Quando chego em casa, a primeira coisa que faço é jogar a mochila de qualquer jeito em cima do sofá, antes de arrancar a gravata e tirar a camisa social branca na velocidade da luz, como se ela estivesse me causando algum tipo de dor.
A temperatura aqui dentro está muito agradável, o que me leva à não vestir outra camisa imediatamente e ficar apenas de calça mesmo. Caminho até a cozinha e abro a geladeira, então encho um dos copos de vidro com água e o levo até a boca.
Resolvo começar agora mesmo à desempacotar tudo, por que se ficar apenas enrolando, essas caixas vão ficar aí para sempre. Fico de cócoras ao lado da pilha de caixas de papelão que estão no canto da cozinha, então começo rasga-las com as mãos mesmo, sem paciência para procurar um estilete por aí.
Retiro os pratos de porcelana lá de dentro e levanto para coloca-los no armário, por quê assim desempacoto e arrumo tudo ao mesmo tempo. Depois, organizo os copos, os eletrodomésticos e várias outras coisas da cozinha, deixando no lugar onde tinham várias caixas cheias de coisas, apenas uma pilha de pedaços de papelão.
Vou para a sala e começo à ajeitar as coisas por lá também, tirando os meus livros da meia dúzia de caixas, coloco-os de qualquer jeito na estante do outro lado da sala, por que se parasse para arruma-los (por editora e gênero, como gosto) demoraria séculos, então ficará para outro dia.
Os tapetes ficarão no quarto sobressalente, que vou trasformar um uma pequena despensa. Só depois de passar o pano e tirar o ** de tudo que vou distribui-los por todo o apartamento, nas portas, no pé da cama, entre os sofás...
Levo a pilha de pedaços de papelão até a cozinha, onde tenho quase certeza que há alguns sacos de lixo (daqueles pretos e bem resistentes) o que facilitará quando for levar todo essa bagaceira para fora daqui.
As coisas do banheiro e do meu quarto são as últimas que faltam desempacotar, o que me deixa um pouco surpreso por ter cuidado de todas as outras tão rápido, pensei que levaria dias...
No meu quarto, tiro os vários carregadores (tanto do celular como do computador), fones de ouvidos, diversos cabos USB e mouses que estavam em uma pequena caixa e coloco-os de qualquer jeito na última gaveta do meu guarda-roupas, o provavelmente vai fazer vários nós e me deixar morrendo de raiva outra hora, mas por enquanto, tô nem aí pra isso.
Tiro os sapatênis, botas e chinelos simples de dentro de uma caixa e coloco nas pequenas prateleiras do criado-mudo, assim como os pares de meias.
Noto que mmes óculos foi cuidadosamente colocado entre as minhas calças dentro da mala, franzo a testa para ele, por que não fui eu quem colocou lá. Deve ter sido minha mãe, ela praticamente me obrigava à usa-lo mesmo com eu odiando isso. Ele deixa meus olhos grandes demais e parecem os óculos do Harry Potter (o que com certeza não é algo bom), e eu não sou tão r**m da visão à ponto de usa-los toda hora, só uso quando estou sozinho e lendo coisas extremamente pequenas (como bula de remédio) ou querendo maratonar por longas horas alguma série na TV, o que deixa meus olhos extremamente cansados se não usa-lo.
Coloco-o em cima da cama e continuo arrumando tudo. Cuecas, perfumes, mais livros, capa de celular extra...
Uma meia hora depois, quando tudo está do meu agrado, levanto-me e caminho até a janela do meu quarto, chutando uma caixa vazia, que voa e bate na parede do quarto. Coloco as mãos no parapeito da janela, sentindo a madeira fria e polida sob as mãos das mãos.
Visão da cidade é incrível daqui do oitavo andar (mesmo com um enorme edifício do outro lado da rua tampe 40% da minha visão). Consigo ver o congestionamento típico da cidade lá embaixo na rua, carros pretos, táxis, caminhões... As buzinas não atrapalham muito, até porque a janela de vidro vedada impeça que boa parte do som entre aqui. Há grandes grades do lado de fora da janela, o que me faz sentir-me como um animal enjaulado.
Pego o celular do bolso e vejo que já são quase quatro da tarde. Procuro por alguns instantes o número do meu namorado e ligo para ele, antes de levar o aparelho até o ouvido.
- oi Baby.- Ele diz alguns segundos depois, sua voz sexy me faz abrir um sorriso involuntário.
- oi lindo. Você quer vir aqui hoje à noite?- convido-o já planejando maratonar uma temporada inteira de alguma série da Netflix.
- ho-hoje eu não posso baby, você não tem ideia do quanto estou ocupado com alguns trabalhos da faculdade essa noite.
- sem problemas, não quero que você tenha problemas na faculdade por minha causa.- respondo apressadamente tentando esconder que estou um pouco desapontado, parece que Diego é a pessoa que mais faz trabalhos da faculdade do mundo, porque toda semana umas duas ou três vezes ele está super ocupado e não pode vir me ver (não que eu tenha problema com isso, quero que ele estude muito e seja um dos melhores da turma) e agora pelo visto, vou ter que maratonar a série sozinho.
- valeu por compreender! Você é o melhor namorado do mundo!- diz, então abro a boca para dizer “você que é”, mas ele encerra a ligação antes que eu faça isso. Reviro os olhos e desligo o celular, antes de colocá-lo de volta no bolso e sair do quarto.
Caminho em direção à cozinha ainda em dúvida se devo cozinhar um pouco de arroz e fritar um bife ou simplesmente cozinhar um macarrão instantâneo. Não estou com tanta fome mesmo, então resolvo optar pela ultima opção.
Cozinho o macarrão instantâneo em menos de três minutos, então volto para a sala e ligo a TV, antes de passar quase meia hora procurando uma série (geralmente passo mais tempo procurando do que assistindo). Escolho shadowhunters, mesmo que a série seja um horror quando é comparada com os livros.
As horas se passam e eu assisto uns oito episódios antes de notar que estou forçando muito a visão para poder assistir (deveria ter pegado os óculos) o que significa que já está bom de TV por hoje.
Levanto do sofá e caminho em direção ao banheiro, antes de abrir a porta e começar à tirar a calça, sem me importar em não ter que sujá-la, amanhã é sábado mesmo, então posso lava-la antes do próximo dia letivo. Tiro a cueca também e vou em direção ao chuveiro, antes de liga-lo, fazendo a água quente descer pelo meu corpo e encontrar o chão. Como não estava sujo, poucos minutos debaixo do chuveiro devem bastar.
Saio dali e pego uma toalha, antes de enrola-la na cintura e caminhar até o meu quarto. Visto uma cueca e passo um pouco de desodorante, em passos silenciosos vou até a janela no quarto.
O céu escuro está coberto de nuvens, deixando apenas uma dúzia de estrelas visíveis, até a lua está escondida atrás das nuvens. Lá em baixo, a rua está bem iluminada pelos postes, poucos carros estão passando, tornando a noite muito mais tranquila (pelo menos se comparada com o dia).
Dou alguns passos e deito na minha cama, lembrando-me de tirar os óculos e coloca-los no criado-mudo. Jogo o cobertor quentinho sobre mim e fico observando o gesso branco do teto, que agora está praticamente preto devido à falta de luz, então espero o sono vir, enquanto mergulho nos meus pensamentos.
Amanhã vou até o apartamento do meu namorado e fazer uma surpresa para ele, deve ser bom tirar um tempo (mesmo que pouco) para relaxar, e não ficar apenas enterrado nos assuntos jurídicos vinte e quatro horas por dia. Aposto que ele vai ficar muito feliz ao me ver lá.
Diogo é uma das melhores pessoas que conheci, mesmo sendo aquele bad boy típico da escola, ele sempre estudou e se preocupou com o futuro, talvez seja por isso que está em uma das universidades mais aclamadas de Los Angeles (Bom... Acho que a grana que sua família possui provavelmente tenha ajudado no processo).
Fecho os olhos e imagino o cara loiro e bronzeando que faz praticamente todas mulheres babarem sem parar. Eu tenho muita sorte por ter ele, não só pela aparência, mas também por tudo que Ele é, gentil, sorridente, carismático... Praticamente um daqueles príncipes das fantasias e os protagonistas típicos dos livros de romance sabe? E eu seria apenas um dos figurantes que não servem ou são absolutamente nada na história.
Durmo poucos minutos depois, ainda agradecendo internamente a vida por ser feliz, apesar de ter feito escolhas que não agradaram meus pais e uma parte considerável da população. Esses pensamentos desaparecem e são substituídos por uma tranquila e reconfortante sensação...
(****)
Quando acordo no dia seguinte, a primeira coisa que faço é correr para o banheiro com uma vontade tremenda de fazer xixi, depois de dormir não tem quase nada que me faça acordar, tornando a minha vida um pouco agitada quando acordo.
Depois de me aliviar, lavo as mãos na pia e pego minha escova de dentes, antes de começar à escova-los tranquilamente. Encaro meu reflexo no espelho, observando um pouco de espuma branca escapar da minha boca e sujar um pouco da minha cara. Meus olhos ficam um pouco mais escuros sob a luz artificial que é emitida pelas lâmpadas, mas mesmo assim, as pupilas ficam destacadas no centro dos círculos cinzas. Será que se tivesse nascido com um pouquinho à mais de melanina eles seriam azuis??
Resolvo deixar essas perguntas das quais nunca vou saber a respostas para lá e termino de escovar os dentes. Saio dali e volto para meu quarto, antes de vestir uma calça jeans surrada e um moletom verde escuro, com várias estrelas brancas super pequenas espalhadas por todo o tecido.
Tenho quase certeza que há uma caixa de cereal no armário (preciso comprar urgentemente comida e estocar lá), e também um pouco de leite na geladeira.
Meus avós deixaram uma ótima quantia em dinheiro para mim no banco (com oito dígitos), então dinheiro não é problema para mim, pelo menos não pelos próximos dez anos.
Depois de ir para a cozinha e conferir se realmente tenho cereal e leite (sim, graças à Deus) coloco tudo e uma bacia e pego uma colher, então vou para a sala e sento no sofá.
Como em silêncio, com preguiça demais para caminhar os três metros entre mim e o controle remoto que liga a TV. Faço uma nota mental para colocar o meu celular para carregar logo depois que terminar de comer, esqueci de fazer isso ontem à noite e não estou com a mínima vontade de interromper meu café da manhã pata fazer isso.
O cereal tem um gosto doce e bom (talvez a fome auxilie um pouco nisso) e misturado com leite então... Poderia comer isso todos os dias, ou até ter mais de uma opção para escolher...
O pensamento sarcástico faz uma risada escapar da minha boca. Termino de comer as pressas, planejando limpar todo o apartamento, organizar meus livros, fazer o almoço e resolver um exercício que o professor de química passou ontem, antes de pegar um táxi e ir visitar meu namorado do outro lado da cidade.