Anny
Acordar depois de uma festa, como foi a minha ontem, é uma missão suicida, quer dizer, a minha cabeça estava estourando, corpo doendo, e zero disposição de ter que me levantar para a realidade.
Lembranças um tanto dolorosas, me vem a mente. Ter vislumbrado, mesmo que por um momento, uma das minhas melhores amigas com o meu amor da adolescência, me doeu. Lembrar disso, já fez com que o meu dia começasse r**m.
- Anny. - ouvi o toque na porta e logo em seguida a voz da minha prima Sarah.
- Oi, pode entrar. - falei já me levantado e indo até o banheiro que ficava no meu quarto.
- Que bom que já está acordada. - falou já se sentando na minha cama. - Como você está depois de ontem? - perguntou me encarando.
- Morta. - afirmei pegando minha escova de dentes e a pasta.
- Nem fala. - suspirou e sorriu. - Tinha tempo desde que eu e Diego nos divertíamos assim. - confessou.
- Na Alemanha não tem festas assim? - perguntei saindo do banheiro.
- Nada se compara com uma festa brasileira. - falou e eu sorri concordando.
- Me ajuda com isso. - pedi apontando para a pilha de presentes que estava ao lado da minha cama.
- Agora. - falou, demonstrando empolgação.
Ficamos durante toda a manhã abrindo presentes, rindo de momentos da festa, e lembrando do povo fazendo vexame, dos meus pais na pista de dança.
- Prima, eu não quero ser invasiva, nem nada, mas o que aconteceu ontem, quando você sumiu? - perguntou. - É que você estava bem, do nada ficou triste e saiu rapidamente de perto da gente. - falou e eu achei fofo o sotaque que já se encontrava na sua voz.
- Ah, nada demais... - falei, mas fui interrompida.
- Eu vi sua amiga saindo logo em seguida. - afirmou.
Contei por alto a minha situação com o Thiago e a Juliana.
- Nossa! - exclamou chocada. - Que situação. - completou. - Mas, sendo honesta com você, se essa tal Juliana, que se autodeclara sua melhor amiga, ficar com esse garoto, sabendo dos seus sentimentos por ele, sinto em lhe dizer, prima mas a única amiga de toda a situação é você. - falou e eu suspirei, encontrando certa verdade em suas palavras.
- Eu que pedi para que ela ficasse com ele, independente de mim. - expliquei, ainda tentando defende-la.
- Não existe isso! - exclamou meio zangada. - Ela sabe que se fizer isso vai te magoar, se ela fizer, ela não se importa.
- Tem uma certa razão. - falei incerta.
- Mas depois falamos disso. - falou se levantando. - Vamos almoçar. - chamou, me fazendo ver que já estava na hora do almoço.
{...}
Desci do carro e segui em direção ao parque no centro da cidade. Minha prima tinha me convencido a darmos uma volta pela cidade, com a desculpa de que tinha anos que não vinha aqui, ai eu não pude negar. Meus primos foram fazer um intercâmbio e não voltaram mais, por isso Diego resolveu se reunir com os amigos dele, e eu vim a tiracolo.
- Desfaz essa cara, está muito rabugenta, Anny. - Sarah falou me fazendo revirar os olhos.
- Chata. - murmurei.
- Você. - falou me mostrando a língua.
- Vocês estão igual crianças hoje. - Diego resmungou, e ai nós duas mostramos a língua para ele, e caímos na gargalhada logo em seguida. - Ali estão. - falou apontando para um grupo de adolescentes da nossa idade.
Eram, mais ou menos, três meninos e duas meninas.
- Mas quem é vivo sempre aparece. - um dos meninos falou fazendo meu primo sorrir.
- Que saudade! - Diego exclamou feliz.
Fomos todos brevemente apresentados. Ficamos um tempo ali na praça interagindo, até resolvermos ir até o MC Donald´s que ficava ali perto, na avenida.
Assim que chegamos, pedimos os nossos lanches, cada um pagou o seu, e logo juntamos duas mesas e nos sentamos, fiquei entre minha prima e um dos amigos do meu primo.
A conversa fluía e eu tentava me enturmar com o que eu sabia responder, afinal, ir até ali não havia sido uma perda de tempo total.
- Você é bem desligada, né?! - ouvi a voz do amigo do meu primo que estava ao meu lado, o Augusto.
- Como? - perguntei não entendendo onde ele queria chegar com aquilo.
- Eu fui a sua festa ontem, cheguei depois, fiquei com o seu primo e você sequer me viu. - confessou em um tom mais baixo, como se quisesse que eu o escutasse.
- Oh! - exclamei. - Isso é sério? - perguntei e lancei um olhar para o meu primo.
- Muito sério. - falou e sorriu, e, momentaneamente, eu me perdi em seu sorriso.
- Me desculpa? - questionei, sem saber o que falar. - Mas convenhamos, havia várias pessoas, e não era um penetra que me faria prestar a atenção. - falei, dando ênfase na palavra ´penetra.
- Touché. - falou me fazendo sorri. - De qualquer forma, feliz aniversário. - falou e eu sorri.
- Obrigada. - agradeci.
- Sou Augusto, aliás. - falou me estendendo a mão.
- Sou Anny, mas acho que já sabe. - falei apertando a mão que me foi estendida.
- Mais ou menos. - falou fazendo um draminha com a mão.
Eu só sorri e antes de começarmos um novo assunto, o nosso lanche começou a ser chamado e começamos a prestar atenção no pequeno letreio que indicava nossa senha.
Depois de pegar e comer os lanches, continuamos a conversa ali no grupo.
- Sabe, Anny, eu te achei muito legal, na verdade eu esperava uma patricinha mimada. - ouvi a voz baixa do Augusto.
- Patricinha mimada? - perguntei e o olhei. - Eu passo essa impressão?
- Um pouco, e para me prova que não estou errado, que tal sair comigo um dia desse? - pediu me surpreendendo.
- Sabe que não preciso provar nada para você, né? - perguntei vendo a expressão dele murchar.
- Ouch. - falou e passou a mão no peito como se tivesse doendo. - Essa veio aqui. - apontou para o peito.
- Mas, não quer dizer que eu não queira sair com você. - finalizei e ele fez cena suspirando aliviado.
- Me passa seu número e eu te mando uma mensagem marcando. - pediu esticando o celular.
Anotei o número e ele salvou, e, sem novas intervenções, terminamos nosso lanche, e logo cada um seguiu para sua casa. Na hora de nos despedir, recebi um abraço mais longo de Augusto, e uma olhada profunda, que me deixou sem graça e com as bochechas pegando fogo.
O dia havia sido melhor do que eu imaginei, afinal de contas.