Prólogo & Capítulo 01
24 de julho de 2013, Estados Unidos, Los Angeles, 23hrs30min.
O cheiro de bebida e cigarro era extremamente forte naquele bar, um rapaz brigava com uma mulher, que parecia ser sua esposa ou namorada, fazendo uma verdadeira balburdia no lugar e chamando a atenção de todos ali presentes.
— Você não vê o que está fazendo com a gente Tomás? — a garota chorava. — Está estragando tudo! Por que ao invés de ficar todo santo dia nesse maldito bar, não fica comigo?!
— Por que eu não te suporto com tanta reclamação! — ele dizia alterado. — Não vê que eu quero espaço?
— Querer que você passe um tempo comigo é demais Tomás?
— Que se f**a Hellen! — ele berrou. — Não te quero perto de mim, me deixa em paz, vai cuidar do seu filho, que é essa a sua obrigação!
A mulher ficou extremamente amarela ao ouvir tais palavras e deu um tapa em cheio no rosto do homem.
— Eu te odeio! — ela gritou e saiu dali a passos largos.
O homem a observava sair com certa irritação, ao notar que estava sendo observado por mais da metade das pessoas que ali estavam ele grunhiu:
— O que foi desgraçados? — cuspiu. — Perderam alguma coisa? Seu bando de desocupados! — tomou um gole de uísque e viu que tinha esvaziado a garrafa. — Merda! — pôs a garrafa ao lado da mesa de sinuca e foi até o pub em busca de mais bebida, precisava esquecer Hellen e toda aquela chatice de relacionamento que levavam. Sentou no pub e esfregou o rosto.
— Me dá mais uma garrafa de uísque! — ele pediu ao garçom e logo foi servido. Assim que tomou um gole fechou os olhos com força e praguejou um palavrão. — Droga! Maldita Hellen!
— Problemas com a patroa? — Tomás ouviu uma voz rouca, que vinha do lado oposto do pub.
Avistou um homem bem afeiçoado e parecia ser bem mais velho que ele, e olhava fixamente o copo de rum em suas mãos.
— Está falando comigo?
O homem desviou o olhar do copo e finalmente olhou para Tomás.
— Contigo mesmo. — ele deu um sorriso de lado e tomou outro gole da bebida. — Se aproxime. — ele chamou e Tomas se aproximou com sua garrafa de uísque a tira colo.
— O que você quer? — Tomás indagou.
— Quero conversar. — o outro disse. — Eu juro pra você que não mordo.
Tomás ergueu a sobrancelha e por fim sentou ao lado do desconhecido.
— Sou Beauchamp. — ele se apresentou. — Joshua Beauchamp. — estendeu as mãos.
— Tomás Jones. — disse lhe apertando a mão. — O que você quer Beauchamp? Se quiser fazer alguma piadinha é melhor nem começar, eu sou muito bom de briga.
— Você é louco pela sua garota não é? — Josh perguntou, ignorando o que ele tinha dito.
— Perdão? — o homem mais novo parecia confuso.
— É louco pela sua garota. Você pode xinga-la do jeito que você quiser, mas você a ama, e seria capaz de morrer por ela.
— Ora essa... — Tomás disse, irritadiço. — Cale essa boca, seu coroa doidão. A Hellen só serviu pra transformar minha vida em um inferno! — ele disse amargurado.
— Seus olhos dizem o contrário. — ele sorriu, divertido.
Tomás fez menção de se levantar, mas Josh o segurou.
— Espera aí jovenzinho... — chamou. — Porque a pressa? Senta aí, vamos beber um pouco e conversar.
— Conversar sobre o que? — ergueu a sobrancelha. — Eu nem te conheço.
— Conversar sobre sentimentos.
Tomás gargalhou alto.
— Sobre o que? — aos risos. — Sentimentos? Você por um acaso é veado?
— Longe disso... — ele negou com a cabeça. — Mas quando eu olho pra você, eu vejo a mim, quando tinha a sua idade.
— Não estou entendendo.
— Eu me casei muito novo, tinha mais ou menos a sua idade, e não foi exatamente um mar de rosas, na verdade foi horrível. Eu tratava Any de uma forma ridícula, e infernizei a sua vida.
— Any é o nome da sua mulher?
— Exato. — ele respondeu avoado. — Any Gabrielly. — tomou outro gole de bebida e Tomás mordeu o lábio com certo interesse. — Você se parece muito comigo... Quantos anos tem? Vinte e quatro?
— Isso mesmo. — ele concordou e assentiu quando Josh lhe ofereceu um pouco do seu rum.
— Já está mais calmo? — Josh perguntou divertido.
— Acho que sim. — disse tomando um gole do rum e fazendo careta, seus olhos ficaram vermelhos e Joshua sorriu. — Nossa, esse é do bom!
— Você tem tempo? — Josh perguntou.
Tomás assentiu, olhando a saída.
— Acho que agora sim... Pelo jeito Hellen não vai me permitir dormir em casa essa noite. — deu um sorriso de lado. — Pode me contar o motivo de se achar tão parecido comigo?
— Se você tiver paciência. — o outro sorriu. — É uma longa história.
— Não tenho hora pra sair daqui. — ele disse, acendendo um cigarro. — Aceita? — recebeu a recusa de Joshua e guardou o maço. — Pois então?
— Bem, começou há vinte anos, eu tinha vinte e três de idade e era uma pessoa muito idiota...
— Está dizendo que eu sou i****a?
— Posso continuar? — Beauchamp perguntou e Tomás revirou os olhos. — Eu era uma pessoa extremamente idiota...
¨¨¨¨
• ATENÇÃO AQUI: Apesar de ter sido escrita em 2013, apenas o prólogo e o epílogo se passam nesse ano (2013), os demais capítulos se passam nos anos noventa, entre 1993 a 1996.
• Por mais que pareça a história não é contada pelo ponto de vista do Joshua. Prólogo e Epílogo são apenas para que vocês entendam melhor o que aconteceu.
¨¨¨¨
Capítulo 01
18 de julho de 1993, Estados Unidos, Los Angeles. 12hrs20min.
— Cara eu nem te conto, quase vi a Vivian pelada outro dia. — Pedro informou aos outros três que estavam com ele na mesa.
Os quatro rapazes estavam almoçando em um pequeno restaurante, e não paravam de secar Vivian Soares, a sobrinha da dona do restaurante. Vivian trabalhava de caixa e era mais velha que eles, deveria ter uns vinte e oito anos e tinha um casal de filhos gêmeos de quatro anos, frutos de um casamento fracassado.
— Está brincando. — Josh riu. — Como isso?
— É sério, você sabe que a Cindy mora ao lado da casa dela, e eu estava no quarto da Cindy, conversando com ela...
— Hm, conversando... Tá bom. — Noah sorriu de lado.
— Tá louco, a Cindy tem quinze anos... Nova demais pra mim, ela nem deve ter pelo na b****a. — rolou os olhos. — Tirando que ela é minha prima!
— Está ok... — Noah rolou os olhos, impaciente. — Conta logo!
— Pois bem, a janela da Cindy bate de frente com a janela da Vivian cara, ela estava se olhando no espelho, só de lingerie, uma tentação daquelas!
— Nossa! — os outros disseram em um uníssono.
— Não tem quem diga que a mulher já pariu! — Pedro continuava. — Meu p***o endureceu na hora!
— Eu imagino. — Joshua riu.
Não demorou e a desajeitada garçonete apareceu ao lado de Vivian, parecia falar algo e a morena fez careta, parecendo não dar muita confiança para o que a outra dizia.
— Cara... — Bailey fez careta. — Como pode essa gata da Vivian ter uma irmãzinha tão feia como a Any? — grunhiu.
Any era a irmã mais nova de Vivian e era uma garota largada, adorava usar macacão e tênis e usava uns óculos de grau terríveis, andava sempre com os cabelos cacheados presos com uma caneta e parecia não se interessar por maquiagem e afins.
— Vai saber. — Josh riu. — Se não fosse pela Vivian e pela Miranda, eu passava longe dessa espelunca.
— Mas por essas duas vale a pena qualquer esforço. — Noah sorriu, concordando.
Não que a comida fosse r**m, mas eles sabiam que só pisavam naquele restaurante para dar em cima das duas mulheres que ali trabalhavam. Afinal tinham dinheiro suficiente para comer em outro lugar de nível mais elevado.
— Boa tarde! — ouviram a voz de Any e assentiram com a cabeça, com descaso. — O que vão comer? — ela suspirou com educação.
— Você que não é. — um deles riu e a garota ficou completamente sem graça. Mas não disse nada.
— Cala a boca Sampaio. — Bailey riu dando um pedala em Pedro. — Como vai Any?
— Bem. — ela suspirou, ainda olhando seu bloquinho. — E você?
— Ótimo. — ele disse, olhando o cardápio. — Me trás uns tacos.
Depois que todos fizeram os pedidos Any saiu e os garotos riram.
— Cara... — Pedro negou com a cabeça. — É muita feiura pros meus olhos.
— Que exagero. — Noah rolou os olhos. — Não é tão feia, acho que se ela se arrumasse seria tão gata quanto a irmã.
— Você precisa se tratar. — Pedro riu.
Noah negou com a cabeça.
— Até que a Any tem umas t***s bem tentadoras. — Josh disse. — Ainda não tinha reparado que ela tem uns p****s enormes.
— Pior que é verdade. — Pedro sorriu. — Eu já tinha notado.
— Porque não vão chupar os p****s dela? — Bailey incentivou em tom de brincadeira.
— Está louco? — ele riu.
— Coloquem um saco na cabeça dela ou fechem os olhos. — deu de ombros. — Vai que é uma beleza.
— Ela deve ser virgem. — Noah disse.
— Deve? — Pedro gargalhou. — Eu tenho certeza! Ninguém comeria ela, pelo menos de graça não? — ele ergueu a sobrancelha, malicioso.
— O que? — os outros indagaram.
— Podemos fazer uma boa ação e levar a Any pra cama, não querem que ela morra virgem, ou querem?
— Por mim. — Josh deu de ombros. — Ela que se f**a.
— Ah pessoal, qual é? — Pedro rolou os olhos. — Só tirar o cabaço dela e pronto, vão me dizer que vocês dispensariam uma virgem fechadinha?
— Isso é maldade Pedro! — Noah disse, indignado. — Ela é virgem, deve querer perder com um cara que realmente a ame.
— E o que tem isso? — Pedro rebateu. — Em algum momento ela terá que dar pra alguém, isso é... Se alguém quiser comer isso. — gargalhou.
— Vocês são muito idiotas, não contem comigo pra essa babaquice.
— Ótimo, pois você está fora. — deu de ombro. — Podemos apostar quinhentos dólares. Vamos tirar a sorte, e o "ganhador"... — fez aspas com os dedos. — Será o escolhido.
— Eu estou dentro. — Joshua riu, começando a achar interessante. Precisava ganhar um dinheiro fácil, já que seu pai tinha lhe deixado sem receber, por algumas confusões que ele aprontou.
— Eu também... Não tem nada a perder mesmo. — Bailey piscou.
— E você Noah? — Pedro perguntou. — Vai ficar de fora mesmo?
— Vou sim, não quero me meter nessa sujeira, vocês são completamente infantis. — cruzou os braços.
Pedro rolou os olhos.
— Pois bem, vamos lá. — ele pegou três palitinhos de dente e os quebrou ao meio. — Quem tirar o maior será o infeliz. — riu e os outros tiraram os seus, depois de conferirem o resultado saiu. — Muito bem Beauchamp, essa é sua. — ele sorriu irônico. — Se você não cumprir com o combinado, ganhará fama de arregão e passará a chance pra outro e assim sucessivamente.
— Eu vou cumprir. — Josh suspirou, já imaginando quantas doses de tequila precisaria tomar pra f********o com Any. — Essa grana é minha, podem preparar os bolsos.
— Beleza... — eles riram, mas pararam de rir quando Any apareceu, equilibrando a comida de forma destrambelhada. — Cuidado gatinha. — Pedro disse, enquanto ela colocava as porções na mesa.
— Desculpem. — ela disse, envergonhada.
Parecia que servir a mesa deles estava sendo extremante r**m pra ela. Quando Any se retirou eles riram.
— Pelo menos ela tem t***s grandes e não fede. — Pedro disse a Joshua.
— Cala a boca! — ele disse entredentes, enquanto sorria abertamente para Vivian, que gostosa!
— Você tem uma semana pra t*****r com ela, e tem que nos provar!
— Como quer que eu prove?
— Tira uma foto ou grava, sei lá, que se dane! Isso é um problema seu.
— Aff! — Joshua rolou os olhos.
¨¨¨¨
No dia seguinte, Joshua estava com o seu carro estacionado na frente da casa, onde Any trabalhava de babá. Ela não deveria demorar a sair, e ele a esperaria até quando fosse preciso, não podia perder a aposta, aquela grana já era dele.
— Onde está essa feiosa?! — olhando no relógio impaciente.
Já estava escurecendo e nada de Any sair. Quando já estava pensando que ela não tinha ido trabalhar, a viu sair com duas crianças, que a abraçavam pelas pernas.
— Agora eu preciso ir meus bebês. — ela disse se agachando.
— Ah não Any, dorme aqui! — a garotinha, que deveria ter uns quatro anos, dizia agarrada a ela.
— Eu não posso Vick. — ela apertou o narizinho da menina. — Amanhã eu chego cedinho pra gente brincar mais. Combinado? — levantou a mão e a garotinha bateu com a sua.
— Mas vai demorar pra chegar amanhã? — o garotinho perguntou.
— Claro que não. — Any disse. — Passa assim olha! — estalou os dedos. — Rapidinho.
— Então sendo assim, você pode ir! — ele sorriu.
— Ah, que danadinho! — ela se levantou. — Agora entrem que a mamãe está esperando. Tchau! — deu um beijinho nos dois e se levantou. — Tchau dona Vera! — ela disse mais alto e ouviu um "tchau querida!" do lado de dentro.
Joshua sorriu e mordeu o lábio, saiu do carro quando Any passou pela calçada distraída.
— Any! — ele chamou e ela se virou, assustada.
— Que susto! — ela disse colocando a mão no peito. — O que está fazendo aqui?
Que susto digo eu! Joshua pensou.
— Desculpe, não queria assusta-la.
— Não tem problema. — ela voltou a andar, deixando-o rodado.
— Ei, espera ai! — ele disse andando atrás dela. — Eu estava esperando você Any. — ele dizia.
— Hm, e o que deseja? — ela disse sem dar muita importância.
— Te ver. — ele respondeu, abrindo um sorrisinho sedutor.
Ela parou de andar e o encarou.
— Me ver? — ergueu a sobrancelha. — E pra que você quer me ver?
— Quero te convidar pra sair. — ele dizia com um sorriso enorme na cara.
Não acredito que estou falando isso! Ele pensava.
— Isso é algum tipo de brincadeira? — cruzou os braços e ele gelou.
— E porque seria? — ele também cruzou os braços a imitando.
— Porque eu não sou bonita, e tenho certeza absoluta que não te chamo atenção a ponto de me convidar pra sair.
— Está enganada Any. — ele lhe tocou o queixo, deixando-a arrepiada. — Muito enganada. Eu acho que você tem uma beleza diferente, e me chama sim, muita atenção. — mentiu.
A morena o olhava, sem acreditar muito e ele resolveu ir logo ao ponto.
— O que acha de ir jantar comigo agora? Podemos ir ao lugar que você escolher, e também podemos nos conhecer melhor, o que você acha?
— Não acho que seja uma boa ideia. — ela suspirou.
Ele ficou estático.
— E porque não? — disse com leve irritação, por estar levando um fora daquela mostrenga.
— Porque eu não acredito nessa sua mudança de uma hora pra outra. — ela o olhava. — Você vive rindo de mim toda vez que vai almoçar no restaurante da minha tia, e agora do nada me convida pra sair?
— Não Any, eu não tenho culpa se eles riem de você, inclusive eu acho isso ridículo. — mentia. — Mas eu nunca falei m*l de ti.
— Ok Josh, eu preciso ir. — ela disse, coçando de leve o nariz. — De qualquer forma, muito obrigada pelo seu convite.
— E eu posso ao menos te levar pra casa? — completamente perplexo.
— Eu moro pertinho daqui, não precisa se incomodar. — ela sorriu de leve se afastando. — Tchau! — andando apressada.
Ele a olhava completamente pasmado. Não podia acreditar que Any tinha lhe dado um fora, aquilo era ridículo, qualquer mulher daria tudo pra sair com ele. E logo Any, que não estava com nada não o quis?
— Ah, mas eu não vou desistir! — ele disse voltando para o carro. — Agora é questão de honra! — bufou.
Imagine o que Pedro diria, se soubesse que ele tinha levado um fora de Any?
— Ela que me aguarde! — disse ligando o carro e saindo dali.
Any viu o carro dele passar por ela e ficou observando se afastar até dobrar em uma das ruas e sumir de sua vista. Ergueu a sobrancelha estranhando o comportamento estranho de Joshua. Negou com a cabeça e deu ombros voltando a caminhar.
¨¨¨¨
No dia seguinte.
— E então Beauchamp? Já conseguiu comer a Any ou não? — Pedro perguntou, enquanto davam uma parada na corrida que estavam fazendo.
— Ainda não. — ele rolou os olhos enquanto tomava um gole de água. — Mas não se preocupe, ela não vai escapar. — piscou.
— Hm, falando nela. — disse o outro, com um sorriso malvado. — Olha ela ali. — apontou para o outro lado, onde Any lia um livro, entretida. — Vai lá falar com ela! — incentivou.
— Beleza. — rolou os olhos e caminhou entediado até Any. Sentou ao lado dela e esperou ser notado.
Any olhou de relance e depois o encarou, confusa.
— Josh? — disse fechando o livro.