Katherine
Meu coração não para de disparar enquanto o leiloeiro circula entre as outras mulheres humanas posicionadas em pedestais ao meu redor. Algumas flertam com ele abertamente, outras parecem impressionadas demais para fazer mais do que encará-lo. Uma ou duas choram tanto que m*l conseguem responder a qualquer uma de suas perguntas.
Não que isso importe. O medo e o desconforto óbvios delas não são, de forma alguma, desqualificantes — na verdade, provavelmente são considerados um atrativo para algumas das vampiras nesta sala.
Depois que todas as mulheres são apresentadas, os lances começam. Como todos os vampiros presentes pertencem ao Clã Blackmoor, eles não fazem lances individuais. As mulheres escolhidas serão consideradas tributos coletivos do clã, levadas para viver no palácio durante o período do contrato.
Não sei muito sobre como o processo funciona além disso. Todo o conhecimento que tenho sobre a venda de humanos para vampiros vem de trechos de conversas ou boatos que ouvi nas ruas — histórias sobre alguém que conhece alguém que negociou liberdade e sangue por algum tempo em troca de dinheiro.
Não faço ideia de quem toma a decisão final sobre quanto ofertar, ou por quem. Mas assim que os lances começam, alguns vampiros de aparência séria se aproximam. São muito mais silenciosos que o restante da multidão — provavelmente representantes do palácio — e apontam para as mulheres desejadas, gritando números enquanto o homem de terno vermelho mantém tudo sob controle.
A primeira vez que um dos vampiros aponta para mim, meu coração dispara. Fico tentada a aceitar a oferta imediatamente, mas tenho medo de parecer ansiosa demais — e levantar suspeitas. Mesmo vampiros fãs desse sistema provavelmente fazem isso também pelo dinheiro. Então espero por uma oferta maior e, só então, aceno para o leiloeiro.
Tudo leva apenas alguns minutos. Assim que os lances se encerram, as meninas que não foram escolhidas descem de seus pedestais — algumas com alívio, outras visivelmente decepcionadas. A mulher que me cumprimentou quando entrei conduz essas garotas para fora do palco, e elas desaparecem no meio da multidão. Perco-as de vista antes que cheguem à porta, e minha atenção é puxada de volta para o que está acontecendo ao meu redor.
— Lindo, lindo. Mais um leilão bem-sucedido. Agora sei que vocês estão todos prontos para um banquete, não é mesmo? — diz o leiloeiro, se movendo para o centro do palco, seguido por um holofote avermelhado que o acompanha. A multidão vibra com entusiasmo, como se não fizessem isso o tempo todo. Ele absorve a excitação deles como se fosse vital — ironicamente — e continua animando o público.
Enquanto gesticula, ele se movimenta para trás, na direção dos pedestais, até o centro do palco. Então puxa uma corda que, ingenuamente, eu presumi ser da cortina de veludo. Um segundo depois, o palco inteiro começa a balançar e tremer sob meus pés.
— Escoltas, aos vossos tributos — anuncia ele com teatralidade.
E, do nada, um vampiro enorme surge ao meu lado. Seu peito está nu, exceto pelas duas tiras de couro cruzadas que terminam em um cinto pendurado baixo nos quadris. Ele usa botas de combate, e suas calças estão cobertas de correntes. O estilo punk apocalíptico parece ser o uniforme padrão desses — acompanhantes — embora nenhum esteja exatamente igual. Ele me lança um olhar entediado, como se já soubesse que eu não darei trabalho.
De fato, seus olhos ansiosos se fixam na mulher chorosa à nossa frente, como se estivesse desafiando-a silenciosamente a fugir.
Ela não foge. É mais esperta do que parece, mesmo tendo acabado no leilão com o resto de nós. Deve ter feito alguma besteira para chegar aqui, mas ainda assim, não parece tola.
A parte de trás do palco, onde estavam os pedestais, afunda no chão, revelando uma passagem larga, quase tão grande quanto a própria sala de leilões. No final, escadas descem para a escuridão. Olho em volta procurando o mecanismo que move o palco, mas não vejo nada. Queria examinar melhor, mas sei que não posso fugir. Não agora.
Dois vampiros guardam o topo da escada. O par acompanhante-tributo à minha frente é interrompido; a garota é revistada antes de receberem permissão para seguir.
Faço um esforço consciente para manter minha respiração calma e estável, tentando manter os batimentos cardíacos sob controle. Eu me preparei para essa revista. Ainda assim, sempre existe a chance de eu ter errado em algum detalhe. Não sou uma costureira profissional, embora me vire bem quando necessário.
Sem parecer notar minha ansiedade, meu acompanhante me puxa em direção aos guardas. Sorrio o mais calorosamente possível e olho para eles por entre os cílios, tentando parecer tudo… menos uma ameaça.
— Isso é uma… revista? — eu pergunto, tentando parecer tanto nervosa quanto excitada com a ideia, em vez de simplesmente enjoada.
— Não — diz um deles secamente. Sua expressão é dura e inexpressiva. Ao contrário da multidão barulhenta que veio assistir ao leilão, ele claramente está ali apenas para cumprir sua função. — Só uma olhadinha rápida. Não queremos que você traga alho por engano.
Eu ofego, arregalando os olhos de forma exagerada.
— Alho? Eu jamais faria isso. Poderia machucar alguém.
Sem se dar ao trabalho de responder, o guarda ergue o queixo, e seu colega me dá uma apalpada superficial. Meu corpo inteiro grita em alerta quando ele alcança a saia do meu vestido, mas ele não passa as mãos por toda a extensão do tecido. Apenas abre a f***a de um lado e enfia a mão por baixo das camadas pesadas para verificar se há algo escondido nas minhas pernas.
Minha respiração falha um pouco, mas torço para que ele pense que é só por ter me tocado. Ainda bem que escondi minhas armas. Estou tão acostumada a carregar adagas embainhadas nas coxas quando caço que quase me preocupo que ele sinta a marca persistente do metal na minha pele.
Mas ele não sente. Depois de passar as mãos pelas minhas coxas novamente — perto demais da minha v****a para o meu gosto —, ele recua um passo, acena com a cabeça e nos deixa passar.
— Que coisinha linda, aquela ali — ouço-o murmurar para o parceiro estóico enquanto nos afastamos. — Mais musculosa do que eu costumo gostar, mas macia onde importa.
Quase consigo evitar um estremecimento. Meu acompanhante olha para mim de cima, uma vaga sombra de preocupação cruzando seu rosto.
— A escada está fria — diz ele, com a voz grave e rouca. — Mas o palácio é quentinho. Não se preocupe.
— m*l posso esperar para chegar lá — respondo, ofegante, esfregando os braços como se estivesse tentando me aquecer. Nem estou com frio — já trabalhei em tempestades de gelo com camadas suficientes para evitar queimaduras —, mas prefiro que ele pense isso do que perceber que estou enojada com tudo isso.
As escadas são barulhentas. Metal contra metal. Cada degrau range sob nossos pés. As paredes são lisas e duras, refletindo o som com perfeição. Os corrimãos não são de verdade — são barras verticais de aço, estendendo-se do chão ao teto, com um palmo de distância entre elas.
Porra. Não vou conseguir sair escondida depois de encontrar Tyson. Essas escadas claramente foram projetadas como um sistema de alerta precoce contra intrusos — ou fugitivos —, e não há chance de escalar os corrimãos.
Descemos três andares subterrâneos. Não vejo nenhuma outra a******a, apenas paredes lisas em cada patamar. Há mais guardas lá embaixo, mas eles não nos impedem. Somos conduzidos até uma porta de aço com aparência de cofre, que se abre por dentro assim que um dos acompanhantes acena para uma câmera embutida na parede.
Tento conter o pânico que me invade enquanto sigo com o resto das mulheres. Até agora, não vejo nenhuma saída fácil. Não consigo imaginar que esta seja a única entrada para o palácio — não com o tamanho que o lugar deve ter. Deve haver outras. Tomara que não sejam tão bem vigiadas.
A porta do cofre se fecha com um baque surdo atrás de nós. Olho ao redor e vejo uma vampira nos esperando ali dentro. Ela se aproxima com um sorriso que não alcança os olhos. Seu rosto parece o de uma mulher de meia-idade — o que só quer dizer que foi nessa idade que ela foi transformada. Não dá para saber há quanto tempo ela realmente vive.
— Bem-vindas, queridas — ela arrulha, passando a mão pelo rosto de algumas garotas. — Ah, tantas coisas bonitas. Vamos deixar os homens aqui. Sigam-me.
Mais uma vez, somos conduzidas para frente, e a sensação desconfortável de que faço parte de um rebanho sendo levado ao matadouro só cresce dentro de mim.
Este lugar é um labirinto. Tento acompanhar cada curva, descida, corredor estreito e porta aleatória, mas honestamente, não tenho certeza se saberei voltar à entrada — mesmo que consiga subir as escadas depois.
A matrona vampira caminha em ritmo acelerado — mais rápido do que seria confortável para a maioria dos humanos. Isso não me incomoda, mas preciso parecer que sim. Faço um pequeno teatro: acompanho as duas garotas à minha frente, corro um pouco, fico ofegante, diminuo o passo, depois alcanço o ritmo delas de novo.
A primeira parada é uma sala ampla, com cara de biblioteca ou escritório. Há contratos dispostos sobre uma mesa de madeira escura no centro do ambiente. Ela nos leva até eles.
— Só precisam assinar esses, meus amores.
Dou um passo à frente, torcendo para que minha mão não trema ao pegar a caneta-tinteiro elaborada ao lado do contrato. Eles poderiam usar uma simples esferográfica se quisessem — estamos no século XXI, afinal —, mas é claro que preferem o efeito intimidador dessas relíquias.
O contrato é longo, repleto de letras miúdas em infinitas linhas. Vejo algumas garotas tentando ler rapidamente, olhando para a matrona como se temessem serem punidas por demorar. Mas a maioria apenas pega a caneta e assina.
Faço o mesmo, parando apenas o tempo suficiente para verificar se o valor do lance está correto. Sinceramente, as palavras do contrato não me importam. De qualquer forma, não pretendo ficar até o fim — e se os vampiros descobrirem por que estou aqui, vão me matar num piscar de olhos, com contrato ou sem.
Mais um pedacinho da minha alma parece murchar e morrer enquanto rabisco “Dayse Baltimore” no final da página. Mesmo que a assinatura não diga “Katherine Smith”, o ato de assinar um contrato de tributo de sangue ainda me dá arrepios.
Quando todas terminam, dois vampiros silenciosos recolhem os papéis, e a matrona nos conduz para fora da biblioteca.