MARCELA
Um mês atrás - Dia da prisão.
Eu não parava de chorar um minuto, minha cabeça doía de uma forma fora do normal. Priscila se encontrava nervosa ao meu lado dividindo sua atenção entre mim e o marido, mas eu sabia que a preocupação real dela era ele. Por que eu de fato, não seria.
Marcela: Sai daqui - falei um pouco rude - vai pra casa, cuidar do teu marido!
Priscila: Não, vou ficar aqui com você até que você absorva a informação, Marcela. - Bateu o pé e eu ignorei.
Eu não queria falar com ninguém, não queria ver ninguém. Só queria ficar na minha pensando em como seriam as coisas e onde ele estaria nesse momento.
A Fernanda entrou me encarando meio perdida e se sentou ao meu lado me abraçando de forma desajeitada.
Fernanda: Você precisa falar com a mãe dele, antes que ela saiba pela tv também - concordei mesmo não querendo fazer isso.
No fundo não acho que diz respeito à mim passar uma notícia da qual eu nem sei ao certo, ninguém sabe. O que sei foi o que vi na tv e o que os garotos falaram... Ainda tinha o fato de a todo momento destacarem que ele estava ferido e estamparem a foto dele a torto e a direito tava me incomodando de uma forma inexplicável.
Eu queria notícias, na verdade, precisava! Queria entender por que ele foi tão egoísta ao ponto de querer ficar lá. Queria espancar cada um que voltou e não trouxe ele junto, não era justo ele pagar por isso sozinho. Não era! E infelizmente ninguém mudaria minha cabeça quanto a isso no momento.
Andei aquelas ruas do Mandela sentindo meu estômago embrulhar de tanto nervosismo, procurando palavras pra contar a dona Ana, tentando esconder minha cara de desespero e parecer segura e confiante no que estava fazendo.
Bati na porta uma... Duas... Três vezes vendo ela abrir ainda sonolenta porém com um sorriso gigante no rosto.
Ana: Oi Marcela! - disse risonha mesmo com a cara de sono - Aconteceu alguma coisa? O Luiz ainda não voltou se é isso que quer saber - forcei um sorriso, que provavelmente tinha ficado a coisa mais horrível do mundo.
Marcela: Eu preciso conversar com a senhora, na verdade eu não sei como falar pra ser bem sincera - atropelei as palavras vendo o sorriso dela murchar, balançando a cabeça negativamente dando pequenos passos para trás. Como se já estivesse deduzindo tudo o que aconteceu.
Ana: Ele morreu? - disse baixo me encarando ainda - Ele morreu, Marcela?! - Falou mais alto, se desesperando e me fazendo ficar ainda mais nervosa.
Marcela: Não! Meu Deus, não! E-ele...ele foi preso... Ninguém sabe onde ele tá - comecei a chorar vendo-a chorar também - Eu não sei o que fazer, queriam que eu te contasse mas c*****o olha como eu contei isso. Já está ate na tv, os garotos tão tentando saber pra onde ele foi mandado.
Eu já imaginei os gritos dela, o desepero assim como o meu mas não, ela limpou o rosto, respirou fundo e deu passagem para que eu entrasse.
Entrei vendo cada movimento que ela dava, caminhou até o rack e pegou um envelope pardo colocando em cima da mesa de centro. Entrou casa a dentro e voltou com um monte de pastas já falando ao telefone, de forma fria e totalmente calma.
Como se aquilo não fosse a primeira vez, e talvez não fosse mesmo. Ela sabia cada passo a ser dado com tamanha tranquilidade e ver tudo aquilo foi me abrindo um leque maior de incertas. Como pode? Como ele conseguia seguir essa vida? Como ela não tava surtando assim como eu?Como ela tinha se acostumado tão fácil com tudo isso?! p***a!
Ela falava tudo com precisão e repetia sempre o nome todo dele, coisa que até horas atrás eu não fazia nem muita idéia. Engraçado não é mesmo? Eu queria alguém ao meu lado que nem o nome eu pensava em saber. Estava perdidamente apaixonada por uma pessoa na qual, nem ao certo eu sabia se iria ver bem novamente.
Todas as respostas estavam na ponta da língua dela e o que por ora não sabia, ela fechava os olhos se permitindo lembrar ou então olhava por cima de tantos documentos. E sendo bem sincera, eu só conseguia ficar admirada com isso e me perder mais ainda num único pensamento: em como ele estava.
Ana: Eu tava falando com antigo advogado dele, caso queira saber. - falou quebrando meus pensamentos - Não sei como as coisas vão ser daqui pra frente, mas se quiser pular fora, essa é a hora! Por que é agora que o sofrimento começa de verdade, e você vai precisar ser forte se quiser encarar isso junto com ele. Por que vai ser duro passar madrugada em fila de presídio pra fazer visita, vai ser duro passar pela revista, vai ser duro vê-lo se perder mais ainda lá dentro e acumulando mais ódio sobre as coisas, e eu sei por que já passei tudo isso com ele.- a cada palavra que saia embargada da boca dela as lágrimas escorriam em meu rosto. - Por que enquanto ele tava aqui era mole, tudo é lindo! Mil promessas, festa, dinheiro, luxo mas agora as coisas não são bem assim. E se você quiser pular fora, vou entender e acredito que ele também.