Capítulo 1
Capítulo 1
Charlotte Brown
Quando o juiz perguntou, eu pensei que não conseguiria mais respirar :
— Senhorita Charlotte Brown , aceita James Williams como seu legítimo esposo?
Não havia escolha para mim. Quando James surgiu com aquela proposta absurda de casamento, aceitei — não por vontade, mas porque a vida da minha irmã estava nas mãos dele. Ela precisava de uma cirurgia cara depois do acidente, e ele era o único capaz de pagar por isso.
Então vesti o vestido branco que ele mandou. Calcei os sapatos apertados que ele escolheu. Prendi o cabelo como ele exigiu. Eu era uma boneca obediente — por enquanto. Ainda daria um jeito de sair disso. Não importava como.
Tudo o que eu queria era vê-la antes da cerimônia, abraçá-la uma última vez, mas ele não deixou. O peito doía como se o ar pesasse.
A cerimônia acontecia num gramado bonito, com flores bem arrumadas e cadeiras brancas. Mas nada daquilo parecia alegre. Parecia meu próprio enterro. Meus pés tremiam dentro do salto horrível que afundava na terra. As mãos estavam geladas, e suadas usando luvas brancas.
Ele era frio. Tudo o que dizia me diminuía, me fazia sentir pequena.
— Responde c*****o. — Sussurrou com raiva, apertando meus dedos com muita força.
— Ai... — resmunguei sem querer e seu olhar foi mortal.
— Vou repetir a pergunta, senhor Williams... — disse o juiz, e por um instante pensei que meu pulmão não funcionaria. Nunca foi tão difícil dizer “sim”.
Ainda ontem ele me forçou a me entregar a ele como uma prostituta, quando ainda era minha primeira vez. Me lembro de cada detalhe.
James apertou os pequenos nervos das minhas mãos e escureceu mais o rosto pra mim, olhei engolindo o choro e o orgulho. Por um instante não vi a tatuagem que observei ontem no seu pescoço, quando me segurou forte contra o sofá e me penetrou com força. Devo estar enlouquecendo.
.
O juiz repetiu as palavras que eu m*l conseguia ouvir. O cheiro de James estava insuportável, não era o mesmo de ontem.
Até que...
[POW!]
Um tiro alto, seco, me fez tremer e James saltar, me segurando na frente dele como um maldito escudo.
— Fica aqui, p***a!
Depois ouvimos outro, e outro.
As pessoas começaram a gritar e correr.
— AHHHH!
O juiz se jogou no chão. Eu só tive tempo de olhar pro lado quando fui puxada pelos cabelos com força.
— Ai! — gemi, me virando rápido. Era James, me agarrando como se eu fosse dele, com seu cheiro de cigarro e alho.
Tentei me soltar, olhei rápido pra sua cintura procurando uma arma, alguma chance de defesa ou minha própria morte.
Mas não vi nada. Empurrei com as duas mãos, desesperada pra fugir dali. Tentaria outra coisa, qualquer coisa pra escapar desse monstro. Mas não adiantou.
Até que de repente... Algo mudou.
— Solta ela, agora! — ouvi uma voz grossa e firme, e meu corpo congelou.
Virei o rosto devagar. Um homem igualzinho ao que me segurava estava parado ali, bem na minha frente. A diferença? O olhar. Aquele me olhava como se já tivesse me despido com os olhos. Era o mesmo corpo, o mesmo rosto do que me arrastava…, mas não o mesmo homem. Exceto por... Nossa! Ele tem a tatuagem! E o cheiro de perfume chegou antes que ele. Me perdi por um segundo tentando sentir mais. Era ele ontem!
James tinha um irmão. Um gêmeo.
Meu Deus! Pra qual deles eu me entreguei ontem para salvar minha irmã? Com certeza não é James. Reconheço o cheiro e a tatuagem.
— SE AFASTA! É O MEU CASAMENTO. PROBLEMA SEU SE PERDEU ESSA PRA MIM! — James gritou, me puxando mais forte, apertando meus dedos de novo.
O outro, que parecia ainda mais assustador, respondeu:
— Eu sou Henry Williams, o primogênito e o novo chefe da máfia Amercana. E vou me casar com essa mulher, aqui e agora. Você traiu minha confiança James. Mentiu sobre tudo. Agora vai conhecer como trabalha um verdadeiro líder — O olhar desse Henry pra mim foi diferente. Por alguns segundos eu não vi a frieza de James. Ele parecia irritado ao ver meus cabelos serem puxados. Porque encarou meu noivo com um semblante aterrorizante.
— Solta ela, seu animal! — Henry me puxou de James de repente.
Antes que eu pudesse entender qualquer coisa, um tiro foi disparado. James gritou, me soltou e caiu no chão, com a perna sangrando.
— Não! — eu gritei, assustada. Ele ainda era o único que salvaria minha irmã.
Mas, o cheiro amadeirado de Henry me atraiu pra ele. Caí em seus braços e nossos olhares se encontraram. Senti quando, mesmo com meu corpo pendendo nele, cuidou pra meus cabelos não serem puxados por ele.
— Você ficou linda de branco. Fiz uma excelente escolha... — sussurrou e me ergueu de repente.
Os homens que estavam com Henry — invadiram o espaço, todos armados. Todos frios. As pessoas que ainda estavam ali se calaram, imóveis. Algumas correram.
Minha mente ficou bagunçada. Eles eram bandidos...
Aproveitei um segundo de descuido e corri também para o lado oposto. Eu só queria sumir dali. Mas antes que pudesse escapar, um segurança enorme me pegou no ar, como se eu fosse uma criança e me carregou de cabeça pra baixo.
— Me solta! Me solta! — chutei, bati, mas ele não se mexeu.
Me levaram de volta pro altar.
— Gosta de adrenalina docinho? — Henry zombou, me puxando pra ele.
Eu tremia, o coração parecia sair pela boca. Henry me encarava, os olhos escuros cravados nos meus.
— Levem meu irmão até o último banco. Quero ele presente no meu casamento. — ordenou, e os homens obedeceram, arrastando.
— AHHH! Seu maldito traidor! — James gritava, se debatendo.
Os seguranças entregaram as alianças. Meus dedos tremiam tanto que m*l consegui olhar pra elas. Henry pegou a minha mão à força e enfiou o anel no meu dedo.
— Porque está fazendo isso? Eu nem te conheço. O que eu te fiz? — questionei cuidando com as lágrimas para não caírem.
Ele apontou a arma para o juiz.
— Vai continuar esse casamento ou quer visitar o inferno pra saber como é? — o juiz balançou a cabeça, com os olhos esbugalhados.
— Mas... O noivo era outro. — Henry moveu a mão.
— Não… — sussurrei, tentando segurar a mão dele pra não matar o homem.
Henry se inclinou e sussurrou no meu ouvido, frio como gelo:
— Se ousar fazer isso de novo, morre docinho. Pego qualquer v***a aqui presente e coloco no seu lugar. Está querendo visitar o d***o?
Engoli seco.
— Me deixa ir… escolhe outra, por favor. Eu não posso me casar com você. Preciso casar com James...
Ele apontou a arma no meio da minha testa.
— Então escolheu morrer? Porque é isso que vai acontecer se não assinar ou se repetir essa merda. — Neguei com um movimento — Ótimo. A noiva gosta mesmo da adrenalina. Terminem logo essa p***a, odeio blá blá blá.
Um dos homens dele entregou novos papéis. Henry jogou os antigos longe e atirou neles, depois duas vezes no chão. As pessoas gritaram. O juiz, com a voz trêmula, continuou.
Eu assinei tremendo tanto que m*l consegui manter a caneta em pé. Sabia que morta não salvaria minha irmã.
Quando terminou, Henry nem piscou. Apenas esticou o braço e atirou na cabeça do juiz.
— Odeio que me questionem. Alguém mais quer tentar? — ele girou a arma e o corpo devagar. Ninguém respondeu.
— Ótimo. Levem James pra mamãe. Ele vai precisar.
Fiquei ali, sem me mover. Sentindo minha vida desabar. Dois demônios. Já não importava quem, cada um era, eu estava acabada.
Do nada, Henry me agarrou pelas pernas e me jogou no ombro como se eu fosse um saco de batatas.
— O que está fazendo?! Me solta! Eu não quero ir com você! — bati nas costas dele, mas era como bater em uma parede.
— Ontem você não se importou em ir se oferecer no meu apartamento… — arregalei os olhos. Era mesmo ele?
— Eu não me ofereci! Foi você que entendeu errado! Não é o que parece! — gritei, enquanto ele me levava até um carro preto.
Antes da porta fechar, ouvi James gritar:
— Sua v***a! Eu não te devo mais nada! Sua irmã vai morrer!
Meu corpo inteiro gelou. Meus olhos encheram de lágrimas.
Será que… ele desligaria os aparelhos dela?