Tyler
Andrew, que até então observava em silêncio da mesa da cozinha, se aproxima, um brilho curioso nos olhos.
— Católicos, certo? — ele pergunta.
Ailyn não responde.
— E agora, Ailyn? Qual é o seu plano?
Seus olhos se movem rapidamente entre nós três, refletindo incerteza e desespero.
— Eu… eu não sei — ela admite, a voz carregada de vulnerabilidade e determinação. — Mas não posso voltar. Não depois do que vi.
Carter mantém seu olhar desconfiado sobre ela.
— Como sabemos que você não está escondendo algo? Sua história é conveniente demais. Precisamos ter certeza.
Eu interrompo, tentando dissipar a tensão.
— Carter, não vamos tirar conclusões precipitadas.
— Eu prometo — Ailyn diz, sua voz sincera, mas tingida de súplica. — Não estou escondendo nada importante.
Há algo na forma como ela diz isso que me faz acreditar nela, mas Carter continua impassível.
Meus olhos percorrem Ailyn. Há uma suavidade nela, mas também força. Seus cachos emolduram o rosto delicado, e a luz do sol toca seus fios, criando um brilho quente ao seu redor.
Percebo, então, que nós três estamos muito próximos dela. Como predadores cercando a presa.
Quando Carter se inclina para frente, noto a forma como ele respira fundo antes de falar.
— Se descobrirmos que você está mentindo para nós, Ailyn… isso não vai acabar bem para você.
Os olhos dela se arregalam. Seus lábios se entreabrem, e, por um instante, juro que vejo um lampejo de desejo em seu olhar quando ele desce até a boca de Carter. Ele percebe isso também, porque seu corpo se enrijece. Mas o momento desaparece tão rápido quanto ela se encolhe, como se tentasse se tornar invisível.
O rosto de Carter se fecha. Algo parece estar passando por sua mente, algo que não consigo decifrar.
— Não estou mentindo — Ailyn diz finalmente. — Só não quero voltar para minha família.
— Eles sabiam sobre a traição? — pergunto.
Ela balança a cabeça.
— Não, claro que não. Mas se eu voltasse, seria um escândalo. Eles são… conservadores.
Carter cruza os braços.
— Embora eu sinta muito por isso, respeitosamente, esse não é o nosso problema. Esta terra é propriedade privada.
Ailyn suspira.
— Eu não queria que nada disso acontecesse. Mas agora que estou aqui…
— Não — Carter interrompe. — Absolutamente não. Você não pode ficar.
Ailyn o encara, e há uma faísca de desafio em seus olhos.
— Por que não?
Carter aperta o maxilar, como se se irritasse com a ousadia dela.
— Cada pessoa aqui já tem um trabalho.
— Então eu posso trabalhar — Ailyn diz, firme. — Não espero ficar sentada sem fazer nada.
Andrew solta uma risada baixa.
— O quê? Você quer ordenhar vacas? Treinar cavalos? Carregar baldes d’água?
— Sim, se for preciso.
Carter a examina de cima a baixo. Talvez seja minha imaginação, mas juro que seus olhos se demoram um pouco mais na curva dos s***s dela.
— Claro que pode — ele diz, a voz carregada de ironia.
— Eu... — ela começa, mas ele a interrompe.
— Tyler, não podemos deixá-la ficar — Carter afirma, ignorando Ailyn agora. — Leve-a de volta para a igreja.
Meu coração afunda. Sei que Carter está tentando ser racional, mas algo em mim se recusa a simplesmente abandoná-la.
— São seis horas de viagem até lá — ressalto.
— Então a leve até um ponto de ônibus. Compre uma passagem. Ela que se vire.
Viro-me para Ailyn. Ela parece tão frágil que sinto um nó se formar em minha garganta.
Carter cruza os braços.
— Tyler, não sabemos a história completa. Não é seguro para nenhum de nós abrigar alguém que pode ser um risco.
Sei que é o ex-militar nele falando. Mas também sei que Carter sempre foi naturalmente desconfiado.
Ailyn, no entanto, não desiste.
— Eu posso trabalhar. Fazer o que vocês precisarem. Por favor, só não me mandem embora.
A mandíbula de Carter se contrai.
— Ailyn, isso não é uma solução.
Ela dá um passo à frente, sua voz trêmula, mas decidida.
— Eu prometo que vou provar meu valor. Estou disposta a trabalhar duro. Só me dê uma chance.
A expressão de Carter suaviza por um instante, e vejo a luta interna em seu rosto. Mas então ele balança a cabeça.
— Os riscos superam os benefícios.
E, com isso, a decisão parece final.
Os ombros de Ailyn caem, o peso da decepção se assentando sobre ela. Ela se vira para mim, os olhos implorando por compreensão.
— Tyler, você não pode me ajudar? Por favor, eu não quero ser mandada embora.
Engulo em seco.
— Não sei, Ailyn... — Até Andrew já se afastou, como se quisesse se distanciar da situação.
Uma expressão de resignação se instala no rosto dela. Ailyn solta o braço de Carter e sussurra:
— Eu entendo. Obrigada por tudo.
O silêncio nos acompanha até minha caminhonete. Ailyn olha ao redor, como se buscasse uma última esperança, qualquer coisa que lhe desse uma alternativa.
Ela desliza para dentro do veículo, mas antes que eu possa entrar, ela levanta a cabeça de repente.
— Espere, deixei minha bolsa no celeiro.
— Eu pego.
Quando volto, encontro Ailyn segurando um pedaço de papel nas mãos. Seus olhos brilham com uma nova esperança.
— Por que você não me disse que estava procurando uma babá?
Franzo a testa.
— O quê?
Ela ergue o panfleto. Meu peito aperta quando reconheço o anúncio que Carter fez semanas atrás, procurando uma babá para os gêmeos.
— Eu poderia fazer isso — diz ela, a voz cheia de uma empolgação quase infantil. — Sou boa com crianças.
Cruzo os braços, hesitante.
— Ailyn, os gêmeos podem ser bem trabalhosos. Tem certeza de que está pronta para isso?
Ela assente com firmeza.
— Sim. Eu cuidei do meu irmão quando ele era mais novo.
Balanço a cabeça devagar.
— Não acho que você entenda no que está se metendo.
— Acho que sim.
Inclino a cabeça para ela.
— Você já conheceu os gêmeos?
Ela aponta para o vestido de noiva encharcado.
— Sim. Eles me deram uma recepção grandiosa e muito molhada.
Praguejo baixinho. Agora percebo as manchas de água no tecido, tornando-o mais colado ao corpo dela do que deveria. Meus olhos deslizam sem querer para a curva dos s***s dela, pressionados contra o tecido pesado.
Desvio o olhar, pigarreando.
— Sinto muito pelo vestido.
Ela dá de ombros.
— Não me importo.
Não é todo dia que se vê uma noiva que não liga para o estado do próprio vestido.
Ela balança a mão, como se quisesse afastar minha preocupação.
— São só crianças.
Não sei se ela realmente acredita nisso ou se está me dizendo exatamente o que quero ouvir só para poder ficar.
Cruzo os braços e respiro fundo.
— Preciso ser honesto com você. Os gêmeos são incrivelmente travessos. Eles testaram a paciência de todas as babás que tivemos, e nenhuma durou mais de duas semanas.
Ela franze as sobrancelhas, mas há uma centelha de determinação em seu olhar.
— Entendo que não será fácil, mas estou disposta a tentar. Acredito que posso me conectar com eles e trazer alguma estabilidade para suas vidas.
Admiro sua resiliência, mas isso não é suficiente.
— Ailyn, não se trata apenas de se conectar com eles — explico, tentando fazê-la entender. — Eles exigem atenção constante, paciência infinita e alguém que aguente o tranco. É um trabalho exigente, e não quero que você subestime os desafios.
Ela me encara, os olhos brilhando com uma teimosia que não tinha visto antes.
— Aprecio sua preocupação, Tyler. Sei que não será fácil, mas estou disposta a dar tudo de mim.
Cruzo os braços, estreitando os olhos.
— Você quer mesmo ficar, hein?
Seu sorriso é melancólico.
— Ir para casa agora não é uma opção para mim.
Solto um suspiro.
— Os gêmeos são pequenos demônios. Eles vão transformar sua vida num inferno.
Ela apenas sorri.
E, naquele momento, sinto algo pesado e quente se instalar em mim. Meu coração bate mais forte, e uma onda de atração corre pelo meu corpo, parando direto no meu p*u.
Inferno.
— Pode vir.