Fernanda pov.
Acordei com o despertador soando ao meu lado, sinto meu corpo reclamar por ter ido dormir tão tarde noite passada, bufando estico meu braço para desligar o barulho irritante que meu celular fazia ao alarmar. Jogo a colcha para o lado e me ponho de pé indo direto pro banheiro fazer minha higiene matinal e aproveito para lavar o cabelo já que não tive tempo ontem, olhando ao redor percebo que já não tem quase nada meu no banheiro e somente o essencial ainda não foi guardado, não demoro mais que trinta minutos no banheiro já que estava atrasada e não poderia perder o voo.
__ Espero que já tenha levantado, ou serei obrigado a te acordar a moda antiga __ Escuto a voz do meu tio soar no quarto, saio do closet já vestida somente secando o cabelo com uma toalha.
__ Chegou tarde velho __ Solto uma risada com sua cara de raiva fingida __ Só me falta conferir a bolsa que vai comigo e ajeitar meu cabelo tio, não vou demorar aqui.
__ Sua tia tá te aguardando para o café, não demora.
__ Pode deixar __ Digo enquanto ele caminha até a porta, viro para minha cama e termino de me arrumar para então começar a arrumar as coisas.
Minhas bagagens foram primeiro a dois dias atrás e agora chegou a hora de me despedir da minha moradia temporária, não parece que passei sete anos aqui mas foi o que aconteceu, talvez eu sinta falta daqui ou não. Desço as escadas já com tudo em mãos deixando a minha mala de mão em cima do sofá e me encaminho para a cozinha onde escuto algumas risadas, parece que o Nicolas tá bem alegre hoje, vou sentir falta dele.
__ Bom dia pessoal __ Comprimento já me sentado ao lado do Nicolas e lhe beijo a testa.
__ Bom dia Nanda, vou sentir saudades __ Fez bico enquanto pegava outra panqueca para por no prato, o abraço de lado tentando o confortar ao menos um pouco.
__ Prometo vim te visitar sempre que der.
__ Promessa de fura bolo?
__ Sim, promessa de fura bolo __ Foi difícil controlar as lágrimas mas eu consegui esse feito.
__ Não acredito que minha bonequinha vai embora. __ Minha tia disse vindo me abraçar.
__ Sempre que eu puder eu vou tá visitando vocês, não precisa ficarem tristes.
__ Senta aí e come alguma coisa ou então você vai se atrasar, a Nanda tem um voo pra pegar ainda hoje então sem mais drama. __ Meu tio interveio me servindo um prato com três panquecas com bastante mel e uma xícara de café preto do jeitinho que gosto.
__ Obrigado tio.
Ele somente rir e bagunça meu cabelo, finjo estar brava e continuo tomando meu café entre as risadas e piadinhas bobas deles, vou sentir falta disso. Depois do café meu tio foi me deixar no aeroporto já que o Nicolas tinha aula e não podia faltar, então acabou que minha tia também não poderia ir o que ocasionou nossa despedida em casa mesmo. Na minha mala de mão eu levava documentos, celular, dinheiro e outras coisas necessárias para uma viagem de no máximo duas horas de duração.
Quando chegamos eu fui direto fazer meu check-in e sentei para esperar a chamada do meu vôo, o tio não esperou muito já que estávamos um pouco atrasados então minha espera foi realmente bem pouca se não me engano era 08:26 quando começaram as chamadas para meu vôo, me despedi do homem que foi meu "pai" por sete anos e finalmente embarquei para uma nova vida, uma jornada diferente da qual eu estava acostumada, não que faça muita diferença.
Fiquei olhando para a janela até pegar no sono, e perdi a noção do tempo porque só acordei quando a aeromoça veio me chamar e vejo que tem poucos passageiros no avião, viro meu rosto para ela e dou um sorriso envergonhado.
__ Senhorita já chegamos,você e o passageiro do assento 28 são os únicos aqui, por gentileza recomendo que desembarque agora. __ Falou simpática o que me deixou um pouco surpresa, tinha esquecido que ainda existem pessoas que gostam do trabalho que tem.
__ Me desculpe pelo transtorno, obrigada por me acordar.
quando desembarquei fui direto para a cantina, tava morrendo de fome já que só comi no café da manhã e não foi muito, terminando meu lanche eu paguei e fui direto na minha bolsa pegar meu celular para ter certeza de que alguns dos gêmeos ou o papai vai tá aqui para me receber ou terei que pegar um táxi, detesto táxis. É desconfortável já que tenho várias paranoias de que algo possa acontecer comigo em um momento de descuido, chegando na saída do aeroporto de BH eu dou de cara com uma ducati estacionada a poucos passos de mim e óbvio, que um dos gêmeos viriam me buscar.
__ Oh meu Deus, não acredito que você pintou o cabelo __ Digo quando seus braços envolve minha cintura num abraço de urso com direito a cheirinho no cabelo __ Pedro você tá tão alto, e faz tanto tempo que a gente não se vê.
__ Não tira com minha cara Fernanda, sabe muito bem que sou o Paulo __ O sorriso debochado me fez querer rir.
__ É claro que sei bobão, vocês não tem nada a ver mesmo sendo gêmeos.
__ Vambora antes que o pai ache que fomos sequestrados por uma alguma quadrilha.
Não comentei sobre o que ele falou mas senti que tinha um fundo de verdade naquelas palavras, então simplesmente aceitei o capacete dele e montei na garupa ficando meia inclinada por conta do modelo da moto. Não demorou muito pro Paulo arrastar com a ducati cantando pneu enquanto fazia uma volta, e foi nessa volta que eu percebi que tinha algo errado ao redor, talvez estivesse pirando mas tinha algo diferente no pátio do aeroporto.
__ Notou algo estranho aqui? __ Não consegui me conter e falei contra seu ouvido.
__ Não seja louca, tá tudo normal se tivesse acontecendo algo eu seria o primeiro a saber.__ Aceno com a cabeça e percebo que ele não pode ver então apenas o respondo com um "ok".
Como não notei nenhum movimento suspeito enquanto fazíamos nossa trajetória para o morro acabei relaxando e aproveitei o vento no meu rosto, não exatamente no meu rosto mas tudo bem. Paramos na entrada do morro mais rápido do que eu lembrava e isso me fez franzir o cenho, eu não tô louca a viagem até aqui demoraria cerca de uns quarenta minutos e não se passaram nem metade do tempo previsto, ou eu realmente tô paranoica ou eu tô muito esquecida.
__ Por que chegamos tão rápido? Lembro do caminho levar uns bons minutos.
__ Fica quieta aí Fernanda, já falei que não tem nada de errado tá legal?! Agora vê se fica caladinha porque já chegamos. __ O tom não foi rude mas com certeza passa longe de qualquer outro sentimento de boa intenção.
__ Mostrem o rosto ou não podem seguir em frente __ Pensei que ninguém nos pararia mas eu acho que esse vapor é novo aqui no morro, até porque ninguém falaria assim com o Paulo.
__ Pra onde mais se não pra casa p***a, anda e sai do meu caminho __ Não fiquei com dó do garoto que tem no mínimo 17 anos, mas estranhei a irritação do meu irmão. Era só um erro bobo, não tem motivos para esse tipo de comportamento.
Quando chegamos em frente a nossa casa eu fiquei assustada com o quão diferente e grande ela parecia, certo que o tio também mora em uma senhora casa mas isso aqui tá mais pra uma mansão do que casa, quando eu fui embora ela não era assim. E para a minha não surpresa a porta tava cheia de vapores armados com as mãos prontas para uma troca de tiros a qualquer momento, e sério, essa p***a tava enchendo minha paciência sem saber o que tava acontecendo. Fui a primeira a descer e quando pisei no gramado ouvi os barulhos das armas sendo destravadas, vê aquele tanto de pistola apontando para mim foi um pouco assustador ou devo dizer muito?
__ Ela tá comigo então não precisa disso, se acostumem com a cara dela porque vão vê-la o bastante por aqui __ Todos abaixaram a guarda quando Paulo chegou perto de mim.
E nossa… respirar nunca pareceu tão difícil como agora, parece que tô sufocando somente de olhar para o tanto de homens armados na p***a do meu gramado, mesmo ele tendo sido ampliado ainda posso vê o canteiro meu e da mamãe quase ao lado de um dos brutamontes.
__ Bora.
Simplesmente o segui e não fiz nenhum tipo de contato visual com esse pessoal aqui fora, sei que meu pai é um dos maiores traficantes de BH mas eu não convivi com essa realidade por muito tempo, era bem nova quando fui morar no Rio como meus tios então não tive tempo para me acostumar com essa realidade. Não tive tempo para pensamentos quando a porta foi aberta e vi papai junto do Pedro na sala, mas havia uma terceira pessoa na sala que eu não sabia quem era.
__ Bom você já pode ir, mais tu sabe que nós não é dessas coisas podemos bater outro papo mais tarde __ Papai falou já puxando o rapaz para um toque de mão enquanto o arrastava até porta, onde eu e o Paulo estávamos e foi meio difícil não notar o quão belo aquele homem era.
O cabelo preto fazia leves ondas nas pontas que estavam de um jeito meio bagunçado, não era longo mas tinha um bom comprimento para passar os dedos neles e como combo tinha olhos verdes escuro desbotado o suficiente para parecer um pouco acinzentado, e para completar tinha uma pele pálida e um pouco rosada para alguém que mora em BH… desviei o olhar quando sentir que seu olhar parou um tempo considerado longo em mim antes de acenar com a cabeça e sair sem falar nada.
__ Por que diabos você veio direto pra casa c*****o? Falei pra tu tentar dar uma enrolada por lá. __ A fala me pegou um pouco de surpresa mas logo sentir que estava bisbilhotando algo que não era do meu conhecimento.
__ Também senti saudades, claro que tô bem, melhor impossível é tão bom ver vocês de novo __ Debochei enquanto revirava os olhos __ Que m***a tá acontecendo ein?
__ Não é nada, relaxa Nanda __ Fiz bico enquanto meu pai me abraçava __ E só pra constar eu tava morrendo de saudades da minha princesa tá ligado.
__ Esse apelido já não é mais seu pai, o tio me chama assim então você tem que arranjar outro. __ Digo o apertando no abraço, seguindo até Pedro o dando um mata leão um pouco diferenciado.
__ Por que tu não cresce nanica, lembro que tu tinha o mesmo tamanho quando vazou pra casa do tio __ Isso é um ultraje contra a minha pessoa, eu não aceito essa diminuição.
__ Pra sua informação eu cresci 21 centímetros tá legal? Então eu não posso mais ser a nanica que você tanto fala.
__ Hahaha até parece Fernanda, tu continua a mesma bosta de quando foi pra lá tá ligado?! Não tem nenhuma evolução pra ser notada. __ Paulo seguiu o raciocínio de Pedro e começaram a me zoar juntos.
__ Odeio vocês sabia?! Bando de arrombado do c*****o.
__ Olhem a boca __ Interveio papai já passando um braço em meus ombros __ Porque tu não vai lá ajeitar tuas coisas no quarto e mais tarde a gente pedi uma pizza pro almoço?
__ Pode ser.
Digo enquanto começava a subir as escadas, tava feliz de ter voltado pra casa mas parece que foi numa hora tão errada que as vezes fico b***a, será que tenho o azar grudado em mim?! Deixa dessa loucura Fernanda, no mínimo só não foi um bom momento pra questionamentos e também para uma chegada nova também. Entrei no quarto já indo arrumar as roupas no closet enorme que tinha ali no meu quarto, eu também tinha um closet lá na casa do tio mas não era tão grande como o daqui, começo a organizar tudo que vi ser do mesmo cômodo e acabou me sobrando as caixas de bugiganga para arrumar o quarto e também as coisas de decoração.
Ainda tô confusa com aquele papo de não tá acontecendo nada, não me foquei na conversa esquisita da sala e fui direto pro banheiro tomar outro banho na intenção de relaxar mas não foi o que aconteceu, continuei nervosa mesmo depois de metade daqueles "guardas" vazarem.
Quando desci a pizza já estava na mesa e o papai estava terminando acho que o quarto pedaço pois os meninos o olhavam meio estranho, dei de ombros e sentei ao lado deles e me servi na mesma hora.
__ Então meninos alguma novidade pra compartilhar __ Pergunto pegando outra fatia da pizza quatro queijos.
__ O Pedro tá namorando acredita?! Nunca pensei que logo ele iria se prender a alguém assim __ Paulo respondeu dando algumas risadinhas.
__ Sério? Quem é a sortuda que conseguiu seu coração? __ O silêncio que rodeou a mesa foi um pouco constrangedor __ Eu falei algo errado?
__ É que eu namoro um garoto, o Erick lembra?! O seu amigo do quinto ano __ Explicou Pedro, não sei se ele tava receoso em me contar mas eu não vejo problema nisso.
__ corrigindo, éramos inimigos. Eu nunca fui amiga dele vivíamos em pé de guerra em todas as aulas __ Falo soltando uma risada nasalada __ Não consigo acreditar que você tá namorando meu inimigo dos tempos da escola, tinha gente melhor não?!
Parece que o clima melhorou depois de falar isso, creio que minha aceitação com a notícia foi um bom motivo também, então a gente continuou conversando sobre eles dois e como se conheceram e por incrível que pareça meu "inimigo" não parecia ser tão r**m como eu imaginava, talvez era só dá uma chance para nos conhecermos melhor.
Terminamos o almoço e o papai precisou sair para resolver problemas na boca, então ficou somente eu e o Pedro, o Paulo também teve que sair pra fazer uma ronda ao redor do morro. Como faz pouco tempo que a gente comeu nós resolvemos assistir algum filme depois de limparmos a cozinha, fiquei na dúvida se fazia pipoca ou não mas decidi pegar um sorvete que tinha no freezer e fui pra sala.
__ Escolheu o que __ Pergunto já me jogando ao seu lado.
__ Nada ainda, tô esperando o Erick brotar aqui.
__ Ele tá vindo aqui?
__ Sim, chamei ele pra te conhecer… ou melhor, rever sua arqui-inimiga do tempo da escola __ Debochou da minha cara.
__ Larga de ser i****a garoto.
E então a companhia tocou, não dei muito ibope e ele foi abrir a porta enquanto eu fingia não tentar bisbilhotar a pessoa na entrada da casa, eu lembro que o Erick era bem baixinho tanto que eu acabava por ser maior que ele mas não tenho certeza se ele ainda é baixinho. Virei o rosto quando percebi que eles tavam se beijando, se eu soubesse que seria feita de vela não teria ficado em casa.
__ Tô aqui ainda tá bom?! Não quero ser vela não! __ Exclamo fingindo irritação.
__ Deixa de ser pirada Nanda __ Escuto as risadinhas dos dois e mais alguns barulhos de beijo __ Entra amor, reveja sua arqui-inimiga e tente conviver com ela pelo resto da sua vida, sim?!
__ Idiota.__ Faço uma careta por perceber que falamos ao mesmo tempo, e noto uma careta semelhante no rosto dele.
__ Olha como as coisas estão evoluindo, já podem se considerar melhores amigos.
Reviramos os olhos ao mesmo tempo enquanto o i****a do meu irmão se acabava na risada.