Caveira narrando O céu ainda carregava aquele azul profundo do fim de madrugada, quando os primeiros traços alaranjados começaram a riscar o horizonte. Eu sentia a respiração quente do Pescoço do meu lado, o rosto dele pingando de suor, a camiseta colada no corpo e a pistola firme na mão. A gente tinha acabado de sair da casa da dona Joana, uma senhora que, mesmo no meio do inferno que o morro virou, ainda teve coragem de abrir a porta, enfiar a gente lá dentro e oferecer um copo d’água, como se fosse o último gesto de humanidade que ainda existia naquele caos. — Tá pronto? — perguntei, olhando pra ele. — Mais do que nunca, irmão — ele respondeu, sem hesitar. O rádio apitou no meu colete. A voz do vapor veio abafada, cortada por barulhos de tiro ao fundo: — Tão subindo pela parte de

