A Escritora Robô - PARTE II

2108 Words
“Como será que ele está? Por onde anda? O que gosta?” — a mente infantil de Angélica pensava em coisas completamente opostas, pois se enquanto por um lado ela queria ajudar a família e não ter problemas financeiros, por outro, queria saber de seu amado. E para nossa surpresa, se trata de Belisário. Mas desde quando? “Às vezes penso em mandar um e-mail para ele, mas não sei se ele iria responder”. A chuva lá fora volta a cair de maneira torrencial. “Com o tempo instável desde a comemoração que Dona Antônia fez para Zoe, Samantha e Taís, a semana no Rio de Janeiro tem um temporal formado devido ao calor dos últimos dias. Inclusive, os meteorologistas, dizem que existe a remota possibilidade de chover granizo O tempo nublado e chuvoso que atingiu a região metropolitana do Centro nos últimos dias deve prevalecer também durante todo o final do mês, podendo ocorrer pancadas chuva forte”. — disse o jornal.  As dinâmicas da natureza descritas pela previsão do tempo, parecem estar diretamente relacionadas com os sentimentos dos personagens. A melancolia de alguns combina com o tempo fúnebre que as chuvas criaram. Angélica, no entanto, veio junto das correntes marítimas da Grécia, onde de uma faculdade poderosa, pode se destacar no meio literário. "O pior de tudo é ver o deus do destino brica com os meus sentimentos, o Belisário compartilha as postagens do meu i********: de frases e não sabe que sou eu". – refletiu enquanto tomava outro gole de achocolatado. Angélica, por ser extremamente tímida, não possui um i********: pessoal, ela realmente não se sente bem em se expor, mas ainda assim, a arte era um meio de ser vista. Ela tinha que mostrar isso para o público. Logo, criou o i********: de frases: “RomanceEmFoco”, para compartilhar frases românticas e sentimentais, poemas e poesias soltas, versos e estruturas poéticas, bem como reflexões e tudo aquilo que tivesse interesse em compartilhar. Belisário não somente era um grande seguidor, mas como um dos usuários que mais compartilhava suas postagens. “O destino é uma piada”. — ela sempre imaginou. Após alguns longos segundos encarando a chuva que confrontava a janela de seu quarto, o seu telefone celular tocou. “Quem está incomodando minhas dissertações?” — pensou irritada. Aqueles momentos sempre lhe inspiravam e rompiam seu bloqueio criativo. Angélica o pegou na mão e encarou a tela, era sua mãe. – Alô? – MEU ANJOOOO! – gritou a mãe. – Eu tô nervosa, ansiosa, não sei o que fazer, não sei se as coisas estão certas. Será que está tudo bem com o que está sendo feito? Eu... Eu... – Angélica começa a derramar as primeiras lágrimas desde que chegou ao Brasil. – Filha, eu desconheço os motivos de você estar assim, mas relaxa, respira, você está onde imaginou, você é a dona do seu próprio universo, rainha de sua própria história, nada de r**m pode acontecer, entende? – conformou a mãe. Angélica abriu um longo sorriso rasgado, não dava um destes desde que havia desembarcado no Brasil. – Obrigado mãe, com a senhora, sigo aprendendo a lidar, a inspirar e sentir que sou capaz. – Não tem de que bocó. – riu. – Mas porque me ligou? Aconteceu alguma coisa? – É que Santorini fica um tédio sem minha filha favorita, minha ficha ainda não caiu que você voltou para o lugar que te rejeitou como uma vencedora. – Não exagera, eu não venci nada. – Ponha-se no seu lugar, se respeite um pouquinho mais, tá? Angélica caiu na gargalhada. – E o que tem rolado? Como estão as coisas? – Bom... “Lá vem”. – pensou a mãe. – Confesso que estava tudo bem até o momento em que eu abri o i********: e li uma resenha dele. – Esse garoto de novo? – reclamou. – Desculpa... – Posso te dar dois conselhos meio idiotas, mas que vão te pôr para pensar? – questionou a mãe. – Claro! – respondeu um tanto assustada com o que poderia ouvir. – Você vai passar anos da sua vida presa e sofrendo por uma pessoa, até que tenha duas atitudes. — Quais? — perguntou esperançosa. – Até que você vá na direção dela e não perca tempo, ou até que você passe a se amar e se libertar. O coração de Angélica acelerou, isso geralmente acontece quando o tema do assunto é “aquele garoto”, como sua mãe costuma chamar nosso protagonista. — Somente assim você irá conhecer uma pessoa especial e descobre o que é o amor de verdade. — E quando é que eu conheço essa pessoa tããããão especial assim? — Quando se olha no espelho. — replicou. Angélica engoliu a seco, pois realmente tem a noção de que m*l se ama. — E se eu... — sua mãe a interrompeu. — Minha menina, o essencial é invisível aos olhos, se você sente que tem algo faltando, vá até o que você quer! — Como assim? — questionou. Angélica se levantou da cama com o celular no ouvido. — Soube do vírus que veio para a Europa? — Aquele da china? — Sim, parece que ele pode ser fatal aos seres humanos, então, mais do que nunca, você não pode perder tempo. — Como assim mãe? — voltou a questionar. — Quero dizer que a vida está passando rápido demais, e nós não sabemos se teremos outra oportunidade. Angélica arregalou os olhos. — Por isso, fale o que você sente e quando sente, demostre. Corra atrás daquele garoto, aproveita que está de volta ao Rio de Janeiro e faça algo para não se arrepender depois. — Mas e se der errado? — E se não der? — Mas e se der? — E SE NÃO DER? — esbravejou. Angélica bem que precisava dessas palavras animadoras. — Prefere voltar para a Europa sabendo que poderia ter dado certo e conviver com esse “e se” na cabeça? Pense bem. O vazio coração que mais parecia uma grande geleira capaz de perfurar o titanic, voltou a bater. — Mãe, eu preciso desligar... — Ok, mas não volte para a Europa arrependida, tá? — Pode deixar, um beijão! — Beijos filha! Quase que imediatamente, Angélica pegou o seu melhor vestido, sua rasteirinha toda trabalhada em Santorini, na Grécia, jogou a bolsa atravessada de lado, pegou alguns reais que eram para sua estadia e saiu do quarto. “Ainda sei onde ele mora, o Sr. Gonçalves nem saberá eu demorei tanto assim”. — imaginou. E de fato, nosso não tão querido agente literário estava dando o seu melhor ronco, a mudança de fuso horário acabou com todo o seu pouco psicológico existente. Angélica entra decidida no elevador e se olha no espelho. Ela dá uma leve ajeitada na franja que sempre tenta formar, como também arruma o cabelo por cima das orelhas, tampando-as completamente. "Minha mãe tem razão, eu não posso desistir, não posso ficar pensando no "e se". — pensou enquanto saia do elevador correndo a passos largos em direção a portaria. Tudo ainda parecia meio confuso, mas sabia que se chegasse até o metrô, conseguiria chegar facilmente até a casa de Belisário. Os anos na Europa não a fizeram perder o molejo Carioca de ser. "Eu sou primavera, sou toque colorido, flor que encanta os olhos poéticos, energia perfumada, exalo essência e floresço encantos. Brindo diariamente, a leveza do florir”. — imaginou. Angélica saiu debaixo de uma chuva que já não se parecia mais com um temporal, mas que ainda insistia em desabar. No exato momento que virou a esquina, esbarrou num ambulante que vendia refrigerante bem no meio da esquina. Era uma barraquinha minúscula com um isopor atravessado e algumas coisas para comer. Tudo bem precário e bem pouco mesmo. O ambulante lhe encarou e ela, assustada, já começava a pensar que havia feito uma péssima escolha. Como ela notou que o senhor vendia água e refrigerante, não achou que ficaria bem se saísse daquela maneira. — Perdão, eu escorreguei! — Não tem de que, me perdoe você, estou no meio da esquina, certo? — sorriu. O senhor colocou de volta o isopor atravessado no ombro enquanto arrumava os poucos biscoitos que haviam caído no chão. Meio que sem querer, por não estar mais segurando o guarda-chuva, ele havia deixando-o cair, se molhando no processo. — Querem um? — questionou o senhor. Próximo deles, havia uma marquise onde quatro garotos de rua se protegiam da chuva. Aquilo particularmente lhe irritou, parecia um pouco com a realidade da Grécia após as Olimpíadas de dois mil e doze, quando o país "quebrou" e saiu da zona do euro. Mas o gesto simples do vendedor ambulante de dar um pacote de biscoitos que caiu e amassou para as crianças, havia lhe tocado um pouco. — Por favor... — Sim? — O que tem para beber? "Será que é muito caro?" — imaginou. No momento em que ele desceu a caixa e a apoiou no chão, Angélica notou que havia algo diferente amarrado no isopor, tratava-se de uma chupeta. Aquilo havia de fato lhe chamado a atenção. Numa tentativa de descontrair a situação vexaminosa em que encontrava, ela puxou assunto. — Por acaso o senhor está vendendo chupeta também? — Oi? — se assustou. — A chupeta? Às vendas estão boas? — questionou apontando para ela. Nesse momento ele riu e percebeu que deveria explicar o porquê da chupeta estar amarrada ali. — Já sou pai velho, meus filhos estão crescidos, mas a minha mais nova, faleceu e deixou sua única filha, minha neta, morando comigo e minha esposa já tem alguns meses, o nome dela é Mirella. — sorriu. — Nossa... Perdão... — se a situação não poderia ficar mais constrangedora, ela ficou. — Não precisa se desculpar, é que de um tempo pra cá, notei o que todos já haviam percebido. — O que? — Que estou velho demais para carregar isso pra lá e pra cá, meus ombros doem e a minha coluna já não aguenta mais, minhas pernas doem, não sou mais o mesmo. — riu. — Tá... Mas... E a chupeta? — brincou. — Amarrei a chupeta aqui para que quando os ombros voltassem a doer pelo peso da caixa, quando as pernas tremessem, quando não tivesse onde sentar ou quando simplesmente não estivesse conseguindo vender, eu não poderia desanimar. "Nossa, não vemos muito disso na Grécia". — imaginou. — Sempre que isso acontece, encaro a chupeta e lembro o porquê deu estar ali e para quem. — completou. — Isso realmente te encoraja, você realmente sai com a consciência tranquila sabendo que tudo dará certo? A pergunta fez o homem pensar um pouco, é verdade, até os garotos que estavam ali perto, começaram a prestar atenção. — Moça, eu saio de casa com apenas uma coisa na cabeça. — E o que seria? — questionou aflita. As crianças prestam cada vez mais atenção. — Que eu não volto para casa com a derrota e não me contento com o empate, só chego em casa com a vitória. Angélica se impressionou com as palavras do vendedor. — Quanto está a água? — Um e cinquenta, perdão pelo preço é qu... — Angélica lhe atrapalhou. — Já sei, faz o seguinte. — respondeu enquanto fechava sua carteira. Angélica abriu sua bolsa transversal e puxou uma nota de cem reais. — Eu não tenho troco... — Eu não quero troco, vá descansar, o dia de hoje você venceu. — sorriu. Angélica jogou a nota de cem nas mãos do senhor, pegou uma água, um refrigerante e um biscoito para si. Depois, pegou um refrigerante e um biscoito para cada garoto de rua que assistia a conversa. E simplesmente não olhou para trás, Angélica estava ainda mais decidida à ver o seu amado. Ao entrar na estação de metrô que estava ali perto, ela abriu o "Direct" do i********: e enviou uma mensagem para Belisário. "Está em casa? Quero te ver". E continuou sua viagem rumo à casa de Dona Antônia. Do outro lado da cidade, Belisário que estava com o celular na mão enquanto assistia o filme com Zoe em seu colo, teve seu coração batendo mais rápido. Ele conhecia aquele sentimento, aquela batida. Nosso protagonista acabou de ler a mensagem de Angélica. “Quero te ver”. Belisário simplesmente bloqueou o celular e entrou naquele estado pensativo em que ficamos quando recebemos mensagens de um passado que pensamos ter superado. "Sempre tive este medo de estar lá na frente e ela me pedir para voltar... Eu... Voltaria?"
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