O Confronto

1272 Words
Naquela noite sombria, onde as estrelas m*l ousavam piscar sobre a favela, Eduardo Coimbra sentia o coração pulsar freneticamente dentro do peito. O ar estava impregnado com o cheiro de suor e medo, enquanto ele se preparava para a jornada que mudaria sua vida para sempre. Perigo, sorriu com malícia ao arrumar o boneco de pano na cama de Lucas, fingindo que Eduardo estava dormindo ali. Era um plano simples, mas eficaz o suficiente para enganar os olhos atentos de quem quer que fosse. Eduardo, agora disfarçado pela noite, estava pronto para partir. Com passos cautelosos e sorrateiros, ele deslizou pela escuridão, cada sombra uma amiga, cada canto uma possibilidade de descoberta. Na garupa da moto, ele saia despercebido deixando Coringa para trás para se tornar novamente , Eduardo Coimbra, filho de Leonidas Coimbra, ministro do Supremo Tribunal Federal do Brasil. À medida que as luzes da favela ficavam para trás, o coração de Eduardo acelerava. Ele sentia o peso de tudo que tinha acontecido sobre seus ombros, a incerteza de um destino que ele agora teria que forjar. O vento cortava seu rosto, misturando-se com as lágrimas silenciosas que escapavam de seus olhos, ele não podia acreditar que Lucas . Ao chegar ao edifício de luxo em Copacabana, Eduardo sentiu-se estranho diante da imponência daquele lugar, era a primeira vez que ele comparava sua vida à de Lucas. Os porteiros o cumprimentaram com respeito,e voltaram a ficar absorvidos em seus próprios afazeres. Ele adentrou o elevador, cada andar uma etapa mais próxima de seu da cobertura que ele chamava de lar. A cobertura. O ápice da grandiosidade. Eduardo hesitou por um momento, sua respiração presa na garganta. Ele sabia que seu pai estava em casa. O cheiro distinto de charuto cubano invadiu suas narinas, fazendo seu estômago revirar-se em desconforto. A relação entre Eduardo e seu pai era uma corda esticada ao limite, prestes a se romper a qualquer momento. Desde a morte de sua mãe, eles m*l trocavam palavras, carregando consigo o peso das mágoas e culpas não ditas. Eduardo culpava seu pai pelo destino trágico de sua mãe, e Leonidas, por sua vez, culpava Telma e sua mente fraca sem sentir remorso, das inúmeras agressões que ele fez a ela. Mas havia algo mais entre eles, algo que nem mesmo o tempo ou a dor podiam apagar. Uma ligação indissolúvel, enraizada no sangue e na história. Eduardo não podia negar a influência que seu pai exercia sobre ele, mesmo quando tudo o que ele queria era escapar dessa sombra opressora. Leonidas Coimbra, um homem poderoso e implacável, governava não apenas a justiça do país, mas também os destinos de muitos. Ele segurava as rédeas do destino de Eduardo com mão de ferro, mesmo que o próprio Eduardo já fosse um bilionário aos quinze anos, graças à fortuna herdada de sua mãe, Telma. Telma Coimbra, a herdeira de uma família rica e influente, cujo destino foi selado quando ela se apaixonou por um jovem humilde, promessas de amor eterno dissolvendo-se na crueldade do tempo. Sua vida se transformou em um inferno particular, onde as sombras da dor e da traição dançavam ao redor dela, até que ela não pudesse mais suportar o peso de suas próprias mágoas. Mas Telma deixou seu último ato de vingança antes de partir deste mundo. Ela passou todas as suas ações e fortuna para o nome de Eduardo, um ato final de rebelião contra o marido opressor. Leonidas nunca soube da transferência, só foi informado depois da morte de Telma pois como tutor legal de Eduardo, ele gerenciava o dinheiro em nome do filho, pelo menos até o dia em que Eduardo atingiria a maioridade. Assim que Eduardo abriu a porta da cobertura, Leonidas surgiu à sua frente, sua presença imponente preenchendo o espaço com uma aura de autoridade incontestável. Eduardo não podia negar a falta de semelhança entre eles - os olhos verdes e expressivos eram a única herança genética que compartilhavam. Mas enquanto Leonidas exalava uma elegância fria e calculada, Eduardo irradiava a beleza selvagem e indomável de sua mãe, Telma. Leonidas Coimbra era um homem esbelto, de cabelos sempre impecavelmente arrumados, um castanho claro que contrastava com a pele pálida. Ele era considerado um homem bonito pela sociedade, mas aos olhos de Eduardo, ele não passava de um monstro, uma sombra que pairava sobre sua vida, alimentando-se da dor e do sofrimento que deixara para trás. Os gritos de sua mãe ecoavam em seus ouvidos toda vez que seus olhos se encontravam com os do pai, uma lembrança dolorosa de um passado que ele desejava esquecer, mas que continuava a assombrá-lo como um espectro implacável. No entanto, Leonidas não se intimidava diante do olhar de ódio de Eduardo. Ele era um homem frio e arrogante, capaz de tudo para conseguir o que queria. O fato de Telma ter deixado tudo para Eduardo o irritava profundamente, não pelo dinheiro em si, mas pelo fato de ter sido ludibriado por sua própria esposa. A rede de postos de gasolina da qual ela era dona continuava a operar por todo o país, mas todo o lucro era depositado em uma conta em juízo, auditado mensalmente por uma firma contratada por Telma antes de sua morte. Leonidas só podia retirar o suficiente para custear os estudos, moradia e viagens de Eduardo, uma situação que o enfurecia além da medida. Ele desejava ter controle total sobre a fortuna deixada por Telma, mas estava impedido pelos termos do testamento e pela astúcia de sua falecida esposa. Encarando Eduardo com frieza, Leonidas perguntou com sua habitual autoridade: "Onde você esteve? Já são três da manhã." Eduardo geralmente abaixava a cabeça diante do pai, respondendo com respeito e de forma curta às perguntas. Mas agora, ele era Coringa, um símbolo de caos e rebeldia, e Coringa não podia se curvar a ninguém, nem mesmo ao seu próprio pai. Um sorriso sardônico curvou os lábios de Eduardo enquanto ele enfrentava o olhar gélido de Leonidas. Ele sentiu a adrenalina pulsar em suas veias, o desafio iminente inflamando sua determinação. "Estive ocupado", respondeu Eduardo, sua voz ecoando com uma confiança que ele nunca demonstrara diante do pai. "Resolvendo algumas coisas pendentes, você sabe como é." Leonidas arqueou uma sobrancelha, surpreso com a ousadia de seu filho. Ele reconheceu o fogo nos olhos de Eduardo, um reflexo de sua própria determinação e ambição. Talvez, ele pensou com um leve sorriso, houvesse esperança para o garoto depois de tudo. Mas sua expressão rapidamente se transformou em uma máscara de desaprovação: "Você sabe que horas são, Eduardo. Como você espera ser levado a sério se não pode nem mesmo manter horários adequados?" Eduardo permaneceu inabalável, sua postura erguida e desafiadora. Ele sabia que estava arriscando muito ao desafiar seu pai, mas também entendia que enfrentá-lo era um teste crucial de sua própria determinação e coragem. "Eu faço o que eu quero, pai", retrucou Eduardo, sua voz firme e inabalável. "E se isso significa que tenho que quebrar algumas regras no processo, então que assim seja." Leonidas observou seu filho com uma mistura de orgulho e raiva. Ele reconhecia a chama ardente que queimava dentro de Eduardo, uma chama que ele próprio havia alimentado com sua ambição implacável. Mas ele também sabia que essa mesma chama poderia consumi-lo se não fosse controlada adequadamente. "Você é teimoso como sua mãe", murmurou Leonidas, desviando o olhar por um momento antes de retornar sua atenção para Eduardo. "Mas isso não é necessariamente uma coisa r**m. Talvez haja esperança para você afinal." Eduardo sentiu um nó se formar em sua garganta, uma mistura de emoções conflitantes girando dentro de si.
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