Olhos Verdes

Babi Como é ter que aceitar a realidade que você não pode salvar quem ama da morte? Não estava preparada para perder minha madrinha, não daquele jeito... o dinheiro infelizmente faz falta na vida de qualquer um. Minha madrinha pra mim era a minha mãe, porque a minha mãe de verdade não sabe o que é a palavra "carinho". Ela nunca cuidou de mim como uma mãe de verdade, nunca senti o amor materno ao lado dela.. Agora que não tenho nada para fazer em São Paulo, voltei para o Rio de janeiro morar com a minha mãe e o meu irmão Bruno. Desci do táxi com as malas em frente ao complexo/morro da maré. Paguei ao motorista que rapidamente saiu sem nem dizer um "obrigado".. certamente tem medo de ir em lugares assim. Gemi frustrada com o sol quente na minha cara, ainda mais levando três malas sozinha sem ter uma pessoa bondosa pra ajudar! Respirei fundo andando com dificuldade até que alguém esbarrou em mim e a água foi na minha blusa branca. "Opa foi m*l olhos verdes."- um cara disse me deixando confusa. Olhos verdes? Encarei o sujeito, magrinho, moreno do sorriso mais branco que já tinha visto a muito tempo. "Esse é o jeito como meu irmão.." - "Teu irmãozinho, B5 mandou te pegar aqui na entrada. Sou Batatinha, satisfação! " - disse pegando na minha mão com força. "Prazer, meu nome é Babi. Me ajuda com essas malas por favor!" - implorei ofegante. Ele riu pegando duas malas pra mim com facilidade. "Já tô acostumado a pegar coisas mais pesadas que malas fia. Tu já subiu em uma favela?" - perguntou e eu neguei. "Não, bairro simples, mas nunca em um morro. Sempre tive medo de pisar em um.. "- confessei nervosa. Ele riu de novo. " Tô vendo, melhor perder o medo tua mãe mora perto dos caras perigosos e o seu irmão é gerente da boca cinco." - explicou me pegando de surpresa. Será que dá pra voltar e ir pra São Paulo??? A casa da minha mãe por fora é linda,  verde água e parecia ser  bem grande isso me deixou intrigada. Parece que a situação não está tão r**m pra eles, nem sabia que Bruno estava envolvido com traficantes, ele não é de falar sobre isso, aliás nunca falou. Entrei na casa e fiquei surpreendida por ver camisinhas jogadas na sala, minha mãe dormindo com um lençol no sofá. Arregalei os olhos ao ver que ela está só com o lençol, a mesma se virou deixando a b***a pra fora. Quando me viu sorriu bocejando. "Filhota!" - mamãe disse sorridente. " Mãe não sabia que dormia na sala.." - falei engolindo o meu constrangimento. "Dormi tarde, tava com um cara aqui e depois do baseado a gente ficou por aqui mesmo." - explicou se sentando no sofá Ela me encarou de cima a baixo. "Fiz bem você ein.. é minha cópia os olhos são do teu pai, lindos olhos verdes. Que orgulho da sua beleza filha!" Beleza? "Você parece estar bem mais vaidosa mãe. Meu quarto contínua lá?" " Sim, mandei uma amiga limpar pra mim ontem. Troca de roupa, vamos no mercadinho comprar algumas coisas que tá em falta.. "- disse ficando de pé. " Por que tenho que ir junto? "- perguntei cansada. "Quero que vejam minha linda filha! Tenho vários amigos.. sou famosa aqui no morro viu? Vai de vestido ou shortinho!" Subi com dificuldade com as minhas malas até meu velho quarto que está bem arrumado. Suspirei levemente, olhando as malas em busca de uma roupa.. Vou ficar com meu short, vou colocar uma blusinha regata rosa. Quando estava me trocando ouvi um assobio, olhei pela janela e vi minha mãe falando com um cara todo tatuado. Não estava ouvindo bem o que estavam falando, só ouvi uma parte. "Ele quer ver ela.." Ela quem? Minha mãe agora tá escondendo namorado.. só o que faltava!     Desci as escadas com o celular no bolso da frente, fiquei em dúvida se colocava uma bolsinha. Meu celular não é o mais moderno, mas não quero dar bobeira e perder ele não.. Minha mãe me esperava na porta, mas sem o cara que tinha visto ela conversando na janela. Isso tá muito suspeito, p***a ela acha que pode me enganar? Ou deve ser algum amante dela. "Finalmente Babi! Não temos tempo a perder.. "- pegou no meu braço me puxando para fora de casa. " Ai meu braço meu! Para que essa pressa toda?"- perguntei nervosa. Ela revirou os olhos. " É melhor ouvir sua mãe, aqui é uma favela não é nada do que tu está acostumada sabia?"- explicou sorrindo. Ela caminhou ao meu lado, com um micro vestido vermelho andando ao meu lado já cumprimentando uns caras m*l encarados. "Boa tarde meninos. "- cumprimentou ela Eu não falei com ninguém, não consigo sair na rua falando com todo mundo. "Sorria pelo menos.. ou vão achar que  minha cria é uma patricinha mimada! "- reclamou me fazendo rir. "Posso não conhecer nada.. mas aqueles ali não são nada amigáveis. " - rebati provocante. "Seu irmão é um deles, só que com um cargo bem melhor! Graças a mim em parte.. e o suor dele!" - disse com orgulho. Meu Deus.. Estávamos passando por uma rua onde uma senhora estava em uma cadeira na calçada olhando quem passava. "Bianca quem é essa linda menina?" - a senhora perguntou me olhando curiosa. Minha mãe sorriu me puxando para mais perto. "Minha filha Babi, Luci."- respondeu e a senhora sorriu pra mim. Essa aí é fofoqueira. " Cuidado menina, cê é muito bonita e os caras aqui não deixam passar." - aconselhou me deixando com medo e confusa. "Eu cuido bem da minha filha amiga. "- mamãe disse ignorando isso. "Não ando com estranhos."- respondi a senhora. "Com o irmão dela e eu por perto nada vai acontecer com ela. Vamos filhota!" Quando vi de longe o mercadinho fiquei mais aliviada.. em todo lugar que minha mãe passa ela me apresenta para um bando de gente que não sei nem quem é. Antes de ir para o mercado, tinha uma multidão ali na rua. Minha mãe e eu nos aproximamos e vimos um cara batendo em outro ali que tava drogado.. "Mãe vamos voltar.."- pedi nervosa. "Besteira meu amigo tá aqui. "- ela respondeu tranquila. O amigo tá apanhando? "Seu amigo tá apanhando?" Ela riu alto. " Ele está batendo.. " - respondeu ela me olhando. Olhei melhor e agora só tava sangue no chão e uns caras tiraram o homem dali. O amigo da minha mãe olhou e a multidão saiu andando.. então os olhos dele foram em nós... ou melhor em mim. Olhos mais azuis que eu já vi. "Don e aí? Minha filha Babi. Filha esse é o... " - o cara não deixou ela terminar. Ele se aproximou da gente, seu perfume masculino me deixou arrepiada. "Tava dando um aviso pro merdinha ali. Finalmente Bianca conheci a irmã do B5, a famosa olhos verdes.. " - sua voz é como uma carícia íntima. Ele sorriu malicioso pra mim. "Prazer." - falei baixinho. Minha mãe é amiga do dono do morro? Meu Deus.. Vou ficar longe desse... homem.                         O amigo da minha mãe que é o chefão aqui da maré, saiu depois que um dos caras se aproximou e quis ter um particular com ele. Ele era muito gostoso.. os olhos eram o que mais me deixavam em uma espécie de transe hipnótico. Tão azuis.. intensos e obscuros ao mesmo tempo. - Gostoso ele não é? - mamãe perguntou enquanto pegava algumas notas do sutiã no meio da rua. - Bandido, perigoso que você devia afastar da sua vida e não aproximar né?- rebati sorrindo forçada. Ela revirou os olhos. - Quando vai aceitar que isso faz parte da família? Seu irmão é do meio dele.. eu uso drogas, fico com os caras errados, amigos dele sabia? - comentou com uma risadinha divertida. - Não tô acostumada com isso já que sai daqui nova e na época nem Bruno ou você estavam mexendo com essas coisas! Desabafei frustada. - Odeio birra Babi, não quero mais ouvir que não é acostumada.. se acostume com a sua realidade filhota! - disse pegando na minha mão entregando notas.  - Vá no mercado comprar o que quiser.. tenho horário no salão. -Vai me deixar sozinha?- Perguntei sem acreditar. - Tinha esquecido.. já deve ter decorado o caminho. É nada de sair por aí xingando.. ou falando do Don.. ele odeia que falem dele. - aconselhou e saiu rebolando. Olhei as cinco notas de cem que ela me entregou. Entrei no mercado pegando um carrinho e olhando as placas para não me perder. Coloquei vários miojos, macarrão, amo massa, pizza, hambúrguer só as coisas que engordam. O bom é que só a minha b***a engorda. Estava esperando uma mulher pagar uma latinha de Coca-Cola, para ser atendida no único caixa aberto. - Falta um real.. - a mulher do caixa disse e a mulher riu alto. - Vai me deixar sem a latinha por um real? Mano isso é pegadinha? Fiquei com pena da mulher.. ela parecia ser uma pessoa como eu sem condições. - Eu pago.- falei chamando atenção das duas. - Por favor, está muito quente para ficar sem uma Coca-Cola geladinha. - falei e a mulher riu. - p***a muito obrigado mina, posso te ajudar com as sacolas como pagamento? - Claro. Ela me ajudou com as sacolas e logo saímos do mercado juntas, ela é maior do que eu então está na frente. Também mora aqui. - Tu é nova né? Quem é tua parente? Conheço o morro todo.. ou quase. - respondeu olhando pra mim. - Babi, sou filha da Bianca.. - Ual Bianca tem filha? Com aquele corpo que ela tem achei que só tivesse o Bruno! Tu é muito parecida com ela..  mas ela não disse de ti pra ninguém eu acho. - Estava em sampa cuidando da minha madrinha.. voltei hoje depois de cinco anos porque minha madrinha morreu e não tinha como ficar por lá. - expliquei e a encarei. - E teu nome? Conhece meu irmão? - Sou Isis, satisfação. Todo mundo que mora aqui.. ele é gente boa.. as vezes ele leva a minha irmã pro Don. Pisquei confusa. - Sua irmã é mulher dele? - perguntei sem me conter. - Ele é uma das amantes do Don.. o sonho dela é ser mulher só que ele não é de ninguém. Olha eu não sou doce.. mas com ele forço sorriso, ele dá medo. Ótimo.. mais motivos pra me afastar. - Obrigada pela ajuda aqui Isis. Eu conheci ele.. minha mãe e ele são amigos.. - Minha irmã tem ciúmes dela com o Don.. ele pode ter seus vinte e sete anos, mas o alvo dele é as novinhas apesar da minha irmã ter vinte e oito anos.  Descemos a rua e logo vi a minha casa. - Bom valeu pela ajuda Isis. - Eu que tô em dívida contigo.. minha irmã e eu moramos sozinhas o caso dela é o ganha pão. Ela as vezes me dá dinheiro, demora um pouco.. não consigo emprego porque não terminei o ensino médio. - suspirou levemente. - Você tem w******p? Quero muito ter amigos por aqui.. - pedi e ela riu pegando o Motorola na mão. - Já somos migas, agora passa o número mona! Ela logos saiu e eu fui guardar as coisas, aproveitei para dar água para as plantas. Quando senti que estavam me observando.. virei e vi um cara olhando pra cá e depois saiu andando com um radinho na mão. Onde vim me meter? Minha mãe deve tá devendo.. para ficarem olhando pra mim.                           B5 Dia de correria aqui na boca, tava ajudando os caras a arrumar as drogas nos saquinhos louco de vontade de ir pra casa. Minha irmã volta hoje, desde pequenos a gente se provocava e depois estávamos abraçados.. Babi é minha irmã caçula e estava ajudando nossa madrinha em sampa. Olhei meu relógio e vi que já são quatro da tarde, hora de vazar. - Rapaziada o resto é com cês aqui.. tenho compromisso em casa. - comuniquei todos. - É verdade que tua irmã chegou B5? - Vitin Perguntou curioso. O moleque tem dezesseis anos e já quer saber da minha irmã que tem vinte anos? - Cresce e aparece Vitin, minha irmã já é uma mulher. Tira os olhos dela pra não perder eles.. - aconselhei e os caras riram dele. Sai da boca subindo na minha moto quando vi Ester a v***a que eu sempre pego nos bailes. - Ei n**o vai sair cedo assim? - Minha irmã chegou vou ir ver ela. Agora vaza.. - Posso ir? Quero conhecer minha cunhada.- pediu sorrindo. - Tá bom, vou te levar mais não cutuca ela não.. ela sabe ser bem brava. - avisei e ela riu. Subiu na garupa me abraçando. - Sempre cheiroso e lindo. - Mamãe me fez bem. - rebati dando aquele sorriso. O famoso molhador de calcinhas. Estava na rua de casa quando vi Batatinha andando com dois geladinhos na boca. O homem guloso. - Batata! - chamei ele que me encarou confuso. - Pô maior susto.. achei que fosse o patrão! - Viu minha irmã? - perguntei e ele assentiu. - Já é minha parça, cuidado que ela tá tomando sol na laje. - avisou e saiu andando. Ester deu risada. - Então ela é bem atrevida? Gostei! - Não cria ilusão de ser amiga dela não.. corta a i********e com minha irmã. Ela ficou quieta, mas com cara de cu. Desci da moto e ela também, vi minha irmã na laje quando ela me viu não consegui falar nada a não ser correr para entrar em casa. Fui até a laje e ela se levantou sorrindo. - Olhos verdes voltou pra casa.. - disse e ela riu. - Ainda amo esse apelido! Tava com saudade de tu.. - falou apertando o abraço. - Tu não disse que ela era gata desse jeito.. - a bocuda da Ester comentou ao se aproximar. - E aí gata, sou Ester amiga colorida do B5. - se apresentou sorrindo. Minha irmã em olhou e depois olhou pra ela com um sorrisinho. - E aí? Ouvimos passos e logo mamãe chegou acompanhada por ninguém menos que Don. Fiz toque com ele. Vi que Ester ficou tensa ao meu lado.. vi ela saindo devagar com medo dele. Digamos que Ester já levou uma surra dele por dívidas. - Tu aqui parça.. surpresa boa. Vai bater o rango aqui? - perguntei curioso. - Convidei. - mãe disse sorrindo. - Vou arrumar as coisas. - Já conheceu os olhos verdes? - perguntei e olhamos pra Babi. Vi que ela estava nervosa.. - Tua mãe e ela me viram batendo naquele merda. Mas é bom tua irmã saber que meu fechamento é 10/10 com tu parça e sua família. - garantiu com os olhos na minha irmã. Não gostei nada desses olhos em cima dela.. mas forcei um sorriso. Ele já tem mina demais pra querer mais uma na lista.. ainda mais minha irmã.