6 - Conhecendo os três

1739 Words
Giorgia Fiquei sem fôlego ao entrar na casa, o interior tão impressionante quanto o exterior. A luz natural inundava os cômodos amplos e abertos, fazendo com que o lugar parecesse radiante. Diversas obras de arte — uma mistura de moderno e clássico — estavam dispostas de forma a se integrarem perfeitamente ao estilo elegante e minimalista da casa, deixando claro que haviam sido escolhidas com cuidado. Para ser sincera, o lugar era tão agradável que não consegui evitar me sentir um pouco envergonhada com minha calça jeans, moletom e meus tênis surrados. Sem mencionar o quanto me senti desgrenhada depois do longo voo. Os funcionários circulavam de um lado para o outro, alguns carregando malas para o andar de cima, outros organizando o espaço com uma eficiência tranquila, quase coreografada. — Você tem funcionários? — perguntei, surpresa. Atlas assentiu com um meio sorriso. — Quinze, no total. Nenhum de nós jamais foi muito... do tipo "desorganizado", então quando nos mudamos pra cá, tentamos manter tudo limpo e organizado por conta própria. Depois de uma semana passando noventa por cento do tempo acordados espanando móveis e lavando louça, mudamos de ideia. O alojamento deles fica atrás do complexo principal — você vai ver durante o tour completo. Antes que eu pudesse responder, o som abafado de vozes mais adiante me avisou que estávamos prestes a encontrar os outros dois homens. E, de fato, dois rostos surgiram na esquina do corredor. O primeiro era um homem que parecia uma cópia de Atlas — pelo menos na estrutura facial e no porte físico. Tinha o mesmo maxilar forte, olhos castanhos intensos, boca desenhada e nariz fino. A diferença mais marcante era o cabelo: enquanto o de Atlas era mais longo e levemente bagunçado, o deste homem era curto, no estilo militar. Sua expressão era séria, quase rígida, como se estivesse me avaliando cuidadosamente a cada passo que dava. Vestia roupas perfeitamente passadas — calças escuras, uma camisa social impecável, e sapatos de couro pretos polidos como espelhos. Mesmo antes que alguém o apresentasse, eu soube: aquele era Artem, o irmão gêmeo de Atlas. O homem que vinha atrás dele era o pai de Lily. Átila Langford. Ele era mais alto que os irmãos por alguns centímetros, com um corpo esguio e tonificado, o tipo de físico que se esperaria de um nadador profissional ou talvez um motociclista elegante. Seu cabelo, da mesma cor castanho-escuro dos filhos, já mostrava alguns fios prateados que apenas realçavam seu charme. Usava uma barba bem aparada que destacava ainda mais seu maxilar marcado. Com seus óculos de aro prateado e o cabelo repartido com perfeição, havia algo de intelectual — quase nerd — em sua aparência. Mas era um nerd sexy, daquele tipo perigoso que te dá vontade de conversar sobre física quântica só pra vê-lo explicar as coisas com paixão. Vestia uma camiseta de grife om um bolso no peito, que delineava discretamente seus braços definidos. As calças de linho azul-acinzentadas e os mocassins cor de carvalho completavam seu visual impecável. Sempre achei o pai de Lily particularmente atraente... mas vê-lo naquele ambiente, com aquela naturalidade tranquila, o tornava ainda mais sedutor. Brian era adorável. Estava nos braços de Átila, agarrado ao padrinho como um macaquinho. Seu cabelo loiro-dourado brilhava sob a luz suave, e seus olhos eram de um azul quase impossível, como o céu mais claro de verão. Ele me olhava com uma expressão incerta, aninhado contra Átila, observando-me em silêncio. Eu só o tinha visto em fotos até então, mas vê-lo pessoalmente bastou para derreter meu coração. — E lá está a mulher que todos nós estávamos esperando — disse Átila, com um sorriso caloroso e acolhedor. Colocou Brian no chão, embora o menino continuasse me observando em silêncio, escondido atrás da perna dele. — Estamos tão felizes que você pôde vir. Ele estendeu a mão e eu a apertei. Tinha um aperto firme, mas gentil. Artem se aproximou logo em seguida. Seus movimentos eram controlados, deliberados, com uma postura que transbordava autocontrole. Ele não sorriu, e fiquei na dúvida se sua seriedade vinha de ceticismo ou pura reserva. — Artem Langford. Legal finalmente conhecer você. Peguei a mão dele — a mesma textura áspera e firme das mãos de Atlas. — O prazer é meu. Brian finalmente reuniu coragem para se aproximar. Ele ainda não disse nada, apenas continuava a me encarar com aqueles olhos gigantes e curiosos. Agachei-me para ficar na altura dele, ansiosa para ver aquele rostinho fofo mais de perto. — E aí, fofinho! — acenei. — Meu nome é Giorgianne. Mas pode me chamar de Giorgia, tudo bem? Ele continuou calado, sem desviar o olhar. — Ele não é muito de falar — explicou Átila, rindo baixo enquanto passava a mão pelo cabelo do menino. — É — acrescentou Atlas. — Um homem de poucas palavras. Artem cruzou os braços, encostando-se casualmente à parede atrás de si. — Marcos dizem que ele já devia estar falando algumas dezenas de palavras. Mas até agora, não temos nada além de balbucios infantis. E isso em dias bons. Átila franziu os lábios, com aquele ar paciente de quem já ouviu esse discurso antes. — Sabemos que marcos são só diretrizes. Cada criança tem seu tempo. E ele já era bem ativo antes mesmo de começar a andar — especialmente comparado à Lily. Atlas assentiu, com seu sorriso largo e tranquilo. — Certo. Cada criança é única. Pude sentir que aquela era uma conversa recorrente entre eles — e o olhar cúmplice que trocaram dizia, claramente, que não era o momento de retomá-la. Átila pigarreou. — De qualquer forma, não vamos te jogar em um tour completo agora. Você acabou de sair de um voo longo, provavelmente está com jet lag. Que tal tirar algumas horas pra você, desfazer as malas, tomar um banho, descansar um pouco? — Parece perfeito. — Olhei para Brian, que soltou um grande bocejo. — E, falando em cochilos, acho que esse carinha também está pronto para um. Átila consultou seu relógio. — Você tem razão. Está na hora mesmo. — Pode colocá-lo pra dormir se quiser — disse ele, gentilmente. Artem se endireitou. — Boa oportunidade pra apresentá-la à Mathilde. Ela pode mostrar o quarto da criança... e o seu também. — Mathilde? — perguntei. — A chefe do empregados — respondeu Atlas. — E a melhor governanta que alguém poderia ter. Uma voz com forte sotaque francês soou de algum lugar à esquerda, vinda de uma das salas: — Meus ouvidos estão queimando! — E ela sempre sabe quando falamos dela — disse Átila, rindo. Antes que qualquer um de nós pudesse responder, uma mulher surgiu no hall de entrada. Era baixa, robusta, vestindo calças pretas e um vestido azul-claro simples. Um par de tênis confortáveis completava o visual funcional. Seus cabelos grisalhos estavam presos num coque impecável, que contrastava com o rosto redondo e amigável. Nada nela parecia fora do lugar — nem um fio de cabelo, nem uma mancha de poeira. Ela parou à nossa frente, com as mãos cruzadas à frente do corpo, sua postura exalando confiança e competência. — Vejo que o mais novo m****o da equipe chegou — disse, seus olhos verdes me examinando da cabeça aos pés, sem o menor constrangimento. — Bem-vinda à propriedade Langford. Meu nome é Mathilde Bonaventure. — Prazer em conhecê-la — respondi, sorrindo. Ela olhou para Brian. — Vamos colocar o pequenino para descansar, e eu mostro seu quarto em seguida. — Perfeito. — Sem perder tempo, agachei-me diante de Brian. — Pronto pra cama, campeão? Ele assentiu timidamente, esfregando os olhos com as mãozinhas, e eu abri os braços. Ele veio até mim sem hesitar, e eu o levantei do chão. Ele não perdeu tempo em se aconchegar no meu ombro, a cabecinha se encaixando no meu pescoço com uma confiança que me pegou desprevenida. Senti seu corpinho relaxar, e soube que ele estava se preparando para dormir. Meu coração derreteu. Eu ia me apaixonar por aquele garotinho muito rápido. Disso, eu não tinha dúvida. — Venha comigo — respondeu Mathilde com um gesto firme. — O quarto dele fica no segundo andar. Os rapazes se aproximaram, cada um deles fazendo um carinho ou comentando algo doce enquanto Brian, quase dormindo, se agarrava mais a mim. Era adorável ver como todos pareciam genuinamente apegados a ele, como se fossem uma grande família improvisada. — Sinta-se em casa — disse Átila, sorrindo com gentileza. — Descanse, dê um mergulho na piscina, assista à TV, o que quiser. Vamos jantar às sete. Se estiver disposta, adoraremos ter sua companhia. Mais uma vez, seja bem-vinda. Já tenho um ótimo pressentimento sobre você, Giorgia. Artem apenas assentiu, mantendo-se discreto. Definitivamente, ele era mais reservado que os irmãos — ainda havia algo ali, talvez ceticismo, talvez apenas introspecção. Vou ter que conquistar esse aí com o tempo, pensei. — Vamos, garota — disse Mathilde, já subindo os primeiros degraus da escada e acenando com a cabeça para que eu a seguisse. — Esse menino não vai ficar mais leve sozinho. Brian já estava praticamente apagado nos meus braços, os olhinhos semicerrados e a cabecinha apoiada no meu ombro. Seu corpinho começava a pesar, como se ele estivesse se transformando em uma pequena âncora de sono a cada passo que eu dava. — Esse aí sempre foi grande para a idade — comentou Mathilde por cima do ombro, com um tom quase orgulhoso. — Desde que o conheço, pelo menos. — Estou percebendo — murmurei, ajustando-o nos braços. — Você vai ganhar ombros de ferro carregando ele por aí, acredite em mim — continuou ela com um meio sorriso. Para enfatizar, deu um tapa forte no próprio ombro, fazendo um som oco, como se estivesse batendo num saco de farinha. — Ele está crescendo muito bem. O único problema é que ainda não fala. Na minha opinião, tem homem demais nesse lugar. Ele precisa do toque de uma mulher, de um pouco de ternura, se quiser se abrir, entende? — Compreendo, sim — respondi, embora não com total convicção. A verdade era que eu não fazia ideia se era mesmo de um toque feminino que ele precisava para falar. Ou se eu era a mulher certa para isso. Mas Mathilde parecia tão segura de suas palavras que duvidar parecia quase uma ofensa. E, sinceramente, ela também não parecia ser o tipo de mulher que aceitava ser contrariada com facilidade.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD