01
ALEX NARRANDO
Sete da manhã e eu acordo com muito custo para ir para o colégio. Estudo em um dos melhores colégios da Irlanda, meu pai sempre foi muito rígido com minha educação e exige muito de mim.
Vou até a cozinha onde prepararam meu café da manhã favorito, sentei em frente ao balcão e comecei a comer. Minha mãe chegou perto de mim e me deu um beijo no rosto. Eu a abracei com um braço.
— Bom dia, meu querido. — Disse, com um sorriso nos lábios. Minha mãe é linda. Meu pai diz que está com a mesma aparência de quando a conheceu.
— Bom dia.
Ela olhou para meu braço. Tenho muitas tatuagens, a contra gosto da minha mãe. Meu corpo é coberto. Apesar de não gostar, ela me protege do meu pai que sempre reclama quando aparece uma nova.
— Essa é nova. — Apontou para meu antebraço em uma pequena tatuagem. — Espero que seu pai não veja.
— Uma hora ou outra ele vai ver. Já devia ter se acostumado com isso.
— Seu pai não gosta dessas coisas, Alex. Evita ficar... Sei lá, fazendo. — Eu peguei uma maçã e dei uma mordida. — Preciso conversar com você sobre uma coisa.
— Diga.
— Achei cigarros no seu quarto. Por que não me contou? — Ela cruzou os braços e suspirou.
— Mexeu na minha gaveta de cuecas também? — Falei de forma brincalhona. Ela riu.
— Não, porque já sei que vou encontrar uma tonelada de camisinha. — Ela girou os olhos.
— Ao menos sei me previnir.
— Ao menos não vou ser vó cedo. — Ela deu os ombros. — Repense sobre o cigarro. E em hipótese alguma fume dentro dessa casa ou eu mesma vou fazer questão de te dar um tapa na orelha, entendeu? — Fiz sinal de sentido, como se fosse um soldado.
— Sim senhora.
Saí de casa e peguei meu carro, para ir até a escola. Como eu odeio estudar tudo que não seja relacionado a arte, meu Deus. Se eu pudesse, passaria o dia inteiro falando sobre esculturas e quadros, histórias, arquitetura... Essa é minha verdadeira paixão, a estética.
Cheguei na minha escola, Anne me esperava na porta com uma cara de deboche, porque eu estava atrasado. Às vezes eu acho que minha própria namorada me odeia.
— Demorou, hein? — Reclamou, mascando seu chiclete.
— Ah, Anne. Não me atrasei dois minutos. — Peguei na mão dela e entramos.
— Acontece que os namorados das minhas amigas sempre chegam cedo pra ficar com elas. Você é o único que não faz isso. — Talvez seja porque suas amigas sejam legais, pensei.
— Foi m*l, vou tentar ser um namorado melhor. — Na verdade, nem namorado dela eu quero ser mais. Anne virou um pé no saco.
Fui para a minha sala e Anne para a dela. Quando estava quase na hora do intervalo, eu comecei a ficar com muita vontade de ir ao banheiro e pedi autorização para a professora, que deixou.
— Graças a Deus. — Falei comigo mesmo. — Tô me mijando, p**a que pariu.
Fui caminhando calmamente até o banheiro e assim que entrei, notei que havia algo estranhos: Primeiro, tinha alguém gemendo. Segundo, no banheiro da escola. E terceiro, dava pra ver o tênis de um rapaz e a sandália de uma garota na mesma cabine.
Porra, eu conheço essa sandália.
Dei um chute na porta e gritei.
— Anne, sua vagabunda! — Eu ouvi um gritinho de susto, típico dela. Não deu trinta segundos eles abriram a porta, e eu fiquei pasmo: Era meu melhor amigo, Brandon.
— Eu posso explicar, gatinho... — Girei os olhos.
— Vai explicar como o pa.u do Brandou entrou na sua bucet.a? Não precisa, eu sei como funciona, obrigado.
— Por favor, olha, foi uma coisa de momento, me perdoa! — Ela veio até mim, dentro do banheiro, enquanto eu me afastava.
— Não nasci para ser corno, então, você pode pegar toda essa sua canalhice e enfiar no c.u. Eu estou surpreso do quão i****a você foi comigo, Anne. Mesmo você sendo um pé no saco, eu sempre te respeitei. E você sabe que oportunidade de te trair eu tive, e muitas.
— Por favor, eu te amo! — Ela colocou as duas mãos em meu peito. Eu segurei e as tirei de mim.
— Por favor é o meu caralh.o. Quero que você vá a merda, e me deixe em paz.
Eu saí andando e ela veio atrás. Na hora que saímos do banheiro, o sinal tocou e aquele mar de pessoas começou a sair das salas.
Busquei minha mochila e ao invés de ir para o refeitório almoçar, eu fui para a saída. Não quero saber, não vou ficar o resto do dia aqui.
Cheguei em casa muito puto. Joguei minha mochila no chão e me joguei no sofá, e aí, pela primeira vez, ouvi meus pais discutindo no andar de cima. Eles nunca brigam, nunca mesmo. São o casal mais pacífico que conheço.
— Brian, pelo amor de Deus, você precisa dar um jeito nisso! Nós casamos por amor! — Minha mãe chorava.
— Eu sei! Mas antes disso havia um contrato, e de qualquer forma, são só dois anos. Por favor, Louise, seja compreensiva. Foi um pacto que fizemos há anos. Você sabia que chegaria a hora. — Hora de que, meu Deus?
— Por que vocês não liberam as crianças? Por favor... O Alex nem conhece a garota com quem vai se casar. A última vez que se viram tinham três anos! Três anos, Brian! Você acha que eles lembrarão um do outro? É óbvio que não. E você acha que eles vão se amar? Brian, o nosso filho é um garoto complicado e você sabe disso.
Minha mãe me acha complicado, que ótimo.
— Complicado? Você tá sendo boazinha. O garoto virou uma peste, eu nem sei o que aconteceu pra ele ficar assim. Acha que não senti o cheiro de cigarro na roupa dele esses dias?
— Deixa o menino, é a idade. — Minha mãe sempre passa pano para as minhas merdas.
— Com dois anos a mais você estava casando comigo. Aliás, um ano e alguns meses, porque ele vai fazer dezoito em breve. Vai fazer dezoito ainda na escola, que vergonha, Louise. O menino tinha tudo para ser um grande médico, advogado, sei lá... Até um grande artista se quisesse, mas tá jogando a vida fora por causa de maconha. — Eu arregalei os olhos.
— Maconha, Brian? — Ela parecia surpresa. Eu também.
— Achei em uma gaveta no aparador da sala. Eu estava procurando um documento.
— Eu não acho que seja do nosso filho. Os cigarros são dele, mas a maconha...
Eu não estava mais entendendo o teor da conversa. De que p***a de acordo eles estão falando e como isso me envolve? E bom, a maconha não é minha. Se tem uma coisa que eu não uso é droga.
— Eu preciso falar com ele. — Meu pai disse.
— Espera, deixa que eu falo. Por favor. Vai ser um choque para ele quando souber que vai se casar com uma estranha, deixa eu fazer isso de uma maneira mais... Pessoal. Por favor.
Me casar? Como assim me casar? Do que eles estão falando?