerada. No dia seguinte, estava programada uma autópsia, seguida de dissecação, na esperança de encontrar alguma pista sobre o funcionamento da dröga. Afinal, apesar do fracasso aparente, pela primeira vez o Anastasys havia conseguido reanimar um corpo morto. Porém, ao retornarem ao laboratório, a equipe foi tomada por um choque absoluto. Ao abrir a gaveta, encontraram o corpo completamente reconstituído. A cabeça, antes esmagada, estava inteira. O braço e a perna, destruídos no despertar, estavam totalmente restaurados. Não havia deformações, cicatrizes ou sinais de intervenção. A cobaia simplesmente jazia ali, aparentemente em um sono profundo, como se nunca tivesse sofrido qualquer dano. Douglas chegou ao laboratório esbaforido logo que foi avisado sobre o fato e ficou maravilhado com o que via. A criatura diante dele não era apenas uma sobrevivente do experimento, era a prova viva de que o Anastasys funcionava de uma forma jamais imaginada, pelo menos naquela cobaia. Sem hesitar, a equipe retirou a cobaia da gaveta e a conteve sobre uma maca. Dessa vez, estavam preparados. Uma hora depois, ela despertou. Duas dezenas de soldados cercavam a sala, armados e prontos para conter qualquer reação hostil. Uma equipe de cientistas estavam do outro lado do vidro blindado. A máquina de combate do laboratório estava posicionada ao lado de Douglas, aguardando o menor sinal de perigo. Mas, desta vez, algo diferente aconteceu. A cobaia abriu os olhos e fixou Douglas com um olhar intenso. Em seguida, percorreu a sala com atenção meticulosa, analisando cada detalhe. Seus olhos pousaram diretamente no ponto exato onde o vidro blindado ocultava a equipe de observação. Depois, com uma lentidão quase calculada, voltou a encarar Douglas. Não havia gritos, nem ataques impulsivos. Apenas um olhar fixo e profundo, carregado de algo desconhecido. Foi naquele instante que o nome do projeto foi escolhido. O Projeto Berserker nasceu ali, com o despertar daquela criatura. E a partir desse segundo renascimento, os experimentos finalmente começaram de verdade. A cobaia foi submetida a um processo de modificação corporal com o objetivo de amplificar suas capacidades físicas, mentais e cognitivas, aprimorar o instinto e até mesmo estimular sensações extrasensoriais. O corpo foi projetado para operar em estado de hiperatividade constante. Mesmo durante o sono, suas glândulas, tecidos especializados e neurônios trabalham incessantemente, produzindo hormônios em quantidades anormais, incluindo adrenalina, endorfina, serotonina, somatotrofina, testosterona e cortisol. Esses hormônios, combinados em níveis elevados, resultam em: Potente efeito analgésico, tornando a cobaia imune à dor; Aumento da capacidade de raciocínio e processamento cognitivo; Metabolismo acelerado e regeneração aprimorada; Densidade óssea aumentada e resistência física ampliada; Sistema imunológico fortalecido e homeostase regulada; Pressão arterial elevada para um maior fluxo sanguíneo; Produção constante de hormônios do crescimento, promovendo aumento muscular e alongamento ósseo. Após três páginas detalhando o funcionamento bioquímico do experimento, chega-se ao trecho que os deixa verdadeiramente chocados. Ao retornar à vida, a cobaia apresentou perda total de memória, preservando apenas a memória processual, também conhecida como memória implícita de longo prazo, mas demonstrava uma capacidade excepcional de aprendizado. Durante os experimentos, foi submetida a diversos testes, sendo que, em um deles, teve 70% do corpo destruído. No entanto, após uma semana de recuperação em um tanque especial, conseguiu se regenerar completamente, recebendo apenas alimentação como suporte. Observou-se que, a cada vez que seu corpo retornava à vida, a cobaia parecia se tornar progressivamente mais distante da "realidade". Além disso, desenvolvia alguns transtornos psicológicos. O treinamento se estendeu por quase dois anos. Durante esse período, a cobaia foi instruída em artes marciais, combate com espadas, manuseio e conhecimento de armas (armas de uso pessoal como pistola, armas de uso militar como fuzis e rifles, armas pesadas como lançadores de misseis e granadas e explosivos) e estratégia de combate e algumas habilidades úteis à sobrevivência. Várias amostras foram retiradas de seu córtex cerebral e de sua medula óssea. Foi assim que nasceu a versão definitiva do Anastasys, uma criação verdadeiramente capaz de reviver um corpo morto. Testes foram realizados repetidamente, mas os resultados permaneciam os mesmos. As cobaias, embora retornassem à vida, despertavam sem qualquer lembrança e apresentavam algum tipo de psicopatia grave, tornando-se imprevisíveis e potencialmente perigosas. O projeto Berserker foi abandonado devido à impossibilidade de reproduzir o efeito em outras cobaias. Nenhuma delas conseguiu alcançar os mesmos resultados e, inevitavelmente, acabavam morrendo. Ao longo de quase dois anos de treinamento da primeira cobaia, mais de duas mil foram utilizadas em tentativas frustradas. Até mesmo a clonagem foi experimentada, mas sem sucesso. > Extinção do Projeto Berserker Logan e G.E.S.S. se encaram. Com base no pouco que sabem, no que já viram e ouviram, e agora, ao lerem esse documento, apenas um nome lhes vem à mente—alguém que se encaixa perfeitamente nas descrições. Então era verdade. Wladimir estava atrás de Kira porque também tinha acesso a esses dados. Mas isso significava que alguém de alto escalão dentro da BioCom estava jogando dos dois lados. Ou, talvez, a espionagem corporativa da empresa fosse ainda mais sofisticada do que imaginavam. De qualquer forma, era preocupante. Será que já sabiam que eles estavam ali? E se tudo isso não passasse de uma armadilha? O arquivo finalmente concluiu seu download, revelando uma imensa quantidade de informações sigilosas. Nele estavam detalhados os processos e drogas utilizadas em Kira, além dos registros da primeira versão do Anastasys. Ciente da importância desses dados, G.E.S.S. imediatamente tomou providências para destruí-los e o arquivo que ele baixou jogou nas nuvens, com acesso que apenas ele o tem. No entanto, enquanto buscava mais arquivos relacionados a Kira, deparou-se com algo inesperado: uma cobaia cujo DNA apresentava 61,7% de compatibilidade com o dela. Isso indicava uma possibilidade alarmante—essa cobaia poderia ser sua irmã. O mais intrigante era que ela estava sendo mantida em um coma induzido constante. Diante dessa descoberta, G.E.S.S. hesitou. Deveria revelar essa informação a Kira? Ou seria mais prudente manter isso em segredo até entender melhor a situação?
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