2 - Perdendo o chão

1683 Words
Ailyn Minha mãe e meu irmão saem do quarto, e eu saio pela outra porta, que leva a um corredor mais discreto, acessível apenas a uma pequena parte da família e aos subordinados do meu irmão. Prometi à minha mãe que não fumaria, mas queria ter um cigarro comigo. Meus saltos fazem um leve eco no chão de mármore enquanto caminho, tentando organizar meus pensamentos. Meu coração bate mais rápido do que deveria, e nem sei dizer se é ansiedade, medo ou simplesmente a antecipação do inevitável. Então, ao virar a esquina, o ar escapa dos meus pulmões. Meu coração despenca. Parado a poucos metros de mim, Andrei está pressionado contra a parede. Mas ele não está sozinho. Os braços dele estavam ao redor de outra mulher. Seus corpos enredados em um abraço íntimo. Meu estômago se revira, e um arrepio gélido desce pela minha espinha. Franzo a testa e dou alguns passos hesitantes, como se uma força invisível me puxasse para mais perto. Então, Andrei se afasta da mulher, e eu finalmente vejo seu rosto. Minha prima. O chão sob meus pés se esvai. Meus passos vacilam, e um suspiro escapa dos meus lábios. O tempo parece parar enquanto os observo, incapaz de desviar o olhar da verdade c***l que se desenrola diante de mim. Uma mistura de choque, descrença e traição se agita dentro de mim, ameaçando consumir tudo o que eu pensava que sabia. Susy e Andrei? Pisco algumas vezes, como se isso pudesse me acordar de um pesadelo. — Eu te amo — Andrei sussurra para ela, sua voz carregada de uma sinceridade c***l. Susy o encara com devoção, como se ele fosse a única coisa que importava no mundo. — Ailyn não é nada além de um peão nesse jogo — ele continua. — É você que eu realmente desejo. O ar se torna espesso ao meu redor. — Você está mentindo — Susy responde, sua voz vacilante. — Eu vejo o jeito que você olha para ela. — Claro que tenho que fazer isso — Andrei diz, acariciando sua bochecha do mesmo jeito que tantas vezes acariciou a minha, quando eu ainda acreditava que tudo isso era real. — Tenho que fazê-la acreditar que é ela que eu quero. Mas você é a única que importa. — E o que acontece com ela depois que vocês se casarem? Andrei esboça um sorriso frio. — Ela é descartável. Assim que eu tiver o que preciso, ela vai desaparecer. Minha respiração fica presa na garganta. Instintivamente, pressiono a mão contra o peito, como se isso pudesse conter a dor que ameaça me rasgar por dentro. Lágrimas embaçam minha visão enquanto tento compreender a magnitude da traição deles. Como Andrei, o homem que eu pensei que seria meu parceiro para o resto da vida, pôde me enganar tão friamente? E Susy? Como ela pôde fazer isso comigo? Crescemos juntas, dividimos um quarto durante os verões, compartilhamos segredos. Ela é do meu sangue. E me apunhalou pelas costas. Meu coração bate descompassado, cada batida como um trovão nos meus ouvidos. Giro nos calcanhares e fujo antes que Andrei me veja. O pânico corre pelas minhas veias, alimentando minha necessidade desesperada de escapar dessa verdade insuportável. Corro pelo corredor, o tecido volumoso do meu vestido ondulando ao meu redor como um espectro assustador. As lágrimas escorrem pelo meu rosto, turvando minha visão. Mas sigo em frente. Preciso sair daqui. Preciso ir para bem longe. O mundo se torna um borrão de cores e formas enquanto tento encontrar um lugar para me esconder, um refúgio onde eu possa pensar. Vejo uma escada adiante e subo sem hesitar, impulsionada por uma necessidade instintiva de me afastar de tudo. No topo, encontro uma sala vazia, tomada pelo cheiro de poeira e abandono. Entro e tranco a porta atrás de mim. Minha respiração sai em soluços enquanto abraço a mim mesma, tentando processar o que acabei de ouvir. Então meus olhos pousam em uma mochila caída no chão. A mochila da qual Susy falou. Mentiras. Tudo mentira. Uma raiva ardente toma conta de mim. Antes que possa pensar duas vezes, agarro a mochila e a lanço pela janela. O som do impacto lá embaixo é abafado pelo martelar do meu coração. Desabo sobre um sofá empoeirado, pressionando as mãos trêmulas contra o peito, lutando para recuperar o controle da minha respiração. Então, o som de uma maçaneta chacoalhando me faz congelar. Alguém bate na porta. Meu coração dispara. — Ei, tem alguém aí? Congelo. Não respondo de imediato. Primeiro, porque não quero ser encontrada. Segundo, porque a voz do outro lado me atordoa. Ela é baixa, rouca, sexy. Meu estômago revirado me lembra que estou em pânico, e não deveria estar reparando nesse detalhe. A porta continua chacoalhando. — Vá embora — digo, minha voz trêmula. — Preciso ficar sozinha. — Eu só estou tentando fazer meu trabalho, sabia? — Você pode fazer isso mais tarde. Silêncio. Então, ele pergunta: — Você está bem, moça? Respiro fundo, tentando engolir as lágrimas. — Eu vou ficar bem. — Não acho que vai — ele diz, firme, mas sem ser invasivo. — Escuta… por que você não sai daí? Talvez eu possa te ajudar. — Não preciso da sua ajuda. — Claro — ele responde, como se não acreditasse nem por um segundo. — Mas você parece assustada. Sabe… às vezes, a maior força de alguém vem de dentro. Então, me diz… o que você quer? Minha respiração ainda sai instável. O que eu quero? Uma parte de mim quer descer e confrontar Andrei. Jogar a verdade na cara dele e expor sua traição. Mas a outra parte, mais forte, mais barulhenta, se sente… aliviada. Eu nunca quis esse casamento. A resposta me atinge como um trovão. — Eu quero fugir — murmuro. Silêncio do outro lado da porta. Meu estômago se revira. Eu gostaria de saber quem ele é. Mas não importa. Eu sei exatamente o que preciso fazer. Chuto os sapatos de salto sem pensar duas vezes. O toque frio do chão nos meus pés descalços me dá uma sensação inesperada de liberdade. Como se, ao me livrar deles, eu também estivesse me livrando das correntes que me prendiam. Me aproximo da janela aberta e olho para fora. O lugar está lotado de guardas. O estacionamento, os arredores da igreja… segurança em todos os lados. Se eu simplesmente descer, serei pega. Engulo em seco e olho para baixo. É uma queda de pelo menos seis metros. Talvez mais. Se eu pular, vou quebrar a perna. Ou pior. Lágrimas queimam meus olhos quando flashes da cena de Andrei e Susy invadem minha mente. Casar com ele não é mais uma opção. Enxugo o rosto com pressa e subo lentamente para a janela. O vestido volumoso dificulta meus movimentos, mas não paro. Há um parapeito estreito ao redor do prédio. Testo sua firmeza antes de deslizar para o lado, procurando por um cano ou uma escada de emergência. Abaixo de mim, os guardas patrulham o perímetro. Se um deles olhar para cima, estou acabada. Prendo a respiração e me pressiono contra a parede, os dedos cravando no concreto. E então vejo. Uma escada estreita, escondida na parte de trás da igreja. E, além dela, um muro baixo. Fácil o suficiente para escalar. Se eu conseguir chegar até lá… Eu posso escapar. — Jesus… — respiro ofegante enquanto desço as escadas, meu coração martelando na garganta. O ferro enferrujado rasga meu vestido de noiva, mas eu m*l noto. Não importa. Nada disso importa. Meu pé vira de lado. A dor sobe até minha coxa, aguda e c***l, fazendo lágrimas brotarem nos meus olhos. Mas eu não paro. Não posso parar. Finalmente, alcanço o chão. Me viro para a parede e escaneio a área. Ninguém por perto. Um arbusto espesso me esconde do resto do local, mas quando ergo o olhar, meu estômago despenca. Uma câmera de segurança. Apontada diretamente para mim. Merda. Alguém está assistindo. Não tenho tempo a perder. Me agarro à borda do muro e me impulsiono para cima, tentando recuperar o fôlego. O arbusto ao lado farfalha. Meu peito se aperta. Pânico. Eu me desequilibro e caio do outro lado com um baque seco na estrada. — Merda! — engasgo quando a dor me queima. Olho para minha mão e vejo minha unha quebrada até a carne. Deus. Sento-me no chão, o coração disparado. Meus olhos encontram algo ao meu lado. A mochila. A mesma que joguei pela janela. Por um segundo, o choque me paralisa. Depois, lembro das palavras de Susy. Ela disse que empacotou alguns dos meus pertences. Eu deveria rir. Mas tudo que faço é pegar a bolsa e segurá-la firme. Isso é um sinal. O universo está comigo. Rastejo alguns passos para longe da estrada, minhas mãos sujas de poeira e sangue. Na minha mente, não vejo o rosto da minha mãe, nem o de Dylan. Só escuto a voz do homem desconhecido. — O que você quer? Minha respiração sai trêmula. — Liberdade… — sussurro. Ninguém vai me dar isso. Eu tenho que tomar para mim. Levanta, Ailyn. Você consegue. Coloco as palmas das mãos no chão e me forço a ficar de pé. Manco alguns metros, cada passo carregando a promessa de algo novo, algo diferente. A dor começa a se dissipar, e eu ganho velocidade. Eu consigo. Eu vou sair daqui. Meus olhos correm pelo ambiente, procurando uma saída, um abrigo, qualquer coisa. Então vejo. Um caminhão estacionado na rua ao lado, parcialmente coberto por uma lona. Sua estrutura resistente parece um convite. Sem hesitar, corro em sua direção. Se os homens de Andrei me virem, estou acabada. Vou direto para o caminhão, mas então… Meu coração gela. Dylan. Ele está saindo da igreja, cercado pelos subordinados de Andrei. Nossos olhares se encontram. Surpresa. Compreensão. Liberdade. Ele assente, quase imperceptivelmente. Ele me deixa ir. Com um nó na garganta, deslizo para debaixo da lona do caminhão. Meu corpo inteiro treme — de frio, de adrenalina, de alívio. O motor ronca. E então… estamos em movimento. Rolando rumo ao desconhecido.
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