Capítulo três

3243 Words
Rhys acabara de sair do chuveiro, quando ouviu seu celular tocando. Ele enrolou a toalha na cintura e correu para o quarto. As palavras “Rainha Beatrice” piscavam na tela. Beatrice, a tia-avó dele, não acharia nada divertido se descobrisse como o resto da família a chamava. Com um suspiro, ele atendeu. – Alô? – Rhys – respondeu a tia dele, com seu arrogante sotaque do Upper East Side. – Está tudo bem com você? Fiquei sabendo que você ficou preso num elevador a tarde inteira. – Estou bem. Só com fome, mas já vou… – Excelente. Sendo assim, você jantará comigo. Há um importante assunto que preciso discutir com você. Rhys conteve um grunhido. Detestava comer na casa de tia Beatrice. Em geral, por ter que ouvi-la falar sem parar sobre a família e a irresponsabilidade de todos. Porém, ainda assim, ela gostava mais dos outros parentes do que de Rhys, pois todos a bajulavam. E isso era algo muito inteligente. Ela era dona de uma fortuna de mais de 2 bilhões de dólares e não tinha filhos para herdá-la. Todos estavam querendo uma fatia. Todos menos Rhys. Ele era educado e distante. Não precisava do dinheiro dela. Ao menos não precisara até surgir a possibilidade de compra do ANTV, sem que ele tivesse ativo líquido suficiente para comprar rapidamente ações majoritárias. Havia outras pessoas interessadas na empresa, incluindo sanguessugas como Ron Wheeler, especialista em destruir empresas para lucrar. Para agir rápido, Rhys precisara engolir seu orgulho e pedir a sua tia para que investisse nas ações restantes do ANTV que ele não conseguira comprar. Juntos, eles tinham participação controladora na empresa, e, ao ceder seu poder de voto para ele, tia Beatrice pusera Rhys no comando. Ele tinha total intenção de comprar a parte dela, mas demoraria até poder fazer isso. Então, finalmente, tia Beatrice tinha algo com o que manipulá-lo. – O jantar é às 18h – disse ela. – Sim, tia Beatrice. Vejo você às 18h. Depois que ele desligou, olhou para o relógio e percebeu que não lhe restava muito tempo para chegar até a mansão dela na hora do rush. Seria melhor ir a pé. Talvez tivesse sido melhor que Lucy tivesse recusado o convite para jantar. Assim ele não precisaria cancelar. Aquilo teria sido terrivelmente difícil. Ele escolheu um terno cinza com uma camisa social lilás, sem gravata. Rhys detestava gravatas e as usava apenas quando era absolutamente necessário. E, sabendo que isso irritaria tia Beatrice, ele optou por não usar uma. Ela gostava que todos se vestissem de maneira formal para o jantar. Era o adequado. Deixar de lado a gravata seria uma rebeldia pequena, mas perceptível. Rhys não queria que ela achasse que tinha controle total sobre ele. Ele só foi se lembrar de que ela falara de um assunto importante a ser discutido quando tocou a campainha. m*l conseguia imaginar o que poderia ser, mas esperava sinceramente que não envolvesse um pedido para que ele saísse com a filha de alguém. Tia Beatrice era determinada em sua missão de fazer Rhys se casar e ter uma família. – Boa noite, sr. McDowell – disse o velho mordomo dela, Henry, ao abrir a porta. Henry passara a vida de Rhys inteira trabalhando para a tia dele, e um pouco mais. O homem já tinha mais de 70 anos, mas continuava ágil como nunca. – Boa noite, Henry. Como ela está hoje? – perguntou Rhys, curvando-se para perto do homem e baixando a voz. – Ela andou encucada com algo a tarde inteira, senhor. Deu vários telefonemas depois que a energia voltou. Rhys franziu o cenho. – Alguma ideia do que seja? – Não. Mas imagino que envolva o senhor, pois foi o único convidado para jantar aqui esta noite. Aquilo era estranho. Geralmente, tia Beatrice convidava ao menos dois parentes. Quando todos os outros familiares da geração dela haviam morrido, ela assumira como matriarca. Henry o levou até a sala de jantar formal. Tia Beatrice já estava em seu lugar, na ponta da comprida mesa de carvalho, com a aparência nobre de sempre. Seu cabelo grisalho estava perfeitamente enrolado, seu vestido de chiffon cor-de-rosa, complementado perfeitamente pelo colar e pelos brincos de safira rosa. Ela não sorriu quando ele entrou. Em vez disso, avaliou-o da cabeça aos pés, contraindo os lábios ao perceber que Rhys não estava de gravata. – Boa noite, tia Beatrice – cumprimentou ele com um largo sorriso para combater a expressão fechada dela. Deu-lhe um beijo no rosto antes de se sentar no lugar à direita dela. – Rhys – disse ela, recebendo-o sem nenhuma ternura. Era por isso que ele sempre a considerara uma rainha. Rígida, formal, adequada. Não conseguia imaginar o que ela teria se tornado se tivesse se casado e tido filhos. Filhos exigiriam risadas e sujeira, duas coisas impensáveis naquela casa. Henry serviu uma taça de vinho para cada um deles e voltou à cozinha para pegar o primeiro prato. Rhys detestava ver o velho servindo-o. Ele devia estar numa poltrona, vendo televisão e desfrutando da aposentadoria, não servindo refeições para pessoas privilegiadas capazes de fazer aquilo por conta própria. O homem nunca se casara. Não tinha vida própria fora daquela mansão. – Quando vai permitir que Henry se aposente? – perguntou ele. – O coitado merece uma folga antes que caia morto na sua sala. Tia Beatrice se irritou com a sugestão. – Ele adora ficar aqui. Jamais pensaria em me deixar. E, além do mais, Henry nunca morreria na sala. Ele sabe como aquele tapete é caro. Rhys suspirou e deixou o assunto de lado. Henry pôs tigelas de sopa diante dos dois e se retirou novamente. – Então, o que temos a discutir hoje? – Era melhor acabar com aquilo de uma vez. – Recebi um telefonema hoje de um homem chamado Ron Wheeler. Rhys enrijeceu. Ron Wheeler costumava comprar empresas com dificuldades, demitir metade dos funcionários e acabar com os benefícios dos que permaneciam. Em seguida, dividia a empresa em fatias menores e as vendia por um preço maior que o todo. Ninguém gostava de ouvir o nome dele. – E o que ele tinha a dizer? – Ele ficou sabendo que comprei uma grande parte das ações do ANTV de Graham Boyle. Fez uma proposta extremamente generosa para comprá-las de mim. – Tia Beatrice, sua carteira de ações é maior que a minha. Se vender para ele, ele vai se tornar acionista majoritário da empresa. A rede vai ficar em risco. Ela assentiu. – Sei disso. E sei como a empresa é importante para você. Mas também quero que você saiba como a família é importante para mim. Não vou viver para sempre, Rhys. A família precisa de alguém forte e inteligente para comandá-la. É desnecessário dizer que a maioria de nossos parentes é composta por idiotas. Minhas duas irmãs nunca tiveram bom senso, nem os filhos dela. Meu pai também sabia disso, e foi por esse motivo que ele deixou a maior parte do dinheiro da família para mim e para seu avô. Ele sabia que todos iriam à falência sem alguém sensato no comando. – Por que está me dizendo isso? O que isso tem a ver com Ron Wheeler? – Porque acho que você é a pessoa certa para comandar a família depois que eu partir. – Não fale assim. Você ainda tem muitos anos de vida. Os olhos azuis dela se fixaram nele, um inesperado toque de emoção lampejando neles por um efêmero segundo antes de ela descartar aquela declaração. – Todos morrem, Rhys. É melhor estar preparada para isso. Quero que você assuma meu lugar e seja o patriarca da família. Assim você herdaria tudo o que é meu e atuaria como detentor dos investimentos da família. Rhys empalideceu. Não queria aquela responsabilidade. Dois bilhões de dólares e uma família cheia de bajuladores gananciosos perseguindo-o? – Não quero seu dinheiro, tia Beatrice. Você sabe disso. – Exatamente. Mas sei o que quer de fato. O ANTV. E, enquanto eu tiver minhas ações, você não o terá de verdade. Posso vendê-las a qualquer momento para Ron Wheeler ou qualquer outra pessoa que me faça uma boa proposta. Rhys deu um grande gole no vinho para acalmar seus nervos. Tia Beatrice nunca o chantageara com nada. Não podia, pois, até então, ele não precisara dela ou do dinheiro dela, e ela sabia disso. Contudo, ele cometera um erro crítico. Jamais devia ter feito aquele acordo com ela pelas ações. – Por que você faria isso? Eu disse que ia comprar suas ações pelo preço que você tinha pagado ou pelos valores corrigidos se eles aumentarem. – Porque quero que você se estabeleça. Não posso permitir que você comande essa família brincando de jornalista e correndo atrás de mulheres por D.C. Quero que se case. Fique estável. Pronto para liderar a família McDowell. – Só tenho 30 anos. – A idade perfeita. Seu pai se casou aos 28, assim como seu avô. Você já se formou, está bem de vida. Será um prêmio para qualquer mulher de sorte que escolher. – Tia Beatrice, não estou pronto para… – Você se casará em menos de um ano – disse ela, seu tom sério como um decreto real que ele não ousava contrariar. – No seu primeiro aniversário de casamento, como presente, eu lhe darei minhas ações do ANTV e porei você como meu único herdeiro. Assim ficará tranquilo, sabendo que sua rede está em segurança, e eu saberei que a família será bem cuidada quando eu partir. – Não pode me forçar a me casar. – Tem razão. Você é adulto e toma as próprias decisões. Sendo assim, a escolha é totalmente sua. Ou se casa e recebe a empresa que tanto quer e mais dinheiro do que a maioria das pessoas sonha ter… ou não faz nada disso, e eu vendo minhas ações para Ron Wheeler. Uma escolha difícil, eu compreendo. – Ao dizer aquilo, ela retornou à sua sopa, como se eles estivessem discutindo o tempo lá fora. Rhys não sabia o que dizer. Não estava acostumado a ter alguém mandando em sua vida. Contudo, ele próprio criara aquela vulnerabilidade que ela vinha esperando para explorar. – Se você não conhece nenhuma moça adequada, posso fazer algumas recomendações. – Acho que consigo me virar com essa parte, obrigado. Venho saindo com uma pessoa – disse ele rapidamente, torcendo para que ela não pedisse mais detalhes sobre a mulher fictícia. Tia Beatrice deixou de lado o tom amargurado em sua voz. – Então é hora de tornar as coisas mais sérias. Lembre-se, a contar de hoje, você tem um ano para se casar. Mas, se eu fosse você, não demoraria. Quanto mais cedo você se casar, mais cedo o ANS será seu.    *** Lucy evitara deliberadamente Rhys desde que eles tinham retornado a D.C., mas não tinha mais como adiar uma conversa com ele. Precisava saber se eles patrocinariam o Baile da Juventude em Crise ou não. Faltava uma semana e meia. Já era tarde demais para recusar, mas, se ele fosse insistir na ideia de que não patrocinariam, ela precisava saber imediatamente. Ela acenou ao passar pela mesa da assistente dele. – Boa tarde, Jessica. – Acho melhor você não entrar aí. – Por quê? – Ele está de mau humor desde que voltamos de Nova York. Não sei bem o que aconteceu. Algo na família, eu acho. – Estão todos bem? – Ele não me pediu para mandar flores para ninguém. Então imagino que sim. Mas não está atendendo ligações. Passou a manhã inteira sentado à mesa, folheando a agenda telefônica e resmungando. Interessante. – Bem, detesto fazer isso, mas preciso falar com ele. – Como quiser. – Jessica apertou o botão do telefone. – Sr. McDowell, a srta. Adams está aqui para vê-lo. – Agora não – berrou a voz dele na linha. Então depois de uma rápida pausa: – Esqueça. Pode mandá-la entrar. Jessica deu de ombros. – Não entendi nada, mas pode entrar. Lucy inspirou fundo antes de abrir a porta. Estava com seu terno mais impressionante e se sentia confiante de que sairia do escritório dele com o que queria. O paletó e a calça verde-esmeralda eram deslumbrantes e benfeitos. O cabelo preto dela estava preso num coque, e ela estava com um lenço de seda em torno do pescoço. Não apenas se sentia bem com aquela roupa, mas também bastante coberta. Rhys já vira demais o corpo dela. Ao entrar, ela viu Rhys sentado à mesa, exatamente como Jessica dissera. Ele fechou a agenda. – Bom dia, srta. Adams. – A voz dele estava muito mais formal e educada do que da última vez. Claro, naquela ocasião, eles tinham ficado nus juntos. – Sr. McDowell. Queria falar sobre o Baile da Juventude em Crise. Não temos muito tempo para… – Sente-se, Lucy. Ela parou, surpresa com a interrupção. Sem saber o que fazer, foi se sentar na cadeira diante da mesa dele. Antes que ela pudesse fazer isso, ele se levantou e apontou para uma área menos formal, do outro lado do escritório. – Aqui, por favor. Não gosto de falar com as pessoas do outro lado da mesa. É estranho. Lucy se sentou na fofa poltrona de couro cinza que ele indicara. Atenta, viu Rhys ir até o frigobar. – Quer algo para beber? – Não bebo no trabalho. Rhys se virou para ela de cenho franzido e uma garrafa de refrigerante na mão. – Nada? Só tenho água e refrigerante. Também não bebo no trabalho, apesar da minha vontade de estar totalmente entorpecido pela bebida neste momento. – Ele pegou uma garrafa de água e entregou a ela. – Para compensar a que nós… usamos no elevador. Lucy estendeu a mão para a garrafa, mas ficou paralisada com a lembrança da água se derramando sobre a cabeça dele, caindo no peito nu dela. d***a, ele dissera aquilo de propósito, para abalá-la. Recompondo-se, ela pegou a garrafa e a pôs sobre uma mesa de centro. Rhys se sentou num sofá próximo, com sua garrafa de refrigerante. – Tenho uma proposta para você. – Já disse que eu não estou interessada em jantar. – Não estou pedindo que jante comigo. Estou pedindo que se case comigo. Lucy ficou imediatamente ereta na poltrona e o olhou fixamente. – Casar com você? Ficou louco? – Shhh… – disse ele, pondo sua bebida sobre a mesa. – Não quero que ninguém ouça nossa discussão. É muito importante. E estou falando sério. Quero que você seja minha noiva. Ao menos por alguns meses. – Por que eu? O que está havendo? Rhys suspirou. – Acabei ficando numa posição vulnerável para comprar a empresa. Não tinha dinheiro para todas as ações de Graham Boyle. Por isso, quem tem a maior parte do ANS é minha tia, não eu. Ela está ameaçando vender para Ron Wheeler se eu não me casar daqui a, no máximo, um ano. Ron Wheeler. Aquele era um nome que fazia o sangue dela gelar. Ele não dava a mínima para caridade. Lucy, sua equipe e todo o departamento seriam demitidos assim que a venda fosse concluída. E seriam apenas os primeiros a sair. – Por que ela faria isso? – Ela quer que eu me case, que eu me estabeleça. Quer que eu seja o patriarca forte da família quando ela morrer e acha que minha vida de playboy não é adequada. Na verdade, acho que ela está blefando. Estou torcendo para que, se eu ficar noivo, isso seja suficiente para satisfazê-la. Enquanto isso, vou trabalhar com meu contador e assessor financeiro para ver se consigo uma linha de crédito para comprar a parte dela. Não espero que nós precisemos nos casar de verdade. – Espero mesmo que não – disparou ela. Lucy tinha uma firme ideia do que constituía um bom casamento, e chantagem não era o começo ideal. – Você não tem mais ninguém a quem pedir? Nós nos conhecemos há menos de uma semana. – Já olhei todas as mulheres da minha agenda, e não tem nenhuma candidata adequada. Todas elas veriam nisso uma oportunidade romântica, não um acordo de negócios. É por isso que você é a escolha ideal. Um acordo de negócios? Exatamente o que toda mulher queria ouvir. – Então, se é só um acordo de negócio para você, isso significa que não tem intenção de me levar para a cama, certo? Rhys se aproximou dela, e um malicioso sorriso se espalhou por seu rosto. – Eu não disse isso, mas, na realidade, essa não é a prioridade. Estou pedindo isso a você por vários motivos. Primeiro, gosto de você. Passar tempo com você não deve ser difícil. Minha tia vai esperar que o relacionamento pareça autêntico e vai descobrir a verdade se achar que estamos fingindo. Depois dos nossos momentos no elevador, acho que temos química suficiente para tornar a coisa realista. E segundo, sei que posso contar com você, porque você quer algo de mim. – O Baile da Juventude em Crise? Ele assentiu. – Se Ron Wheeler assumir o comando desta empresa, tudo pelo que você trabalhou vai ser destruído. A única coisa que posso fazer para proteger a empresa e os funcionários é ficar noivo o mais rapidamente possível. Pela sua ajuda, ofereço apoio financeiro total do ANS ao Baile Beneficente da Juventude em Crise. Até me comprometo a fazer a maior doação particular com meu dinheiro. Vejo isso como um investimento no futuro da rede. E tudo o que você precisa fazer é pôr um lindo anel de diamante no dedo e tolerar minha companhia até a minha tia desistir. Parecia um trato com o d***o, e devia haver algum “porém”. – Você disse que precisaria parecer autêntico. Defina autêntico. – Ninguém vai nos ver dentro do quarto, Lucy, e não vou fazer nada que você não queira. Mas tudo o que pudermos fazer para convencer as pessoas de que somos um casal apaixonado vai ajudar. Ela balançou a cabeça e baixou o olhar para o colo. Aquilo era tão repentino. A ideia de ser noiva de Rhys, ainda que apenas temporariamente, não era tão r**m. Ela estaria mentindo se dissesse que não pensava nos momentos deles no elevador todas as noites, na cama, sozinha. Mas noiva dele? Publicamente? O que ela diria à sua família? Não poderia contar a verdade. E aos seus amigos? Ela precisaria mentir para todos. A alternativa, contudo, era impensável. Ela se importava demais com o ANS e seus funcionários para permitir que a empresa caísse nas mãos de Ron Wheeler. Concordar com o plano de Rhys protegeria a empresa e faria com que ela conseguisse o baile beneficente que tanto queria. Quando o acordo não fosse mais necessário, os amigos e parentes dela simplesmente teriam que acreditar que as coisas não tinham dado certo entre eles. Lucy ergueu o olhar a tempo de ver Rhys deslizar do sofá, ficando de joelhos aos pés dela. Ele estava muito bonito de terno azul-marinho, seus lindos olhos azuis voltados para ela. Ele pegou as mãos dela, acariciando levemente com os polegares. Com ele tocando-a daquele jeito, ela concordaria com qualquer coisa. – Lucy Adams – disse ele com um radiante e encantador sorriso. – Sei que sou apenas um humilde filho de um criador de porcos, mas você me daria a honra de ser seu noivo temporário?
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