Quando Eduardo chegou à entrada da favela, Perigo já estava à sua espera, uma sombra escura entre os becos estreitos. Eduardo sentiu um calafrio percorrer sua espinha, uma mistura de excitação e apreensão pulsando em suas veias.
Ele havia tomado o cuidado de pegar algumas das roupas de Lucas no dia anterior, querendo se certificar de que sua transformação fosse completa. Além disso, ele já tinha passado no melhor tatuador da cidade e tatuado nas costas e no peito as duas tatuagens que Lucas costumava exibir com orgulho.
Enquanto seu corpo era adornado com as imagens marcantes, Eduardo não pôde deixar de rir ao imaginar a reação de seu pai se visse as tatuagens. Nas costas, ele tinha o Coringa segurando uma arma, uma representação do seu novo alter ego. No peito, o Tio Patinhas indicava que ele era o dono do dinheiro na favela, uma mensagem clara de sua ascensão ao poder.
Eduardo pensou em fazer outras tatuagens, mas decidiu deixar para quando se livrasse do controle opressor de seu pai. Por enquanto, essas seriam suas marcas de identidade, símbolos de sua nova persona como o Coringa da Rocinha.
Ele subiu na garupa da moto de Perigo, sentindo a vibração do motor sob suas pernas. Perigo olhou para ele com uma expressão séria e disse:
"Cara, tu tem que falar igual a gente, nada de falar certinho, morô?"
Eduardo fez uma careta. Sua mãe era formada em literatura, e ele tinha uma paixão por livros que o tornara culto além de sua idade. Imaginar-se falando no dialeto do morro não era nada fácil para ele. No entanto, ele era mestre em disfarçar a voz, imitando Lucas com perfeição e até mesmo alguns artistas de televisão. Ele achava que isso não seria um problema.
Eles foram direto para o QG, onde seu "tio" Bino estava à sua espera. Eduardo se referia a Bino como seu tio porque ali na favela, ele era Lucas, o Coringa. Ele tinha outra vida, outra identidade que ele abraçava com fervor e determinação.
Ao chegar lá, Eduardo estreitou os olhos. Bino parecia muito à vontade no poder, uma figura imponente e intimidadora no centro do domínio da Rocinha. Ao vê-lo, Eduardo disse com uma casualidade calculada:
"Onde você se meteu, garoto?"
Bino estreitou os olhos como se estivesse desconfiado das palavras de Eduardo:
"Tava fodendo uma mina aí", respondeu Eduardo, sua voz soando casual e despreocupada, como se não tivesse nada a esconder.
Bino observou Eduardo por um momento, sua expressão indecifrável. Eduardo sabia que estava jogando um jogo perigoso, mas ele estava disposto a arriscar tudo para alcançar o poder e a liberdade que tanto almejava. Ele estava determinado a se tornar o Coringa da Rocinha, não importasse o que custasse.
"Seu pai e sua madrasta, assim como aquele seu amigo riquinho, serão enterrados daqui a pouco", continuou Bino, sua voz fria e implacável. "E você estava fodendo uma p**a qualquer por aí."
As palavras de Bino cortaram como facas afiadas através do ar, penetrando fundo no coração de Eduardo. Ele sentiu um nó se formar em sua garganta, uma mistura de dor e raiva girando dentro de si como uma tempestade furiosa. Mas ele se recusou a deixar transparecer qualquer fraqueza, qualquer sinal de fraqueza diante de Bino e de seus homens.
Aquelas palavras atingiram Eduardo como um golpe brutal, fazendo seu coração sangrar de dor e angústia. Ele se lembrou de Lucas, seu irmão, seu amigo, seu companheiro de aventuras.
Ele sentiu seu coração sangrar diante da brutalidade das palavras de seu tio, uma confirmação c***l de que sua antiga vida estava sendo apagada sem remorso.
No entanto, Eduardo manteve sua expressão impassível, escondendo a agonia que o consumia por dentro. Com um sorriso cínico no rosto, ele respondeu com uma calma calculada:
"Gozei em homenagem a eles. É o que meu pai faria."
Bino olhou para Eduardo como se estivesse vendo-o pela primeira vez. Ele viu a determinação feroz nos olhos de seu sobrinho, uma faísca de rebeldia que ardia sob a máscara de indiferença que ele usava para se proteger do mundo c***l ao seu redor, agora ele se perguntava se o garoto seria um problema.
"Tem mais", continuou Eduardo, sua voz firme e inabalável. "Você pode botar a banca por aqui enquanto... Meu pai queria que eu fosse estudar fora. Queria que eu fosse doutor, para poder administrar o morro com inteligência. Meu amigo riquinho tinha arrumado uma bolsa para mim lá no colégio de gringo dele, e eu estou indo logo depois do enterro."
As palavras de Eduardo caíram como uma bomba no QG, pegando todos de surpresa. Bino olhou para ele com uma mistura de choque e suspeita, percebendo que seu sobrinho não era tão fraco como ele supunha. Havia uma força interior em Eduardo, uma determinação de ferro que ele não podia ignorar, mas por outro lado era bom que ele fosse embora assim Bino poderia assumir de vez o morro
"Você está falando sério, garoto?", perguntou Bino, sua voz carregada de incredulidade.
Eduardo assentiu com firmeza:
"Absolutamente sério. Estou determinado a cumprir a última vontade do meu pai. E na real, eu sou o mestre do meu próprio destino, e vou fazer isso custe o que custar."
Bino olhou para Eduardo com uma mistura de respeito e desconfiança. Ele sabia que seu estava se arriscando ao acreditar que Lucas fosse buscar uma vida além das fronteiras da favela. Mas se isso significava menos sangue era melhor assim ele conseguia o apoio da comunidade e se saia de tio bom
"Vou te ajudar", disse Bino finalmente, sua voz grave e cheia de promessa. "Mas lembre-se, garoto, o mundo lá fora é muito melhor que esse aqui que é mais perigoso do que você pode imaginar. Você está preparado para enfrentar os desafios que virão?"
Eduardo olhou para Bino ele podia sentir a ameaça velada nas palavras dele, era como se Bino tivesse dizendo para ele não voltar, mas ele voltaria, sabia que precisava ir pois tinha seu pai, e se ficasse no morro provavelmente seria morto por isso estreitando os olhos ele diz:
"Estou mais do que preparado", respondeu ele, sua voz ressoando com uma confiança que ele m*l reconhecia em si mesmo. "Vou mostrar a todos que o Coringa não se curva diante de ninguém. Vou conquistar o meu lugar no mundo, mesmo que tenha que derrubar todos os obstáculos que estiverem em meu caminho."