Capítulo quatro

2896 Words
Rhys observou a expressão de terror de Lucy, e esperou a resposta dela. Via a batalha sendo travada dentro da mente dela. Ele também precisaria fazer sacrifícios pela empresa e pelo que queria. Sentia-se culpado por envolvê-la naquela confusão, mas Lucy era mesmo a escolha perfeita. Se ela conseguira sair daquele elevador como se nada tivesse acontecido, poderia fazer o mesmo com aquele noivado. Os olhos castanho-escuros dela se fixaram nele por um instante, e se desviaram para o ombro dele. A expressão de preocupação se abrandou, e ela ficou boquiaberta, surpresa. Confuso, Rhys se virou para olhar seu ombro. Empoleirada ali, havia uma solitária joaninha. Lucy soltou suas mãos e pegou a joaninha do ombro dele. Levantou-se e foi até a janela. Abrindo-a, estendeu a palma e observou o inseto voar para o jardim que havia do lado de fora do edifício da rede. Passou vários minutos olhando pela janela. Rhys continuava ajoelhado, perguntando a si mesmo que, diabos, acabara de acontecer. – Sim, eu aceito ser sua noiva temporária. Ele ficou de pé e acabou com a distância entre eles com três passos. – Sério? Ela se virou para ele, sua expressão calma e resoluta. Estava verdadeiramente linda naquele momento. Serena. E isso fez Rhys ter vontade de soltar os grampos do cabelo dela e deixá-lo cair sobre os ombros. Gostava mais assim. – Sim. É a resposta certa para todos. Rhys estava empolgado com a resposta dela, mas confuso, sem saber o que mudara. Houvera um momento em que ele tivera absoluta certeza de que ela recusaria. – O que ajudou você a decidir? – A joaninha. É um sinal de boa sorte. O fato de uma pousar em você significa que você é uma alma abençoada. Foi um sinal de que eu devia aceitar sua proposta. Rhys sabia que não devia questionar as superstições dela, já que estavam agindo em seu favor. – Preciso me lembrar de agradecer à próxima joaninha que encontrar. Agora vou levar minha noiva para almoçar e deixar que ela escolha o anel de noivado. – Já? – Sim. Quanto antes minha tia ficar sabendo disso, melhor. Isso significa que vamos escolher os anéis, fazer um anúncio no jornal daqui e no de Nova York e aparecer juntos em público. Os olhos dela se arregalaram. Ainda não estava totalmente de acordo com aquilo, com ou sem joaninha. – Antes que isso chegue aos jornais, preciso dar alguns telefonemas. Não quero que a minha família fique sabendo por outros meios. Rhys assentiu. Ele também tinha alguns telefonemas a dar. Primeiro, para sua mãe e sua irmã mais nova, que moravam em Manhattan. A família dele era péssima em manter contato, mas aquela era uma notícia grande o suficiente para fazer com que ele as procurasse. Os pais dele tinham sido muito extrovertidos e viajado bastante, mas isso mudara depois da morte do pai de Rhys, três anos atrás. Desde então, a mãe dele não saía mais muito de casa, tornando-se quase uma reclusa. A irmã dele fora morar com ela para ficar de olho na situação, mas aquilo também não ajudara. Quando Rhys falava com elas, era porque ele tomara a iniciativa. Talvez a notícia do noivado as empolgasse. Ele se sentia m*l por mentir para sua mãe a respeito de algo assim, mas, se aquilo a animasse e a tirasse do apartamento, ele não se importava. Frequentemente, Rhys se perguntava como as coisas seriam se seu pai não tivesse sofrido o acidente. Talvez tia Beatrice quisesse entregar a ele o comando da família, e Rhys não estivesse metido naquela confusão. Era uma fantasia sem sentido, mas aquilo fez Rhys se lembrar do próximo telefonema. Depois que falasse com sua mãe, ele precisaria dar a tia Beatrice a “feliz” notícia. Ele não tinha muita gente a quem contar, mas, pela expressão de Lucy, percebeu que o caso dela era o oposto. – Sei que isso é algo grande. E nada do que você estava esperando quando entrou aqui hoje. Mas tudo vai dar certo. – Ele se aproximou dela e envolveu levemente a cintura dela com os braços. Relutantemente, Lucy aceitou o abraço dele, pondo as mãos nas lapelas do paletó e olhando nos olhos dele. – Eu prometo. Os olhos escuros que o observavam não tinham tanta certeza. Ele precisava reconfortá-la. Deixá-la mais à vontade com aquela nova situação e provar que eles eram suficientemente compatíveis para conseguir. E ele só conhecia uma forma de confortar uma mulher. Lentamente, Rhys baixou os lábios para os dela, dando-lhe tempo para recuar se fosse necessário. Lucy não recuou. Levou os próprios lábios aos dele. O beijo não foi como o do elevador. Foi leve, delicado e reconfortante. Ela fez um leve som de prazer, que fez o calor percAdamser o corpo dele. Aquilo fez Rhys se lembrar dos gemidos que ela soltara debaixo dele naquele primeiro dia. Isso o incentivou a explorar mais, mas ele não ousou exagerar. Ela poderia mudar de ideia. Ele não poderia arriscar perdê-la. Os dois precisavam que aquele falso noivado desse certo. E, se desse, ele eventualmente teria sua chance de tocá-la novamente. Esse pensamento lhe deu forças para recuar. Lucy inspirou fundo para se recompor e deu um passo atrás. – Bem – disse ela com uma nervosa risada –, a questão da autenticidade não vai ser problema. Rhys sAdamsiu. – De jeito nenhum. Está com fome? Ela endireitou seu blazer e deu de ombros. – Um pouco. – Então vamos escolher os anéis primeiro. Depois, se esbarrarmos com alguém no almoço, vamos estar com eles e daremos a notícia como um casal feliz daria. – Preciso pegar minha bolsa no escritório antes de sairmos. Encontro você no… – A voz dela desapareceu. – Elevador? – disse ele com um sAdamsiso malicioso. Lucy corou. – Sim. Encontro você no elevador.   ***  Duas horas depois, eles saíam da joalheria, e Lucy estava exausta. Quem diria que comprar joias podia ser tão cansativo? Eles tinham passado as duas últimas horas discutindo. Ela estava preocupada, achando que Rhys ia gastar demais, especialmente sendo um noivado falso. Rhys insistia que Lucy precisava escolher um anel grande o suficiente para que as pessoas o vissem de longe. Falso ou não, o noivado precisaria ser espalhafatoso a ponto de as pessoas, como a tia dele, perceberem. Eles finalmente chegaram a um meio-termo quando ela se cansou de discutir e se permitiu escolher o anel que iria querer se aquele fosse um relacionamento de verdade. Quando tudo terminou, Lucy era a feliz proprietária de um solitário de diamante de 2 quilates com esmeraldas num anel de platina. Uma peça deslumbrante, e, enquanto eles caminhavam até o restaurante no qual tinham feito reservas para o almoço, ela quase não conseguia acreditar que estava em seu dedo. Lucy sonhara a vida inteira com o dia em que um homem lhe daria um anel como aquele. O anel era o certo. Mas todo o resto estava tão errado… – Já está com fome? – perguntou ele enquanto se aproximavam do bistrô com área ao ar livre, perfeito para um almoço no início de maio. Ela ainda não estava sentindo muita fome. Seu estômago ainda não absorvera os acontecimentos do dia. Entretanto, precisava comer, ou passaria tarde inteira comendo biscoitos. – Acho que consigo comer. Eles foram levados a uma mesa para dois no pátio. Por melhor que fosse ficar ao ar livre, Lucy esperara que a mesa deles fosse na área interna. A rua estava tão cheia de pessoas que era quase certo que ela encontraria alguém conhecido. Claro, também seria provável que ela encontrasse alguém lá dentro. Ela e Rhys conheciam muitas pessoas naquela cidade, e Lucy ainda não tinha certeza de que estava pronta para bancar a felicíssima nova noiva. Rhys puxou a cadeira para ela antes de se sentar. – Estou morrendo de fome – disse ele, pegando o cardápio. – Não tomou café? Ele balançou a cabeça. – Não comi muita coisa desde o jantar na casa da minha tia. Aquilo matou meu apetite, sabe? – Sei. – Nada no cardápio parecia atraente. Sendo assim, ela escolheu uma salada de espinafre com frango. Ao menos, seria algo que não a faria engordar. Afinal, ela precisaria caber num vestido de noiva. O pensamento penetrou o cérebro dela, assustando-a. De onde aquilo viera? – Você está bem? – perguntou Rhys. – Sim. Só me lembrei de uma coisa que preciso fazer quando voltarmos ao escritório. Rhys assentiu e voltou a olhar o cardápio. Lucy balançou a cabeça e fechou os olhos. Não haveria casamento nem vestido, por mais reais que os beijos deles parecessem ou por mais que o corpo dela reagisse ao toque de Rhys. Eles não estavam noivos de verdade. Era um acordo de negócios, nada mais. O garçom anotou os pedidos deles e saiu. Constrangida, Lucy bebeu sua água e observou o anel. Não sabia o que dizer ao seu novo noivo. – Agora que a história do noivado está resolvida, quero falar com você sobre outra coisa. Ela o olhou, uma sensação de pânico crescendo em seu estômago. – Não, Rhys. Não vou ter um bebê seu para deixar sua tia feliz. Ele riu, balançando a cabeça. – Nada de bebês, prometo. É estritamente relacionado ao trabalho. Venho pensando nessa ideia faz alguns dias, mas as bobagens da minha tia me fizeram perder o raciocínio. Queria fazer uma pergunta… Você é amiga de Ariella Winthrop, não? Lucy suspirou. Sua amiga Ariella fora o Santo Graal da mídia desde o baile da posse presidencial em janeiro, quando fora revelado que a bem-sucedida planejadora de eventos era a filha ilegítima do presidente recém-eleito. Tanta gente já lhe perguntara sobre Ariella desde o escândalo! Sim, elas eram amigas fazia vários anos. Isso não significava que ela teria algo de útil a dizer à imprensa, ainda que estivesse disposta a contar… e não estava. Ariella era adotada. Sequer soubera com certeza quem era seu pai biológico até os resultados do teste de DNA terem saído, pouco mais de um mês atrás. – Sou – respondeu ela com um tom cauteloso. – Eu estava pensando se você não poderia falar com ela por mim. Tenho uma ideia pela qual acho que ela pode se interessar, mas quero saber sua opinião primeiro. Sei que repórteres e a antiga gerência do ANS foram os responsáveis por toda a confusão com o presidente MAdamsow e ela. Eu estava pensando em fazermos uma espécie de compensação para os dois. – Uma cesta de frutas? – Um reencontro televisionado com Ariella e o presidente. Lucy grunhiu. Era uma ideia hAdamsível. – Prefira a cesta de frutas. Estou falando sério. Rhys levantou a mão. – Sei que tem muitos boatos rodando por outras redes, especialmente porque nenhuma das pessoas envolvidas está falando com a imprensa. Obviamente, o ANS se manteve fora do caso depois de tudo o que aconteceu. Quero oferecer a eles a oportunidade de esclarecer tudo publicamente. Dar a chance de se encontrarem e acabar com toda a tensão sem nenhuma mentira ou ponto de vista dramático. – Isso tem toda a cara de sensacionalismo. – E é por isso que quero dar a você o controle total sobre o programa. Você é amiga dela, e ela confia em você. Você poderia trabalhar diretamente com a secretária de imprensa da Casa Branca e garantir que ninguém se sinta nem um pouco desconfortável. Nenhuma outra rede vai oferecer a eles uma oportunidade como essa, eu garanto. Lucy franziu o cenho. Não gostava de como aquilo soava. Se as coisas dessem errado e o ANS acabasse com a reputação ainda mais manchada, não haveria volta, e Ariella jamais a perdoaria. – Não sei, Rhys. – É vantajoso para todos os envolvidos. Ariella e o presidente vão poder contar a história deles, do jeito deles. O ANTV vai ter exclusividade sobre a entrevista, e isso vai nos ajudar a compensar o escândalo das escutas telefônicas. Não tem como dar errado. Você mesma vai garantir que isso não se transforme num circo. É perfeito. Perfeito para a audiência. Mas Lucy não tinha tanta certeza de que a televisão seria o ambiente certo para sua amiga se reencontrar com seu famoso pai biológico. Era um momento importante para os dois. Um momento particular. – Só prometa que você vai perguntar a ela. Se ela não quiser, esqueço tudo. O garçom chegou com o almoço deles, colocando-o sobre a mesa e interrompendo brevemente a conversa. – Vou falar com ela – concordou Lucy, depois que o garçom se retirou. – Mas não posso prometer nada. A não ser pelo curto pronunciado que ela deu à imprensa, ela recusou todos os pedidos de entrevista que recebeu. – É tudo o que peço. Obrigado. Lucy espetou um pedaço de frango e espinafre com o garfo. – Finalmente, a suja verdade vem à tona. Você só quer se casar comigo por causa das minhas conexões políticas. – Uma acusação completamente infundada – disse ele com um malicioso sAdamsiso. – Quero me casar com você por causa desse corpo maravilhoso. Lucy olhou nos olhos dele, esperando ver humor neles. Em vez disso, encontrou um calor de apreciação pelo que ele via. Ela também foi dominada por um calor, fazendo-a se remexer desconfortavelmente ao se lembrar de quando estavam no elevador. Ela o desejara tanto naquele momento e, se fosse honesta consigo mesma, admitiria que continuava desejando. Ceder ao seu desejo seria algo bom ou r**m, agora que eles estavam “noivos”? – Eu… bem… hã… Uma voz chamou da calçada. – Lucy, o que é isso que estou vendo na sua mão? E lá se ia a esperança de não encontrar ninguém conhecido. Do outro lado da grade de ferro forjado que separava o bistrô da calçada estava Scarlet Anders, amiga dela. A esbelta ruiva era sócia de Ariella numa empresa de planejamento de eventos especializada em casamentos e festas. – Scarlet! – disse Lucy, plantando um sorriso no rosto e torcendo para que a amiga não percebesse que era falso. – Como está se sentindo? – perguntou ela para desviar a atenção do anel. Sua amiga sofrera uma contusão na cabeça mais para o início do ano e perdera temporariamente a memória. Scarlet enrugou o nariz. – Estou bem. Os médicos disseram que meu acidente não deixou nenhum efeito duradouro. Agora pare de se preocupar comigo e de enrolar e me deixe ver essa mão. Relutantemente, Lucy estendeu a mão, permitindo que o perfeito diamante reluzisse ao sol. Scarlet olhou o anel. Em seguida, olhou para Rhys e de volta para ela. – Você está noiva de Rhys McDowell. Rhys McDowell. Quando Daniel me pediu em casamento, eu contei a você e a Ariella quase na mesma hora. Era verdade, pensou Lucy, sentindo-se culpada. E, em outras circunstâncias, ela teria feito o mesmo. Mas não era um noivado real. – Foi agora – insistiu ela, sAdamsindo para seu noivo com uma fingida empolgação. – Acabamos de escolher o anel. Scarlet sorriu. – É lindo. Vocês dois são tão sorrateiros. Eu nem sabia que estavam namorando. Como isso aconteceu? – Nós… hã… – Começamos a sair juntos há um tempo, quando eu ainda estava pensando em comprar o ANTV – interveio Rhys. – Com tudo o que estava acontecendo, preferimos manter em segredo por um tempo. Mas, depois de ter ficado preso naquele elevador com Lucy, eu soube que teria passar o resto da minha vida com ela. Scarlet suspirou. – Que meigo! Vocês ficam lindos juntos. Quando vai ser a festa de noivado? Você tem que deixar Ariella e eu organizarmos para você. – Não – insistiu Lucy. – Vocês ficaram tão ocupadas com o casamento de Cara e Max e agora estão com o seu. – O ex-âncora e a relações-públicas da Casa Branca tinham se casado no fim de março. O amado de Scarlet, Daniel, pedira a mão dela em casamento durante a festa. – Não se preocupe conosco. Provavelmente, não vamos… – Bobagem – disse Scarlet. – Eu insisto. Estou indo para o escritório. Vou contar a novidade a Ariella, e vamos começar a pensar nisso. Quando vocês gostariam de fazer? – Logo – interveio Rhys. – Neste final de semana, se possível. m*l podemos esperar para compartilhar nossa empolgação com todos os nossos amigos e parentes. Os olhos de Scarlet se arregalaram, mas ela assentiu rapidamente. Estava acostumada a lidar com exigências nada razoáveis de poderosos casais de D.C. – Tenho certeza de que vamos conseguir fazer. Pode ser difícil encontrar um local, mas tem algumas pessoas me devendo favores. Para vocês, estou pensando numa festa num jardim à tarde. Algo ao ar livre. Petiscos leves, champanhe… Talvez um estande de sorvete. O que acham? – Parece lindo – disse Lucy. E era verdade. Exatamente o que ela teria escolhido para sua festa de noivado. Sua amiga a conhecia bem. Scarlet estava empolgadíssima. Ela fazia tudo com um glamour estiloso que era famoso em meio à elite de D.C. – Ligo para você amanhã para definirmos alguns detalhes – falou ela, e desapareceu pela calçada, andando animadamente. Lucy desejou ter todo aquele entusiasmo. E precisaria ter se eles realmente fossem fazer aquilo. Porque iria mesmo acontecer. Iria acontecer de verdade. O que ela fora fazer?
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