A Escritora Robô - PARTE I

2015 Words
Ao desligar o celular, Giovana, a nova personagem do Volume II, suspirou de felicidade. Sempre foi um peso enorme conseguir trocar pequenas palavras com seu pai. "Que saco, ele está cada vez mais nervoso e ganancioso, queria que entendesse que dinheiro não é tudo". – infelizmente, uma mulher de extrema importância para a obra, interrompeu seus pensamentos. – Se está parada é porque já terminou de digitar os contratos. – reclamou. “Ela pensa que é assim” – pensou Giovana. – Hem? Responda, não disponho de tanto tempo assim para conversar contigo. Giovana mais uma vez, ficou nervosa ao confrontar sua chefe. – Não... Eu... É... – ela foi interrompida mais uma vez. – Anda, me conte logo o que estava fazendo. – Eu estava conversando com o meu pai sobr... – foi interrompida de novo. – Está tudo certo? – questionou com sua sobrancelha erguida. “Essa expressão grosseira de novo”. – pensou. – Hem? Tá demorando muito para me responder, porque? – Perdão senhora! – O que disse? –  Eu quero dizer que, sim! Está tudo seguindo os modos do que foi planejado previamente ao saírem da Grécia. Para nos estabelecermos melhor, vale ressaltar que Giovana é a voz feminina que conversava com Gonçalves no segundo capítulo, bem como sua chefe que será apresentada mais tarde, é a voz feminina do capítulo um. – Não esperava menos da escritora robô. – respondeu Sheila, a senhora sua chefe. O telefone tocou e a Giovana o encarou. – Vá trabalhar. – ordenou Sheila. Giovana atendeu e deu continuidade em seu trabalho. Sheila entrou, olhou atentamente para o relógio de parede em sua sala e sentou estressada no canto de sua mesa. Ela admirou os muitos papéis de recordes, faturamentos e patrocinadores querendo anunciar na plataforma. “Parece que está tudo indo de acordo, em pouco tempo, nós tomaremos a Bienal do Livro de São Paulo para o nosso grupo, mas acho que isso não será o suficiente”. – imaginou. Assim como Giovana, quem também dava continuidade em seu trabalho, era Trevor, o melancólico chefe de TI de toda a plataforma da Nightmeare Brasil. Para melhor te localizar, caso ainda não tenha percebido, estamos na filial brasileira da empresa. O escritório da Nightmeare Brasil, assim como toda empresa de ponta, fica localizado na Capital de São Paulo, a famosa terra da garoa. Ao vê-lo se movimentando em direção à ela, Giovana olhou rapidamente para o relógio no canto inferior direito do seu computador. “Está na hora da reunião diária”. – pensou. Os dois possuem um relacionamento profissional restrito, mesmo que ela abra uma asa pra ele ou o Trevor verdadeiramente goste dela, o destino realmente não colabora com o “porque não” deles. – Boa tarde. – disse Giovana meio tímida. – Dia. – respondeu Trevor um tanto inquieto. Enquanto passou pela mesa de Giovana, Trevor deu uma de suas leves encaradas para trás a fim de admirar aquela beleza juvenil. “Vou esperar até a hora da viagem”. – pensou. Ao passar por Giovana, se deparou com a porta fechada de Sheila, ainda bem que a CEO da filial brasileira, estava lhe esperando impacientemente. – Bo... Boa tarde... – ele era outro daqueles que ficava nervoso ao vê-la. Também, pudera, né? Foi só o pobre coitado abrir e passar pela porta que Sheila lhe encarou, saiu de onde estava sentada no cantinho de sua mesa, caminhou em direção a Giovana, fechou e trancou a porta na chave, e já se virou agarrando o rapaz com toda aquela falta de carisma que ela possui. – Eu... Eu... – ele estava encabulado como sempre. – Cala a boca, me beija. Trevor sofre constantes abusos de Sheila, mas como está bem contratado e recebe muito por isso, deixa se levar às vezes. – Eu preciso passar o relatório... – tentou se parar do corpo dela que insistia em te agarrar. Após alguns segundos assim, ela se irritou e o empurrou de maneira ríspida. – Mas que d***a Trevor, o que é de tão importante para atrapalhar o que estamos prestes a começar? – exclamou. Trevor fugiu dos olhos irritados dela enquanto admirava o chão da sala. Sheila, impaciente, cruzou os braços e começou a balançar sua perna rapidamente. – É só que... Os sistemas continuam funcionando... As leituras subindo... E as comissões entrando... Ou sejam... – ele foi interrompido por Sheila. – Está tudo normal, EU SEI! – esbravejou o empurrando novamente. – De... Desculpa... – Enquanto tivermos o nosso esquema das visualizações e a Escritora Robô do nosso lado, eu sempre terei dinheiro e você sempre poderá me satisfazer. Sheila parou de falar e caminhou em direção a Trevor, pousando sua mão nada gentil no maxilar do rapaz e apertando com força. – Então, QUE-RI-DI-NHO. Não precisa se preocupar com mais nada, se atente apenas em deixar as coisas funcionando e continue me satisfazendo da maneira que puder, fui clara? No momento em que Trevor iria ter alguma reação à tudo o que ela estava aprontando, Sheila respondeu de maneira grosseira enquanto enfiava a língua na boca dele de forma violenta. "Que bom né?" – pensou ele. Sheila está usando aquelas roupas de ambiente empresarial, bem séria e comportada, mas um tanto sexy demais para uma jovem senhora de cinquenta e cinco anos. Ela toma hormônios, é verdade, teve um problema de tireoide que lhe obriga a fazer esta medicação constante, isso a ajuda a aparentar ter seus trinta e poucos anos, mas os grisalhos que insistem em colorar seu longo cabelo loiro, é bem nítido às vezes. Sheila é uma solteirona que não sentiu necessidade de ter filhos e por prestar tanta atenção ao trabalho, conseguiu afastar todos os homens e principais pretendentes ao redor. Aqueles que se arriscam, claramente são para tirar alguma vantagem dela, seja no ambiente profissional ou financeiramente falando. Ela é dona de imensos olhos azul piscina, tão claros quanto sua pele pálida. Não existe dúvida alguma de que quando possuía seus vinte e tantos ou simplesmente quinze anos, era uma verdadeira protagonista de romance HOT. Daquelas bem bonitas e ousadas. Tem sido assim desde o dia que por intermédio de Giovana, conheceu Trevor, alguém que realmente sabe aquilo que está fazendo, mas verdadeiramente? É bem óbvio que existem outros profissionais melhores que ele dentro da plataforma, mas como foi o único que não se deixou levar pelo toque aveludado de Sheila, ganhou sua atenção. O rapaz tem um corpo melancólico, é alguém extremamente branco e muito fraco, tem um cabelo liso tão n***o quanto seu olhar solitário, vazio e distante. Essa é a definição perfeita desse personagem: melancólico. Os abusos para com sua pessoa começaram assim meio que sem querer e acabaram tomando proporções cada vez maiores, ao menos isso o fez subir na empresa de maneira estratosférica. E como precisa de dinheiro para sobreviver, vive como um gigolô por acidente nas mãos de Sheila. Assim como Taís, Sheila possui um divã, mas este, um pouco maior que o de nossa velha amiga. Ela, como sempre, joga Trevor no divã e arranca sua camisa com força, fazendo-o se arrepiar. “Lá vamos nós de novo”. — pensou. Trevor faz aquilo que você está pensando de olhos fechados. Não quer olhar para tudo o que acontece. Não quer encarar a realidade que lhe rodea. Bem diferente daquele olhar vazio que Belisário apresentava ao ser abusado por Débora. Os dois realmente são bem diferentes em muitos sentidos da palavra. O mais interessante para nos atentarmos nesse primeiro ato do capítulo que se encerra, é a ida de Felipe à mesa de Giovana. — Bom dia? — Eu sou o desenhista que contrataram... — A perdão, é que eu tenho tanta gente para gravar o rosto e o nome que realmente fica difícil de gravar todos. — Não tem problema. — respondeu sem graça. — Prazer, me chamo Giovana, você é...? — Felipe, prazer! Os dois apertaram as mãos. — Sente-se puxe a cadeira, preciso te introduzir o trabalho antes de conversar com a chefe. — O setor de marketing de vocês já havia me explicado por alto. — O que sabe? — questionou ela. — Que farei algumas capas para algumas autoras, certo? — Está meio certo, pois são todos da mesma pessoa. — Todos os dezessete livros? — Sim! — respondeu Giovana sorridente. — São contos, certo? Aqueles livros um pouco menores e sem muitos detalhes. — questionou Felipe. — Não, são romances extensos de mais de duzentos e cinquenta mil palavras se não me engano. — respondeu Giovana encarando o teto. — Deve ser uma grande escritora eu suponho. “A Lilian trabalha tanto assim?” — pensou. — Bom, para falar a verdade, dentro da plataforma até que sim, mas ela não é tão famosa assim fora. “Onde é que eu já vi isso?” — imaginou ele. — Ela é uma adolescente que não fazia nada além de escrever e acabou ganhando um destaque por aqui, e como ela ganhou o último concurso que montamos, a escritora foi selecionada para representar o nome da plataforma na Bienal Internacional do Livro lá no Rio de Janeiro, sabe? — CLARO! — respondeu entusiasmado. — Então, talvez pode ser que você vá também, qualquer holofote nela, será bom, principalmente para você, não? Se os livros dela fizerem sucesso, é você que assinara as artes de capa. — sorriu. — Sim, sim, sim! Giovana acompanhou o entusiasmo dele com o seu sorriso. Mas não é somente de São Paulo que a trama se sustenta, certo? Então, vamos voltar para o nosso querido Rio de Janeiro, pois tão melancólico quando os lamentos de Trevor, a protagonista do capítulo encara uma generosa caneca de chocolate quente enquanto a chuva cai do lado de fora da varando do apartamento. "Eu queria passear pela cidade, curtir um pouco mais a vida, passear, fazer coisas normais para alguém da minha idade". – imaginou. Quem atrapalhou seu inusitado pensamento, foi Gonçalves. – Parece que os autores grandes não irão ceder nenhum minutinho de seu tempo precioso. – explicou ele. Angélica lhe encarou a falsa tristeza no olhar de Gonçalves, deu uma golada no chocolate e respondeu com a frieza de sempre. – Tudo bem... Não esperava ser aceita por eles mesmo... — desconversou. Mas mesmo assim, por dentro, Angélica bem que queria se encontrar com Anne ou Edmundo. Ela já assistiu todas as séries baseadas nos livros da Anne e possui todos os livros publicados por Edmundo. – Você não precisa deles, sabe? Já tem tudo o que precisa em suas mãos. – respondeu Gonçalves. Após o silêncio de Angélica, Gonçalves acabou saindo do quarto enquanto ela o seguiu com o olhar. No exato momento em que ele fechou a porta, Angélica se levantou animada, voltou a ligar o pequeno Notebook que possui, caminhou até a cozinha, encheu outra caneca enorme de chocolate quente e se sentou para escrever. "Quero fazer algo original, será que consigo?" – imaginou. Angélica abriu o telefone celular após ficar alguns segundos com a tela branca do word. Ela rodou pela timeline inteira do ** até encontrar uma postagem de Belisário que lhe chamou a atenção. Falava sobre a tradição da Bienal Internacional do Rio de Janeiro e o prêmio de melhor autor que é concedido aos participantes da Bienal daquele ano. – A democracia do prêmio é sem dúvidas o seu maior diferencial, pois qualquer um que participa, pode concorrer, desde o autor independente que vende E-books na sss até o besrselleer renomado que mora na Europa. – os olhos de Angélica brilharam ao imaginar sua consagração. "Eu não acredito que estou participando de um concurso tão importante assim". – pensou consigo mesma. Ela clicou em salvar a postagem ao ler que amanhã explicaria um pouco mais sobre o prêmio. Com os olhos, acompanhou a rolagem de tela do perfil dele até o Direct. A tela de conversa entre eles estava cheia de mensagens escritas por Belisário para Angélica. “Saudades”. “Cadê você?” Mas porquê?
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