Quatorze anos depois …
O sol nascente derramava seus raios dourados sobre as ruas de asfalto do Rio de Janeiro, pintando a cidade com tons vibrantes e calorosos. O clima tropical pairava no ar, envolvendo tudo em uma atmosfera quente e energizante. À beira-mar, as praias douradas estendiam-se como tapetes de areia convidativos, onde o vai e vem das ondas se mesclava ao riso animado das pessoas.
No calçadão de Copacabana, a vida pulsava em ritmo acelerado. Homens e mulheres em trajes mínimos desfilavam seus corpos esculpidos pelo sol, enquanto crianças corriam descalças pela areia macia. Grupos de amigos se reuniam em círculos na beira do mar, jogando futebol em uma arena improvisada na areia. Os corpos suados brilhavam sob os raios do sol, enquanto os risos e gritos de animação ecoavam pela praia.
Enquanto isso, mais ao longo da orla, rodas de samba se formavam espontaneamente. O som das batidas se misturava com a melodia envolvente do funk que é tocado a poucos metros de distancia, criando uma trilha sonora única que embalava os passos dos dançarinos.
Garotas deslumbrantes e envolventes, trajando biquínis diminutos, moviam seus corpos ao som da música, envolvendo os espectadores com seus movimentos sensuais e provocantes rebolando até a chão .
O aroma tentador de churrasco flutuava pelo ar, proveniente das barraquinhas de comida ao longo da praia. Espetinhos de carne grelhada, queijo coalho derretido e caipirinhas geladas despertavam os sentidos dos passantes, convidando-os a saborear os prazeres culinários do Rio.
O Rio de Janeiro, com sua beleza natural deslumbrante e sua atmosfera vibrante e acolhedora, continuava a encantar e seduzir todos aqueles que tinham o privilégio de conhecê-lo. Era uma cidade de contrastes e diversidade, onde o calor humano e a energia contagiante fluíam livremente, tornando cada momento uma celebração da vida e da cultura brasileira.
O Rio porém tem uma dupla face, como se fosse um mundo paralelo!
Em contraste com os cartões-postais ensolarados, erguem-se os morros imponentes, cobertos por uma teia de vielas estreitas e casas improvisadas. São as favelas, onde a vida pulsa em um ritmo diferente, onde a sobrevivência muitas vezes é mais difícil do que se pode imaginar.
Os moradores dessas comunidades desafiadoras são feitos de uma resiliência forjada pelo calor do sol e pelas batalhas diárias. Crianças correm entre becos estreitos, sorrisos radiantes contrastando com as condições precárias. Mulheres fortes carregam seus filhos pela ladeira íngreme, enquanto os homens trabalham arduamente para sustentar suas famílias.
Mas entre os moradores que lutam honestamente pela vida, há sombras mais sinistras que se movem furtivamente. Bandidos, donos de uma crueldade desumana, erguem-se como reis nos tronos de concreto. Armados até os dentes, desfilam pelas vielas como se fossem os senhores absolutos daquele domínio.
Os bailes funk, verdadeiros templos da cultura das favelas, são palcos onde essa dualidade se manifesta de forma mais visceral. Enquanto os ritmos frenéticos ecoam pelas vielas, os bandidos observam do alto, com olhares que transbordam autoridade e ameaça. Suas armas reluzem à luz das lâmpadas improvisadas, uma lembrança constante do poder que detêm sobre aquele universo à parte.
E havia um rei, não o rei esperado de direito mas um usurpador, um rei que assim como o Rio de Janeiro , tinha duas faces!
No coração do bairro mais chique da cidade, o Leblon, erguia-se majestoso um edifício de luxo, com uma cobertura que parecia ter sido tirada diretamente das páginas de uma revista de decoração. A vista da sacada era de tirar o fôlego, com o oceano estendendo-se até onde os olhos podiam alcançar, suas águas azul-turquesa dançando ao ritmo das ondas. Era ali, nesse refúgio de opulência e requinte, que Eduardo Coimbra, o jovem promotor de justiça que agora tinha vinte e sete anos, encontrava-se naquela tarde ensolarada.
Eduardo era uma visão de beleza e masculinidade, com seus cabelos castanhos escuros que caíam em ondas perfeitamente arrumadas sobre a testa. Seus olhos verdes, intensos e desconcertantes, pareciam penetrar na alma de quem os encarasse. Seu rosto era uma obra-prima esculpida nos mínimos detalhes, exalando uma aura sedutora e masculina que capturava a atenção de todos ao seu redor.
O jovem promotor cuidava de seu corpo com dedicação, e isso era evidente em sua figura musculosa e na barriga trincada, resultado de horas dedicadas à malhação. Cada músculo parecia esculpido com precisão, revelando uma força interior que contrastava com sua aparência refinada. Sua pele bronzeada pelo sol carioca destacava ainda mais suas tatuagens, que adornavam seu peito, costas e braços, contando histórias de suas experiências e paixões.
Eduardo vestia-se com elegância e sofisticação, com uma calça social de linho impecavelmente cortada e uma camisa de manga longa de uma marca de renome internacional. Sob aquelas roupas caras e bem ajustadas, ninguém podia imaginar o que se escondia por baixo. Seus passos eram firmes e confiantes enquanto ele se movia pela cobertura, seu olhar fixo no horizonte distante.
Na sacada, Eduardo apoiava-se no corrimão de aço polido, contemplando o mar com uma expressão pensativa.
Para quem o visse da rua, Eduardo Coimbra poderia parecer apenas mais um jovem bem-sucedido desfrutando das benesses da vida no Leblon. Mas por trás da fachada de luxo e sofisticação, havia muito mais do que os olhos podiam ver. Ele era um homem de determinação implacável.
Durante os últimos anos, Eduardo Coimbra havia mergulhado em uma realidade dupla, uma vida que se desdobrava em dois mundos distintos. Enquanto seu pai, o respeitado juiz Leonidas Coimbra m****o da suprema corte brasileira acreditava que seu filho estava nos Estados Unidos, estudando em Harvard e mantendo uma residência permanente, a verdade era muito diferente.
Eduardo tinha percorrido os quatro cantos do mundo, entrando e saindo do Brasil as vezes mais de uma vez por mês, sem que seu pai sequer suspeitasse. Sua educação em Harvard tinha sido uma experiência enriquecedora, onde ele se destacou não apenas por sua inteligência brilhante, mas também por sua habilidade em se comunicar fluentemente em mais de cinco idiomas.
Apesar de sua herança substancial, fruto da fortuna deixada por sua mãe quando faleceu, Eduardo tinha sido forçado a trilhar seu próprio caminho. b Ao longo dos anos, ele havia triplicado sua fortuna, parte por meios legais, mas uma parte significativa vinha de sua outra vida, uma vida que ele mantinha cuidadosamente oculta do mundo exterior.
Nessa outra vida, Eduardo era conhecido como Coringa, o dono do morro da Rocinha, uma das maiores favelas do Rio de Janeiro. Sob essa identidade secreta, ele controlava uma vasta rede de tráfico de drogas e outras atividades ilícitas, acumulando poder e influência na sombra. Seus olhos verdes, que transmitiam confiança e charme para o mundo exterior, escondiam segredos sombrios e uma determinação implacável, por detras de uma mascara que cobria metade so seu rosto, dando a ele um aspecto mais sombrio e c***l.
Na Rocinha, ele era temido e respeitado por todos, liderando com firmeza e astúcia. Sua inteligência afiada e sua capacidade de pensar rapidamente o tornavam um adversário formidável para qualquer um que se atrevesse a desafiá-lo. Mas mesmo entre os becos escuros e vielas da favela, havia aqueles que o viam como um salvador, um homem que protegia sua comunidade e oferecia oportunidades para aqueles que não tinham mais nada a perder.
Enquanto o sol se punha sobre a cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Coimbra, o promotor de justiça respeitado, e Coringa, o senhor do crime temido, coexistiam em perfeita harmonia dentro do corpo e da mente de um homem que navegava entre dois mundos opostos, cada um lutando por sua própria versão de justiça e poder.
Mas ele nem sempre foi o Coringa, aquele nem sempre foi o seu papel, ele ja tinha sido o mais novo de um quarto de amigos, mas agora não era um quarteto, e ele ja não era mais o mesmo garoto rico!