2 - Primeira classe

1489 Words
Atlas Eu gostei da expressão de choque total no rosto dela. Seu rosto deslumbrante, claro. Seu cabelo era longo, sedoso e escuro; suas maçãs do rosto salientes; sua pele morena, com uma tez impecável e radiante; seus olhos grandes, castanhos e emoldurados por cílios longos. Era impossível não notá-la quando cheguei ao bar do aeroporto, e no segundo em que a vi, soube que precisava conhecê-la melhor. Na verdade, eu queria mais do que apenas conhecê-la melhor; meu verdadeiro plano era seduzi-la. — Quem é você? — Sua voz era amável, cadenciada e confiante, tudo ao mesmo tempo. Tenho que admitir que fiquei um pouco surpreso. Ela não tinha pesquisado sobre mim antes? — Eu sou Atlas, tio da Lily. Você não me reconhece? Mesmo com o tom de pele oliva, era fácil perceber o rubor envergonhado no rosto dela. — Na verdade, você até parece familiar, mas não consegui identificar o porquê. Agora vejo a semelhança com o pai da Lily. — Ah, sim. Mas sou bem mais bonito, né? Nós dois sorrimos, um silêncio agradável se instalou. Observei sua garganta se contrair enquanto ela engolia mais um gole da bebida. A visão era quase hipnotizante. Eu estava ansioso para saber mais sobre ela. Átila tinha feito a entrevista por telefone, então Giorgia era uma grande incógnita para mim. Embora ela e minha sobrinha fossem amigas há anos, eu viajava tanto que nunca tinha tido a oportunidade de conhecer a beldade pessoalmente. — Então, como você está se sentindo em relação ao verão? Ela levantou as sobrancelhas e me olhou de relance, como se eu tivesse acabado de fazer uma pergunta difícil. — Engraçado você perguntar. Foi sobre isso que eu estava conversando com a Lily há pouco. — Não me diga que você está tendo dúvidas? — Falei as palavras de forma brincalhona, mas havia um tom de seriedade nelas. — Não, não é isso. Acredite em mim, estou mais do que ansiosa para finalmente dar uma pausa. — Então qual é o problema? Talvez eu possa ajudar com isso. Ela sorriu suavemente, como se apreciando a minha oferta de ajuda. — Sentada aqui no aeroporto, realmente me fez perceber no que estou me metendo. — Nunca fez uma coisa dessas antes? — Fui babá uma vez quando era criança. — E como foi isso? — Disparei o alarme de fumaça enquanto fazia uma pizza congelada. Não consegui descobrir como desligá-lo, então os bombeiros acabaram vindo. Os pais tiveram que encurtar a noite do encontro. Eu sorri. — Aposto que você não mencionou isso na entrevista. — Agora, você acha que eu sou desonesta? Eu dei uma olhada no rosto dela, tentando decifrar se estava brincando ou falando sério, mas Giorgia realmente tinha uma expressão bem honesta. — De jeito nenhum. Ela deu um leve aceno com o dedo, como quem repreende. — Não se esqueça disso. Eu contei pro Sam. Ele achou mais divertido do que qualquer outra coisa. — E o que você disse a ele para conseguir o emprego? — Oh, talvez só mencionei algumas palavras sobre como passei os últimos anos obcecada pela escola e me formando como a melhor da minha turma. — E você conseguiu? Ela assentiu, com um sorriso. — Tanto na graduação quanto no mestrado. — Muito legal. Bem, trabalhar duro é o caminho para o coração do Átila. — Foi o que ele disse. Ficou especialmente intrigado com a história da minha família, com o fato de eu ter começado do zero e ter terminado meu mestrado na NYU. — Uau, agora você mexeu comigo. Ela sorriu. — Isso significa que vou ter uma segunda entrevista? — Não. Se o Átila te deu o carimbo de aprovação, isso é mais do que suficiente pra mim. Mas isso não significa que eu não queira saber mais sobre você. Em poucos minutos de conversa, eu já me sentia completamente envolvido por Giorgia. Precisei me controlar ao máximo para não me jogar nela, para não encher de palavras doces até ter a chance de ver o que ela estava usando por baixo daquela calça jeans justa. Nem preciso dizer que fazer isso complicaria a relação de trabalho que eu teria com minha au pair. Eu precisava me controlar. Outro silêncio agradável se instalou, interrompido pelo zumbido do celular dela. Ela se inclinou para ler o número na tela, os olhos arregalados. — Droga. Normalmente eu nunca atenderia uma ligação no meio de uma conversa como essa, mas é do MET. — O MET? Tipo, o museu? Ela assentiu. — Como no museu. Vou começar um trabalho lá no final do verão. Isso me impressionou ainda mais. — Merda. Então não me deixe te prender. Enquanto Giorgia passava apressada por mim, era impossível não dar uma espiadinha na sua calça jeans. Ela tinha curvas em todos os lugares certos — um corpo atlético que deixava claro que ela se orgulhava de sua boa forma. Por mais difícil que fosse, desviei o olhar e voltei para minha bebida. Levantei os olhos e vi o barman me lançando um olhar furtivo. Eu estava apenas flertando com ela para passar o tempo. Estar perto de Giorgia, mesmo que por poucos minutos, era mais do que suficiente para fazer todas as outras mulheres ao redor parecerem quase sem graça em comparação. Olhei por cima do ombro e vi Giorgia parada ao lado, ainda no meio da conversa ao telefone. Tirei meu celular do bolso e vi que uma mensagem do Átila havia chegado na nossa conversa em grupo. Ei! Você ainda está no avião ou o quê? Sorri, ansioso para compartilhar o que tinha acontecido. Ei, vocês não viram a Giorgia ainda? A resposta de Átila foi rápida. Uh, sim, ela é filha do meu melhor amigo. Lembra dela? Artem, meu gêmeo, respondeu. Só vi umas fotos dela nas redes sociais. Garota bonitinha. As fotos não fazem justiça a ela, mano. Olhei por cima do ombro e vi Giorgia se aproximando de mim. Ela se acomodou novamente no assento. — Tudo certo? — perguntei. — É... — Percebi que ela estava aliviada. — Eles só queriam algumas informações para o meu arquivo de RH, nada demais. Bati o dedo no balcão, preparando-me para fazer a pergunta. — Tenho uma ideia. Eu ia contar pros meus irmãos que te encontrei aqui, mas achei que seria mais divertido tirar uma selfie. Os olhos dela brilharam de um jeito absolutamente irresistível. — Ok. E temos que mandar para a Lily também. Sem perder mais tempo, puxei minha cadeira e passei o braço em volta do seu ombro. Giorgia se aproximou, seu perfume me envolvendo de uma forma totalmente inebriante. Precisei de toda a minha concentração para tirar a foto. Enviei a foto para meus irmãos e adicionei uma legenda: “Estou me sentindo um pouco menos chateado por vocês terem pegado o jato particular.” De repente, uma voz soou nos alto-falantes do bar. — Atenção, passageiros do voo 1-5-4 da United para Nice, França. Estamos iniciando o embarque no portão 17. — Acho que é nossa vez. — Eu disse. — Falando nisso, onde você está sentada? Giorgia pegou seu bilhete na bolsa. — Assento B, linha 25. — Sério? — perguntei, com um sorriso. — Átila, seu barato safado. — Hã? O que houve? — Em primeiro lugar, você está no assento do meio. Não sei quantos voos você já fez, mas nove horas de voo entre dois estranhos não é a maneira de fazer isso. Ela acenou com a mão no ar. — Ah, não me importo nem um pouco. Só estou grata que o Átila se ofereceu para cuidar disso. — Ele é bilionário, claro que ele dá conta do recado. Mas o Átila é meio que... bom, você conhece o velho ditado: você não fica rico gastando dinheiro, você fica rico economizando? Meu irmão às vezes exagera um pouco. Aqui, me dá a sua passagem. — O quê? Por quê? — Porque vou te atualizar para primeira classe. E, se possível, para o meu lado. — Comecei a andar em direção ao portão, com Giorgia correndo atrás de mim. — Sério, você não tem que fazer isso. — Claro que sim — respondi, lançando-lhe um sorriso. — Quer dizer, não me entenda m*l, é super legal da sua parte se oferecer. Mas, ao mesmo tempo, parece muito... excessivo. Eu ri. — Giorgia, você vai passar o verão com três bilionários. Vai ter que se acostumar com o excesso. Cheguei ao portão, sem dar a chance de ela dizer mais nada. Giorgia ficou ao meu lado, com os lábios franzidos, enquanto eu trocava a passagem e pagava a diferença com meu cartão Black. — Feito! — Eu disse, entregando a nossa passagem para ela. — Obrigada — disse ela, com um sorriso. — Estou falando sério. — Você já viajou na primeira classe antes? — perguntei. — Nunca. — Então vai ser uma delícia. Vamos.
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