Capítulo 1

1997 Words
Angelina Cinco minutos, esse é o tempo que marca no aplicativo do Uber enquanto espero o motorista chegar. Meus músculos estão completamente tensos e sinto meu coração bater numa velocidade recorde. Cassete! Estou muito nervosa, ainda mais sabendo que estou extremamente atrasada. O que vou dizer a ele? Preciso do argumento perfeito! Quando o Uber finalmente chega no meu portão eu dou graças a Deus. A cada minuto que perco aqui, é um motivo a mais para uma briga maior. Para a minha sorte, o motorista parece também está com pressa e afunda o pé no acelerador, como se estivesse se preparando para levantar voo. Ele faz 10 minutos até o local combinado. É uma lanchonete tradicional aqui da minha cidade, onde os chinesses chegaram dominando no comercio de salgados. Ela não é muito bonita, é bem simples na real. Tem apenas o piso branco até em cima da parede, com o meio dela sendo dividido por quadradinhos vermelhos, cadeiras e mesas de madeira espalhadas dentro e fora do local, onde algumas pessoas lancham despreocupadamente. - Obrigada moço.- Eu peço lhe entregando o dinheiro, e vejo Thomas sentado numa mesa do lado de fora da lanchonete, batendo seus pés impacientemente. Merda, ele já está irritado. Essa conversa não vai ser nada fácil! - De nada.- diz o motorista me entregando o troco e com essa deixa, eu saio do carro. Mesmo receosa. As minhas pernas até bambeiam de nervoso e minhas mãos suando frio. Isso não deveria ser tão difícil assim. São apenas 15 dias caramba! Eu não irei mudar-me para outro país ou algo do tipo. Mas, pelo que eu conheço do Thomas, ele não irá entender tão bem quanto deveria. Vou me aproximando calmamente, percebendo como a sua mandíbula está contraída, indicando problemas. - Você demorou.- diz seco me encarando sério, e eu engulo, tentando respirar adequadamente, para não lhe mostra meu nervosismo. - Me desculpe, acabei me enrolando toda.- vou me sentando na cadeira a sua frente, e ele me entrega o cardápio. - Está com fome?.- seus olho não deixam os meus em momento algum, examinando todas as minhas reações, me estudando por completa. - Não muita.- respondo nervosa e ansiosa simultaneamente. Não queria que ele me intimidasse tanto, mas é o que ele faz de melhor. - E então? Sobre o que queria conversar?.- a sua pergunta me atinge em cheio, e sinto a bile na minha garganta me forçando a engoli-lá. O meu relacionamento com Thomas já dura 2 anos e meio, contudo, não é um dos mais tranquilos. Thomas é uma pessoa um pouco difícil de se lidar. Ele foi abandonado por seus pais quando ainda era muito pequeno e por sorte, foi criado por sua tia que o trata como um filho. Porém, por conta do trauma do abandono, ele criou um bloqueio de confiança terrível, além de ser extremamente possessivo e ciumento. Nós dois estamos um pouco abalados nesse momento. Tivemos uma discussão difícil uma semana atrás, só estávamos conversado por mensagens até então. - Eu não quero brigar Thomas, quero ter uma conversa civilizada com você, será que isso é possível?- pergunto enquanto tento tranquilizar meu batimento cardíaco. - E por que não teria, Angelina?- ele me devolve a pergunta, mexendo no pote com ketchup e mostarda em cima da mesa. Seus movimentos intimidam-me, mesmo não parecendo ser proposital. - Ultimamente não estamos conseguindo nos entender, e isso está me esgotando.- começo a dizer, enquanto Thomas continua mexendo nos potes, me olhando seriamente.- Pareço está me sufocando com meus próprios sentimentos, e isso está me deixando ansiosa demais e nao gosto dessa sensação.- tento organizar meus pensamentos com minhas palavras, mas seu olhar parece calar-me, sugando o meu raciocínio. Nesse exato momento, me pego questionando se essa realmente é uma boa ideia a final. Nos não estamos num momento bom do nosso relacionamento. Thomas tinha simplesmente decidido ter um filho comigo, sendo que nem casado somos ainda. Passamos semanas discutindo sobre o assunto, até que no fim, eu decidi ceder a suas vontades, e realizar seu sonho de ser pai. Foram 9 meses tentando engravidar e nada de conseguirmos. Por fim decidimos ir ao médico e foi ai que descobrimos que tenho endometriose e trompas obstruídas. Por causa dessas duas condições, provavelmente seria quase impossível engravidar naturalmente, sem qualquer procedimento ou tratamento para auxiliar. Eu fiquei arrasada ao saber disso, e morrendo de medo de nunca conseguir ser mãe. Com tudo isso, eu achei que Thomas entenderia que aquela não era uma boa hora, e que deveríamos esperar até estarmos verdadeiramente prontos para enfrentar toda a batalha de tratamentos que viriam pela frente. Mas, infelizmente não foi bem assim que aconteceu. Thomas ficou transtornado com a notícia, disse querer ser pai de qualquer jeito, nem que eu fizesse várias cirurgias em cima da outra, eu ia ter que engravidar ainda aquele ano. Eu fiquei horrorizada com sua reação. Disse a ele que não estava disposta a passar por todo aquele sofrimento, ainda mais com apenas 21 anos. Foram dias de discussões, para não chegarmos a lugar algum. No meio disso tudo, minha madrinha teve uma ideia que achei brilhante. Eu moro sozinha em uma casa bem em cima da casa dos meus pais, tenho uma irmã e um irmão mais velhos, que já são casados. Layla, a do meio, mora a algumas ruas da minha casa, e o meu irmão mais velho, Jonas, mora fora do país há cinco anos. Eu faço faculdade de direito, e nesse momento, as férias da faculdade chegou, e minha madrinha deu-me uma ideia, que pareceu ter caido do céu. Ela me chamou para passar os 15 dias na praia com ela, seu pai, seus irmãos e as crianças. Aquela foi a solução que eu estava pedindo a Deus. É tudo que preciso no momento, respirar ar puro, e pensar sobre minha vida, saber se o que estou fazendo é o que eu realmente quero para mim e para o meu futuro, ou se estou me precipitado em tudo isso. Mas agora, o mais difícil é explicar para o meu querido noivo que desconfia até da própria sombra, que esse é o melhor a se fazer no momento. Para nós dois. - Quero que você chegue logo ao ponto dessa conversa, Angelina.- ele diz impaciente, e eu engulo mais uma vez. - Minha madrinha me chamou para passar os 15 dias de férias em Unamar, e eu aceitei.- falo tudo de uma só vez, e vejo Thomas enruga a testa, parando de mexer no pote automaticamente. - Como é?- ele pergunta incrédulo. - É apenas uma viagem para colocar minha cabeça no lugar.- tento explicar quase choramingando, e ele sorri irónico. - Isso é devido ao bebê? Meu Deus, Angelina, você vai fugir de mim só porque eu quero construir uma família com você?.- ele pergunta horrorizado, e eu já começo a suar frio. - Não, é claro que não, eu estou indo por mim, estou precisando de um momento, de um lugar, é só isso.- tento explicar-me, ficando cada vez mais agitada. - Você está me dizendo que quer passar 15 dias em uma aventura sem mim?- ele fala como se eu estivesse tentando passar ele para trás de alguma forma, e eu fico totalmente sem ação, como se ele tivesse acabado com todos os meus argumentos. Balanço minha cabeça freneticamente, ficando sem ar. Merda! Não era nesse rumo que eu queria que essa conversa tomasse. - Não estou indo em uma aventura Thomas, estou indo viajar com a minha madrinha, como sempre fazia antes de te conhecer. Eu preciso disso, preciso reencontrar-me, preciso descobrir o que quero fazer com a minha vida longe de você, e pensar com a minha própria cabeça.- falo com o coração apertado, mas completamente decidida. Tenho que começar viver a minha vida da maneira que eu quero, e não como ele quer. Eu desejo, sim, ter um futuro lindo com o meu noivo, mas depois que eu conquistar tudo que desejo conquistar individualmente. Quando termino de falar, Thomas bate a mão na mesa com tanta força, que provavelmente sua mão deve ter ficado formigando. Eu fecho meus olhos assustada, encostando as costas na cadeira, totalmente acuada. - Como vamos ficar 15 dias longe um do outro Angelina? Como você vai viajar sozinha? Você vai conhecer outros caras por lá e vai me abandonar. Por que você está fazendo isso comigo?- ele diz completamnete exaltado. Eu começo a olhar para todos os lados da lanchonete, com vergonha das pessoas que nos observam curiosas nesse momento. Os olhos de Thomas estão transtornados, transbordando irá e desespero. Consigo enxergar seus medos e suas inseguranças escondidos atrás da raiva, que é a armadura que ele usa constantemente. - Tom, pelo amor de Deus, todos estão olhando para nós.- falo em um tom baixo, tentando conduzi-lo a fazer o mesmo, mas Thomas não se importa em fazer show na frente de outras pessoas, ele nunca se importou. - Você não pode fazer isso comigo Angelina, o que vou fazer durante esses 15 dias sem você aqui? Eu vou enlouquecer imaginando você com outro.- ele começa a fazer seu drama. Suspiro, estudando cada palavra de agora em diante. - Eu não vou abandonar você Thomas, eu só quero um tempo para mim, é só isso, não tenho intenção alguma de me envolver com outra pessoa, pelo amor de Deus, você não me conhece mais?.- seguro na mão dele, a apertando firme, passando o calor e tranquilidade do meu corpo para ele. Thomas tem 25 anos, e eu sou a primeira mulher que ele assume como namorada de verdade, e agora noiva, pois o pedido foi feito a mim 6 meses atrás. Esse também é o meu primeiro relacionamento de verdade, mas eu não imaginava que seria tão difícil assim. Thomas faz faculdade de administração, em uma faculdade diferente da minha. Ele também estagia em uma empresa no centro da cidade. Devido ao que rolou com os seus pais, ele tem um medo muito grande de ser abandonado outra vez, e como eu sou a sua primeira namorada de fato, Tom depositou todas as suas expectativas em cima desse relacionamento. Ele diz que iremos construir uma família, e que jamais nos separaremos. Eu acho lindo que ele almeje um futuro ao meu lado. Porém, quando coloca toda a responsabilidade dos seus sonhos nas minhas costas, ele acaba me sufocando. Entretanto, no normal do dia a dia, Thomas é um homem muito carinhoso, dedicado e que sempre demonstra seus sentimentos por mim, ele só fica extremamente diferente quando se sente encurralado, ou vulnerável. Ele torna-se outra pessoa, e isso me assusta às vezes. Eu peguei por ele um sentimento de proteção muito grande, parece que preciso protegê-lo de ser abandonado novamente, e sofre tudo que ele já sofreu antes. - Você sabe dos meus sentimentos por você, sabe que eu jamais te abandonaria, eu só preciso acalmar a minha mente e respirar um pouco, é só isso. Você pode fazer o mesmo enquanto isso, nós podemos se falar todos os dias.- proponho o mais calmo possível, alisando sua mão, e respiro mais aliviada quando percebo suas feições se suavizarem. Ufa! Acho que consegui acalmar a fera. - Você precisa prometer que não vai esquecer de mim.- ele pede feito uma criança perdida nos seus próprios sentimentos, e aquilo me atinge em cheio. Meu peito queima, e eu quase desisto de ir viajar nesse exato momento, se isso não fosse covardia com os meus próprios sentimentos. - É claro que não!- falo me levantando e sentando em seu colo. Seguro dos dois lados do rosto ele e beijo sua boca delicadamente. - Eu amo você, Tom.- sussurro próximo ao seu rosto, e ele passa o nariz nos meus, transbordando angústia. - Eu te amo muito Angelina, eu morreria se perdesse você, é sério, eu morreria.- ele diz quase suplicando, e eu beijo-o novamente. - Isso não vai acontecer.- o tranquilizo com convicção.
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