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2588 Words
Dia 1— parte 1. — Acorda p***a! —levei um baita susto e acordei com o coração na goela, ouvi a porta ser esmurrada e uma voz masculina gritar do lado de fora, em seguida minha cabeça latejou com vontade, maldita cachaça! Rodei na cama e acabei caindo com tudo no chão gelado. — Aí! —murmurei de dor e então percebi minha voz estranha, provavelmente era rouquidão devido ao vento gelado da madrugada. Tentei me levantar, meu corpo inteiro doía e minha cabeça parecia que ia explodir, maldita hora que a Maria tirou meu carpete fofinho daqui. — Anda logo Davi! —a porta do quarto foi aberta com brutalidade. —que p***a você tá fazendo aí no chão? — QUEM É VOCÊ E COMO VOCÊ ENTROU AQUI? —gritei apavorada, o cara me olhou intrigado. — Eu moro aqui seu i****a. — respondeu depois de um tempo. — agora anda logo que já estamos atrasados para o serviço. — Do que você ta falando? Eu nem te conheço! —novamente ele me olhou sem entender. — Que m***a que você usou? Eu te avisei que não era boa ideia sair em dia de serviço, ainda mais com aqueles caras estranhos do seu antigo bairro. —eu o encarava sem entender o que estava acontecendo. —Tu tens cinco minutos para se arrumar senão eu vou te deixar pra trás. —o maluco saiu em seguida, só então meus olhos percorreram o quarto, aquele ali não era meu quarto, meu coração começou a acelerar, o que estava acontecendo? Será que eu entrei na casa errada? Será que isso é um sonho? Talvez se eu me beliscar eu acorde, levei minha mão direita até meu outro braço para fazê-lo mas percebi que aquela não era minha mão, comecei a ficar apavorada enquanto analisava meu corpo, não era meu corpo, eu estava sem camisa e não tinha s***s, usava uma cueca samba canção, minhas pernas estavam peludas e meus pés eram enormes. Abri a boca em uma cara de espanto, isso só podia ser um sonho, um pesadelo h******l para ser mais exata, fechei os olhos com força e contei até cinco, rezei baixinho para que eu acordasse, mas quando eu abri os olhos as coisas continuavam na mesma. Resolvi tirar a prova final, levei a mão meio sem jeito até o cós da cueca, puxei a mesma um pouco enquanto fazia uma careta, eu estava com medo do que viria ali. — AAAAAA! —gritei apavorada enquanto me levantava e começava a dar pulinhos, eu tenho um pênis, como eu tenho um pênis? Eu não posso ter um pênis! Eu sou uma menina. — O que aconteceu? — o cara apareceu de novo no quarto, visivelmente preocupado com meu grito, parei de pular. — porque tu tá gritando Davi? — Olha você precisa me ouvir. — comecei a dizer, talvez esse cara pudesse me ajudar a entender o que estava acontecendo. — eu não sou eu, meu nome é Milena, até ontem eu era uma garota e agora do nada eu to aqui, num lugar que eu nem conheço e com esse corpo. — comecei a choramingar, o rapaz me encarava assustado, com os lábios semi abertos e os braços cruzados. — eu preciso de ajuda. —pedi manhosa. — Cara, quantas vezes eu te falei para não usar essas drogas alucinógenas? — Eu não estou drogada... espera. — comecei a raciocinar. — talvez eu esteja, aposto que colocaram alguma coisa na minha bebida ontem e isso tudo aqui seja ilusão minha. — um leve sorriso de alívio se formou em meu rosto. — Tu não ta nada bem mesmo. — ele constatou por fim. — vou te dar cobertura no serviço, mas é só dessa vez. — em seguida ele saiu. O que ele dizia não me importava mesmo, eu só precisava descansar um pouco e tudo voltaria ao normal, eu voltaria para minha casa e principalmente para meu corpo, me deitei novamente, fechei os olhos e fiquei esperando o sono chegar, demorou um bom tempo mas eu finalmente adormeci Acordei, não sei ao certo quanto tempo depois, minha cabeça continuava doendo, para minha infelicidade eu ainda estava no mesmo quarto de antes e também no mesmo corpo, ainda deitada comecei a chorar desesperadamente enquanto tampava meu rosto com as mãos, o que eu faria agora? Como eu poderia voltar para casa? E meus pais? O que eles diriam? Será que eles vão acreditar em mim? Vão acreditar que eu sou a Milena? Sem ânimo nenhum eu me levantei daquela cama, enxuguei as lagrimas e comecei a procurar algo que pudesse me ajudar, pela primeira vez observei o quarto a minha volta, era bem pequeno, tinha uma cama de casal, escrivaninha e um armário de 2 portas, sobre a escrivaninha avistei uma carteira e um celular, corri para pegar o aparelho, minha intenção era ligar para alguém, por sorte o aparelho era desbloqueado por digital, fiquei um pouco perdida no começo, haviam várias mensagens e notificações, ignorei tudo e fui no local onde fazia ligações, mas para quem eu ia ligar? Parei mais perdida ainda, quem acreditaria em mim? Principalmente por celular? Eu precisava da ajuda de alguém e as únicas que poderiam me ajudar eram a Alinne e a Sara, o problema é que eu teria que falar com elas pessoalmente, as duas são muito desconfiadas e jamais acreditariam na ligação de um cara estranho. Ao lado do celular havia uma carteira, abri a mesma e comecei a futicar, nos documentos dizia Davi de Souza Castro, olhei a foto da identidade, depois olhei em volta procurando um espelho, havia um na porta do guarda-roupa, caminhei até o mesmo a passos lentos, na verdade eu estava com medo do que iria ver, respirei fundo e segui em diante, assim que vi meu reflexo no espelho meus olhos se encheram de lagrimas e eu levei a mão aos lábios apavorada, era eu, como? Eu não faço ideia, mas era eu, meus cabelos eram curtos e bagunçados na cor castanho, instintivamente levei a mão aos mesmos e puxei um pouco os fios, senti uma leve dor ao fazê-lo e parei, depois desci até minha barba, eu tinha barba! Eu estava toda peluda e aquilo coçava, tinha cabelo em todo canto do meu corpo e era irritante. Se eu continuasse ali eu iria surtar, voltei a mexer na carteira, por sorte além do cartão de credito havia também um pouco de dinheiro, guardei os documentos de volta na carteira, procurei uma roupa para me vestir, peguei a primeira que veio na minha mão, depois coloquei a carteira e o celular no bolso, calcei um chinelo e sai, assim que pisei fora do quarto dei de cara com um banheiro e um outro quarto, seguindo no corredor eu cheguei numa pequena sala, com sacada e copa, fui até a porta principal, do lado havia um porta chaves com vários bolos de chave, fui testando algumas até que uma delas destrancou a porta, sai dali rápido e segui para fora do prédio. — Bom dia Davi! — ia passando pela portaria quando um senhor falou na minha direção, fiquei meio sem reação, o que eu dizia? Então apenas sorri de leve e abaixei a rosto. — pelo jeito a farra foi boa. — o cara continuou a falar. — o Eduardo passou aqui falando que tu estava se sentindo uma garotona hoje. — ele gargalhava enquanto dizia, como se aquilo fosse engraçado, homens e suas piadinhas infames, sorri forçado uma segunda vez e sai. Pela primeira vez na vida eu pegaria um ônibus, o dinheiro que eu tinha era pouco e eu não podia esbanjar, tive que perguntar a uma senhora no ponto de ônibus que bairro era esse, ela me olhou confusa mas respondeu. — p**a que pariu! — resmunguei baixo, eu estava bem longe de casa e da casa das meninas. Tive que pegar dois ônibus mas finalmente consegui, segui primeiro para a casa da Alinne, seria mais fácil convence-la, ela morava com a mãe e o padrasto, a casa dela ficava bem próxima a minha e era muito bonita, assim que cheguei em frente ao portão da mesma eu toquei o interfone. — Quem é? — reconhecia na hora a voz sonolenta de Alinne. — Sou eu. — falei baixo. — Eu quem? — A Milena. — um silêncio se instalou por um instante. — Ta achando que eu sou i****a? Eu estou te vendo pela câmera de segurança. — ela falou furiosa depois de um tempo. — vai embora daqui agora seu marginal senão vou chamar a polícia. — Espera Alinne. — falei desesperada. — eu sei que é difícil de acreditar mas sou eu mesmo, a Milena. — ouvi uma gargalhada do outro lado. — Eu já ouvi de tudo mas essa vez se superou. — Sou eu e posso provar. — Essa eu quero ver.— falou descrente, pensei um pouco no que diria, então me lembrei de algo. — Você perdeu a virgindade aos quinze anos, com o seu primo, na casa dos pais dele, os quartos eram vizinhos e vocês tiveram que fazer tudo em muito silêncio. — Alinne ficou calada e por um momento achei que a tivesse convencido. — Não me convenceu, aposto que você conhece o Felipe e ele te contou. — em seguida desligou, comecei a andar em círculos, eu precisava da ajuda dela, eu não podia continuar nessa situação, novamente comecei a entrar em pânico e meus olhos lagrimejaram, foi então que me lembrei de algo, voltei até o portão e toquei novamente o interfone. — Você de novo? Eu estou ligando para a polícia nesse momento. — ela estava realmente irritada. — Me escuta Alinne. — comei a dizer ignorando-a.— quando você tinha dez anos sua mãe te mandou passar as férias de dezembro no sitio de sua avó, você ficou um dia sozinha e quase perdeu a virgindade com o pastor alemão da casa, você me falou que ficou apavorada.— o silencio reinou.— você contou isso apenas para mim Alinne, você me fez prometer que eu jamais tocaria nesse assunto novamente e que eu jamais contaria isso a alguém nem mesmo sobre tortura.— o silêncio continuou e eu comecei a chorar.— e eu só estou tocando nesse assunto de novo porque eu estou desesperada.— encostei minha cabeça no portão.— me ajuda por favor! Eu já estava quase desistindo quando ouvi o portão ser destrancado, em seguida avistei a Alinne, sua expressão era de espanto e um certo desespero. — Isso não pode ser verdade. — ela falou por fim. — como isso é possível? — Eu não sei. — meu choro continuava. — eu dormi e acordei assim. — Pelo menos você sabe que é ele? — Não, nunca vi. — respondi. — só sei que se chama Davi. — É melhor você entrar e me explicar essa história direito. — concordei, Alinne me deu passagem e eu entrei em sua casa, os pais dela trabalhavam de segunda a sábado e a essa hora eles deviam estar no serviço. Fomo até o quarto da Alinne, eu lhe contei detalhadamente como foi minha noite e como está sendo minha manhã. — É isso. — relaxei meu ombro e fiz cara triste. — eu não sei como vim parar nesse corpo, não sei como vou voltar para casa e não sei como meus pais estão. — Alinne abaixou o rosto ao ouvir a última parte. — o que foi? — ela continuou em silencio. — é alguma coisa com meus pais? Como eles estão? — Seus pais estão bem. — respondeu por fim. — só estão preocupados, você desapareceu Milena, ninguém tem noção de onde você está e todos estão pensando que foi um sequestro. — meu coração se apertou. — eu mesmo estava pensando nisso e confesso que ainda achei que você. — apontou para meu corpo de cima a baixo. — fosse o sequestrador. — Meu deus o que eu faço. — afundei meu rosto no meio das mãos. — será que eu deveria ir atrás dos meus pais e contar a verdade? — Não sei se eles acreditariam. — Você acreditou. — Seu pai é muito racional Milena, ele ia achar que esse Davi é o sequestrador e você acabaria atrás das grades. — E eu vou continuar assim até quando? — perguntei manhosa. — Eu nem sei o que tá acontecendo, imagina então se eu vou saber quanto tempo isso vai durar. — ela levantou e começou a andar em círculos. — acho que vou ligar para a Sara, talvez ela nos ajude. — ela correu para pegar o celular. — Sara sempre foi mais inteligente. —falou enquanto discava o número da mesma. Alinne não contou a história pelo celular, apenas avisou que era urgente e pediu para a Sara vir rápido, enquanto ela não chegava aguardamos em silêncio. A uma coisa que devem saber sobre minha amizade com as duas, Alinne eu conheci ainda quando criança, como eu disse nos sempre moramos próximas e somos amigas desde que me lembro por gente, já a Sara, nós a conhecemos no início do ensino médio, nos tornamos as três mosqueteiras, mas convencer a última não será tão fácil como convencer a primeira. — Ele está te enganando Alinne. — Sara repetiu isso pela milésima vez, ela tinha chegado a pouco mais de meia hora e desde então Alinne está tentando convence-la, as duas conversavam um pouco longe de mim mas eu conseguia ouvir tudo. — Eu tenho certeza que não Sara. — em seguida diminuiu a voz. — ele sabe sobre o Rex e tenho certeza que a Milena não contaria para ninguém. — Quem é Rex? — Sara perguntou confusa. — Uma história longa e que eu não quero contar agora. — Alinne desconversou. — só confia em mim. — pediu. — eu sei que é ela. — então as duas olharam em minha direção. — Vamos dizer por um momento que seja verdade. — Sara começou a ponderar. — como isso pode ser possível? — É por isso que precisamos de você. — foi a minha vez de falar. — eu só quero entender o que está acontecendo comigo e quero voltar ao normal. — novamente eu estava chorosa. — Será que foi algum tipo de feitiço? Macumba? — Alinne inqueriu vindo se sentar ao meu lado. — Vamos começar do início. — Sara se sentou na cadeira da escrivaninha. — o que você fez ontem? — Eu já falei. — respondi. — eu fui para a faculdade, depois almocei, ai fui para a casa do Cauã, preparei tudo, tive aquela decepção de vê-lo com outra, depois fui para o bar, enchi a cara, por fim peguei um taxi, voltei para a casa e dormi. — Tem certeza que não aconteceu nada de diferente? — ela insistiu, pensei por um instante, entao me lembrei da cigana no portão do colégio e do cordão. — Ai meu deus! — levei a mão na cabeça. — Você se lembrou de algo? — Alinne perguntou. — O cordão! — Que cordão? — O cordão que a cigana me deu. — expliquei. — ela falou que minha vida teria uma reviravolta e me deu um cordão. — as duas me olharam abismadas. — foi aquela maldita que me enfeitiçou. — E cadê esse cordão? — Sara quis saber, então me lembrei que eu havia lançando-o pela janela do taxi.
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