Fui abalada do meu sono com o som de pneus cantando e metal raspando. Era como se os próximos minutos passassem em câmera lenta. Senti a mão de Blake segurando-me através de meu peito, me protegendo. Os meus braços imediatamente envolvendo minha barriga para proteger o meu filho nascituro. Assisti quando o nosso carro derrapou na direção do caminhão que se aproximava. Os olhos de Blake encontraram os meus com uma expressão de dor enquanto eu observava o caminhão bater no veículo do lado dele, empurrando-nos para fora da estrada.
A dor apareceu no meu ombro, uma vez que bati contra a porta, seguido pela minha cabeça rachando o vidro um pouco antes de tudo escurecer.
***
Eu não sabia quanto tempo se passou, mas acordei com sirenes e luzes piscando ao redor de nós. Um sentimento de pânico imediatamente passou por mim. Estendi a mão para Blake, que estava debruçado sobre o volante ao meu lado.
— Blake? Blake, por favor, acorde. — Balancei o seu ombro, e uma dor perfurante apareceu no meu estômago. Vi sangue escorrendo do lado da cabeça dele, e não havia nenhum movimento, nem mesmo em seu peito.
As lágrimas caíam pelo meu rosto quando o medo explodiu dentro de mim.
— Blake, por favor, acorde, eu preciso de você. Nós precisamos de você, você não pode nos deixar. — Comecei a gritar por ajuda. Freneticamente tentando ganhar a atenção de alguém, qualquer um. Minha visão borrada pelas lágrimas. Havia sangue por toda parte, e sabia que ele vinha de Blake, mas me recusei a aceitar que ele tinha ido embora. Ele não podia me deixar, era muito cedo.
— Não! Alguém, por favor, nos ajude... por favor. Socorro! — Gritei uma e outra vez. — Ajude-o, por favor.
***
Deitei na cama do hospital olhando para fora da janela, me sentindo totalmente perdida. Este dia era ao mesmo tempo um dos piores e os melhores dias da minha vida. Eu disse adeus ao homem que eu amava, o pai do meu filho. Um homem que estaria para sempre dentro do meu coração. Um homem que me deu o maior presente que eu poderia ter recebido.
E dei as boas-vindas ao mundo ao nosso filho. Dois quilos e meio de doçura, e ele parecia tal e qual o pai. Foi tão difícil olhar para ele sem sentir o meu mundo explodir em torno de mim mais uma vez.
Blake morreu no dia em que o nosso filho nasceu, e senti como se eu morresse ali mesmo ao lado dele. Quando os paramédicos o afastaram do carro, vi que seus olhos estavam abertos, olhando para frente, sem vida. O meu coração se partiu. Tornei-me insensível e imóvel. Não me lembro de muita coisa depois disso, eu só sabia que nunca seria capaz de esquecer essa imagem. Como eu continuaria sem ele? Eu precisava dele.
Eu jazia sem vida na cama, olhando para nada em particular. A minha mente vagueava aleatoriamente sobre pensamentos de Blake e eu. As vezes que ele me fez rir descontroladamente. As noites em que ficávamos acordados a noite toda, apenas conversando. Os momentos que compartilhamos, como nós nos apaixonamos.
Eu permiti que uma amiga minha me arrastasse para o meu primeiro jogo de futebol da faculdade. Era algo que eu evitara porque Reed também era um ávido fã de esportes. Tentei evitar qualquer coisa relacionada a Reed. O meu coração ainda doía quando eu pensava nele, então eu tentava não pensar.
Ela foi persistente. Ela me puxou pela mão justo quando um cara grande em um traje extravagante de cão tropeçou em mim, me fazendo tropeçar. Senti um conjunto de braços fortes circulando a minha cintura para me firmar. Após recuperar o meu equilíbrio, eu me virei para agradecer a pessoa que me salvou de plantar o rosto contra o concreto. O sorriso arrogante pertencia a um cara muito bom de olhar. Um cara que ainda segurava a minha cintura de forma segura. O meu estômago ficou tenso e o meu rosto ficou corado.
— Obrigada, — consegui falar. Ele piscou, e em seguida, relutantemente começou a me liberar.
— Você tem que tomar cuidado com Rhett, ele tem dois pés esquerdos. — Sua voz era profunda e calmante.
— Rhett?
Eu não tinha ideia do que esse cara estava se referindo. Ele apontou na direção do grande traje estranho de cão.
— Rhett... o mascote. Você sabe, os terriers de Boston? Você estuda aqui, certo? — Eu me senti como uma i****a.
— Sim... hum eu estudo. Eu uh, bem hum, obrigada novamente.
Eu sabia que minhas bochechas estavam vermelhas de vergonha. Claro que eu conhecia o nosso mascote. Quer dizer, eu meio que sabia que o nome dele era Rhett. Certo, quem diabos eu estava enganando? Eu não tinha ideia de qual era o nome do cão.
As lembranças continuaram a fluir enquanto eu estava de costas para a porta do quarto de hospital. Eu só queria bloquear o mundo e nadar nas minhas lembranças de Blake. Queria me lembrar de seu rosto, seu toque. Desejei estar em no nosso apartamento, aninhada em seus braços. Eu só queria voltar no tempo e saber que ele estava seguro.
Eu poderia fracamente ouvir a porta sendo aberta quando os ruídos do lado de fora do corredor se tornaram mais proeminentes. Virei apenas o suficiente para ver a enfermeira sorrir para mim. Dei uma fraca tentativa de devolver o gesto.
— Ei, querida, eu acho que este pequeno indivíduo estava sentindo falta da mãe dele. Pensei em trazê-lo para uma visita. — Eu a vi levantá-lo cuidadosamente de sua cama. Ela enfiou-o com força dentro de seu cobertor antes de estendê-lo em minha direção.
O momento em que eu vi os seus olhinhos, era como se o meu coração estivesse na garganta. Lágrimas enchiam os meus olhos, eu respirei de forma profunda e calmante. Como eu poderia fazer isso? Lutei contra a dúvida que desejava se apoderar de mim, e peguei meu filho nos meus braços. Colocando meus lábios suavemente contra a sua testa, eu respirei o seu perfume inocente. Uma lágrima pingou no rosto dele, e eu a afastei. Seu pequeno rosto se contorceu do toque, e ele chupou o lábio. O som me colocou em transe.
— Você já pensou em um nome? — A enfermeira me perguntou, e tudo que eu podia fazer era balançar a cabeça em resposta. Eu estava com tanto medo de falar. Sabia que ia desabar uma vez que eu falasse. Eu observava a vibração dos olhos do meu bebê, e sua mão apertou em torno de meu dedo, apenas um pouco mais apertado.
No momento em que meus pais entraram no quarto, eu cedi. Perdi tudo o que eu tentava segurar dentro uma vez que os meus olhos encontraram os deles. A minha mãe pegou suavemente o meu filho dos meus braços enquanto o meu pai me envolvia nos dele. Não sei durante quanto tempo eu chorei, eu só sabia que era bom colocar tudo para fora.
Eles pegaram o primeiro voo que puderam assim que receberam o telefonema do hospital. Tê-los aqui comigo permitiu que eu me sentisse segura.
***
Os dias se passaram, e só havia uma coisa que nos impedia de sair do hospital – eu precisava dar um nome para o nosso filho.
— Querida, ele precisa de um nome, você tem que decidir.
Tentei não ficar brava com a minha mãe. Sabia que não era culpa dela.
— Eu sei que eu preciso... mas não posso. Não sem Blake. Nós não tínhamos decidido, e odeio ter que fazer isso sem ele. A única coisa que ele deixou claro foi que não queria que seu último nome fosse Harrison. Não depois do que os pais dele fizeram e como me trataram quando descobriram. Ele sempre brincava comigo e disse que quando nos casássemos ele pegaria o meu nome. — Sorri ao pensar naquela conversa com Blake. Ele estava tão sério, e toda a coisa quebrou o meu coração. Eu era a razão pela qual ele se afastou de seus pais. O pensamento me incomodava, mas ele sempre me disse que as coisas ficariam bem.
— Existe alguma coisa que você pode pensar que signifique muito para vocês dois? Algo que ambos compartilhavam? A maneira como você o conheceu, ou um lugar que ambos amavam? — Deixei minha mente vagar mais uma vez para os tempos compartilhados, as coisas que fizemos juntos. Eu continuava voltando para o dia em que nos conhecemos.
O estranho cão de antes... oh sim, Rhett. Ele se aproximou de mim e sorriu. O cara tinha a cabeça do cão debaixo do braço.
— Olha, eu sinto muito sobre antes. Espero que eu não tenha te machucado. — Peguei um vislumbre do meu salvador de mais cedo observando de perto enquanto o cara fantasiado de mascote pedia desculpas. — Acho que eu preciso prestar atenção. Eu realmente sinto muito.
— Posso te fazer uma pergunta? — Esperei por sua resposta, e ele apenas deu de ombros. — Aquele cara ali fez você vir e pedir desculpas de novo?
Sr. Rhett, o Boston terrier, apenas sorriu e deu de ombros antes de virar e voltar para os seus amigos. Foi por causa desse mascote louco que nos conhecemos. Se ele não tivesse tropeçado em mim, quem sabe se teria me sido dada a oportunidade de conhecer um cara tão incrível. Blake era doce com uma ponta de arrogância que foi difícil resistir.
Foi naquela noite que eu o deixei me acompanhar até a casa. Foi também nessa mesma noite que eu soube que Blake seria uma parte da minha vida. Se nós éramos amigos ou algo mais, eu sabia que queria mantê-lo por perto.
***
O pensamento me atingiu, e me virei para encarar a minha mãe. Ela sorriu conscientemente.
— Você pensou em alguma coisa?
Uma lágrima solitária correu pelo meu rosto quando assenti. — Rhett, mamãe... Eu vou chamá-lo de Rhett Harrison Foster.
Eu sabia que Blake sorriria com isso. Afinal, Rhett poderia ser considerado durão. Eu sei que teria deixado Blake orgulhoso.