Capítulo 2

2370 Words
Angelina Estou de malas prontas e o coração apertado. A imagem de Thomas desesperado vem a minha mente o tempo inteiro, e me deixa amuada na mesma hora. Será que não estou sendo egoísta demais com ele? Será mesmo que a coisa certa a se fazer é me afastar assim? - Querida, são apenas 15 dias.- meu pai diz me abraçando, sabendo exatamente o que está se passando na minha cabeça. Ele se afasta pra encarar meu rosto e diz.- não há motivos para ficar triste, logo logo estará de volta.- ele tenta me tranquilizar, e beija minha testa. - Vou sentir sua falta.- falo sorrindo sem mostrar os dentes, com as lágrimas presa na garganta. - Estarei bem aqui quando você voltar, não se preocupe. Vá, e divirta-se.- ele sorri me encorajando. Meu pai é o meu herói e o meu melhor amigo, é aquele que parece sempre saber exatamente tudo que estou sentindo. - Bebê.- minha mãe abre os braços e eu preciso fazer mais esforço para não chorar, quando me acomodo em seus braços.- me escute.- ela segura dos dois lados do meu rosto, prendendo minha atenção em seus olhos.- não precisa desse sofrimento todo minha menina, são apenas férias.- e diz com os lábios torcidos.- há momentos na vida, em que precisamos ser egoístas, pensar um pouco em nós mesmos às vezes faz bem para a alma. Lembre-se, nem sempre o que é bom para os outros, é o melhor para nós também.- minha mãe aconselha, e me abraça novamente. Eu sei que eles não concordam com o meu relacionamento com Thomas, por ele ser assim, intenso. Meus pais acham que ele pode acabar passando dos limites em um dos seus momentos de frenesi, e acabar me machucando de alguma forma. Mas isso é só preocupação deles, eu sei que o Tom nunca me faria m*l, ele só faz tudo isso por medo de ficar sozinho, por tudo que já passou nessa vida, e no fundo eu o entendo. Porém, meus pais não se intrometem nas minhas escolhas, apenas me dão conselhos sem invadir meu espaço. - Ok mamãe, eu te amo. Amo vocês.- falo antes de entrar no Uber, e meu pai bate à porta do carro. - Sua madrinha já está te esperando lá?- ele pergunta se abaixado na janela. - Não, provavelmente devo chegar na praça antes dela.- Papai me dá um último beijo, e o motorista da partida no carro. Minha madrinha vai me encontrar na pracinha aqui perto de casa, para que eu não precise ir até sua casa, e nem que ela venha até a minha. Eu acabo realmente chegando antes dela e fico à aguardando, sentada em um dos banquinhos da praça. O dia hoje está calmo, há pessoas caminhando na praça despreocupadamente com seus fones de ouvido, e expressões exaustas. Algumas barraquinha, onde seus donos tentam faturar o dinheiro do mês. O prefeito desse mandato até que foi generoso conosco, comparando com seu antecessor. Ele reformou toda a nossa praça, colocou pista de ciclismo e também de atletismo, para as pessoas fazerem sua caminhada matinal, ou a qualquer hora do dia. Colocou brinquedos decentes e até plantou árvores. Agora, com as pessoas voltando a frequentar o lugar, os comerciantes podem voltar a faturar um dinheirinho. Ao longue, percebo o olhar penetrante de uma senhorinha para as pessoas que passam ao seu redor. Ela está sentada em um banquinho, junto a uma mesa redonda forrada com uma toalha colorida. No meio dessa mesa, contém uma bola de vidro, estilo de cristal, usada para "vê o futuro". Sua barraquinha está na lateral da praça, onde quase ninguém dá muita importância a ela. A senhorinha vende essências, velas, temperos, talvez tecidos, mas não consigo distinguir exatamente daqui de longe. Ela me encara com um sorriso nos lábios, assim que percebe o meu olhar curioso em sua direção. Eu fico meia envergonhada ao ser pega espiando, e acabo sorrindo para ela de volta. A senhora no entanto, parece não se contenta apenas com esse tipo de contato, e faz um sinal em minha direção, pedindo para que me aproxime dela. Olho para trás, para me certificar de que ela está realmente falando comigo, e não vejo ninguém olhando para ela além de mim. Encaro a mulher novamente, e ela repete o gesto mais uma vez. É, realmente é comigo que ela está falando! Fico com um pouco de receio, mas me levanto assim mesmo e caminho em poucos passos até chegar na mesa da senhorinha de turbante azul, todo florido, contrastando com a toalha azul e vermelha, com flores amarelas, que cobre a mesa redonda onde está debruçada. Ela me olha simpática, como se já me conhecesse a muito tempo, e eu fico a encarando sem entender nada. - Oi.- eu digo sem graça, me sentindo patética por está aqui. - Olá, sente-se querida.- ela diz toda acolhedora, ainda com um sorriso nos lábios. - É que eu não posso, estou esp…- começo a me desculpar, tentando sair dali o mais depressa possível, mas ela nem me deixa terminar a frase, e apenas diz. - Eu sei, não se preocupe, você não vai se atrasar.- me lança seu sorriso acolhedor e despreocupado, bastante convidativa. Como ela sabe que não quero me atrasar? Reprimo um gemido de desgosto, mas seu sorriso causa um efeito esquisito em mim. Por mais que não acredite em cartomantes, me sinto confortável o suficiente para me sentar em sua cadeira. Reparando melhor o lugar, percebo que sim, realmente ela vende tecidos, além dos incensos, velas aromáticas, ervas e temperos. Essa senhorinha deve ter mais ou menos uns 65 anos de idade. Ela fica o tempo inteiro sorrindo para mim, como se eu fosse uma pessoa muito querida para ela. Deve ser apenas seu charme para atrair clientes, e vim com esse papo furado de ‘Eu sei o seu futuro’. Eu não acredito nem um pouco nessas babozeiras de cartomante, e não irei gastar nem um centavo com uma maluquice dessas. - Olha me desculpe, é que eu não vou ter dinheiro para pagar a consulta.- a informo, para tirar da cabeça dela, qualquer ideia de leva meu dinheiro fácil assim. - Minha menina, eu não quero o seu dinheiro.- ela diz calmamente, sem desmanchar o sorriso do rosto, enquanto embaralha seu baralho. - tire uma carta.- ela pede apontando para o montante em sua mão. Eu, mesmo pensando que não é uma boa ideia, acabo tirando uma carta, e quando eu faço isso, ela pede para que eu repita o processo mais quatro vezes, e acabo ficando com cinco cartas perfeitamente separadas em minha frente. A mulher vira a primeira carta e fica a encarando por alguns segundos, parecendo refletir sobre aquela imagem. Ela repete esse movimento com as outras três, mas na última carta, a semhora olha meio surpresa, levanta uma de suas sobrancelhas e balança a cabeça levemente, indicando algum tipo de entendimento, e depois me olha com expectativa. - É um futuro interessante.- ela diz analisando seu baralho, e minha testa se enruga com seu tom de voz. - O que quer dizer com isso?.- pergunto curiosa. A senhorinha aponta o dedo para a primeira carta, e a empurra com o indicador mais perto de mim. - Essa carta se chama ‘O Julgamento’.- eu encaro a carta que parece com um anjo colorido, que segura uma bandeira com um símbolo de cruz dourada, e uma trombeta na outra mão. Abaixo desse anjo, á três pessoas nuas rezando, e eu não entendo nada do que aquilo significa.- Ela representa uma anunciação. Algo de extrema importância para o seu destino está prestes a acontecer.- ela diz me encarando séria. Me arrepio toda! Depois, ela aponta para a segunda carta, e faz o mesmo movimento, empurra com seu indicador até a mim e começa com sua explicação novamente. - Essa é ‘A Torre’.- conta sobre uma carta que sua imagem também é colorida. A carta mostra pessoas caindo de cima de uma torre.- essa é uma carta que indica o caos, rompimentos dolorosos, mas que serão necessários para sua evolução pessoal.- diz olhando dentro dos meus olhos, e eu engulo seco. Como um movimento repetitivo, ela trás outra carta até mim, e me encara. - Essa daqui se chama ‘Enamorados’, ela carrega a mensagem de beleza, amor e afeição.- diz sobre uma carta que mostra um arcanjo voando no céu, com uma flecha apontada para dois homens, e uma só mulher no meio deles.- Porém, também pode dizer insegurança e indecisão. Seu recado diz que a vida não é somente sobre uma história de amor vazia, o amor verdadeiro tem muito mais a nós oferecer.- comenta incisiva. Eu fico tentando entender o porque de eu ainda está aqui sentada, mas isso parece ter me prendido de certa forma. Me pego desejando chegar logo nas conclusões finais e entender o que tudo isso significa, e decido continuar ouvindo. Mais uma vez, ela coloca seu indicador em cima da carta, e a alinha em minha frente, junto com as demais que já foram explicadas. - Essa aqui se chama ‘O Papa’.- como o nome já deduz, a carta mostra um senhor com jóias e ouros pendurados pelo corpo, sentado em seu trono.- ela diz que é momento de se conectar com seus ancestrais, e a espiritualidade que eles carregam, orar ou meditar serão seus maiores aliados nessa jornada exaustiva.- explica sinceramente. Ela afasta as cartas para o lado, e traz a última carta. Essa carta tem a imagem de uma mulher de cabelos longos e ruivos, com um corpo esbelto, vestindo um vestido vermelho sexy, enfeitado de flores cor-de-rosa. Ela está apoiada em uma árvore, enquanto abre a boca de um leão, usando apenas suas mãos no processo, como se quisesse matá-lo. - Essa aqui se chama ‘A força’. Ela simboliza domínio emocional. Isso é o ponto forte para superar as barreiras, e ter mais amor próprio, isso que a mulher abrindo a boca de um leão representa, nos mostra o instinto animal que todos nós temos. A forma com que ela o doma, é sinal de que este impulso está sendo gerado por um sentimento mais racional.- ela diz, e eu concordo. - E qual é a conclusão de tudo?.- pergunto curiosa e ansiosa ao mesmo tempo. A senhorinha me dá aquele sorriso como se queria dizer: Eu sabia! - Você terá um reencontro com algo que perdeu a muito tempo e não irá entender de imediato, pois seu coração ainda estará trancado, movido por sentimentos irracionais, sentimento esse que irá causar um caos dentro de você. Mas, o destino que foi lhe prometido, voltará para reinvidicar o que é seu por direito. Decisões irresponsáveis irão trazer sofrimento, não só para você, mas para todos ao seu redor. O que é pra ser será! De um jeito ou de outro, no amor, ou no sofrimento, não há como fugir do destino.- ela diz, e eu sinto um formigão dentro de mim, como se meu corpo se esquentasse a cada palavra que ela diz.- viu, eu disse que não se atrasaria.- seu semblante muda de serio para um sorriso triunfante, e eu fico mais confusa do que já estava. - Mas que tipo de decisões podem trazer sofrimentos para essas pessoas?.- pergunto perdida e um pouco assustada. Porém, antes que eu possa ter uma resposta, uma buzina alarmante me faz saltar da cadeira. Olho para traz, e a cunhada da minha madrinha acena para mim, com as mãos e a metade do corpo para fora do carro, eufórica e animada. - Vamos Angel?.- ela grita em minha direção, e eu faço sinal dizendo que já estou indo. - Me desculpe, eu preciso ir.- falo pegando minhas bolsas rapidamente. - Não se preocupe minha querida, e não tenha medo do seu destino, na hora certa, tudo voltará ao seu lugar.- ela avisa. Eu enrugo minha testa, aceno com a cabeça e corro para o carro. - Já estou indo, caramba.- falo abrindo a porta de trás, enquanto o irmão da minha madrinha buzina irritantemente.- pronto, já chega de escândalos.- protesto já dentro do carro. - O que foi? Ela estava lendo a sua mão?.- Noah pergunta irônico, e eu encaro a senhora simpática que ainda está sentada lá em sua mesinha, olhando com expectativa para o carro. - Não, ela só queria me dizer algo.- falo encarando a moça, ainda sentindo uma coisa estranha dentro de mim. - São tudo charlatães.- Emma, a irmã da minha madrinha, que está sentada ao meu lado no banco de trás, diz descrente. Dou de ombro como se não me importasse com nada daquilo, e trato de esquecer esse episódio confuso que me aconteceu hoje. Nós andamos para o posto de gasolina, onde encontramos o carro que minha madrinha irá viajar, e abastecemos junto com eles. Nessa viajem, quem irá no carro onde eu estou é o Noah, que é o irmão mais novo da minha madrinha e o nosso motorista, a mulher dele que se chama Linda, ela vai ao lado do Noah, Emma que é a irmã do meio, e eu, é claro. Já no outro carro onde minha madrinha está, quem dirige é o tio Benjamim, que é o pai deles, minha madrinha no carona ao seu lado, Abigail que é a mais velha deles e as crianças. Olívia e Lucas são filhos de Abigail, e a Eva que é filha do Noah e da Linda. Eles resolveram comprar uma casa da praia quando a mãe deles faleceu. Nessa época, eu ainda morava com a minha madrinha e me lembro bem como foi. Eu sempre fui muito apegada a eles, desde os meus dois anos de idade, eu já frequentava constantemente a casa deles. Minha madrinha não teve filhos, mas eu sou a sua filha do coração mais velha, e seus sobrinhos são seus filhos mais novos. Pelo que ela diz, nos somos tudo para ela. E por fim, quando ambos os carros estão abastecidos e prontos, partimos para nossa viagem tão esperada. Seja o que Deus quiser!
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