A noite vai passando devagar pelas janelas altas do hospital. O ar condicionado sopra frio, mas o cheiro de álcool e desinfetante não sai do ar. Eu tô sentada na beira da cama, com a mão presa na dele, enquanto o monitor cardíaco apita em ritmo lento, firme, como se marcasse o compasso da nossa conversa. Ele ainda tá cansado, mas já mais acordado. Os olhos marejados, a barba branca desalinhada, a pele enrugada de sol e de trabalho duro. Vejo nele o peso de uma vida inteira dedicada à terra, ao gado, às plantações. O mesmo peso que sempre admirei, mas que agora me dói, porque sei que ele nunca teve escolha de ser diferente. — Cê tá mais bonita, Dani. — meu pai diz, com a voz fraca mas carregada de ternura. — O Rio te fez bem. Sorrio, passando a mão devagar pelos cabelos dele. — Fez, pai

