Katherine
Meu primeiro impulso é ir direto para a casa de leilões, mas — como logo descubro — não tenho exatamente nada em mim que pareça adequado para ser leiloado.
Chocante, não é?
Além disso, Tyson já está envolvido demais com os vampiros para que isso seja uma missão simples de arrombamento e resgate. Se eu quiser me infiltrar na colmeia deles, vou ter que fazer isso do jeito certo. E isso significa investir tempo suficiente para fazer as coisas como devem ser feitas.
Depois de conseguir outro táxi para me levar de volta para casa, passo o restante da noite na dark web, navegando pelas salas de bate-papo de fãs de vampiros. Depois de algumas horas de pesquisa intensa, sei exatamente o que preciso fazer para maximizar minhas chances de ser escolhida como tributo de sangue — tudo, do vestido ao perfume.
Tento dormir um pouco, mas é inútil. Minhas pálpebras não querem cooperar, e fico a noite toda inquieta, com tremores e o coração disparado.
Depois de algumas horas de sono instável, me arrasto para fora da cama e tomo quase um bule inteiro de café. Em seguida, saio e passo por várias butiques no centro em busca do vestido perfeito.
Eu o reconheço assim que o vejo. Nem me dou ao trabalho de experimentá-lo — apenas entrego meu cartão de crédito para a mulher atrás do balcão e tento não pensar no número estampado na etiqueta de preço.
Custe o que custar. Custe o que custar.
Eu vou fazer isso.
Não vou deixar meu irmão apodrecer num palácio de vampiros.
Quando chego em casa, penduro o vestido no varão da cortina da janela da sala. O tecido vermelho-escuro brilha sob a luz fraca — e é, provavelmente, o objeto mais chamativo de todo o meu apartamento.
O que, sinceramente, não é muita coisa.
As paredes são cinza-claro, o carpete é cinza-escuro e o sofá de segunda mão tem um tom azeitona apagado. Meu quarto segue o mesmo esquema monocromático, embora a mobília seja um pouco mais decente. A cama estilo capitão também serve como armário de armas. O baú de cedro aos pés da cama, idem.
O antigo quarto do Tyson agora é uma academia, mas quando eu trouxer ele de volta pra cá, vou transformá-lo de novo em um quarto. Ainda tenho todas as coisas dele guardadas num armário de armazenamento.
Bem… tudo, menos os bongs, cachimbos e seringas.
Destruí tudo aquilo.
Afastando os pensamentos sobre minhas falhas como irmã, volto a olhar para o vestido. Avalio-o como se fosse uma arma nova, examinando sua utilidade para o propósito pretendido.
Então, o tiro do varão da cortina e começo a trabalhar. Passo as próximas horas fazendo alguns ajustes importantes. Entre costurar o vestido e fazer mais pesquisas sobre o palácio subterrâneo dos vampiros, o dia voa. Parece que m*l pisco e já está escuro lá fora.
Hora de começar esse show.
Tiro minha calça jeans desbotada e a camiseta velha, visto o vestido, amarro o espartilho com firmeza e me viro para me olhar no espelho do quarto.
Este vestido é diferente de tudo que já tive.
É ousado. Chamativo. Absolutamente lindo.
O corpete é um espartilho justo, e a saia se abre nos quadris, com tecido suficiente para esconder armas entre as camadas. Acima do espartilho, meus s***s estão presos por um tomara-que-caia semitransparente que deixa os m*****s à mostra só o suficiente para provocar. Abaixo, a saia longa com anágua vai até os tornozelos, com uma f***a que sobe até o meu quadril de um lado.
Costurei duas das minhas facas favoritas ali dentro, embora desejasse poder carregar um arsenal inteiro comigo.
Dou uma volta de teste na frente do espelho para ter certeza de que tudo está no lugar e que as armas estão realmente indetectáveis. Acho que sim — mas não posso ver a parte de trás girando, então não tenho certeza absoluta.
Se me pegarem contrabandeando armas lá dentro, estarei morta.
Mas deixá-las em casa está fora de cogitação.
Tento calcular as probabilidades mentalmente, mas há variáveis demais. Sei que estou apresentável. Sei que cheiro bem. Sei que as armas estão escondidas.
Só não sei se estou "bonita demais" para o padrão das tributos, ou se algum deles vai reconhecer meu rosto.
Acho que nunca deixei testemunhas após uma caçada… mas não há como ter certeza.
— Só há uma maneira de descobrir — murmuro para meu reflexo, fazendo uma leve careta.
Sopro as bochechas, respiro fundo e calço os saltos agulha que comprei de manhã. São confortáveis o suficiente, considerando o tipo de sapato — mas meu estômago se revira enquanto me endireito.
Sei andar bem. Tenho equilíbrio e pés leves.
Mas correr ou escalar com esses sapatos? Impossível.
Não sem quebrar uma ou duas pernas.
E esse é exatamente o ponto.
Se eu aparecesse vestindo meu uniforme tático preto e botas de combate, eles me matariam antes mesmo que eu cruzasse a porta.
Esses sapatos — e esse vestido — transmitem uma mensagem completamente diferente.
E essa mensagem é: ataque-me, não posso escapar se eu mudar de ideia.
— Não acredito que tem gente que faz essa merda por diversão — murmuro.
Eu posso ter um motivo pessoal para querer vingança contra os vampiros, mas mesmo que não tivesse, não consigo imaginar a mim mesma escolhendo, voluntariamente, me lançar nas garras deles como um tributo de sangue. Como uma prostituta do c*****o.
Reprimo o impulso de verificar minhas armas pela décima vez. Em vez disso, prendo os pés nas tiras finas dos sapatos, coloco um pente enfeitado com joias no cabelo escuro, encaixo os brincos em forma de gota de sangue nas orelhas e me viro novamente para o espelho.
Meus traços marcantes ganham um ar quase etéreo com o visual deslumbrante e a maquiagem que apliquei antes de vestir o vestido. Meus olhos azuis parecem mais brilhantes com o contraste dos brincos vermelhos e dos lábios escarlates.
Bom o suficiente.
Passável, pelo menos, assumindo que eu consiga me livrar dessa carranca.
Tento alguns sorrisos tímidos no espelho, um ar de admiração inocente... e finalmente acerto um que não me dá vontade de vomitar.
Isso vai funcionar. Vamos nessa.
Visto um sobretudo surrado por cima — é a única forma de ir até o centro sem chamar atenção. Se alguém me visse com esse vestido, eu seria parada em menos de um minuto. O que, honestamente, não seria surpreendente, considerando o que estou prestes a fazer.
O táxi que chamo me leva até quase o fim do caminho antes de eu pedir para parar. Não é por medo de estar sendo seguida ou rastreada. É porque preciso de um momento para respirar. Para me acalmar.
Saber que estarei perto de dezenas de vampiros está me deixando à beira de um colapso nervoso. Sinto a adrenalina pedindo luta — mas é o contrário que preciso agora. Preciso encontrar suavidade. Alguma ingenuidade oculta dentro de mim. Algo para vestir junto com esse sorriso falso e essa máscara que vou usar com esses vermes.
Caminhar ajuda. Um pouco, pelo menos.
Sempre que sinto meus dedos se fechando em punhos ou meus ombros se elevando com tensão, me forço a inspirar fundo, segurar... e soltar lentamente.
Quando finalmente chego ao meu destino, quase penso que estou no lugar errado.
O bar está calmo, tocando algum rock suave enquanto pessoas de meia-idade conversam com seus drinques nas mãos. Uma porta preta e discreta fica nos fundos, depois dos banheiros. O barman cruza meu olhar, desce o olhar até os meus sapatos e acena com a cabeça na direção da porta.
Perfeito. Valeu, cara.
Pelo menos, enganei o humano. Não é muita coisa, mas é um começo. E, por ora, eu aceito.
Sigo as instruções silenciosas dele, indo em direção aos fundos. Atrás da porta indicada, há um guarda-volumes. E depois dele, outra porta — essa vibra com o som de uma batida pesada vindo do palco além.
— Tem couvert artístico pra entrar no clube? — pergunto à garota que está de pé ao lado de um pequeno púlpito.
Meu coração vacila ao encarar os olhos azul-cristal dela. Suas pupilas estreitadas entregam o que ela é. Vampira. Cada instinto em mim grita para matá-la ali mesmo, agora, antes que alguém perceba.
— Não pra mulheres — ela diz, entediada, enquanto pega meu sobretudo e o joga sobre o braço. — Aqui está o seu comprovante. Divirta-se.
— Sim. Claro. — Amasso o papel e o deixo cair no chão assim que passo pela porta.
Não tenho intenção nenhuma de voltar para pegar esse casaco.
A balada é o que se espera de um lugar como esse. Não é o meu tipo de ambiente, mas isso não importa. Não é por isso que estou aqui.
Só quero encontrar a entrada para o porão.
Abrindo caminho por entre a multidão suada, passo por palcos onde mulheres dançam de topless — ou completamente nuas. Tento não contar quantos vampiros estão ali, mas é impossível ignorá-los. Há pelo menos uma dúzia assistindo aos dançarinos com olhos famintos. Outros tantos se misturam entre os humanos, dançando... caçando.
Meu estômago se revira. Meu maxilar trava.
Acho que essa é uma forma de conseguir uma refeição.
Quando estou na metade do caminho pelo salão principal, um homem corpulento surge na minha frente. Paro a tempo de não esbarrar nele. Ele me observa por um segundo, seu olhar percorrendo meu corpo de cima a baixo.
— Você parece perdida — ele diz com um vozeirão.
Merda.
Sabia que eu estava chamando atenção demais.
Procuro algo para dizer, debatendo se ataco agora — antes que ele reaja —, mas então ele se inclina e sussurra no meu ouvido:
— Trabalho... ou tributo?
— Tributo — respiro.
Ele acena com a cabeça uma única vez e faz um gesto para que eu o siga. Obedeço, forçando meus músculos a relaxarem com respirações longas enquanto ele me guia até uma cortina. Quando a abre com uma das mãos, vejo uma escada coberta por um carpete vermelho que leva ao porão.
— Pegue a esquerda lá embaixo — ele diz. — Pergunte por Boris.
— Obrigada.
Erguendo as saias pesadas do meu vestido, desço a escadaria sem olhar para trás, ciente de que ele ainda está lá, observando.