Despreocupações e trabalho duro!

2091 Words
– O que de fato te preocupa? – ouviu Zoe meio receosa. – De falhar... – leu Belisário um pouco espantado. Zoe e Belisário, acabaram de tomar o seu típico café da manhã, mas o dia está frio demais para simplesmente ficarem largados no sofá, logo, decidiram ficar na cama, do modo em que sempre estão quando conversam. Zoe e Belisário estão encarando o teto enquanto conversam entre eles pelo celular. – Porque tem tanto medo em falhar? Se estamos juntos, bem e na medida do possível, você está se esforçando para escrever, o que lhe preocupa? – É porque eu nunca venci... – leu Belisário. As palavras de Zoe, deixam Belisário com um certo m*l estar. "Ela não fez o sucesso que esperava, ficou cega de tanto escrever e perdeu o pai por estar cega, é meio complicado pedi-la para ter ânimo" – refletiu. "Eu sei que ele não faz por m*l ou simplesmente me enfrenta de propósito e que só quer me ajudar, mas as vezes eu sou meio melancólica, o problema realmente é meu". – imaginou Zoe. Belisário, rapidamente escreveu para sua namorada a primeira coisa que lhe veio em mente. – Fique calma, você tem amigos contigo, tem eu, ninguém está verdadeiramente só, principalmente você, entendeu? – escutou Zoe. Aquilo foi uma injeção de ânimo maravilhosa para Zoe que percorreu suas mãos pelo corpo de Belisário até o queixo, se levantou e beijou seu namorado. – Obrigado meu amor. – ela disse tão devagarinho, que Belisário conseguiu ler seus lábios. Ele lhe deu um abraço apertado colando seus corpos no meio da cama. Zoe percebeu que seu celular estava vibrando, era um alerta de mensagem no w******p. "Se não é o Belisário, quem será?" – pensou nossa h*****a, meio distraída. Infelizmente, devido à outros problemas pessoas, toda a sua injeção de ânimo foi por água abaixo quando teve de lidar com isso. – Está chovendo muito, não poderei ir e eu preciso adiantar a betagem e as correções do meu livro, ok? Amanhã chegou um pouco tarde, mas adiantaremos tudo. – escutou Zoe. Nossa protagonista, rapidamente converteu o áudio para texto e enviou para Belisário. Aquilo realmente mexeu com os dois. "Na real, eu sempre soube que seria difícil, talvez eu tenho que desistir, é impossível para uma cega escrever". Ao pensar assim, Zoe voltou ao seu lugar. "A intérprete de Zoe está concorrendo ao mesmo prêmio que ela, isso é realmente complicado, é óbvio que ela dará mais atenção para o próprio livro do que para o da Zoe". Belisário estava enrolado em seus próprio pensamentos. — Não desanime. — escutou Zoe. "Como ele pensa que me vai me animar?" — pensou. — O que pretende fazer? Qual é a sua ideia? — leu Belisário. Nosso herói se levantou da cama e saiu do quarto. Zoe, muito perceptiva, obviamente notou que ele saiu sem falar nada. "O que ele pretende?" — imaginou. O clima na Capital do Rio de Janeiro é de muito frio e chuva, a pior combinação possível para um Carioca. A situação é ainda pior para os nossos protagonistas, pois com a gigantesca falta das adaptações para os deficientes, tudo aquilo que eles podem pensar em fazer, está ainda mais limitado. A dupla não é sair muito, mas ainda assim, dão os seus passeios pelos museus, parques e jardins. Para a sorte de Zoe, Belisário sabe o que aquela chuvinha fina que antecede um temporal e aquele cheiro de terra molhada quer dizer. "Trinta minutinhos agarradinhos debaixo do edredom". Foi o que imaginou Belisário ao voltar em poucos minutos com um saco de pipocas de microondas, bem como dois copos de refrigerante e uma barra de chocolate preto. "Esse cheiro". — pensou Zoe. Belisário se estabelece na cama e coloca tudo o que trouxe para o quarto, em seu lado, na direita, pois somente assim, Zoe não terá o risco de derrubar algo. — O que pretende fazer? — leu Belisário. — Ficar agarradinho contigo pela tarde toda. — escutou Zoe. Nossa protagonista dá um pulo da cama e começa a arrumar, ela deseja aquilo tanto quanto ele. "O clima está convidativo demais". — pensou ela. Belisário colocou a pipoca de sua namorada num potinho menor, é o mesmo ritual de sempre. Quando ela quiser beber ou comer o chocolate, vai lhe pedir, e o rapaz prontamente entrega. São fofos demais. — O que vamos assistir? — leu ele. — Um filme onde tem um vento maluco que corta a cabeça das pessoas, é um desses filmes j*******s, chineses e coreanos. — escutou ela. — Lá vem você com esses filmes j*******s, seu xenofóbico. E qual o nome do filme? — leu. — É TAG, e eu não sou xenofóbico, eles que são iguais a todo mundo. Além do mais, quem vê novela turca aqui é você. — implicou. Ela deu língua para ele. — Pior é ver Dorama, pelo amor de Deus, né Belisário? Vê se colabora com a harmonia da cassa, assim você desequilibra meu chakra. Calma, calma, eu sei o que você está se questionando. "Como eles assistem ao filme?" É até que bem simples na verdade. Belisário, certamente assiste ao filme da maneira normal, mas reparando bem mais na legenda, já que consegue enxergar. Quanto Zoe, bom, a coisa se complicou, sobretudo na hora de entender o que está acontecendo em certas cenas. Na maioria dos casos, o som do ambiente denuncia o cenário da conversa e ainda bem que identificar pessoas pela voz é algo que, como cego, ela realmente aprendeu muito rápido. O maior problema aqui, são os "movie clips", ou seja, aqueles trechos do filme ou de um episódio de série onde todo o áudio é substituído por música e a imagem apresenta uma sequência de cortes que contam visualmente parte da história. Isso vai desde a Bella se arrumando para sair com o Lobão Malvado ou o Toreto envenenando o carro para ganhar do Bryan O'Conner. Isso os obrigou em vários momentos a recorrer aos olhares de Belisário para saber exatamente o que aconteceu em uma cena sem diálogos. Teve um caso engraçado em que, sem Belisário, Zoe precisou recorrer ao verbete da Wikipedia em inglês para saber o que houve no final da última temporada de Game of Thrones, uma das séries favoritas dela, mas que Belisário realmente não curtiu muito. Mas isso já está mudando e realmente existe muito mais cegos assistindo filme hoje do que você imagina. Mas estamos em 2021 né? Normalmente, existem Youtubers famosos que fazem resumos bem humorados de Sagas, Livros, Filmes, Desenhos e tudo aquilo que gerar views. Contudo, já existem pelo mundo, muitas produtoras oferecendo material acessível para cinema e principalmente para o home vídeo. São as audiodescrições, uma forma muito legal para que os cegos possam assistir aos malditos "movie clips" sem ajuda de ninguém. Trata-se de uma faixa de áudio alternativa, um canal SAP onde o áudio ganha uma adição preciosa: um dublador profissional que, entre as falas e sempre no espaço em que nada é dito no filme, descreve o que está acontecendo. Como ainda somos de um país sub-desenvolvido, essa inovação continua demorando para chegar ao Brasil, uma vez que isso só acontece na TV Digital e ainda assim só com uma parcela mínima da programação. Para testar, caso tenha uma TV Digital e quiser ouvir como é, coloque no SBT na hora do Chaves, mude as faixas de áudio no controle remoto. Uma hora você vai ouvir alguém explicando que o senhor Barriga vinha entrando pelo pátio quando o Chaves o acertou com uma vassourada. Mas nesse caso em específico, "TAG" é um filme de Terror na Netflix e está não só, dublado, como tem a audiodescrição dos "movie clips". Enfim, vamos deixar todo esse clima cinematográfico de lado e voltemos nossas atenções para com quem realmente importa, o nosso casal de protagonistas. "Espero que ela se divirta e se distraia um pouco, amanhã arrumarei uma solução para este problema". — pensou Belisário. "Se divertir, às vezes é bom, espero que tudo dê certo no final". — imaginou Zoe. Saindo um pouco do clima descontraído do casal mais fofo do mundo, iremos até aquele velho senhor do capítulo anterior. — Sim, está tudo certo por aqui, pode fazer os anúncios nas redes sociais, já aprovei a playlist no Spotify, os banners e os motions para o ** e o f******k também. — respondeu. — E quanto a propaganda no Youtube? — questionou a voz feminina. — Os Booktubers responsáveis pelas resenhas irão postar os vídeos no mesmo dia, assim, o nome da Angélica ficará em alta naquela plataforma também, fui claro? — Ok. — Mantenha o cronograma das postagens dela, sei que ela veio no caminho escrevendo suas webnovelas, tanto as diárias quanto as semanais, pode continuar com tudo certo na paltaforma. — Ok! — Mais alguma coisa? — questionou Sr. Gonçalves. — E quanto a publicidade paga? — Já estão circulando, você está anotando? — brigou. — Não... Quer dizer... Das entrevistas em jornais e TV. — O público brasileiro não quer saber qual autor nacional vende mais livro, para ele, qualquer ex-BBB que indicar algo ou se um Youtuber colorido escrever qualquer besteira, o público daqui compra. "Crítica social f**a". — pensou a mulher. — Mas mesmo assim, ela tem duas entrevistas nos jornais locais, bem como aos finais de semana em grandes programas de palco, tudo está indo conforme o planejado. — respondeu. — E o apoio dos outros escritores? — Esse é um belo ponto à ser debatido. — Porque senhor? — questionou a voz feminina. — Busquei nomes de escritores renomados para apadrinharem ela ou simplesmente tirarem uma foto no **, para que Angélica caia no gosto popular, sabe? — Sei... — E não consegui! — urrou. "Mas para que tanta ignorância, gente". — imaginou a mulher. — Nem com a Anne? Sei que ela está em hiato, mas suas séries derivadas dos livros que já escreveu, ainda fazem um grande sucesso, me entende? — Não, soube por fofocas de escritório que ela talvez participe da Bienal deste ano, mas como são apenas fofocas, não faz bem a gente ficar pensando nisso, sabe? Imediatamente, Angélica parou de escrever e passou a prestar a atenção na conversa. Estamos num quarto de hotel, enquanto ela escreve sobre o mini-escritório improvisado que seu agente literário montou, ele coordena os próximos dois meses da agenciada. — Nossa, eu não sabia disso. — Eu sou pago para saber esse tipo de coisa. — rebateu. — E o que faremos? — Estou procurando a assessoria de imprensa do Edmundo, sei que ele está no Rio de Janeiro, vi aquela palhaçada que ele fez no Real Gabinete de Literatura. — murmurou. — Mas se não gosta tanto assim dele, porque irá procurá-lo? — PORQUE ELE VENDE LIVRO! A mulher do outro lado da linha revirou os olhos. — Angélica deve se rodear de pessoas famosas e importantes para o meio literário, só assim que a plataforma crescerá ainda mais no mercado, ganhará influência e outros escritores não perderão tempo para os livros impressos e os festivais de fora, entendeu? — É, até que faz algum sentido. — Obrigado, sou pago para isso. — Mas porque de fato, não conseguiu falar com o Edmundo? — Porque me parece que sua assessoria de imprensa é uma criança, eu não consegui entender. A mulher do outro lado da linha sorriu. — Qual é a graça? — É bem a cara dele isso. — riu e sorriu. — Como assim?  — questionou. — Nada não chefe, eu só repassei para você as prioridades que a Dani me pediu, perdão. — Não tem problema, eu que estou um pouco estressado, tá? Me perdoe. Essa viagem, a pressão e a Bienal se aproximando, tenho realmente muita coisa para me preocupar. — Não liga não, pai, amanhã nos falamos? — Sim, filha, até mais! — Até mais. Sr. Gonçalves caminhou até o frigobar para beber sua água mineral enquanto Angélica fecha o notebook rapidamente, surpreendendo-o. — Olha, eu não quero colocar pressão em nada, mas acabei de pedir para que confirmassem que você postaria capítulos sobre as webnovelas normalmente, sugiro que escreve mais. — opinou. Angélica se espreguiçou. — Acabei de escrever todos os capítulos dos próximos quinze dias da webnovela diária, amanhã, encerro as semanais. — Nossa... Angélica se levanta e o encara com uma cara séria, não parecia a mesma de antes. — Tenho o apelido de "Escritora Robô", não por acaso. — sorriu. — Sei... — rebateu descontraído.
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