Seis meses mais tarde
Kori
Após o funeral, as coisas tornaram-se sombrias para mim. Era quase impossível atravessar os meus dias sem chorar em cada momento. Eu m*l dormia, não poderia digerir os alimentos, e até mesmo a respiração, por vezes, parecia forçada. A minha vida mudara completamente dentro de segundos. O homem que me fez sentir completa, me fez sentir amada, era agora apenas uma memória. Não ser capaz de tocá-lo era insuportável.
Decidi voltar para casa com os meus pais. Simplesmente parecia a coisa certa a fazer, tanto para Rhett quanto para mim. Eu precisava do apoio.
Os pais de Blake foram frios e não mostraram sinais de remorso em relação a mim ou ao meu filho pela forma como nos trataram. Basicamente eles apenas queriam que a gente desaparecesse. Nos seus olhos eu era o lixo do reboque que prendeu o seu filho bem criado por ficar grávida. Rhett era a prova de que Blake e eu estivemos juntos uma vez, uma lembrança do filho que perderam, em mais de uma maneira. Eles sequer pediram para encontrá-lo. Não queriam nenhuma ligação com qualquer um de nós.
O pai dele me ofereceu uma grande soma de dinheiro para ir embora sem pedir nada mais. Eu rasguei o cheque no rosto dele. O homem teve sorte por ser tudo o que eu fiz. Eu não precisava de nada dele. Blake já havia feito uma apólice de seguro de vida depois que seus pais se recusaram a aceitar-me ou ao nosso filho. Esperávamos que nunca tivéssemos que usá-la, mas ele gostava de planejar com antecedência; ele tendia a estar preparado para qualquer coisa. Eu era a beneficiária, e esse dinheiro seria posto de lado para o nosso filho, juntamente com o dinheiro que ambos trabalhamos tão duro para guardar. Foi o que nós nomeamos, Fundo do nosso Futuro. Planejamos usá-lo para comprar a nossa primeira casa, assim que decidíssemos onde nos estabelecer.
Eu não estava preocupada comigo, só precisava ter a certeza de que não importa o que, eu poderia cuidar do nosso filho.
O meu pai era um fazendeiro, e a solidão da minha casa de infância era o que eu precisava. A terra continuava por centenas de hectares, e na propriedade ele tinha mais do que uma casinha para os seus ajudantes.
Se fosse como eles queriam, eu teria voltado para o meu antigo quarto. Após uma longa conversa com os dois, eles concordaram em arrumar a casa de dois quartos que ficava a um quilômetro e meio de distância e permitiram que eu morasse nela. A única condição do meu pai é que o aluguel fosse gratuito. Ele sabia que eu aceitaria porque eu precisava do meu próprio espaço, mas ainda precisava deles por perto. Eu me certificaria de recompensá-los de outras maneiras.
A maioria das minhas aulas estava acabando, e me deram mais tempo devido ao acidente. Depois que eu terminei, antes das férias de Natal, me transferi para a Universidade em Statesboro, Geórgia, para finalizar a minha graduação. Com ela sendo apenas menos de vinte quilômetros da minha cidade natal, Brooklet, tudo funcionava bem.
Na semana passada, eu recebi o meu diploma universitário em educação infantil. Agora estava livre para me juntar ao mundo do trabalho como professora.
Entrei em contato com todas as escolas locais para o próximo ano letivo, e agora eu teria apenas que esperar e ver como correria. O verão me daria a chance de me instalar, um pouco mais de tempo para lamentar e construir a base que eu precisava para avançar com a criação de meu filho.
A cada dia que passava, Rhett parecia mais e mais com o pai. Desde o ondulado cabelo escuro na cabeça, até a forma como a sua unha do mindinho enrolava no topo de seu dedo do pé quando ficava muito comprida.
Toda vez que ele ria ou sorria, me sentia culpada por gostar. Blake estava perdendo um som tão doce. Encontrei este site on-line que faz brinquedos com fotos dentro. Pensei que seria bem legal colocar fotos de Blake dentro de alguns dos brinquedos de Rhett. O problema era que eu não poderia deixá-lo mastigá-los ou jogá-los ao redor. Em vez disso, agora eles estavam em uma prateleira juntamente com dezenas de outras fotos que eu tinha de nós juntos.
Fui até a estante ao lado da televisão e peguei a foto em preto e branco de nós dois. Estávamos sentados no campus perto de uma grande árvore de carvalho. Um amigo nosso a tirou. Blake tinha uma mão em cada lado da minha barriga inchada enquanto dava um beijo suave na minha barriga. Minha cabeça estava jogada para trás rindo, e foi um dos melhores momentos que compartilhamos. Passamos aquele dia em completa felicidade, e eu queria tanto voltar aquele dia. Queria sentir os braços dele em volta de mim novamente. Ansiava tanto acordar com a minha cabeça no peito dele, ouvir os seus batimentos cardíacos debaixo de mim ou sentir a sua respiração fazer cócegas no meu pescoço.
Com cada etapa que Rhett atingia, a dor só parecia mais profunda e mais difícil de suportar. Eu esperava que com o tempo as coisas começassem a melhorar, um pouco mais fácil de seguir em frente. Eu me sentia como se estivesse oca e quebrada. Uma mera casca de mim mesma.
O suave grito de Rhett soou através do monitor do bebê me fazendo saltar de surpresa. Limpei as lágrimas do meu rosto, colocando um beijo sobre a moldura de Blake. Cuidadosamente a coloquei em seu local designado na prateleira.
Quando entrei no quarto, a visão das pernas do meu pequeno homem indo a cem quilômetros por hora trouxe um sorriso muito necessário ao meu rosto.
Inclinei-me ao lado de seu berço e coloquei a minha mão em sua barriga.
— Bem, olá, menino doce. — Ele murmurou mais alto, e eu não podia lutar contra a risada que entrou em erupção. — Oh meu, não somos apenas um pequeno cara feliz? — Eu o peguei e o aconcheguei perto. Ainda lutei contra as emoções que me inundavam cada vez que eu segurava Rhett. Cada beijo e sorriso que nós compartilhamos também era tão agridoce.
Por que a vida era tão injusta? Eu me fiz essa pergunta todos os dias. Blake me amava como eu precisava ser amada. Não passou um dia em que ele não garantiu que eu soubesse o quanto eu significava para ele. Ele era um homem tão amoroso, e eu não conseguia entender como Deus poderia levá-lo para longe de nós.
A coisa mais difícil foi seguir em frente sem ele e aceitar que eu nunca mais teria a chance de ver seu bonito sorriso ou ouvir sua risada. Seu toque que eu ansiava e que não sentiria. O conforto de tê-lo perto, nunca mais me acalmaria. Eu seria deixada me sentindo vazia e quebrada.
Fui deixada sem ele para seguir em frente, e isso era uma das coisas mais difíceis que eu alguma vez fui forçada a enfrentar.
— Kori, por que você não deixa seu e eu pai cuidarmos de Rhett hoje à noite? — Girei na cadeira para encarar minha mãe, que cortava as maçãs de sua famosa torta. Ela nunca olhou para cima enquanto continuava descascando e fatiando.
— Por quê? Desta vez, ela colocou a faca na bancada e ergueu a cabeça.
— Querida, você passou os últimos seis meses e meio escondida. Ignorou os telefonemas de Maria e fingiu estar ocupada. Eu acho que seria bom para você sair e se encontrar com alguns velhos amigos.