As palavras de Leonidas cortaram o ar como lâminas afiadas, perfurando a aura de desafio que Eduardo havia erguido ao seu redor. Ele sentiu a raiva fervendo dentro de si, uma tempestade prestes a desencadear sua fúria, ele não acreditava que seu pai tinha citado sua mãe, não depois de tudo
"Tiago disse que você não atendeu às ligações dele", começou Leonidas, sua voz fria e autoritária ecoando pelo luxuoso interior da cobertura. "Ele vai dar uma festa amanhã, e quero que vá. Quero que se enturme com jovens de sucesso. Você já tem quinze anos, precisa começar a criar suas conexões."
Eduardo ouviu as palavras de seu pai com um misto de desprezo e ódio. Ele sabia que não podia escapar das garras de Leonidas, que estava preso em uma teia de obrigações e expectativas que ele nunca pedira para fazer parte, pelo menos não enquanto não fosse de maior.
"Se estiver dormindo com vadias por aí, use sempre camisinhas", continuou Leonidas, sua voz transformando-se em um sussurro ameaçador. "As pobres dariam tudo para engravidar e ganhar uma enorme pensão alimentícia. E fique longe da favela e da escória que mora lá. Se te pegar com aquele Lucas, não sei o que farei."
Essas palavras foram a gota d'água para Eduardo. A raiva que ele mantivera contida por tanto tempo transbordou, inundando sua mente com uma fúria incontrolável. Ele deu três passos na direção de seu pai, os olhos faiscando com uma determinação que assustou até mesmo a si mesmo.
"Lucas foi muito mais homem do que você jamais será em sua vida", disparou Eduardo, sua voz ecoando com uma intensidade que reverberou pelas paredes da cobertura.
Leonidas levantou a mão para bater em Eduardo, mas o olhar sanguinário que seu filho lançou para ele o fez hesitar. Ele viu a promessa de violência nos olhos de Eduardo, uma ameaça que ele sabia que não poderia ignorar.
"Me toque", disse Eduardo, sua voz baixa e perigosa. "E juro que um dia serei eu a te matar."
Leonidas sentiu um arrepio percorrer sua espinha enquanto encarava o filho diante dele. Ele podia ver a verdade na ameaça de Eduardo, uma verdade que o fez recuar, com medo do que poderia acontecer se ele desencadeasse a ira de seu próprio filho.
"Esteja na festa amanhã", disse Leonidas, sua voz vacilante, fingindo uma calma que estava muito longe de sentir. "Não me desafie, Eduardo, ou vai terminar como sua mãe."
Eduardo sentiu seu corpo todo tremer de raiva enquanto observava seu pai se afastar pelo corredor, suas palavras ecoando em sua mente como um lembrete sombrio de sua própria impotência. Ele sabia que não podia lutar contra o poder de Leonidas, pelo menos não diretamente. Mas dentro de seu coração selvagem e indomável, uma chama de resistência queimava, alimentando sua determinação de um dia libertar-se das correntes que o aprisionavam e reivindicar sua própria liberdade, custe o que custar.
Eduardo caminhou pelos corredores silenciosos da cobertura, seus passos ecoando como batidas de tambor em sua mente tumultuada. Ele sentia o peso do mundo sobre seus ombros, a dor da perda de Lucas ainda fresca em sua alma.
Ao lembrar-se da imagem de seu amigo morto, seu corpo desovado como um indigente pelos capangas do morro, Eduardo sentiu seus olhos se encherem de água. Mas ele se recusou a deixar que as lágrimas caíssem, lembrando-se da promessa que fizera a si mesmo:
"Não chore, p***a. Você é o Coringa, e o Coringa não chora."
Na manhã seguinte, Eduardo ligou para Tiago como seu pai havia ordenado, mas não por obedecer ao pai. Ele tinha traçado um plano ousado, uma estratégia para ter a lei e o crime em suas mãos. E para isso, precisava ser bem relacionado nos dois mundos, como seu pai havia sugerido.
Sua segunda ligação foi para Perigo,que agora era seu homem de confiança e que estava sempre disposto a ajudar Eduardo.
"Meu irmão, eu tinha razão", disse Perigo do outro lado da linha. "Alguém invadiu a casa e meteu tiro na cama do Lucas, mas você não estava lá. Os capangas do Bino estão à sua procura. Eu disse que você tinha ido dormir com uma marmita, mas você vai ter que pensar em algo, uma desculpa para não estar o tempo todo aqui."
Eduardo ouviu tudo em silêncio, seu rosto uma máscara impenetrável de determinação e astúcia. Se alguém o visse naquele momento, não pensaria que era apenas um garoto de quinze anos; ele tinha se tornado um adulto da noite para o dia, moldado pela dor e pela necessidade de sobreviver em um mundo brutal e implacável.
"Já tenho minha solução", disse Eduardo finalmente, sua voz firme e inabalável. "Daqui a uma hora, me pega na entrada da comunidade."
Ele desligou o telefone e respirou fundo, sentindo uma sensação de renovação e determinação fluir por suas veias. Ele já havia traçado um plano, e agora era hora de colocá-lo em prática.
Renovado, Eduardo tomou seu café da manhã com uma calma aparente, sua mente trabalhando freneticamente nos detalhes de seu plano. Antes que seu pai se levantasse, ele deixou a casa em direção à Rocinha, a comunidade que agora era o legado que Lucas havia entregado a ele.
Enquanto caminhava pelas ruas movimentadas a caminho da favela, Eduardo sentia-se vivo de uma maneira que nunca havia experimentado antes. Ele estava determinado a honrar a memória de Lucas, a transformar a dor de sua perda em combustível para sua ascensão ao poder e ao domínio sobre seu próprio destino.
Eduardo Coimbra estava prestes a se tornar algo mais do que apenas um filho obediente de um pai poderoso. Ele estava destinado a se tornar o Coringa, uma figura enigmática e imprevisível que espalharia o caos e a ordem por onde passasse, desafiando as convenções e as expectativas de um mundo que tentava mantê-lo sob controle.
E com cada passo que dava em direção ao seu destino incerto, Eduardo sentia-se mais confiante e determinado do que nunca. Ele estava pronto para enfrentar o que quer que viesse pela frente, pronto para abraçar seu papel como o Coringa e reivindicar sua própria versão de justiça em um mundo que tanto o havia traído e oprimido.