Grego O pendrive dormiu na palma da minha mão como prova e destino. No quartinho de guerra — lâmpada nua, ventilador que range mais do que trabalha, mesa de metal com os cantos frios — eu o enfiei no notebook cego, sem rede, sem saudade da internet. Tela preta, prompt simples, senha que só eu e o cansaço sabemos. Descriptografar é tirar a neblina do cais. Planilhas pularam como peixes: doações “culturais”, notas de “produção de eventos”, recibos com a carimbada da Fundação Marechal e o perfume pretensioso do Coletivo Aurora. Russo, ao meu lado, lia em voz baixa, como quem reza. — Mesmo CPF aparece três vezes por empresas diferentes — ele apontou. — Dinheiro entra por “projeto de luz cênica” e sai por “hospedagem especial”. Aqui, K&F Assessoria intermedeia. A letra K… — ele não terminou.

